domingo, 28 de fevereiro de 2021

MAR - CAIS

Foto Fernando Alexandre
acordei bemol
tudo estava sustenido
sol fazia
só não fazia sentido

(Paulo Leminski)

MAR DE SABORES


Bobó de peixe

Ingredientes
500 gr de filé de peixe em cubos (4 cm x 4 cm) suco de 1 limão 
1 dente de alho picadinho 
Sal e pimenta do reino a gosto 
3 col. (sopa) de óleo 
1 cebola de cabeça picadinha 
1 caixinha de polpa de tomate (200 gr) 
2 xíc. (chá) de mandioca cozida e picada 
1 vidrinho de leite de coco (200 ml) 
1 xíc. (chá) de água filtrada 
1 col. (sopa) de coentro fresco picado

Preparação

PASSO 1
Tempere o peixe (usei tilápia) com o suco de limão, sal, pimenta e o alho.
Deixe tomar gosto, por no mínimo 30 minutos.

PASSO 2
Em uma panela grande, coloque o óleo para esquentar, junte o peixe, frite, por mais ou menos 10 minutos.

PASSO 3
Acrescente as cebolas, a polpa de tomate e cozinhe por mais 15 minutos em fogo baixo.

PASSO 4
Enquanto o peixe vai cozinhando no molhinho, pegue o liquidificador, coloque a mandioca cozida picadinha, o leite de coco e a água filtrada, bata.

PASSO 5
Adicione a mistura do liquidificador ao peixe, mexendo sempre, até ferver.

PASSO 6
Desligue o fogo, acrescente o coentro picado! 
Sirva quente!

(Do https://pt.petitchef.com/)

TRABALHADORES DO MAR

Tela de Jozef Israels

"A mesa dos mestres de navio era presidida por um velho capitão de longo curso, o Sr. Gertrais-Gaboureau. Não era homem, era um barômetro. Os habitos do mar deram-lhe uma espantosa infalibilidade de prognóstico. Ele decretava o tempo que devia haver no dia seguinte; ascultava o vento; tomava o pulso à maré. 
Dizia à nuvem: mostra-me a tua língua. A língua era o relâmpago. Era o doutor da vaga, da brisa e da lufada. O oceano era o seu doente; fez uma viagem à roda do mundo como quem faz uma clínica, examinando todos os climas na sua boa e má saúde; sabia a fundo a patologia das estações. Enunciava fatos como este: - o barômetro desceu uma vez em 1796 a três linhas abaixo da tempestade. Era marinheiro por amor..." 
(Fagmento de"Os Trabalhadores do Mar", de Victor Hugo, escrito em 1866,tradução brasileira de Machado de Assis, Edição Ediouro). "Dedico este livro ao rochedo de hospitalidade e de liberdade, a este canto da velha Normandia onde vive o nobre e pequeno povo do mar, à Ilha de Guernesey, severa e branda, meu atual asilo, meu provável túmulo."
(Victor Hugo)
Guernesey é uma ilha no Canal da Mancha , na Normandia, ao Noroeste da França. Junto com Jérsia, forma as Ilhas do Canal, uma dependência da Coroa Britânica que não faz parte do Reino Unido. Nesta Ilha foi ambientado Os Trabalhadores do Mar.

Victor-Marie Hugo, escritor e poeta frances nasceu em Besançon, em 26 de fevereiro de 1802, mas passou a infância em Paris. Suas viagens pela Itália e Espanha influenciaram profundamente sua célebre obra. Sempre um reformista, envolveu-se com política por toda a sua vida. Dizia o autor: "A religião, a sociedade, a natureza: tais são as três lutas do homem. Estas três lutas são ao mesmo tempo as suas três necessidades; precisa crer, daí o templo; precisa criar, daí a cidade; precisa viver, daí a charrua e o navio." Na Notre Dame de Paris o autor denunciou a primeira; nos Miseráveis mostrou a segunda; em Trabalhadores do Mar indicou a terceira. Morreu em Paris, em 22 de maio de 1885 e seu corpo, exposto durante dias sob o Arco do Triunfo, foi visitado por 1 milhão de pessoas.
Desenho de Victor Hugo:
Le Rocher de l'Ermitage dans un paysage imaginaire, 1855.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

