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quinta-feira, 2 de maio de 2019

O QUE DEU NA MÍDIA...


Missa abriu a safra da tainha 2019(Foto: Diorgenes Pandini / Diário Catarinense)

Missa no Campeche marca abertura da safra da tainha em Florianópolis

Evento ocorre no rancho do Seu Getúlio, na Praia do Campeche. Pesca artesanal da comunidade recebeu o certificado de patrimônio imaterial de Santa Catarina 

Por Dayane Bazzo
dayane.bazzo@somosnsc.com.br

Há 14 anos o pescador Getúlio Manoel Inácio decidiu realizar uma missa em frente ao seu rancho, na Praia do Campeche, no sul da Ilha, para pedir a Deus bênçãos para a pesca da tainha, que se inicia todos os anos em 1° de maio. Desde então, a pequena cerimônia foi ganhando a comunidade e se transformou em uma festa religiosa e cultural. Mais do que abrir a safra, o festejo mantém a tradição da pesca artesanal.

Nesta quarta-feira (1°), um ano e três meses após a morte de seu Getúlio, pescadores da Capital e de outras cidades de Santa Catarina e a comunidade do Campeche se reuniram para mais uma abertura da temporada de pesca e, como no ano anterior, homenagearam o idealizador e pescador mais querido do sul da Ilha.

— Ele foi quem deu origem a esse evento, começou sozinho e foi juntando pessoas e organizando um evento cada vez maior. Hoje é um dia inteiro de atividades que envolve a pesca, a religião, a cultura, o lazer e o espírito de comunidade. É algo que a comunidade acredita, é a cultura da nossa cidade, é importante para manter aquilo que tem a ver com a história de Floripa e o Campeche é protagonista dessa história — comenta Carla Inácio da Cunha, de 44 anos, uma das filhas de seu Getúlio.
Carla Inácio da Cunha, uma das filhas de seu Getúlio(Foto: Diorgenes Pandini / Diário Catarinese)

A festividade começou cedo, às 8h, com café da manhã e seguiu com uma procissão desde a Praça da Estátua do Pescador até o rancho do Seu Getúlio. O cortejo foi aberto pelos casais festeiros carregando as bandeiras do Divino Espírito Santos e as imagens de São Pedro, padroeiro dos pescadores, e São José, padroeiro das igrejas. A missa foi organizada pela capela São Sebastião, do Campeche.

Desde o falecimento de seu Getúlio, quem assumiu o legado foi o sobrinho Pedro Aparício Inácio, de 53 anos. Ele cresceu em meio as redes, barcos e peixes e aprendeu o ofício ainda novo, mas não pensa em parar tão cedo.

— Peço sempre muita saúde a Deus para continuar esse legado que é muito importante para a cultura da nossa região — diz.

E para a safra deste ano, a expectativa é positiva entre os pescadores. Pedrinho, como é chamado pela comunidade, explica que o resultado da pesca depende de vários fatores, se o mar está agitado, se há frente fria e condições do tempo. No caso do Campeche, que tem o mar mais agitado, a espera é por calmaria.

— A expectativa do pescador sempre é muito grande e esse ano já deu muito vento sul, o que vem trazendo o peixe mais cedo para cá, vai ser uma safra boa — acredita.
Procissão contou com a presença dos festeiros do Divino (Foto: Diorgenes Pandini / Diário Catarinense)
Patrimônio cultural

Nesta quarta-feira, a Associação de Pescadores Artesanais do Campeche também recebeu o certificado que registra a pesca da tainha na comunidade como patrimônio imaterial de Santa Catarina. Claudia Hickenbick, professora do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), explica que o processo começou em 2018, com um projeto de pesquisa, coordenado por ela, sobre a pesca artesanal do Campeche, uma pratica centenária e que passa de geração para geração.

Em novembro, o IFSC solicitou o registro à Fundação Catarinense de Cultura e no mês seguinte saiu oficialmente o certificado, que foi entregue de forma simbólica após a missa desta quarta. 

— Com isso, o Estado reconhece a pesca da tainha como patrimônio imaterial catarinense por 10 anos. Após esta data, se a pratica seguir como ela é hoje, na sua essência e importância, esse título é renovado — explica.

A pesca realizada no Campeche tem peculiaridades que só se encontra por lá. O pescador Hugo Adriano Daniel, 57 anos, que também participou do projeto de pesquisa, conta que, por conta das condições do mar, o tipo de rede utilizada pelos pescadores é diferente das outras regiões.

— Aqui precisamos usar a rede de três panos. Nas outras praias o mar não é tão sinuoso, então o fundo é reto e quando se puxa a rede o peixe vai junto. A tainha é muito rápida e sempre procura se esconder num buraco. Aqui utilizamos a rede para malhar o peixe, ou seja, ele não fica solto na rede, fica malhado primeiro, depois puxamos a rede, isso é uma característica da pesca do Campeche por causa da característica do mar — explica Hugo.

Para ele, que é pescador, o certificado traz segurança para os pescadores para manterem seus ranchos e a pesca.

— Hoje, muitos pescadores ainda pescam para complementar a renda, mas já não é para o sustento. O mais importante agora é manter a questão cultural, quando começa a pesca o pescador não vive mais em casa, ele vive no rancho, mesmo quando não tem peixe, ele vem pra cá cedinho, almoça no rancho e fica na espera, porque a tainha não avisa quando vai chegar, então tem que ficar sempre de prontidão — diz Hugo.
(Foto: Diorgenes Pandini / Diário Catarinense)

A preocupação dos pescadores em manter a tradição vai além. Pedro Aparício Inácio comenta que as novas gerações já não têm o mesmo apreço pela pesca e não sabe como vai ser quando os atuais homens do mar partirem desta terra. 

— Hoje os jovens só querem ficar na internet, no celular, é outro mundo, eu tenho um filho de 16 anos e vejo o quanto é difícil ele vir para cá e acompanhar a pesca. É complicado, tentamos cativar as pessoas para trazer para perto, para aprender e tomar gosto pela tradição, tentar fortalecer, porque senão vamos perder com o tempo — comenta.

Programação

A abertura da safra da tainha no rancho do seu Getúlio segue durante a tarde desta quarta-feira. Confira a programação:

* 12h – Apresentação de composições musicais sobre a pesca, com Elenir Inácio

* 14h – Atrações recreativas e culturais (corrida de canoa, cabo de guerra, capoeira)

* 15h – Exposição e soltura de tartaruga marinha do Projeto Tamar

* 16h – Apresentação do Boi de Mamão do Campeche 

* 18h – Encerramento

domingo, 8 de julho de 2018

REPORTAGEM ESPECIAL


Foto: Arquivo Pessoal
Dia a dia do médico na estrutura com mais de 3 mil metros de profundidade tem atendimento aos doentes e, também, espaço para o lazer

Conheça o médico catarinense que atende pacientes em alto-mar
Do mar de ondas pequenas da praia do Balneário do Estreito, em Florianópolis, às profundezas do azul e imenso Oceano Atlântico. Assim se faz a rotina do médico catarinense Augusto Otávio da Luz, 36 anos, que dá consultas 300 quilômetros mar adentro. O offshore – longe da costa, em inglês – tem consultório montado sobre uma superfície de 3 mil metros de profundidade e atende a até 900 funcionários de empresas estrangeiras contratadas para operar em plataformas da Petrobras.
–Já conheci o Pré-Sal– brinca.

Formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2009, o clínico geral trabalhou como plantonista em hospitais de Itajaí, Navegantes, Gaspar, Alfredo Wagner e Santo Amaro da Imperatriz, até fazer concurso na cidade de Macaé, município do litoral norte fluminense conhecido como “capital nacional d opetróleo”, onde foi apresentado a profissionais que trabalhavam em alto-mar.

Foi então que Spike, como é chamado pelos amigos manezinhos que o achavam “meio parecido” com o cineasta Spike Lee, decidiu encarar duras provas de salvatagem. Regulamentadas pela Marinha Brasileira e seguindo padrões internacionais, as normas priorizam a segurança das pessoas que em caso de um acidente terão o mar como destino.

“CADA ETAPA É MAIS INTENSA QUE A OUTRA”

Entre os conteúdos dos treinos, prevenção e combate a incêndios e técnicas de sobrevivência, como a simulação da queda de um helicóptero na água. Além de ter que assumir a navegação das embarcações, em caso de ausência do piloto, como barco salva-vidas.

– Cada etapa mais intensa do que a outra. Tal qual a vida de um offshore – compara o médico manezinho, que no final da faculdade também passou pelos hospitais Regional de São José, Celso Ramos, HU, Carmela Dutra e Nereu Ramos.

Isso porque, explica, dependendo da localização da plataforma, as idas e vindas levam uma hora e meia desde o aeroporto de Macaé. Em caso de pane, não existe onde o helicóptero pousar.

– Em caso de emergência, (como ocorreu no Golfo do México e retratado no filme Horizonte profundo – Desastre no Golfo, faço parte da equipe de quatro pessoas juntamente ao capitão da embarcação que sempre será a última a sair. Saber disto não dá muita alegria, mas faz parte do trabalho – brinca.

Ainda assim, o médico catarinense, filho do cardiologista Walter da Luz, o doutor Juca, e da psiquiatra Eleonora Deziderio da Luz (já falecida), parece disposto a continuar. No sexto ano de atividades, permanece acumulando bagagem de estar num lugar onde apesar dos altos riscos possibilita-lhe uma experiência multicultural e recebe salário (em dólares) cobiçado para um médico que ainda busca solidificar carreira.

– Nas horas de folga, atualizo conhecimentos em medicina e toco saxofone. A música me ajuda bastante. 

Quando está em terra – a legislação permite 14 dias embarcados– e consegue vir a Florianópolis, o médico aproveita para fazer uma atividade social como voluntário em uma instituição que acolhe dependentes químicos.

–A gente se sente muito pequeno diante da imensidão do mar. Isso desperta o desejo de querer ajudar o outro.
Foto: Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal

ATIVIDADE

“Estamos trabalhando em uma estrutura flutuante que faz reparos nas plataformas da Bacia de Campos, pois essas são muito grandes e não têm como ser rebocadas para conserto em terra. Ficamos a 45 minutos de voo, a uma distância de 220 quilômetros da costa e a uma profundidade média de cerca de 2,5 mil metros de profundidade. Já estive em lugares com águas mais profundas.”

EQUIPE MÉDICA

“São duas equipes (cada uma tem um médico, um enfermeiro e um técnico). Quando uma está no mar, a outra em terra. Temos todos os equipamentos necessários para atendimento e uma enfermaria com 12 leitos. Se necessário, acionamos atendimento e uma aeronave é deslocada para o resgate. O destino também leva em conta o quadro do paciente e a especialidade necessária para o socorro.”

DIA A DIA
A plataforma trabalha em turnos diário e noturno. As primeiras atividades se iniciam às 5h30 mim e se encerram às 17h30mim, quando começa o trabalho noturno. A rotina diária começa com o café (5h). São inúmeras profissões em toda esta cadeia, desde técnicos de segurança do trabalho a especialistas em máquinas modernas. Assim como a tripulação marítima e de apoio."

PACIENTES

“O quadro varia bastante: gripe, mal- estar, pneumonia. Mas muitos se queixam de dor no peito. A angústia muitas vezes tem fundo emocional por causa da saudade da família, ansiedade do retorno, expectativa do desembarque. 

No mar, é preciso dimensionar a passagem do tempo. Assim como a medida das distâncias. Uma coisa é estar longe de casa, mas sobre o mesmo chão. Tudo isso reflete. Temos também trabalhadores de outras nacionalidades, e que ficam até três meses embarcados. Como médico preciso estar muito atento para essas particularidades."

PRECONCEITO

“Médico brasileiro, jovem e negro. Eu enfrentei preconceito no meu segundo ano de embarque. Na ocasião, um supervisor médico inglês que acompanhava por vídeo conferência na Escócia questionou uma conduta tomada durante uma emergência médica. Solicitou que eu interrompesse o procedimento e seguisse a conduta que ele sugeria. Determinou aos auxiliares que parassem tudo e ignorasse minha conduta. Respondi- lhe que o médico no local não era ele e que nem CRM ( autorização no Brasil) o mesmo tinha pra definir a conduta. Continuei o procedimento e mandei desligar o vídeo. Deu tudo certo: o paciente saiu do risco de morte e foi transportado ao hospital. Eu ganhei mais confiança a partir desse fato."

VIDA NO MAR

“O mar fascina a gente. Parece que tudo fica mais intenso. Inclusive a nossa atividade profissional. Eu já atendi pessoas de pesqueiros, desses que partem de Itajaí para o alto mar e que pediram socorro. Se o tripulante fosse levado de barco até a costa, seriam seis dias para chegar em terra. Quem sabe a vida não seria salva. Estar no meio do oceano sendo médico tem dessas coisas."

