sábado, 29 de setembro de 2018

OS FARÓIS E SEUS GUARDIÕES


OUTROS OLHARES...

Foto de Geraldo Cunha

Dunas do Pântano do Sul!

ESPORÃO DE BAGRE E O BADEJO DO MAL


Música autoral da banda catarinense Esporão de Bagre, uma composição de Helio Calandrini. 
Guitarra e Voz: Helio Calandrini, Tuba: Elisson Wilamil, Harmônica: Nestor "Green Blues", Bateria: Matheus Passos, Baixo: Tiago Alves.

DUNAS? PRA QUE SERVEM?

As dunas cercadas do Ceará
Praia da Baleia, litoral oeste do Ceará, dunas são cercadas

Dunas e suas funções como ecossistema e proteção costeira

Durante a primeira expedição do Mar Sem Fim, entre 2005 – 2007, estivemos no Ceará. Conversamos com o diretor do Instituto de Ciências do Mar, Labomar, Luis Parente Maia. A conversa girou em torno das dunas, tão freqüentes, e importantes, na paisagem de toda a zona costeira nordestina, mas não só dela. Só no Ceará são 295 quilômetros quadrados de dunas móveis, e 135 de dunas fixas.

Qual a importância das dunas?

Bem, por serem extremamente porosas, absorvem muita água, por isto são a principal fonte de água doce do litoral do Ceará. Elas são ainda uma importante proteção contra a força das marés, temporais, ressacas, e outros fenômenos climáticos. Devem ficar livres da interferência humana porque interagem com o ambiente e suas areias circulam, caem no leito dos rios, e são novamente trazidas para as águas do mar, e de lá para as praias, num movimento constante e dinâmico.

A formação das dunas

“Os sedimentos arenosos são transportados ao longo do tempo geológico e por isso as dunas têm idades variadas. Assim sendo, a princípio as correntes marítimas carregam grande quantidade de areia, depositando-as nas praias. Quando estes sedimentos estão secos, tem-se o início do trabalho de transporte realizado pelo vento, que os modela e os fazem acumular nas partes mais elevadas das praias.”

A especulação imobiliária

Mas este mesmo ecossistema é um dos mais ameaçados pela especulação, e a indústria do turismo. No litoral do Ceará empresas colocam cercas em áreas de dunas gigantescas, e afiam suas garras para, vencida a batalha pela posse da área, construir dezenas de hotéis de grande porte justamente em cima delas.
Na praia da Baleia, litoral oeste do Ceará, há uma cerca de quase cinco quilômetros de extensão com placas de projetos turísticos. Trata-se de uma área comprada há vinte anos, ao que parece, por um grupo italiano. Nela pretendem construir vinte e sete hotéis cinco estrelas! Quem nos falou sobre isto foi o professor Jeovah Meireles, da Universidade do Ceará. Segundo ele o Eia-Rima para este empreendimento, omite que a área pertence a uma comunidade indígena, os Tremembés. Na região existem quatro cemitérios desta etnia. Segundo Jeovah Meireles, a cerca começa na praia da Baleia, e vai até as margens do rio Mundaú, uma das mais belas regiões de todo o litoral cearense.

Dunas são APPs, Áreas de Preservação Permanente

Mas não é só. Mundaú é mais uma APP, Área de Preservação Permanente, por ser formada por dunas, e ter ainda lagoas, pequenos canais etc. Um ecossistema de biodiversidade exuberante, e de subsistência para as comunidades da região.
A linda paisagem de Mundaú

Mas em Mundaú querem erguer mais quatro hotéis de luxo. Precisa tanto? Não me parece. Temo pelo futuro do deslumbrante litoral oeste do Ceará. E percebo que no meio acadêmico há controvérsia. Alguns acham que o processo de ocupação tem anomalias, mas está sob controle. Outros afirmam exatamente o contrário e acusam os primeiros de estarem a serviço de grandes grupos, prestando serviços, ou assessoria. E você, arrisca um palpite? Na última viagem do Mar Sem Fim estivemos novamente em Mundaú. Não, os hotéis não foram construídos. Mas conseguiram detonar a beleza das dunas instalando em cima delas enormes torres eólicas. Precisava?
…agora destruída pela instalação das torres eólicas

Espírito Santo

Chegamos em Riacho Doce no começo da tarde. Nossos últimos quilômetros foram feitos em chão batido já que o asfalto só chega até Barra da Conceição . De lá pegamos uma estradinha que leva inicialmente até Itaúnas, pequena cidade que ainda guarda o traçado original dos jesuítas, em forma de Quadrado, com uma igreja numa ponta e as casas em volta. Ali pudemos ver novamente a resposta da natureza ao mau uso da terra. A antiga vila de pescadores foi coberta por dunas de até 30 metros de altura e teve que mudar de lugar. De tanto cortarem a vegetação que as fixava, a areia acabou enterrando as casas, como nos explicou a professora Jacqueline Albino.
Itaúnas: onde as pessoas caminham havia antes uma vila de pescadores. Foi soterrada.