MAR-CAIS




Foto Glória Flügel

Esse papo de ser poeta
É só pra criar clima
Nem tudo que brilha é olho
Quase nenhuma obra é prima

(Fernando Alexandre)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

MAR DE SABORES


Strogonoff de camarão

Ingredientes
Número de doses: 5
1/2 kg de camarões, limpos, picados
1 colher de sopa de óleo
1 colher de sopa de manteiga
1 cebola ralada
3 tomates batidos na picadora
1 colher de sopa de ketchup
1 colher de chá de molho inglês
1/2 chávena de chá de conhaque
1 lata de cogumelos, picados
1 pacote de natas (creme de leite)
sal
pimenta do reino

Preparação
Temperamos os camarões com sal e pimenta. Fritamos na mistura de óleo e manteiga.
Acrescentamos a cebola e mexa até dourar. Juntamos os tomates, o ketchup, o molho inglês e o conhaque e deixamos ferver até obter um molho grosso.
Por último, juntamos os cogumelos e as natas e aquecemos sem ferver. Servimos com arroz.

(https://pt.petitchef.com/)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

MAR DE POETA

Arte Andrea Ramos
Da griffie  poética "Cobra Coralina", textos & traços & emoções à flor da pele, naquele tempo em que acreditar era pra sempre e ainda se discutia o sexo das tainhas!

MAR DE SABORES


Camarões ao alho e limão com esparguete

Camarão, limão, alho e esparguete num molho fresco, intenso e 
ligeiramente picante. 
Uma opção rápida e deliciosa para o dia-a-dia.

Ingredientes

Número de doses: 4
800 g de camarão 30/40
12 dentes de alho descascados e ligeiramente esmagados
2 limões médios
malagueta (opcional)
azeite q.b.
200 ml de vinho branco
1 colher de chá de maisena ou fécula de batata
sal e pimenta q.b.
manjericão, salsa ou coentros para polvilhar

Preparação

Retire a casca ao camarão em cru deixando o rabo. 
Faça incisão no dorso e retire a tripa. 
Ignore este passo se usar miolo de camarão. Tempere os 
camarões com um pouco de sal, 
sumo de meio limão, a malagueta bem cortadinha e pimenta moída na hora.
Retire a casca a meio limão (sem a parte branca) e corte 
muito fininho em juliana.
Aqueça um pouco de azeite na frigideira em lume forte. 
Junte os alhos só para largar o gosto no azeite, dourando muito ligeiramente.
Junte os camarões e deixe rosar – cerca de 1 minuto.
Junte imediatamente o restante sumo de limão, a casca cortada em juliana 
muito fina e a fécula ou maisena diluída no vinho.
Deixe fervilhar até engrossar um pouco. 
No total, o camarão não deve ficar ao lume mais de 5 minutos.
Retire do lume e retifique temperos.
Sirva sobre esparguete cozido – ou outra massa – polvilhado com 
manjericão, salsa ou coentros.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

RETRATOS

Resultado de imagem para Retrato de crianças antigo

Retrato na parede
Luz do presente
Olhos de criança

(Fernando Alexandre)

VINHOS DO FUNDO DO MAR

Direito de imagemSTEVEALLENPHOTOImage captionA comunidade de St-Malo tem uma forte ligação com o lendário movimento das marés

A cidade francesa que envelhece vinho no fundo do mar

Elizabeth Wellington BBC Travel

As marés mais altas da Europa surpreendem os turistas de St-Malo, na França, e batem contra as muralhas medievais de granito e as calçadas. Mas os malouins, como são chamados os locais, tratam o mar agitado com uma graciosa afinidade.

A comunidade malouin sempre foi ligada ao movimento do mar. Fundado pelos gauleses na costa norte da Bretanha no século 1 a.C., o porto da cidade está localizado no ponto em que o rio Rance se encontra com o Canal da Mancha. O intenso fluxo d'água na baía torna suas marés alta lendárias.

No verão, turistas franceses enchem st-Malo em busca da brisa de verão e do savoir-faire bretão. Mas a cidade e suas marés pertencem a seus moradores, que recebem os constantes jatos de sal com um sorriso de gratidão.