LAZER

“Ninguém é de ferro. Após o final de cada turno há tempo livre para lazer, como academia, cinema, jogos, biblioteca, TV via satélite. Além de internet e telefone para contato com a família. Eu, particularmente, uso o tempo livre para me atualizar na parte médica e estudar saxofone. A música me ajuda a superar o confinamento."
Foto: Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal



quarta-feira, 20 de junho de 2018

PESCA: ROUBO DE MOTORES



Alécio Rogério, que teve dois motores roubados do seu rancho, calcula prejuízo de R$ 12 mil - Flávio Tin/ND

Ladrões roubam oito motores de popa em ranchos da Costeira, em Florianópolis

Pescadores acordaram cedo para ir para o mar, mas encontraram os cadeados estourados e os equipamentos roubados. Eles acreditam que os ladrões fizeram um prévio levantamento

por COLOMBO DE SOUZA, FLORIANÓPOLIS 

Ladrões cortaram cadeados de sete ranchos de pesca localizados às margens da Resex (Reserva Extrativista) Pirajubaé, no bairro Costeira do Pirajubaé, em Florianópolis, e levaram na madrugada desta terça-feira (19) oito motores de popa. Somente do pescador profissional Alécio Thiago Rogério, 45 anos, roubaram dois motores: um de 8 hp e outro menor, de 4 hp. Alécio calcula prejuízo em torno de R$ 12 mil. Se os motores não forem recuperados, ele disse que será obrigado a fazer novo empréstimo no banco para comprar outros equipamentos.

Alécio acredita que os crimonosos fizeram um prévio levantamento da área no aterro da Via Expressa Sul, pois só invadiu ranchos que tinham motores mais potentes. “Eles sequer cortaram o meu cadeado. Não sei como conseguiram abrir o rancho”, contou.

No rancho ao lado do de Alécio, do pescador Everaldo Martins, os ladrões usaram alicates grandes. “Até quem colocou dois cadeados para reforçar a segurança não escapou”, disse.

Everaldo foi o primeiro a chegar ao rancho, por volta das 4h30, e sentiu a falta do motor de 25 hp. “Ainda nem paguei o motor. Faz dois meses que comprei”, afirmou.

Pescadores profissionais com carteira A, autorizados pelo ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) para trabalhar no mar, pescam tainhotas, paratis, corvinas e outros peixes que habitam a Resex Pirajubaé. No inverno, os pescadores dos ranchos da Via Expressa Sul capturam entre 150 quilos a 200 quilos de pescados por dia. No verão há mais fartura, e cada pescador chega a faturar mais de R$ 3 mil por mês. Tudo é vendido logo depois da pesca para atravessadores que revendem o pescado em peixarias da Costeira e no Mercado Público da Capital.

Ajuda para o peixe do almoço

Para não ficar parado e levar pelo menos o peixe para o almoço, Everaldo Martins emprestou um motor pequeno de 4 hp de um pescador que não depende somente da pesca. Já o caso de Alécio Thiago Rogério é um pouco mais complicado. Ele terá que pegar carona na embarcação de um amigo ou aguardar o financiamento do banco.

Tanto Alécio quanto Everaldo têm certeza de que os arrombamentos seguidos de furtos foram praticados por mais de uma pessoa. “Os ladrões devem ter usado dois carros ou duas canoas. Fomos informados que um homem que pesca embaixo da ponte amanheceu agarrado num pilar da travessia porque a canoa havia afundado. Tomara que na embarcação não estivessem os nossos motores”, disse Everaldo.

Polícia ainda não tem pistas

A notícia do roubo foi compartilhada no grupo de WhatsApp de pescadores. Houve avanço nos comentários, com suspeita de que havia motor de popa furtado já à venda em Joinville. “Mas isto é apenas especulação, quem está investigando é a Polícia Civil”, afirmou Alécio Thiago Rogério.

Além do boletim de ocorrência registrado na 2ª DP do Saco dos Limões, as vítimas também têm que comparecer na Capitania dos Portos e informar a numeração da embarcação que teve o motor roubado. Por enquanto, a polícia não tem pistas dos ladrões de motores.

(Do https://ndonline.com.br/)

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

MAR DE COCAÍNA

GONZALO TRUJILLO/ALBERTO VAN STOKKUM

Como meia tonelada de cocaína extraviada destruiu um povoado português de 7.000 habitantes

Naufrágio de um navio que transportava droga fez a carga encalhar numa cidadezinha açoriana de 7.500 habitantes. Anos depois, os efeitos são devastadores
Açores (Portugal) 

Rabo de Peixe é um lugar onde, para sobreviver, é preciso ter um pouco de ambição e uma tonelada de sorte. A vida neste povoado da costa norte da ilha de São Miguel, pertencente ao arquipélago dos Açores (Portugal) e com apenas 7.500 habitantes, é um metáfora da sua geografia: selvagem, esquecida, cruel e indômita. Não há recursos, mas, bom, há wi-fi. Quando a pesca de artesanal dá uma pausa, o tempo se divide entre tragadas em baseados e horas mortas à beira de um quebra-mar de concreto. Ali é o lugar onde pensar em como abandonar este pedaço de terra inerte. Mas é uma via morta. Nunca nada acontece. Por isso, no dia em que tudo aconteceu, a ilha ficou arruinada. Tudo, neste caso, é um veleiro modelo Sun Kiss 47, de 14 metros de comprimento, que naufragou na costa açoriana em junho de 2001 transportando 505,84 quilos de cocaína com uma pureza superior a 80%. Em reais, pelo câmbio de hoje, uns 150 milhões.

A memória coletiva de Rabo de Peixe apela a histórias tão disparatadas como a de mulheres empanando carapaus com cocaína, ou senhores de meia-idade vertendo colheradas de droga no café com leite.

Era um dia de mar bravo. O vento veio numa rajada, e o mastro não resistiu ao impacto. Impossível continuar a travessia, e inviável acessar o porto com um navio forrado de droga até a quilha. Num gabinete de crise apressado e com uma tripla dose de pânico, a tripulação decidiu afundar os fardos no fundo do oceano e introduzir parte do carregamento numa gruta do norte da ilha, a poucos quilômetros da vila de Rabo de Peixe.

Uma estratégia impecável, não fosse o fato de a natureza ter um espírito livre. Os pacotes, como o mastro, não resistiram à fúria do vento, e o quebra-mar virou um cemitério de pacotes de cocaína. Eles começaram a encalhar, a notícia correu, e a caça ao tesouro teve início. Encaixar as peças daquela noite escuríssima é um mistério, mas as testemunhas repetem a mesma sequência: dezenas de pessoas – de adolescentes a senhoras com bobes e grampos nos cabelos – equilibradas sobre o concreto, à espreita do material.

A polícia conseguiu apreender 400 quilos de cocaína, numa operação sem precedentes no arquipélago. Mas o resto ficou nas mãos de uma população civil castigada pela escassez e pela ignorância, e isso deformou a ilha de forma irreversível. “A polícia sustentou que o iate transportava só 500 quilos, mas isso é absurdo. O navio comportava até 3.000 quilos de cocaína, e ninguém cruza o Atlântico cobrindo um percentual tão baixo do espaço disponível. Cem quilos de cocaína, mesmo que de pureza excelente, não destroem uma geração”. Quem fala é Nuno Mendes, jornalista que foi enviado especial do jornal Público, de Lisboa, para cobrir o incidente. “O consumo de coca até então era residual e só ao alcance de jovens de classe média-alta. Um produto de luxo eventual. O problema surgiu quando seu uso se democratizou e uma população muito empobrecida começou a consumir à vontade e a traficar esse material de forma espantosa.”