Maranhão

A UC, com seus 150 mil hectares, tem o tamanho da cidade de São Paulo. O campo de dunas, imenso, pode atingir até 25 quilômetros de extensão da praia para o interior. E algumas atingem até 40 metros de altura. O conjunto é de arrepiar. Bonito, exótico, diferente. O colorido é outro atrativo. Na melhor época para as visitas, de maio até outubro, é muito raro não ter um céu aberto, sem nuvens, de um azul espetacular. As lagoas, com água muito limpa, são formadas pelas chuvas (que ocorrem de dezembro até maio) e pelo afloramento do lençól freático.
A beleza dos Lençóis Maranhenses

O nome Lençóis vem do fato das dunas, com suas curvas sinuosas e alturas diferentes, lembrar um lençol estendido na cama. Sua formação, incomum pelo tamanho, deve-se à proximidade do Delta do Parnaíba que fica ao lado.

Litoral do Rio Grande do Sul
De Torres até o final da restinga que separa a Lagoa dos Patos do mar, a planície costeira gaúcha foi ‘premiada’ com reflorestamentos feitos em áreas de dunas. Para tanto os alagados, atrás das dunas, foram drenados! Esta ação desastrada trouxe duas sérias implicações. A vegetação que fixava as dunas frontais na costa do estado, morreu sem a água. Agora quando entra o ‘nordestão’ suas areias voam para o interior. Ao mesmo tempo, um sem-número de animais, especialmente mamíferos, anfíbios e répteis que habitavam as áreas úmidas, diminuiu drasticamente.
Construir em cima de dunas dá nisso…Balenário do Mernegildo, RS

O Parque Nacional da Lagoa do Peixe, RS

A área do Parna da Lagoa do Peixe tem 34.400 hectares (algo como 70 mil campos de futebol). Ele é formado por dunas móveis, praias, banhados, falésias, mata de restinga, e uma lagoa. A paisagem é de tirar o fôlego. E além disso, é frequentado por milhares de aves num frenesi gastronômico bem na sua frente. Algumas vêm do Alasca, como os maçaricos, por exemplo. Outras voam da Patagônia até o Parna, são os flamingos. Ali as aves se alimentam, para em seguida retornarem a seus locais de origem. Mas as lagoas do parque estão sendo assoreadas em razão do fim da vegetação que cobria as dunas.
As dunas do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, RS

Deslocamento de dunas no litoral brasileiro

“Há áreas bastante ameaçadas pelo avanço ou deslocamento das dunas, como por exemplo em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, Mangue Seco na divisa dos estados da Bahia e de Sergipe e Itaúnas no Espirito Santo. Isso modifica e destrói todo o ecossistema adaptado as essas localidades, além de sujeitar os seres humanos a graves perigos.

Dunas, importante ecossistema

“São consideradas importantes ecossistemas por abrigarem uma diversidade biológica impar, composta por uma flora rica em espécies e uma fauna constituída por insetos, répteis, anfíbios, pequenos mamíferos e por algumas espécies de aves marinhas que utilizam as dunas para construírem seus ninhos.”

Fontes: www.marsemfim.com.br; https://www.webartigos.com/artigos/a-importancia-das-dunas-costeiras-e-o-caso-das-dunas-no-balneario-cassino-rio-grande-rs/20969#ixzz50gj3yuDW; http://www.portalsaofrancisco.com.br/geografia/dunas.

(Via https://marsemfim.com.br/)

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

E O SIRI MOLE? UMA DELÍCIA!

 Postado por Manuela Luiza 

O siri é aquele crustáceo que permanece na lembrança das pescarias de infância de todos nós. Ou então, na lembrança não tão boa assim de quem já teve algum pequeno incidente em uma praia durante um momento de lazer. Pisar em um siri ou levar uma beliscada de suas garras, que às vezes grudam pra valer, é no mínimo desagradável. 

Mas a carne deste crustáceo marrento é muito saborosa e apreciada na região de Laguna. Seu comportamento voraz, de manter-se agarrado a sua presa, facilita a captura. Esta particularidade fez da pesca do siri uma das mais diversas com relação ao tipo de petrecho. É possível capturá-lo até mesmo com as mãos, se houver coragem e jeito suficiente. Seja de linha de coca, tarrafa, espinhel ou covo, pegar siri é muito mais fácil do que comê-lo. Durão como ele só, a carapaça tem que ser quebrada para retirar a carne. Mas e se pudéssemos comer o siri com casca e tudo?

Como um bom crustáceo, o siri realiza a muda, ou seja, a troca periódica da carapaça. Quando o siri começa a crescer, ele abandona a sua carapaça antiga para que uma maior seja formada e o permita crescer ainda mais. Durante as poucas horas em que o siri fica sem sua "armadura", ele fica totalmente mole e vulnerável. Está aí nosso siri mole, fácil de ser consumido, e ainda mais saboroso.
 As técnicas dos pescadores para capturar o siri neste período foram estudadas e hoje o cultivo de siri mole já é realizado em alguns lugares do mundo, inclusive no Brasil. Muitos dos cultivos ainda retiram os siris do ambiente, mas o cultivo de siri mole mostra-se promissor, ainda que a reprodução em cativeiro tenha alguns gargalos, como o canibalismo nas fases iniciais. 