"Quando estou em St-Malo, mesmo que esteja em lugar de onde não consigo ver o mar, eu posso senti-lo", afirmou Yannick Heude, sommelier e comerciante de vinho. "Eu sei que ele está bem aqui, que está sempre perto".
Cultura marítima

Como proprietário da loja de vinho Cave de l'Abbaye St-Jean e sócio na escola de culinária L'École du Goût, Heude mantém um pé na gastronomia local e outro na baía. O mar dá à cultura da cidade o que Heude descreve como "um sabor salgado", que está presente tanto em pratos locais quanto na identidade malouin.

"Temos la terre et la mer (a terra e o mar) que se misturam para ajudar nossos chefs a criar uma culinária extraordinária. É simples, precisa e revigorante", afirmou.

Uma ideia que traduz essa mescla surgiu há 15 anos durante uma viagem de barco de Heude com seus amigos. "Havia um pescador, um velejador, um restaurateur e eu - um sommelier", explicou. "Um de nós esperava um bebê e disse, 'olha, eu deveria colocar um pouco de vinho sob a água para comemorar o nascimento do meu filho'. E eu respondi, 'bem, eu posso organizar isso se quiser'".

Guardar uma garrafa de vinho para envelhecer em celebração ao nascimento de uma criança é uma prática comum entre os enófilos, mas Heude explicou que a ideia de envelhecer o vinho no mar nunca tinha ocorrido. E o pequeno feito - em que 12 garrafas de Fiefs Vendéens, do Vale do Loir, foram dispostas no fundo do porto de St-Malo - tornou-se a l'Immersion, uma tradição anual que virou um fenômeno nacional.
Direito de imagemINCAMERASTOCK / ALAMY STOCK PHOTOImage caption
Yannick Heude, dono de uma loja de vinhos de St-Malo, começou a envelhecer vinhos no mar há 15 anos

Há uma inegável poesia na emersão do vinho envelhecido do mar em uma cidade que se orgulha de sua herança marítima.

O porto de St-Malo já se destacava como um dos principais portos de escala para o comércio de especiarias francesas. Os malouins viajaram à longínqua Québec (as viagens de Jacques Cartier - um malouin - levou a França a reivindicar soberania sobre o Canadá) e às Ilhas Falkland ou Malvinas (originalmente conhecida como Îles Malouines em homenagem aos primeiros habitantes malouins).

Em 1590, St-Malo declarou a independência da França em um esforço de proteger sua economia marítima nas guerras religiosas, adotando o mote de "Sem francês, sem bretão, com malouin". Embora a república autônoma de St-Malo tenha durado apenas três anos, a identidade malouin continuou com forte espírito de autodeterminação, inextricavelmente ancorado no mar.
Tradição se forma

Heude continuou a colocar anualmente vinho no fundo do mar, reunindo seus amigos para provar a recompensa do ano anterior. Além do grande apelo poético de se envelhecer vinho no mar, há ciência por trás do processo que Heude e seus amigos começaram por pura intuição.

Na costa da Bretanha, a temperatura do fundo do mar fica entre 9º e 10º C - o equivalente à temperatura de uma adega profunda -, e a água protege o vinho dos raios UV. Além disso, o vai-e-vem de uma das mais intensas marés da Europa, que flui duas vezes ao dia, se assemelha à técnica já usada no envelhecimento de vinho, especialmente em Champagne, conhecida como remuage. O processo de lentamente virar a garrafa de vinho à medida que ele envelhece evita que os sedimentos fiquem em um lado ou no fundo e mantém a claridade da bebida.

A seleção de Heude muda todo ano, mas ele sempre inclui garrafas de vinhos tradicionais e espumantes. As diferenças no sabor também variam pela cuvée (o tipo, a mistura e o lote do rótulo) - o que é a diversão de todo o processo.

Como regra geral, Heude diz que os vinhos levemente filtrados sofrerão transformações mais perceptíveis após o período debaixo d'água. Como as marés movem o sedimento natural da garrafa, as notas de sabor do vinho se aprofundam. O efeito é especialmente atraente para o espumante, já que as mudanças de marés refinam as bolhas de dióxido de carbono para um resultado bem mais pronunciado.
Direito de imagemYANNICK HEUDEImage captionHeude (ao centro) começou a envelhecer o vinho no porto de St-Malo após uma viagem de barco com seus amigos

Após descobrir os efeitos do envelhecimento marítimo, Heude decidiu fazer depósitos anuais de vinho no solo do porto. Todo ano, no primeiro fim de semana de junho, cem gourmands e sommeliers de toda a França compram entradas para experienciar o fenômeno.