Esse espanto se resume numa imagem muito recorrente: o típico copo de chope com cocaína até a boca, que era vendido nas ruas por 20.000 escudos (aproximadamente 75 reais, pelo valor atual). Ninguém sabia o preço de mercado, nem a periculosidade de uma substância dessa pureza, mas, sobretudo, havia pressa em ganhar dinheiro. As internações por overdose colapsaram os hospitais da ilha, e o caos foi tamanho que as autoridades sanitárias decidiram intervir nos meios de comunicação para advertir sobre os efeitos do consumo dessa substância. “Durante dias, dedicamos muito espaço a isto nos telejornais. Médicos em primeiro plano, com o rosto transtornado, suplicando que se pusesse fim a essa loucura. Foram semanas de pânico, terror e descontrole absoluto”, recorda a jornalista Teresa Nóbrega, então coordenadora de jornalismo do canal público RTP Açores. “Ninguém estava preparado para algo assim. A prova é que continua sendo um episódio não superado, quase 20 anos depois”, acrescenta.

Imagens de Antoni Quinzi facilitadas pela policial. A imagem inferior direita corresponde a sua entrada em prisão. GONZALO TRUJILLO/ALBERTO VAN STOKKUM

Sempre existem pontos cegos entre a realidade e a ficção, mas a memória coletiva de Rabo de Peixe apela a histórias tão disparatadas como a de mulheres empanando carapaus com cocaína em vez de farinha, ou senhores de meia idade vertendo colheradas de pó no café com leite. A expressão é que o humor é igual à soma da tragédia mais o tempo. Embora talvez não tenha transcorrido ainda o tempo prudencial, é quase impossível não sorrir, mesmo que de tristeza.

“Nunca tivemos acesso a estatísticas reais. No começo, a prioridade era frear a loucura, depois não havia médicos suficientes. Sempre faltou interesse. Contabilizamos 20 mortes e dezenas de internações por intoxicação nas três semanas seguintes ao desembarque. Mas foram dados não oficiais que reunimos com a ajuda de médicos e pessoal sanitário”, recorda Nuno Mendes, para quem o episódio se cobriu de um halo de secretismo para que não se transformasse numa questão de Estado e, sobretudo, não repercutisse internacionalmente.

Cena juvenil e cotidiana em Rabo de Peixe. Estes garotos sobreviveram para contar a história GONZALO TRUJILLO/ALBERTO VAN STOKKUM

A polícia travava duas batalhas simultâneas: apreender cada grama de cocaína que ainda sobrasse na ilha e localizar o iate avariado que transportava a droga para a Europa. Depois de duas semanas de buscas exaustivas no porto de Ponta Delgada, a capital da ilha, aconteceu o milagre: a polícia encontrou um pequeno pacote na parede falsa de um iate atracado, envolvido em um papel de jornal: o nome do jornal e a data coincidiam com a embalagem de outros fardos apreendidos dias antes na praia. Os agentes detiveram o único homem que se encontrava no interior da embarcação, Antoni Quinzi, um siciliano de aspecto imponente, que não ofereceu resistência.

Sua intercessão foi crucial para o futuro da investigação e para a apreensão da cocaína que permanecia oculta. “Quando lhe contamos a ratoeira que a ilha havia virado, ele colaborou com informações importantes sobre a mercadoria que permanecia oculta na face norte”, relata João Soares, então inspetor-chefe da Polícia Judiciária. Foi ele quem deteve o italiano no iate, e duas semanas depois coordenaria a perseguição ao traficante após uma das fugas mais surrealistas – e ligeiramente ridículas – da história policial de Portugal.

Dez dias depois de ser preso, Quinzi saltou o muro do pátio da penitenciária, despediu-se da polícia com um aceno e fugiu numa Vespa que lhe esperava na estrada. Soares justifica a falha: “Uma ilha já é uma prisão. Ninguém foge de uma prisão em uma ilha”. Mas Quinzi fugiu. Seria detido duas semanas depois em um barracão no nordeste de São Miguel, com 30 gramas de cocaína e um passaporte falso. Transferido para a prisão de Coimbra, já no Portugal continental, acabou condenado a nove anos e 10 meses de prisão. Foi o único detido na operação. Ficou provado que sua principal missão era dirigir o barco da Venezuela até as Ilhas Baleares (Espanha).

Houve secretismo para que não repercutisse internacionalmente. "Contabilizamos 20 mortes e dezenas de internações por intoxicação nas três semanas seguintes ao desembarque. Mas foram dados não oficiais que reunimos com a ajuda de médicos e pessoal sanitário”, diz o jornalista português Nuno Mendes

“Era puro magnetismo. Muito alto, mãos imponentes e olhar triste. Soa a síndrome de Estocolmo, mas me dava pena. Dava a sensação de que se sentia extremamente culpado e não sabia como ajudar.” Catia Benedetti é professora de italiano na Universidade dos Açores e foi intérprete de Quinzi durante os interrogatórios e o julgamento, ocorridos em Ponta Delgada. O homem ainda é uma espécie de lenda na ilha. Todos o conhecem, mas ninguém nunca o viu. Hoje em dia, a pureza da droga ainda se mede segundo os parâmetros “do italiano”. Esse é a unidade métrica que se utiliza para determinar a qualidade da cocaína nos Açores, e a prova empírica de que a ferida, 17 anos depois, não está curada.

Um serviço ambulante de atendimento a dependentes percorre semanalmente São Miguel para distribuir metadona aos heroinômanos. E, apesar de este parecer ser um problema diferente do relatado acima, um está na origem do outro. “A pureza da cocaína produziu um efeito catastrófico. O efeito da droga era tão feroz que as pessoas começaram a consumir heroína para conseguir dormir.” Assim Suzete Frias, então diretora da Casa de Saúde de Ponta Delgada, resume esse drama social. Surgiu então um problema novo na ilha: a dependência em drogas. “Os filhos de classe média-alta se internaram em clínicas de desintoxicação no continente; a classe operária procurou a heroína.” Apesar de tudo, o ruído nunca foi excessivo. A tragédia foi como um pomposo – mas discreto – elefante na sala.

Paisagem característica da zona norte da Ilha de São Miguel dos Açores, onde o barco se escondeu GONZALO TRUJILLO/ALBERTO VAN STOKKUM

Os Açores ficam no meio do oceano Atlântico, 1.400 quilômetros a oeste de Lisboa, e da terra firme é muito difícil escutar os bramidos desse elefante de ressaca, que há mais de 15 anos ataca tudo o que aparece na sua frente. Você acha que tudo seria diferente se tivesse ocorrido na Europa, Suzete? “Nada disto teria acontecido.”