No Complexo Lagunar do Sul de Santa Catarina duas espécies chamadas de siri-azul são exploradas pela pesca: Callinectes sapidus e C. danae. C.sapidus encontra-se ameaçado e é umas das espécies estudadas para o cultivo no Brasil. Esta espécie possui uma ampla distribuição mundial e é conhecida por seu grande tamanho, tornando-se assim muito interessante para a produção de siri mole. 
A grande sacada da produção de siri mole está no seu valor agregado. O alto preço do siri mole pode garantir uma proteção para espécies ameaçadas, e maior renda com uma captura menor. Porém, como toda atividade, é necessário responsabilidade ambiental. Investimentos em estudos para a completa reprodução em cativeiro com menor mortalidade podem garantir uma preservação de estoques no futuro. 

Assista o vídeo e veja o processo de muda no siri.

Para comprar siri mole, entre em contato com a Siri Mole Blueshell de Blumenau, a única empresa produtora de siri mole em cativeiro do Brasil.

(Do Observatório Tecnológico de SC - Pesca - http://www.observasc.net.br/pesca/index.php/noticias/cultivo/)

TARDE INDO, NOITE SENDO!

Foto Fernando Alexandre
Crepúsculo de primavera - Pântano do Sul

ACHAQUE NO MAR CONTINUA...

Milícia explora venda de camarão no Litoral do Rio de Janeiro. na foto, pescador legal tora o sustento do mar. Foto Marcelo Regua / Agencia O Globo Foto: Marcelo Regua / Agência O Globo

Milícia lucra R$ 1, 2 milhão com pesca de camarão rosa em período proibido no litoral do Rio
Marcos Nunes

No litoral do Rio de Janeiro, a milícia marítima não explora apenas a cobrança de taxas para permitir a pesca de quem não tem o Registro Geral de Atividade Pesqueira ou é flagrado pescando em período proibido. Na Baía da Ilha Grande e no mar de Angra dos Reis, na Costa Verde, há um outro tipo de negocio explorado por paramilitares. De acordo com pescadores e com uma fonte envolvida na fiscalização da pesca predatória, uma frota composta por pelo menos 20 barcos irregulares,que presta serviços para milicianos, foi utilizada nos meses de março, abril e maio últimos para pescar irregularmente o camarão rosa na região.


Na foto, um pescador tira um camarão da rede. Foto Marcelo Regua / Agencia O Globo Foto: Marcelo Regua / Agência O Globo

Protegido nos três referidos meses por conta do defeso (época de proibição da pesca para fins de reprodução), o crustáceo é capturado vendido por um preço médio de cem reais o quilo. O lucro com as vendas por cada embarcação, nesta época, chega a casa de R$ 60 mil. Levando em conta o número de embarcações da milícia, o dinheiro arrecadado pelo bando gira em torno de R$ 1, 2 milhão nos meses de captura proibida. A presença de barcos da milícia, que geralmente partem de pontos de Pedra de Guaratiba e de Sepetiba, na Zona Oeste, não é nenhum segredo e já foi comunicada oficialmente ao Ibama,encarregado de fiscalizar a pesca predatória.

— No início do defeso, em março, fizemos uma reunião com 30 representantes de pescadores e com o pessoal do Ibama. Os próprios pescadores reclamaram da presença de barcos irregulares pescando no defeso. O camarão rosa tem um valor comercial alto. Aqui em Angra dos Reis, são pescados de junho a fevereiro, cerca de cem toneladas do crustáceo. Nosso calculo é que pescadores de uma embarcação média lucrem, por mês, cerca de R$ 10 mil a R$ 20 mil, com a venda deste tipo de camarão . Da nossa parte nós fazemos conscientização dos pescadores legais para o defeso. A fiscalização não é nossa competência — disse Wagner Robson Meira , secretário da Secretaria de Agricultura, Aquicultura e Pesca de Angra dos Reis.

Um pescador, que pediu para não ser identificado, confirma que os barcos da milícia são cada vez mais frequentes no mar de Angra e da Ilha Grande .

— Nós respeitamos o defeso, mas os barcos da milícia aparecem e pescam à vontade com rede de arrasto. Matam desde camarão rosa até pexe miúdo. Pescam, mais ou menos, uns 300 quilos de camarão por noite. No defeso, é fácil encontrar eles por aqui. A coisa é perigosa —disse.

Procurada, a assessoria do Ibama disse que a fiscalização na região foi intensificada . Segundo o Ibama, resultados das operações de combate à pesca ilegal no litoral fluminense mostram que as autuações até o momento já superam o total do ano passado e que o volume de pescado e o número de barcos apreendidos também superam o total de 2016.

Já a Marinha do Brasil afirmou não ter nenhuma investigação sobre a presença de barcos da milicia no mar de Angra e da Ilha Grande, já que isso extrapola sua competência legal. No entanto, a Marinha afirmou ter parcerias com órgãos diversos, como Polícia Federal e o Ibama, e que está desenvolvendo o sistema de gerenciamento da Amazônia Azul, que já foi utilizado na segurança nos Jogos Olímpicos de 2016 . Ainda segundo a Marinha, foram planejados quatro centros e de comando no Rio de Janeiro.