O evento de um dia começa com a própria l'Immersion. Turistas curiosos assistem a Heude e sua equipe preencher um barco de pesca com cerca de 700 garrafas de vinho à sombra do Tour Solidor, uma torre do século 14 construída para controlar a entrada do rio Rance.

Garrafas de vinho são empilhadas em caixas feitas de tábuas, construídas por produtores de mariscos - apropriado para um ritual tão intimamente ligado à cultura alimentar local. As frestas das caixas garantem que a água e as algas marinhas possam fluir pelas garrafas durante a estadia de um ano no fundo da baía. "Nós as selamos, e elas estão prontas para ir", disse Heude.
Direito de imagemEMMANUEL DONFUT/BALAOImage caption
Na costa da Bretanha, a temperatura do fundo do mar mantém-se a 9-10ºC, temperatura equivalente à de uma adega profunda

As caixas são então levadas por uma traineira e baixadas a 15 metros de profundidade, no fundo do mar. Um mergulhador delicadamente dispõe as caixas no solo, deixando margem suficiente para que elas se movam em harmonia com a maré. Em seguida, ele recolhe a leva do ano anterior. Após 12 meses de espera, Heude e sua equipe posicionam cada caixa no centro da multidão. Tesouros extras - mariscos e um punhado de algas - circulam em torno das garrafas, dando a todos um vislumbre do que elas testemunham no último ano no fundo do mar.

Uma comoção ocorre quando Heude convida a todos para se deliciar com a livre degustação das riquezas gastronômicas da região. O pão sourdough da padaria Philippe Renault, em Dinard, a premiada manteiga de Jean-Yves Bordier, as ostras de Cancale e as tripas da Normandia completam a abundante apresentação. Em meio à agitação, sommeliers experientes abrem as garrafas para comparar os vinhos envelhecidos no mar com os de adegas tradicionais. As degustações expõem análises meticulosas de paladares experientes - e isso é apenas o começo.
Direito de imagemYANNICK HEUDEImage caption
Durante l'Immersion, os participantes são convidados a provar os vinhos envelhecidos no mar, junto a especialidades locais que incluem pães e ostras

Depois da degustação do vinho, os participantes que compraram bilhete para l'Immersion antes do festival acompanham a Société Nationale de Sauvetage en Mer (SNSM), organização da guarda costeira, em uma curta viagem a Cézembre, uma pequena e desabitada faixa de areia na costa de Saint-Malo, que serviu como base naval alemã na Segunda Guerra Mundial.

A maior parte de sua paisagem continua cercada por arame farpado, porque as áreas mais internas não foram limpas de minas terrestres, mas a costa oferece um local seguro e pitoresco para uma festiva celebração malouin. Pratos de frutos do mar fritos e cordeiro salgado são dispostos ao lado de mais manteiga, pão fresco e garrafas de vinho envelhecido na água, com água salgada ainda pingando. "Isso é um pouco mais rock'n'roll. É uma grande festa e todo mundo adora isso também", disse Heude.

No coração, L'Imersion é muito mais do que uma degustação de vinhos. É uma celebração da forte conexão dos malouins com o mar.

"Isso é o que nos embalou desde a nossa infância e, ao final, não podemos ficar sem isso", disse Heude. "Seja nas artes ou na comida, ele está em tudo: está presente nas degustações de vinho, nos camarões, nas vieiras, nos peixes que pescamos, nos legumes da primavera, nas batatas novas. Nós temos tudo aqui. Nós realmente temos tudo".

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

MAR DE RIMBAUD


O Barco Bêbado 

 Arthur Rimbaud

Quando eu atravessava os Rios impassíveis,
Senti-me libertar dos meus rebocadores.
Cruéis peles-vermelhas com uivos terríveis
Os espetaram nus em postes multicores.

Eu era indiferente à carga que trazia,
Gente, trigo flamengo ou algodão inglês.
Morta a tripulação e finda a algaravia,
Os Rios para mim se abriram de uma vez.

Imerso no furor do marulho oceânico,
No inverno, eu, surdo como um cérebro infantil,
Deslizava, enquanto as Penínsulas em pânico
viam turbilhonar marés de verde e anil.