As autoras desta reportagem, Rebeca Queimaliños (Pontevedra, 1982) e Macarena Lozano (Granada, 1982) estão em pleno processo de realização de um documentário sobre o tema. Fizeram várias viagens à região e já gravaram boa parte (ver trailer).

(Do https://brasil.elpais.com/)

segunda-feira, 15 de maio de 2017

E PRENDERAM AS TAINHAS...

Morador registou o momento em que as Polícias Ambiental e Militar chegaram à praia do Campeche
Foto: Dauro Veras / Arquivo Pessoal

por Rafael Thomé

Confusão entre pescadores no Campeche, em Florianópolis, termina com apreensão de tainhas
Polícia Ambiental foi acionada, confirmou uma irregularidade na licença de pesca e apreendeu o cardume de 720 tainhas


Uma confusão entre pescadores na praia do Campeche, em Florianópolis, na manhã deste domingo, 14, terminou com a apreensão de 720 tainhas. Depois de um grupo de pesca artesanal cercar e capturar o cardume, outro grupo de pescadores acionou a Polícia Militar Ambiental de Santa Catarina (PMA-SC) e informou sobre uma possível irregularidade na licença do grupo que fez a captura.

Morador da região, o jornalista Dauro Veras, de 51 anos, pedalava na praia quando viu a confusão se formar. Com a experiência da profissão, Veras registrou fotos do momento de tensão e procurou se informar sobre o entrevero.

— Vi o pessoal puxando as tainhas e carregando um jipe vermelho pouco antes de outro grupo se aproximar. Quando esse grupo chegou, houve uma discussão exaltada, mas ninguém foi às vias de fato. Pouco depois, chegaram a Polícia Ambiental e, em seguida, a Polícia Militar — contou.

Cardume de 720 tainhas será doado para entidade filantrópica Foto: Dauro Veras / Arquivo Pessoal

A PMA-SC foi ao local por volta das 10h30min, confirmou a ilegalidade da pesca e fez a apreensão das tainhas. A reportagem da Hora tentou contato com a 1ª Companhia de Polícia Militar Ambiental de Florianópolis durante a tarde de domingo, mas os agentes afirmaram que a corporação estava mobilizada para fazer a limpeza e separação dos peixes, que serão doados a alguma entidade filantrópica ainda não definida, e não puderam dar mais detalhes da ocorrência.

(Do http://horadesantacatarina.clicrbs.com.br)

quinta-feira, 4 de maio de 2017

ELAS ESTÃO CHEGANDO...

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Pesca está autorizada desde o dia 1° de maio - Daniel Queiroz/ND

Pesca da tainha: a organização dos pescadores artesanais para não perder os lanços

Cada pescador tem uma função específica e quando o aviso chega pelo rádio, todos saem correndo para puxar o lanço do mar

por MICHAEL GONÇALVES, FLORIANÓPOLIS 

Mesmo sem a condição climática adequada, as tainhas começam a aparecer discretamente na Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis. Nos três primeiros dias da safra de 2017, que começou em 1° de maio, foram capturadas 761 tainhas em três praias: Ingleses, Brava e Barra da Lagoa. Em busca de águas mais quentes, elas sobem o litoral brasileiro a partir do mês de maio. Aos 72 anos, o pescador Adir João Lemos, o Diquinho, ainda se emociona com o pescado e aproveitou a sua primeira captura do ano nesta quarta-feira (3) para se deliciar com as postas fritas. Enquanto elas não chegam em abundância, os pescadores se organizam como em uma empresa e cada um realiza uma atividade. 

Somente na praia da Lagoinha, no Norte da Ilha, são quatro olheiros que observam a chegada das tainhas. Eles ficam divididos nos costões e realizam o monitoramento desde a praia Brava. Um deles é o pescador Amilton Manoel Raimundo de Souto, 47 anos, que aprendeu o ofício com o pai aos 10 anos de idade.

Enquanto os outros pescadores estão com o pé na areia e com o sol no rosto, Amilton fica sob a sombra de uma figueira. “Meu material de trabalho é o rádio comunicador e o apito. O olheiro precisa estar atento ao movimento do mar e aos cardumes. Com o tempo, a gente consegue diferenciar o tipo de peixe pelo movimento da água”, conta.

Amilton começa o expediente, às 6h, e só abandona o posto para almoçar. Segundo o olheiro, a praia da Lagoinha registra grandes lanços no período noturno. “Teve um dia que trabalhei a madrugada inteira e no dia seguinte estava exausto. Por conta disso acabei cochilando e perdi um lanço com 12 mil tainhas”, lamenta.

O pescador aposta em uma boa safra nesta temporada. “Quando tem maré alta na Sexta-feira Santa, flor no espinho e o frio no outono são sinônimos de tainha”, brincou Amilton, que citou as ditos populares.

Remeiros precisam ser rápidos para formarem o cerco

As embarcações da pesca artesanal sem motor têm seis tripulantes normalmente. São quatro remeiros, um bucheiro e o patrão. Na Barra da Lagoa, a pesca é feita com apenas uma embarcação e, por isso, o sétimo tripulante é o nadador, que ajuda a fechar o cerco.

Após o aviso do olheiro, a canoa leva em média 30 minutos para chegar até o local do cardume e soltar a rede. “Assim que o aviso chega pelo rádio, a gente sai correndo para o barco. Você pode estar almoçando, que é preciso sair do mesmo jeito. Para fazer tudo o mais rápido possível, os remeiros têm que ter muita disposição e força. Já passei por perrengues e fraturei um dedo quando uma canoa virou”, lembra o remeiro Ernani Vieira, 58, da Barra da Lagoa.

Ernani é parceiro do livreteiro Armando Machado, 58, que é aposentado da Celesc. Casado com a filha de um pescador, Armando ganhou a função de organizar as contas da Associação Saragaço. “Meu trabalho é o de não deixar faltar nada no rancho e fazer o controle da venda das tainhas. As 51 capturadas nesta quarta (3) ficaram para a nossa associação, porque não compensa vender”, explicou.

Lanços com tamanhos diferentes de tainhas

Na praia de Ingleses, o pescador Arnaldo Tomaz dos Santos, 73, o Naldo, olha para o mar na esperança de ver um lanço de tainha. Ele ainda não conseguiu colocar a sua embarcação na água, que está pronta para a captura. Em 2016, ele pegou 1,5 tonelada do pescado. “A tainha é igual a uma moça bonita. Quando ela chega quer se exibir e fica pulando. Os lanços até agora foram pequenos e de tamanhos variados“, contou.