(Do https://extra.globo.com/)

MAR DO SOLDA


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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

CAMPECHE - ÁGUAS DA PLANÍCIE

Redescobrindo a Planície do Campeche é uma Websérie em 5 episodios, filmada no morro do Lampião, Campeche, Florianópolis-SC. O escritor Hugo Daniel relata ao cineasta Ademir Damasco a história de cada espaço observado, aproveitando a vista privilegiada.

MAREGRAFIAS

Foto Geraldo Cunha
Praia de Moçambique

ACHAQUE NO MAR

Pescadores da Baia de Guanabara começam a sofrer pressão de uma nova milícia. Praia das Pedrinhas, em São Gonçalo. Foto Custodio Coimbra Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

Milícia já cobra taxa de pescadores no litoral do Rio de Janeiro 

Marcos Nunes

Quem tira o sustento do mar está tendo que remar contra uma milícia que invadiu o litoral do Estado do Rio. São maus policiais que abordam embarcações para extorquir dinheiro daqueles que não têm o Registro Geral de Atividade Pesqueira (RGP). O documento é obrigatório para exercer a atividade de pesca profissional artesanal, mas está com a emissão suspensa pelo governo federal há três anos.
Na foto, Praia das Pedrinhas, na Baía de Guanabaraem São Gonçalo. Foto Custodio Coimbra Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

O grupo criminoso, que teria ainda a participação de servidores federais de órgãos não identificados pelas vítimas, tem exigido de R$ 250 a mil reais para que os barqueiros não percam a sua rede, que custa cerca de R$ 4 mil. A propina também evita que o pescador seja levado para a delegacia.
A atuação desse grupo, que está sendo chamado de milícia marítima, não para por aí. Pescadores denunciam que eles também exigem dinheiro de quem joga a rede no período do defeso (época de proibição da pesca para fins de reprodução), o que é crime ambiental com pena de um a cinco anos de prisão, além de multa que varia de R$ 700 a R$ 100 mil.

Milícia cobra para permitir pesca na épioca do desfeso, no Litoral do Rio. Foto Custodio Coimbra Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

Neste caso, como existe a possibilidade de prisão em flagrante, o valor da propina aumenta, variando de R$ 2 mil a R$ 4 mil, dependendo da quantidade de pescado que já estiver no barco.

O Ministério Público Federal (MPF) determinou no último dia 11 a abertura de dois inquéritos para investigar a atuação da milícia marítima: um na esfera criminal, para identificar e prender os autores das extorsões, e outro na área cível, para tentar punir administrativamente os culpados.
Agência O Globo

A denúncia chegou ao MPF através de de um ofício da Comissão de Representação para Acompanhar o Cumprimento das Leis, da Assembleia Legislativa (Alerj), como antecipou Ancelmo Gois em sua coluna de ‘‘O Globo’’, na semana passada. No documento, o presidente da comissão, o deputado Carlos Minc (PSB), ressalta que o esquema tem a participação de agentes federais, mas exclui dele funcionários do Ibama e da Capitania dos Portos, responsáveis pela fiscalização no mar.

— Isso já vem ocorrendo há algum tempo. No período do defeso, os valores da propina dobram, e quem não paga tem o material apreendido e é detido. Os pescadores querem garantias e estão apavorados. Vários deles confirmaram para a gente que se sentem inseguros. Eles pediram ajuda — disse o parlamentar.

Uma das vítimas dos milicianos foi um homem de 48 anos, flagrado quando pescava camarão com amigos, de madrugada, na Baía da Guanabara. Além da falta do registro, era o período de defeso. Ele contou que policiais em dois jet skis abordaram sua embarcação e outros dois barcos, que foram levados, com a tripulação, para um cais junto à Favela Roquete Pinto, em Ramos, única comunidade do Complexo da Maré controlada por milícia. Segundo ele, os pescadores só saíram de lá com o sol a pino, após pagar R$ 3 mil para que não fossem presos e tivessem suas redes apreendidas.
— Exigiram R$ 3 mil para nos liberar. Fiquei com medo de perder tudo e ainda ir preso. Estava com uns dois quilos de camarão vivo. Pegamos nossos celulares e ligamos para alguns amigos. Fizemos uma “vaquinha” e conseguimos pagar o que eles queriam — denunciou o pescador, que está com o RGP vencido e não consegue renová-lo.