O vento abençoou minhas manhãs marítimas.
Mais leve que uma rolha eu dancei nos lençóis
das ondas a rolar atrás de suas vítimas,
dez noites, sem pensar nos olhos dos faróis!

Mais doce que as maçãs parecem aos pequenos,
A água verde infiltrou-se no meu casco ao léu
E das manchas azulejantes dos venenos
E vinhos me lavou, livre de leme e arpéu.

Então eu mergulhei nas águas do Poema
do Mar, sarcófago de estrelas, latescente,
Devorando os azuis, onde às vezes – dilema
Lívido – um afogado afunda lentamente;

Onde, tingindo azulidades com quebrantos
E ritmos lentos sob o rutilante albor,
Mais fortes que o álcool, mais vastas que os nossos prantos,
fermentam de amargura as rubéolas do amor!

Conheço os céus crivados de clarões, as trombas,
Ressacas e marés: conheço o entardecer,
A Aurora em explosão como um bando de pombas,
E algumas vezes vi o que o homem quis ver!

Eu vi o sol baixar, sujo de horrores místicos,
Iluminando os longos glaciais;
Como atrizes senis em palcos cabalísticos,
Ondas rolando ao longe os frêmitos de umbrais!

Sonhei que a noite verde em neves alvacentas
Beijava, lenta, o olhar dos mares com mil coros,
Soube a circulação das seivas suculentas
E o acordar louro e azul dos fósforos canoros!

Por meses eu segui, tropel de vacarias
Histéricas, o mar estuprando as areias,
Sem esperar que aos pés de ouro das Marias
Esmorecesse o ardor dos Oceanos sem peias!

Cheguei a visitar as Flóridas perdidas
Com olhos de jaguar florindo em epidermes
De homens! Arco-íris tensos como bridas
No horizonte do mar de glaucos paquidermes.

Vi fermentarem pântanos imensos, ansas
Onde apodrecem Leviatãs distantes!
O desmoronamento da água nas bonanças
E abismos a se abrir no caos, cataratantes!

Geleiras, sóis de prata, ondas e céus cadentes!
Náufragos abissais na tumba dos negrumes,
Onde, pasto de insetos, tombam as serpentes
Dos curvos cipoais, com pérfidos perfumes!

Ah! se as crianças vissem o dourar das ondas,
Áureos peixes do mar azul, peixes cantantes...
– As espumas em flor ninaram minhas rondas
E as brisas da ilusão me alaram por instantes.

Mártir de pólos e de zonas misteriosas,
O mar a soluçar cobria os meus artelhos
Com flores fantasmais de pálidas ventosas
e eu, como uma mulher, me punha de joelhos...

Quase ilha a balouçar entre borras e brados
De gralhas tagarelas com olhar de gelo,
Eu vogava, e por minha rede os afogados
Passavam, a dormir, descendo a contrapelo.

Mas eu, barco perdido em baías e danças,
Lançado no ar sem pássaros pela torrente,
De quem os Monitores e os arpões das Hansas
Não teriam pescado o casco de água ardente;

Livre, fumando em meio às virações inquietas,
Eu que furava o céu violáceo como um muro
Que mancham, acepipe raro aos bons poetas,
Líquens de sol vômitos de azul escuro;

Prancha louca a correr com lúnulas e faíscas
E hipocampos de breu, numa escolta de espuma,
Quando os sóis estivais estilhaçam em riscas
O céu ultramarino e seus funis de bruma;

Eu que tremia ouvindo, ao longe, a estertorar,
O cio dos Behemóts e dos Maelstroms febris,
Fiandeiro sem fim dos marasmos do mar,
Anseio pela Europa e os velhos peitoris!

Eu vi os arquipélagos astrais! e as ilhas
Que o delírio dos céus desvela ao viajor:
– É nas noites sem cor que te esqueces e te ilhas,
Milhão de aves de ouro, ó futuro Vigor?

Sim, chorar eu chorei! São mornas as Auroras!
Toda lua é cruel e todo sol, engano:
O amargo amor opiou de ócios minhas horas.
Ah! que esta quilha rompa! Ah! que me engula o oceano!

Da Europa a água que eu quero é só o charco
Negro e gelado onde, ao crepúsculo violeta,
Um menino tristonho arremesse o seu barco
trêmulo como a asa de uma borboleta.