A situação na Praia Brava não é diferente. Os pescadores também pegaram tainhas nos dois primeiros dias desta temporada, mas de tamanhos variados. “Aqui a tainha aparece em quantidade e no tamanho ideal a partir de 15 de maio. Por enquanto, elas vêm misturadas. Pelo menos não temos incomodação com os surfistas. Agora, a gente precisa esperar pelo vento sul, porque o Nordeste não serve”, desabafou o pescador Carlos Roberto Bernando, 49, o Carlinhos.

Saiba mais

A tainha se alimenta principalmente de detritos orgânicos e algas presentes sobre os fundos de estuários e lagoas costeiras, que são áreas de proteção, alimentação e crescimento;

Quando ultrapassa cerca de cinco anos de idade e o tamanho de 40 cm, a tainha está apta para a primeira migração reprodutiva em mar aberto. A migração reprodutiva ocorre em áreas costeiras nos meses de outono e de inverno, de forma associada à intensificação e passagem de frentes frias;

Após a desova em mar aberto, as tainhas adultas retornam para os estuários e lagoas costeiras, onde passam a maior parte do ano até a próxima migração;

As larvas são planctônicas (derivam à mercê das correntes marinhas). Após cerca de dois meses de estágio larval, os pré-juvenis (menores que um cm) agregam-se na zona de arrebentação das praias próximas às desembocaduras dos estuários, aguardando condições climáticas e oceanográficas favoráveis para entrada nos estuários;

A tainha vive em média 10,5 anos e pode atingir cerca de 1 m de comprimento. 

Fonte: Ministério do Meio Ambiente

Glossário da pesca

Patrão – É o dono das redes e das embarcações. Precisa coordenar os outros pescadores e divide as funções;
Olheiro – São fundamentais na pesca da tainha artesanal. Ficam em costões ou em locais mais altos observando a chegada dos cardumes. Antes, eles se utilizavam de apitos e camisetas para sinalizar, mas trabalham com rádios comunicadores;

Remeiros – São os remadores das embarcações. Normalmente, uma canoa tem quatro remeiros. São os pescadores mais fortes, que precisam ter coordenação motora e muita disposição;

Bucheiros – Também trabalham embarcados e a sua principal função é a de colocar a rede no mar. São responsáveis em montar o cerco aos cardumes;

Livreteiro – São os pescadores responsáveis pelas anotações das capturas e dos gastos. É um tipo de tesoureiro da pesca. Cuida da contabilidade.

Temporadas de pesca escalonadas por modalidade

- de 1º de maio a 31 de dezembro para pescarias artesanais de pequena escala (embarcação sem motor e de praia);
- de 15 de maio a 31 de julho para a pesca artesanal de média escala (emalhe) 
- de 1º de junho a 31 de julho para a pesca industrial, de grande escala (cerco).

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Capturas por unidade de 1º a 3 de maio

Ingleses - 250
Brava - 460
Barra da Lagoa - 51

(Do https://ndonline.com.br)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

TÃO VENDENDO SC

Macri foi recebido por Michel Temer nesta terça-feiraFoto: ANDRESSA ANHOLETE / AFP

Presidente Macri diz que vai "anexar Santa Catarina" à Argentina
Brincadeira sobre a já tradicional invasão dos hermanos ao Estado ocorreu em almoço com o presidente Michel Temer e outras autoridades em Brasília

Que os argentinos já se sentem em casa quando vêm para Santa Catarina na temporada de verão, ninguém duvida. Mas agora, a coisa ficou "séria". O presidente argentino Mauricio Macri declarou nesta terça-feira, em Brasília:

— Vamos anexar Santa Catarina à Argentina a qualquer momento.

A brincadeira com a já tradicional invasão dos visitantes do país vizinho ao litoral catarinense ocorreu durante a primeira visita oficial de Macri ao Brasil. Ele foi recebido e se reuniu com o presidente Michel Temer no Palácio do Planalto e participou também de um almoço no Palácio Itamaraty, que contou inclusive com a presença do governador Raimundo Colombo.

— Os argentinos creem muito nesse vínculo que existe entre os países. Sentimos que há uma corrente de afeto histórica, que cresce dia a dia, tanto que vamos anexar Santa Catarina à Argentina a qualquer momento — disse Macri, provocando risadas entre os presentes.

O presidente Temer também brincou com a familiaridade entre argentinos e os Estados do Sul do país, já habituados a receber grande quantidade de turistas.

— Vários governadores estão aqui. Percebo que Santa Catarina e Rio Grande do Sul de alguma forma se julgam integrados à Argentina. Vieram todos — destacou.
(Do www.clicrbs.com.br)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

NAVEGANDO MAIS CARO

Os barcos possuem capacidade para 30 a 95 pessoas, alternadamente 
 Foto Guto Kuerten / Agencia RBS

Tarifa de barcos da Costa da Lagoa, em Florianópolis, tem reajuste de 33% 
Passagem subiu de R$ 7,50 para R$ 10; para moradores cadastrados, preço segue R$ 2,50 

por Marcus Bruno


Começou a ser cobrada nesta terça-feira (13) a nova tarifa dos barcos que fazem o trajeto Lagoa da Conceição – Costa da Lagoa, no leste da Ilha. A passagem passou de R$ 7,50 para R$ 10, um reajuste de 33%. No entanto, para os moradores da comunidade cadastrados na Cooperativa de Barcos de Florianópolis, o valor segue de R$ 2,50.

Segundo o presidente da Cooperbarco, Aílton José Goes, a tarifa aumentou consideravelmente porque há cinco anos o valor não era reajustado.

— Na época do último aumento, o óleo diesel era R$ 2,20. Agora está R$ 3,40, e a passagem continuava R$ 7,50. Por isso que aumentou bastante assim. Tinha dia que a gente trabalhava só pelo óleo, sem tem lucro nenhum — argumenta.

Ele também garantiu que a passagem para os moradores não sofrerá mudanças nesta temporada. Goes, no entanto, lembrou que essa tarifa é a mesma há sete anos. Para o presidente da Cooperbarco, o novo preço não irá afugentar turistas.

— Começou hoje, e já levamos mais de 200 turistas. Nenhum deles reclamou. Estava barato demais. Para se ter noção, da Armação até o Campeche, eles cobram R$ 120. E nossos barcos são muito melhores, mais seguros, com estofados — compara.

Durante a temporada, são transportados cerca de 1 mil passageiros por dia nas 28 embarcações da Cooperbarco. No restante do ano, esse número cai para 350. Os barcos possuem capacidade para 30 a 95 pessoas, alternadamente.

A Costa da Lagoa é um dos principais pontos turísticos da Ilha de Santa Catarina. Entre as atrações, estão 14 restaurantes, o Casarão da Dona Loquinha, construído há mais de 100 anos por escravos com óleo de baleia, o Engenho de Farinha, cachoeira, a Igreja de Nossa Senhora de Navegantes, a praia do Saquinho e Santuário dos Passarinhos.