Outro pescador, de 50 anos, não conseguiu se livrar da rede de corrupção. Ele disse que foi abordado na Baía por policiais também em jet skis. Segundo seu relato, ele e os ocupantes de três outros barcos, que pescavam camarões, foram levados para um cais, numa comunidade da Ilha do Governador. Sem dinheiro para a propina, o pescador acabou indo parar na delegacia, onde foi autuado por crime ambiental, além de ter ficado sem o material de pesca.
— Na saída da delegacia, um dos policiais chegou e nos fez uma proposta. Disse que, para não sermos mais abordados, deveríamos pagar R$ 400 por mês cada um, sendo R$ 200 por quinzena. Pediu para transmitirmos o recado aos outros pescadores. Eu não aceito isso. Não tenho como pagar. Por isso, não tenho mais ido pescar. Estou tentando fazer fretes para sobreviver. Só não sei até quando vou aguentar essa situação — disse.
Os valores da propina cobrada pela milícia variam de acordo com a região. Em Angra dos Reis, pescar sem o registro sai mais caro. Na tabela da corrupção, a liberação de uma rede fica em R$ 500. Se houver uma segunda na mesma embarcação, o custo dobra. Na Baía de Guanabara, o material de pesca sai pela metade deste valor. Um pescador, que atua na Baía de Angra há 20 anos e pediu anonimato, contou que a quadrilha tem uma lista com os nomes de quem tem registro de pesca:
— Quem não está na lista tem de se acertar com eles. Geralmente, quando há flagrante, é o barqueiro quem recolhe o dinheiro dos tripulantes e acerta depois com os policiais — diz.
Segundo ele, também há extorsão em Itaguaí e na Ilha da Madeira. Outro pescador, que trabalha na Baía de Guanabara, saindo da Ponta D’Areia, em Niterói, e do Gradim, em São Gonçalo, disse que não consegue pescar se não pagar a propina.
— Às vezes, quando a embarcação chega ao cais, os caras já estão lá esperando para verificar se tem algum peixe proibido no barco (protegido pelo defeso) e se o pescador tem o registro. Se tiver algo errado, tem que pagar de R$ 250 a R$ 500 ou, então, perde tudo e ainda pode ser preso — disse um pescador.

A Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (Seap) confirmou que a emissão do Registro Geral de Atividade Pesqueira (RGP) está suspensa desde 2015, por recomendação da Controladoria Geral da União (CGU) para correções que ainda estão sendo implantadas no sistema. O órgão esclareceu, no entanto, que uma portaria permite a pesca mediante a apresentação do protocolo do pedido de emissão do documento. Marizelha Carlos Lopes, integrante do Movimento dos Pescadores e das Pescadoras (MPP) do Brasil, no entanto, diz que os fiscais não aceitam esse protocolo:
— Cerca de 700 mil pescadores do país estão aguardando a emissão do RGP. Na prática, o protocolo não é aceito como licença de pesca nem para o recebimento do auxílio-defeso (pago aos pescadores no período em que a pesca fica proibida) — reclama Marizelha.
A CGU informou que estão sendo implantadas mudanças na emissão do registro porque foram constatadas irregularidades em 66% dos pedidos do benefício do seguro-defeso, concedido a quem tem o documento.

Já a Polícia Militar informou não ter recebido qualquer comunicação de desvios de conduta de seus agentes na Baía. O Ibama divulgou que apreendeu 33 barcos e 58.332 quilos de pescado no litoral do Rio este ano, mas não comentou a denúncia dos pescadores.

(Do https://extra.globo.com/)

MAR DO PAULO GOETH

Foto Paulo Goeth

E o Campeche aquarelou...

LÁ NO FUNDO


Direito de imagemREUTERS/PREFEITURA DE CASCAISImage captionRestos da embarcação e objetos localizados nas proximidades, segundo especialistas, estavam muito bem preservados

O navio português que naufragou há 400 anos e foi encontrado só agora

Uma embarcação naufragada há 400 anos encontrada na costa de Portugal vem sendo considerada a "descoberta da década" para a arqueologia subaquática do país.

Especiarias como pimenta, cerâmicas e canhões com o brasão de armas português gravado foram localizados perto dos destroços, nas proximidades de Cascais, cidade a 31 km da capital, Lisboa.

A equipe de arqueólogos acredita que o navio estava voltando da Índia quando afundou, entre 1575 e 1625.

Essa época foi o auge do comércio de especiarias de Portugal com a Ásia. 
A descoberta foi feita como parte de um projeto arqueológico de 10 anos apoiado pela cidade de Cascais, pelo governo e pela marinha portuguesa, bem como pela Universidade Nova em Lisboa.

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, à CNN e à agência de notícias Reuters, o diretor do projeto, Jorge Freire, observou que ela é importante porque "diz muito", por exemplo, "sobre a história e identidade marítima de Cascais".

O especialista afirmou que o naufrágio - achado 12 metros abaixo da superfície - estava muito bem preservado e que os objetos encontrados e o próprio navio são de grande valor patrimonial.
"Do ponto de vista do patrimônio histórico, é a descoberta da década", disse Freire, para quem o achado "é o mais importante de todos os tempos" para Portugal.

"O reconhecimento da comunidade científica de que é a descoberta da década, do século, em termos de arqueologia marinha, é para nós uma grande satisfação", reforçou o prefeito de Cascais, Carlos Carreiras, em entrevista à CNN.
Direito de imagemREUTERS/PREFEITURA DE CASCAIS
Direito de imagemREUTERS/PREFEITURA DE CASCAIS

Ao jornal britânico The Guardian, ele descreveu a descoberta como um dos achados arqueológicos mais significativos da última década e analisou que, embora o cargueiro ainda não tenha sido identificado, pode ser significativo para a cidade.