No meu torpor, não posso, ó vagas, as esteiras
Ultrapassar das naves cheias de algodões,
Nem vencer a altivez das velas e bandeiras,
Nem navegar sob o olho torvo dos pontões.

(Tradução de Augusto de Campos)

MAR DE SABORES

Foto Divulgação
FILÉ DE PEIXE COM CREME DE ABÓBORA

Ingredientes

- 3 colheres (sopa) de óleo
- 1/2 cebola picada
- 250g de abóbora em cubos cozida e amassada
- 1/2 maço de folhas de espinafre cozido e picado
- 1/2 xícara de maionese
- 500g de filé de peixe
- 1 pitada de sal
- 2 colheres (sopa) de suco de limão

Modo de preparo
1. Em uma panela média, aqueça uma colher (sopa) de óleo em fogo médio.
2. Doure a cebola, junte a abóbora, o espinafre e refogue por 2 minutos.3. Acrescente a maionese e misture até ficar homogêneo. Reserve.
4. Em uma tigela média, junte os filés de peixe, o sal e o suco de limão.
5. Em uma frigideira média, aqueça o óleo restante e frite o peixe até dourar os dois lados. 6. Sirva o peixe acompanhado do creme.

TRABALHADORES DO MAR

Foto Fernando Alexandre
Pântano do Sul - SC

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

NEGROS NA ILHA!

Foto Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina - IHGSC - Detalhe
AFRICANOS E AFRODESCENDENTES
NA DESTERRO OITOCENTISTA - 1860 a 1890

"Além da expressividade em número (32,64% em 1866 e 35,25% em 1872), muitas das atividades produtivas na cidade eram feitas por africanos e seus descendentes. O trabalho portuário, a pesca, a iluminação pública, o transporte de mercadorias, as quitandeiras, lavadeiras, os sapateiros, além do trabalho nas áreas rurais. 
Nas últimas décadas do século XIX, além de lugar de trabalho e moradia, era possível vislumbrar africanos e afrodescendentes cativos, libertandos, libertos e nascidos livres como atores da e na cidade da época: quem comercializava, trabalhava na manutenção da infraestrutura, e era ativamente participativo na economia, estando presente nos mais diversos locais, desempenhando as mais variadas funções e traçando laços de sociabilidade.

Na periferia da cidade estavam localizados os bairros onde moravam as pessoas mais pobres. Bairros com a figueira, a Tronqueira, a Pedreira, o Beco do Sujo, o Toca, o Campo do Manejo e o Cidade Nova, faziam parte do mundo habitado por africanos e seus descendentes.
 O bairro da Figueira, possivelmente o maior, era considerado um antro de prostituição muito frequentado por marinheiros, habitado por pessoas extremamente humildes. 
Situado a oeste do centro histórico de Florianópolis, possuía trapiches, estaleiros, armazéns, inúmeras casas de negócios, hotéis, padarias, boticas; o que “transformou a região em uma ativa zona produtiva e ao mesmo tempo, atraiu centenas de miseráveis de todos matizes em busca de trabalho e moradia. 
Era uma área ativa e perigosa, onde nem mesmo as forças de segurança pareciam estar a salvo”. Na maioria das vezes, as populações de origem africana eram utilizadas como mão de obra para os chamados “serviço de preto” ou “serviço de negro” – comerciantes marítimos, atividades agrícolas, pescadores, jardineiros, chapeleiros, domésticos, produtores de calçados, tecidos e vestuários – ou seja, realizavam trabalhos braçais.

Outras profissões faziam parte deste cenário, como pombeiros, carroceiros, quitandeiras, lavadeiras, cozinheiros, varredores de rua, copeiros, lavradores, dentre outras atividades, “mesmo porque a escravidão urbana deixou aberta a possibilidade dos escravos acumular um pecúlio de maneira que os mesmos encontravam-se integralmente circulando pela cidade”. Nesse universo de trabalhadores de origem africana, o porto de Desterro ocupava um lugar a ser pensado, pois poderiam tirar a sobrevivência diária ou os “trocados” a se guardar para a compra da alforria e os ofícios de pescador e de canoeiros eram os mais comuns nessa parte da cidade."