(Do http://horadesantacatarina.clicrbs.com.br/)

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

MAR DE CULTIVO

Foto Alvarélio Kurossu / Agencia RBS

SC mantém liderança na produção de ostras, vieiras e mexilhões
Estado é responsável por 98,1% dos moluscos produzidos no país

Santa Catarina continua líder nacional na produção de ostras, mexilhões e vieiras. Em 2015, 98,1% das 21,06 mil toneladas de moluscos produzidas no país saíram do Estado. O dado faz parte da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM), divulgada nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar da liderança isolada, o ano passado teve queda na maricultura do Estado: foram 4,6% a menos na comparação com 2014.

De acordo com os especialistas do IBGE, essa queda não decorreu em função de problemas climáticos. Foi a recessão econômica o principal fator da desaceleração na produção, pois são alimentos mais caros e houve uma redução no poder de consumo da população. Além disso, ocorreu um incremento na fiscalização sanitária, levando pequenos maricultores clandestinos a desistirem da atividade.

Entre as maiores cidades produtoras do país, nove das dez primeiras ficam em Santa Catarina. O principal destaque é Palhoça, responsável por 65,2% da produção nacional e 66,5% da produção estadual. Já Florianópolis é referência na produção de sementes de ostras, vieiras e mexilhões: 91,6% do total nacional sai da capital catarinense.

Produção de peixes e suínos também é destaque

Santa Catarina também é bem representada na produção de peixes. O Estado é o quarto maior produtor do país, com 7% do total nacional, atrás apenas de Rondônia (17,5%), Paraná (14,3%) e Mato Grosso (9,8%). 

Já entre os suínos Santa Catarina ocupa a segunda colocação no ranking nacional, com um rebanho superior a 6 milhões de cabeças. Perde apenas para o Paraná. Entre os dez municípios com os maiores rebanhos, dois estão no Estado: Armazém (7º) e Concórdia (9º).
( Do www.clicrbs.com.br)

sexta-feira, 3 de junho de 2016

DEU NA MÍDIA

Foto Lélia Nunes/Divulgação
"Prontidão na praia Pescadores do Pântano do Sul, à espera dos lanços de tainha, que este ano não foram muito generosos para a comunidade."
(Da coluna do Carlos Damião no Nd de hoje - http://ndonline.com.br/florianopolis/)

domingo, 15 de maio de 2016

TAINHAS & TURISMO

Foto Gustavo Kuerten/Agência RBS


Turistas vivem experiência da pesca da Tainha em Floripa

Fim de semana passado fomos visitar amigos na Praia da Barra de Ibiraquera, em Imbituba, no Sul do Estado. Local lindo, que não conhecíamos, onde a lagoa e o mar se encontram. De repente, gritaria e foguetes: os pescadores estavam tirando das redes lindas e graúdas tainhas. Muitas delas. Que festa! Em minutos, a comunidade toda sabia da fartura e correu para a beira da praia para ver o lanço e, também, quem sabe, levar uma tainha para o almoço. Naquele sábado, véspera do Dia das Mães, as mulheres foram presentadas com um peixe cada uma, e voltaram para casa com o almoço de domingo garantido.

Enquanto assistia os pescadores fazendo a divisão dos peixes e recolhendo as redes (foram cerca de 2,5 mil tainhas naquele início de tarde), pensava em como os turistas, especialmente aqueles que não moram perto do mar, iriam gostar apreciar aquele cenário e ver o resultado de uma pescaria, especialmente nesta época do ano. quando grandes cardumes de tainhas costumam das as caras por aqui. Quantas fotos lindas a pesca renderia para os visitantes, e que histórias interessantes teriam para contar quando voltassem para casa! 

Feliz surpresa a minha quando recebi por e-mail um recado de uma amiga. A coincidência: ela contava que com o início da temporada da pesca da tainha, a agência de viagens Floripa Xperience, especializada em atrativos da Grande Florianópolis (grande ideia!) e filiada ao Floripa e Região Convention & Visitors Bureau, está iniciando um passeio que reúne turismo, costumes locais e gastronomia, tudo ao mesmo tempo. Consiste em levar os turistas, de manhã bem cedinho, até uma praia, para que eles vejam os pescadores artesanais em ação, puxando as redes ou, então, se a pesca foi de madrugada, repartindo as tainhas trazidas do mar poucas horas antes. Geralmente a praia escolhida para a experiência é a da Barra da Lagoa, reduto de pescadores tradicionais da Ilha.

Lá, entre goles de café e cachaça, os turistas ouvem histórias _ que pescador não tem uma boa história para contar? _ e, dependendo do dia, podem inclusive ajuda a puxar as redes, garantia de excelentes fotos e vídeos. Depois, já com as tainhas do almoço devidamente escolhidas pelos guias, os turistas seguem de barco até um restaurante da Costa da Lagoa, outro local incrível e cheio de histórias, onde a iguaria é preparada na frente dos convidados, que podem aprender a limpar, escalar e preparar os peixes na brasa. Enquanto aproveitam para explorar a região, o almoço fica pronto. À tarde, o barquinho volta para a Barra e os visitantes são levados aos hotéis, com mais uma bela experiência em seus currículos. São momentos como esses, de imersão nas comunidades locais, que fazem toda a diferença e enriquecem a vida dos turistas que não se contentam apenas em conhecer (e fazer selfies) nos cartões-postais das cidades.

Turistas aprendem a tirar escamas, limpar e preparar as tainhasFoto: Divulgação/Floripa Convention
( Do http://dc.clicrbs.com.br/sc/colunistas/viviane-bevilacqua/)

sexta-feira, 25 de março de 2016

CARROS NAS PRAIAS

Praia do Pântano do Sul, em Florianópolis, tem trânsito de veículo proibido, exceto para moradores e trabalhadores locaisFoto: Charles Guerra / Agencia RBS

Estacionamentos à beira do mar têm tratamentos diferenciados em SC

Apesar de lei e decreto federais restringirem a obstrução do acesso ao mar e dos impactos ambientais, praias de Santa Catarina ainda permitem estacionar sobre a areia

Erich Casagrande


Alguns preferem a facilidade de chegar até a beira do mar para estacionar o carro e curtir a praia, outros entendem que os veículos devem ficar distantes da orla e que a faixa de areia é para o uso exclusivo das pessoas. Em Santa Catarina, pelo menos cinco cidades do litoral encaram essa situação de formas diferentes. Praias deFlorianópolis, Araranguá e Governador Celso Ramos, por exemplo, passaram a proibir a prática depois de serem acionados pelo Ministério Público Federal. A base legal sobre o assunto é o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (lei federal 7.661, de 1988) e o decreto federal 5.300, de 2004.