"É uma descoberta extraordinária, que nos permite conhecer mais sobre nossa história, reforçando nossa identidade coletiva e valores compartilhados", declarou Carreiras. "Isso, por sua vez, certamente nos tornará mais atraentes e competitivos".

Fragmentos de porcelana chinesa do final do século 16 e início do século 17 também estavam entre os destroços, assim como pedaços de artilharia de bronze e conchas usadas como moeda no tráfico de escravos.

A Câmara Municipal de Cascais disse que o navio foi encontrado no início de setembro, durante um serviço de dragagem na região da foz do rio Tejo, que desemboca em Lisboa. Os vestígios estão dispersos em uma área estimada em 100 metros de comprimento por 50 metros de largura.

O ministro da Cultura, Luis Mendes, disse que a foz do Tejo era considerada um ponto crítico para as embarcações que se aproximavam da costa portuguesa.

E que "esta descoberta veio para provar isso".

Direito de imagemREUTER
S
Direito de imagemREUTERS

(Do https://www.bbc.com/)



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À DERIVA

Jovem indonésio sobreviveu após ficar 49 dias à deriva em cabana flutuante no Oceano Pacífico — Foto: Reprodução/Facebook/Consulado da Indonésia em Osaka

Jovem indonésio sobrevive após ficar 49 dias à deriva no Oceano Pacífico

Do G1.

Um jovem indonésio sobreviveu 49 dias à deriva no mar, em uma cabana de pesca flutuante, até ser resgatado por uma navio de bandeira panamenha, e conseguir voltar para casa após ser deixado no Japão por essa embarcação.

As informações são da correspondente na indonésia do jornal britânico “The Guardian”.

Aldi Novel Adilang, de 19 anos, trabalhava acendendo lâmpadas em uma armadilha flutuante de peixes, conhecida localmente como rompong, que ficava a 125 km de distância mar adentro.

O rapaz tinha apenas alguns dias de suprimentos e sobreviveu pegando peixes, queimando madeira de sua cabana para cozinhá-los, e sugando água do mar de suas roupas para tentar reduzir a ingestão de sal.

O consulado indonésio em Osaka disse que 10 navios haviam passado pelo jovem indonésio antes que um navio de bandeira panamenha, MV Arpeggio, finalmente o recolhesse nas águas da ilha de Guam em 31 de agosto – mais de um mês e meio depois.

(Via https://www.diariodocentrodomundo.com.br/)

terça-feira, 25 de setembro de 2018

DEPOIS DA CHUVA

Foto Fernando Alexandre

LÁ EMBAIXO DAS ONDAS

Foto Mark Tripple
Mark Tripple é o principal fotógrafo de uma iniciativa chamada The Underwater Project,com interessantes imagens captadas sob as águas.
Tripple inicialmente tentou fotografar nadadores, mas acabou voltando suas atenções ao poder das ondas.
As cenas fotografadas por ele, sem nenhuma presença humana, oferecem uma perspectiva única da força e da energia dos oceanos.

Tripple já fotografou mares da Austrália, Indonésia, ilhas no Pacífico, costa oeste dos EUA e do Alasca. Ele sempre viveu ao lado do oceano.

Povos Navegadores - OS VIKINGS

Com conhecimentos de astronomia e detentores de uma tecnologia que os permitia romper limites e viajar para lugares distantes de sua terra natal - Noruega, Suécia e Dinamarca - Os Vikings, os povos guerreiros da Escandinávia, eram também exímios navegadores.
Durante a "era viking", que vai do século VI ao XI, em seus longos e rápidos navios chamados de drakkars (dragão) atacaram e conquistaram a costa do Mar Báltico, na Rússia, a Normandia, ao norte da França , a Escócia e a Inglaterra. Exerceram também seu poder atacando a costa de vários outros países europeus, como Portugal, Espanha e Itália.
Na Groelândia chegaram a criar colônias e alcançaram a América antes da descoberta de Cristóvão Colombo, empreendendo ainda uma fracassada tentativa de colonização na costa sudeste do Canadá. Há também indícios de que chegaram até a Palestina.
Belicosos, inquietos e conhecidos principalmente por seu vandalismo, a imagem histórica dos vikings mudou um pouco ao longo dos tempos. Hoje adimite-se a sua importância e são reconhecidos pela grande contribuição que deram à tecnologia marítima e construção de cidades. Também faziam comércio pacificamente.
Os vikings costumavam usar lanças (como o deus Odin) e machados. Seus capacetes eram cônicos, como se vê na imagem do timoneiro (foto lá em cima), e não possuiam chifres (como são apresentados).
"The Pursuit of Vikings", música do album "Fate of Norns" da banda sueca Amon Amarth.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

MAR DE MAYSA !


O CAMARÃO NOSSO DE CADA DIA...


Você come camarão? Foto: theecologist.org.