“Texto extraído do livro Prêmio de Monografias – Silvio Coelho dos Santos”
Monografia de Karla Leandro Rascke – Edição Fundação Franklin Cascaes.

(Pesquisa e edição de José Luiz Sardá)


OUTROS SABORES



MARISCOS NA MESA!
E COM FRITAS...


Sem os belgas, não haveria o fish & chips, um marco na culinária inglesa e na memória de todos os brasileiros que passaram um tempo estudando ou trabalhando em Londres. É que os belgas inventaram as pommes frites, as batatas fritas. E os belgas inventaram também as moules & frites, prato que conheci em Liège - cidade natal de Georges Simenon, criador do inspetor Maigret. A idéia de servir mexilhões cozidos com batata frita foi uma revelação. É simples, barato, bonito, gostoso, diferente e rende uma sobra sensacional para ser aproveitanda no dia seguinte - o caldo de marisco. Fiz o prato várias vezes em casa, é popular entre as crianças.

É o tipo de rango-evento que tem um ar de aventura - como o fondue. É assim que eu faço, para 4 pessoas (os ingredientes, exceto as batatas, são para ser divididos em duas panelas grandes, porque os mariscos não cabem numa só, a opção é fazer em dois turnos):

- 5 kg de mariscos frescos (vivos, é claro, jogue fora os mariscos que estiverem escancaradamente abertos)
- 2 cebolas grandes, 6 dentes de alho, louro
- 2 copos de vinho branco
- 2 fatias generosa de manteiga ou margarina
- sal marinho, grãos de pimenta
- 1 kg de batatas fritas

1. Limpar os mariscos, tirar as barbas. Botar eles numa cuia com água. Jogue fora os que não estiveram fechados
2. Preparar as fritas (uso fritas que são esquentadas no forno, por pura conveniencia)
3. Esquentar a manteiga, refogar cebola e alho nas panelas
4. Adicionar o vinho
5. Quando o vinho estiver fervendo, adicionar os mariscos, acrescentar pitadas de sal e os grãos de pimenta, dar uma rápida mexida, tampar, manter em fogo médio
6. Em geral, os mariscos se abrem em questão de minutos. Deixe-os cozinhar por mais alguns minutos (tipo cinco, depois de começarem a abrir). Dispense os que não abriram
7. Sirva com as batatas fritas Guarde o líquido que ficou na panelas. É ouro. Os marisco soltam um caldo quando cozidos, perfeito para uma sopa no dia seguinte. Dizem que faz bem para ressaca.

Thomas Pappon , tarrafiado do blog BBC à mesa .
(Saiba mais no www.bbcbrasil.com.br )

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

SABORES DO MAR


Arroz de polvo no forno

Prato Principal
4 porções

Ingredientes

1 polvo grande cortado aos bocados
450 gr de arroz
1 1/5 dl de azeite
50 gr de manteiga
2 cebolas médias
1 dente de alho
3 tomates sem pele e sem sementes
sal
pimenta moída na hora
piripíri
1 colher de sopa de vinagre vinho tinto
1 molhinho de coentros
1 molho de alecrim
azeitonas

Preparação 
Num tacho coloque,o azeite e a manteiga, junte a cebola picada e o alho. 
Quando a cebola começar a amolecer, junte o ramo de cheiros os coentros e o alecrim, tempere de pimenta e piripíri. 
Deixe refogar por 2 minuto e,de seguida,adicione o vinagre, o tomate e o polvo cortado com espessura de 1 cm, com o tacho tapado deixe ferver durante 15 minutos, tempere com sal e adicione 4 dl de água a ferver, tape novamente o tacho e deixe ferver durante 30 a 40 minutos, dependo do tamanho do polvo e qualidade em lume médio, acrescentando mais água a ferver sempre que necessário para substituir a que se evapora. 
Terminando esse tempo, verifie se o polvo está cozido e complete com água até perfazer duas vezes o volume do arroz. Rectifique os temperos de sal,e mais uma pitada de vinagre. Quando levantar fervura,introduza o arroz,
envolvendo bem. 
Em recomeçando a ferver,leve o tacho ao forno pré-quente até cozer o arroz. Sirva salpicado de coentros e azeitonas. 

MAR-CAIS


Foto Andrea Ramos


rotina
todo esse azul
relaxando a retina
(Fernando Alexandre)