De acordo com a legislação, as praias são bens públicos de uso comum, com o livre e franco acesso a elas e ao mar em qualquer direção e sentido. Segundo a presidente da Comissão do Meio Ambiente de Ordem dos Advogados do Brasil em Santa Catarina, Rode Anélia Martins, estacionar o veículo na orla do mar é desrespeitar o espaço público.

— À medida que alguém estaciona, toma aquele espaço de tal forma que influencia no uso da área pública por parte das outras pessoas, dificultando o uso natural da praia. São aspectos de segurança, ambiental, e área pública que passam a ser desrespeitados — explica Rode, que ainda acrescenta que a praia não é citada no código brasileiro de trânsito justamente por não prever a área como um lugar de tráfego ou estacionamento.

Mas isso não é o que ocorre em todos os lugares de Santa Catarina. Enquanto as praias do Pântano do Sul, em Florianópolis, Camboa, em Governador Celso Ramos, e Morro dos Conventos, em Araranguá, foram acionadas pelo MPF — inclusive alvo de uma ação civil pública que determinou o comprimento da lei e a definitiva proibição de veículos na praia, com exceção a moradores locais e pescadores — outras continuam a receber carros na faixa de areia. É caso de Arroio do Silva, onde também é realizada anualmente uma corrida de caminhões na orla, e de Garopaba, na Praia do Ouvidor.

— Os órgãos públicos, de foram geral, são bastante reativos de acordo com as demandas de denuncias. É difícil agir sobre tudo e cada lugar tem particulares sociais. Mas onde houver reclamações, pode haver uma ação do Ministério Público — explica Rode.

Em Balneário Arroio do Silva, o prefeito Evandro Scaini argumenta que foram feitas três reuniões sobre o assunto com o Ministério Público e que o trecho onde há acesso de carros à praia é para uso dos moradores locais, mas admite que outros motoristas aproveitam o espaço para estacionar. Ainda assim, esse espaço é separado por tocos de eucaliptos.

— O uso desse espaço está de acordo com a vontade de população e cada praia tem sua particularidade. O que está sendo feito aqui não prejudica o meio ambiente e serve para facilitar o acesso dos moradores — defende Scaini.

O prefeito de Garopaba, Paulo Sérgio Araújo, e a secretária de Planejamento e Meio Ambiente, Dilcéia Moreira, não foram localizados pela reportagem para falar sobre o uso de carros na Praia do Ouvidor.

Movimento na praia prejudica o meio ambiente, defende especialista

O biólogo Alcides Dutra também ressalta a função social que a praia tem de propiciar socialização, convivência de forma segura e destaca o impacto ambiental do fluxo de veículos. Segundo o biólogo a areia se movimenta de acordo com as ondas e vento, abriga crustáceos e a pressão sobre o solo e o barulho de veículos pode afastá-los do seu habitat natural. Segundo ele, alguns pescadores também relatam que até mesmo os peixes se escondem mais quando há mais movimento na praia.

— De forma muito simples, quando alguém imagina um praia linda e perfeita, a praia do sonhos onde deseja passar um dia inesquecível, nunca imagina um carro estacionado no meio dela. O carro não faz parte desse ambiente — simplifica.

Praia do Pântano do Sul restringiu movimento de veículos

Como resultado de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal, a praia do Pântano do Sul, em Florianópolis, limita, desde novembro, o movimento de veículos na orla. Sobre a areia, além de banhistas, apenas os barcos dos pescadores são permitidos. Alguns carros ainda se movimentam esporadicamente no canto esquerdo, mas não podem permanecer na praia. A ação definiu que a Polícia Militar deveria fazer a fiscalização e a prefeitura, colocar placas de sinalização, executar obras de afunilamento no principal acesso à praia e retirar as estacas que delimitavam o espaço para estacionar. Em fevereiro, o MPF entrou com uma petição na Justiça Federal questionando o não cumprimento de algumas das ações por parte da prefeitura. O juiz Marcelo Krás Borges determinou multa de R$ 1 mil por dia de descumprimento.

Apesar da ação civil pública ter mudado os hábitos no Pântano do Sul, ainda é possível ver turistas descumprindo a determinação: nesta quinta-feria à tarde, por exemplo, um veículo com placas da Argentina estava estacionado logo abaixo das placas que informam sobre a proibição. O comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar, coronel Marcelo Pontes, garante que a fiscalização tem sido feita com frequência, com apoio da Guarda Municipal. O secretário de Obras, Rafael Hahne, afirma que todas as medidas já foram tomadas.

Com a vigilância, os proprietários de restaurantes do Pântano do Sul perceberam melhora no ambiente. Fábio Laba não tem mais problemas para servir na praia seu clientes, que agora podem sentar com os pés na areia, e reconhece que a mudança requer um tempo de reeducação.

— A mudança gerou outro problema que é a falta de estacionamentos adequados, os que foram criados ficam lotados e as pessoas estacionam em lugares proibidos da mesma forma, só que fora da praia. Resta também saber se a fiscalização continuará o ano todo — questiona Laba.

Na chegada à praia, pela rua estreita, diversos quintais de casas viraram estacionamentos. Em 100 metros, havia oito com preços entre R$ 5 e R$ 15. O valor do estacionamento e a distância da praia é apontada por Amarildo Monteiro como uma das reclamações dos clientes locais que deixaram de frequentar os restaurantes:

— Muita gente não gostou de deixar o carro longe. É preciso um bom estacionamento porque esses que temos são pequenos e logo enchem.

Já o guarda-vidas Ariel da Rosa Viegas destaca o ganho de espaço e tranquilidade para os banhistas:

— As pessoas têm aproveitado mais a praia. Nessa área, perto dos restaurantes, agora se joga bola e os banhistas ficam mais tranquilos.

As leis nacionais

Tanto o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (lei 7.661, de 1988) e o decreto federal 5.300, de 2004 determinam que as praias são bens públicos de uso comum, sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido. As exceções são os trechos considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas protegidas por lei específica.

A presidente da Comissão do Meio Ambiente de Ordem dos Advogados do Brasilem Santa Catarina, Rode Anélia Martins, explica que a diferença de um veículo para uma tenda, barraca ou cabana sobre a areia é que a estrutura, apesar de também impedir o livre fluxo de pessoas, está de acordo com o propósito social da praia que é de convivência social. A estrutura, se legalizada e com alvará para funcionar, presta um serviço que vai de encontro ao lazer, sem prejudicar os demais. O mesmo vale para um guarda-sol particular, ele está de acordo com o uso do espaço.

Em Florianópolis
O Plano Diretor, em vigor desde 2014, já estabelece claramente que "é vedada a circulação de veículos automotores sobre as praias, costões, dunas e mangues".

(Do www.clicrbs.co.br)