Você come camarão? Então, melhor se informar sobre o que está em jogo…

Nestes tristes dias que vivemos, o país ameaçado de quebrar, população dividida, e perspectivas nada otimistas pela frente, talvez não fosse o momento para levar mais problemas à população. Feliz, ou infelizmente, é essa nossa profissão e nosso foco, como já dito, “estudar e divulgar as questões relativas ao mar e à zona costeira.” Então, vamos lá, você come camarão?

Conheça a carcinicultura ou, criação de camarões em cativeiro…

Se você come camarão, saiba que tudo começou nos anos 70, no sudeste asiático, quando a abertura de fazendas pipocava. Febre mesmo! “A criação de camarões comerciais em larga escala começou na década de 1970. A produção cresceu acentuadamente, particularmente para atender às demandas do mercado dos Estados Unidos, Japão e Europa Ocidental. A produção global total de camarão de criação alcançou mais de 1,6 milhão de toneladas em 2003, representando um valor de quase 9 bilhões de dólares. Cerca de 75% do camarão de criação é produzido na Ásia, em especial China e Tailândia. Outros 25% são produzidos principalmente na América Latina, onde Brasil, Equador e México são os maiores produtores. O líder mundial em exportação é a Tailândia.”

Por que começou no Sudeste Asiático?

Porque trata-se de questão cultural. “O camarão é cultivado no Sudeste Asiático e na China há séculos, usando métodos tradicionais de baixa intensidade. Na Indonésia, o uso de lagoas de água salobra, chamadas tambaks, pode ser rastreado até o século XV. Eles usaram tanques de pequena escala para monocultura ou policultivos com outras espécies, como milkfish, ou em rotação com arroz, usando os arrozais para culturas de camarão durante a estação seca, quando nenhum arroz poderia ser cultivado.”

Os problemas

Tudo começou muito de repente, sem se prever o crescimento absurdo que teve a atividade até atingir o valor anual de mais de 9 bilhões de dólares! “A criação de camarões transformou empresas tradicionais de pequena escala no sudeste da Ásia, em parte da indústria global.”
Cada vez mais camarões…

“Os avanços tecnológicos levaram ao cultivo de camarões em densidades cada vez maiores, e a produção, embarcada para todo o mundo. Praticamente todos os camarões de criação são da família Penaeidae e apenas duas espécies – Penaeus vannamei (camarão branco do Pacífico) e Penaeus monodon (camarão tigre gigante) – representam cerca de 80% de todos os camarões de criação. Essas monoculturas industriais são muito suscetíveis a doenças, que causaram várias epidemias regionais de populações de camarões. O aumento dos problemas ecológicos, os repetidos surtos de doenças e as pressões e críticas de ONGs e países consumidores levaram a mudanças na indústria no final da década de 1990 e, em geral, à regulamentação mais forte por parte dos governos. Em 1999, foi iniciado um programa destinado a desenvolver e promover práticas agrícolas mais sustentáveis, incluindo órgãos governamentais, representantes da indústria e organizações ambientais.”

Traduzindo releases oficiais…

A maioria das matérias e estudos sobre a carcinicultura, na web, são patrocinados pela indústria do camarão. Seja a mundial, com predomínio das fazendas do sudeste asiático, sejam as fazendas como as do Nordeste do Brasil. Neste caso o guarda- chuva jurídico é a ABCC – Associação Brasileira de Criadores de Camarão. Todas disputam um apetitoso mercado de bilhões. O que estas matérias não dizem, por motivos óbvios, é que a pressa em supri-lo fez com que as fazendas fossem criadas em áreas de mangue, mais fácil de derrubar. Porque os mangues estão ao lado da imprescindível água do mar e, ao menos no Brasil, mangues são áreas públicas, não estão à venda, seria mais fácil ocupá-los. E assim a carcinicultura destruiu inutilmente grande parte dos manguezais do planeta, um dos mais importantes criatórios naturais marinhos, cuja maior parte fica na mesma região, o sudeste asiático. A comunidade mundial chiou e foi verificar mais de perto…

E descobriu a poluição química gerada pela criação

Ficaram chocados com a poluição química. Como disse o estarrecido pesquisador, Enric Sala: “Nas lagoas (do sudeste asiático), colocam os filhotes de camarões e, para evitar que as larvas de mosquito os comam, jogam uma camada de diesel para que os mosquitos não botem ovos na água. Depois jogam pesticidas para que não cresçam algas. Quando os camarões estão grandes, esvaziam a lagoa e os camarões ficam impregnados de toda essa sujeira. Em alguns casos, acrescenta-se corantes para terem um tom mais laranjinha. E depois de cinco anos, as lagoas ficam tão salobras que os produtores vão cortar mangues em outro lugar.”

No Nordeste do Brasil

O mesmo acontece nos mangues do Rio Grande do Norte, maior produtor do Brasil, e em todos os outros estados do Nordeste. Sem falar que, na despesca, a água dos tanques é devolvida à gamboa sem qualquer tratamento, o que gera tremenda poluição.
Você come camarão. Cada tanque sendo preparado. Primeira medida: decepar mangue. Foto: Aracati, Ceará.

No Brasil, o produto usado para garantir o ‘laranjinha’ é o conhecido metabissulfito de sódio, “conservante usado como antioxidante e inibidor da proliferação de microorganismos. Sua ingestão pode causar reações alérgicas, problemas de pele, irritação gástrica e rinite severa em pessoas sensíveis ao composto.”

Você come camarão. Vale do rio Jaguaribe, município de Aracati, Ceará, onde se vê tanques de criação, via-se pujante manguezal.

Mas tem mais. Você como camarão? Então, aguarde…
Duas das maiores causas de perda de biodiversidade no mundo

Você come camarão? Pois saiba que segundo a comunidade acadêmica, o pior problema para a perda de biodiversidade é o desaparecimento de habitats. O segundo pior, a introdução de espécies exóticas. A carcinicultura nordestina faz as duas coisas ao mesmo tempo. Ainda que, passado o tempo desde o início das criações, o Penaeus vannamei não tenha conseguido se impor sobre os camarões nativos. ‘Meno male’. Mas pela extirpação do mangue, a prática é combatida por Estados não entreguistas, como a Paraíba, por exemplo, cuja secretária de Meio Ambiente considerava esta atividade como ‘uma das maiores ameaçam ao litoral Nordestino‘, ao lado da especulação.
Procedência do camarão de criação

O tópico, ‘Cada vez mais camarões…’, explicou as espécies usadas. No Brasil optou-se pelo Penaeus vannamei (camarão branco do Pacífico), apesar de tudo que já se sabe quanto aos problemas causados pelas espécies exóticas. Como sobra, a carcinicultura brasileira provoca conflitos sociais já que, ao escolherem parte de um manguezal para as fazendas, os produtores cercam uma área adjacente bem maior, impedindo que os catadores tradicionais explorem o mangue.

À direita, João do Cumbe, à esquerda, Paulina Chamorro. João contou no documentário que é ‘ameaçado de morte pela Compescal’.

No documentário que produzi, há depoimento do extrativista João do Cumbe, ameaçado de morte pela fazenda do prefeito de Aracati, a Compescal, que decepou totalmente o manguezal da foz do rio Jaguaribe, no litoral do Ceará. Também conversei com o promotor público Diógenes que entrevistei em Natal, Rio Grande do Norte. Ele também contou que “depois que começara um processo sobre estragos ambientais produzidos pela carcinicultura, sofreu diversas ameaças de morte.”

O Promotor ameaçado, e Natal.

Curiosidades da carcinicultura no Brasil

Quando vi os estragos, não acreditei. Aconteceu durante a primeira expedição pela costa brasileira, entre 2005 e 2007. Nesta viagem descobri algumas ‘curiosidades’ que ajudam a compreender a carcinicultura no Brasil. A medida que descia a costa de Norte para Sul, desde o Amapá eu ouvia falar na novidade, mas só vi uma fazenda pela primeira vez no Piauí. A partir daí, até o Sul da Bahia, o que mais se vê nos estuários, são grandes espaços decepados de mangue. Como é possível ocupar os mangues, pensei, são espaços públicos, berçários,não podem ser ocupados! Resolvi focar neste assunto e, dentro da grande reportagem da costa brasileira, abrir espaço para reportagens menores. E comecei a estudar. Li muito, entrevistei ao menos dez professores das Universidades Federais do Nordeste, todos contrários; todos os secretários de meio ambiente, promotores públicos, ambientalistas, etc, e procurei matérias na imprensa internacional, ONGs daqui e de fora.

Os políticos, sempre eles…

Durante a travessia do Nordeste pesquisei todas as fazendas de camarão, e visitei quase cem por cento delas. Entrevistei quem se dispôs a falar (mas foram poucos…), entrevistei o pessoal do entorno, o prefeito da localidade, etc.

A barra do rio Cunhaú, Rio Grande do Norte, detonada pela carcinicultura, o mangue foi extirpado.

Produzi um documentário sobre sobre o tema. Descobri que 95% delas eram de políticos, ou gente a eles ligada: prefeitos, vereadores, deputados, senadores, e até um vice-presidente da República. Por envolverem esta ‘gente graúda’ , tinham mais chances de vista grossa por parte das autoridades ambientais que deveriam zelar pelo mangue íntegro, e em pé. Na época da nossa viagem havia 9 a 10 mil hectares de mangues ocupados no Nordeste.

Algumas fazendas são do ‘pessoal do crime’

Na época de minha viagem, 2005 – 2007, se as fazendas não estivessem não mão de um destes dois grupos, políticos e amigos de políticos, então ela pertencia a gente do crime, como uma das maiores da Bahia, a Lusomar. Depois de ver e gravar os estragos que ela fez depois da despesa, poluindo o que restava do manguezal do entorno ao devolver a água utilizada sem qualquer tratamento, segui até a praia Costa Azul, para ver a unidade de criação de larvas. Mais uma vez fiquei de queixo caído com o tamanho do empreendimento, e constatei que a Lusomar também não respeitou a faixa mínima de 300 metros, medidos a partir da linha da preamar, para as primeiras construções em direção ao interior, conforme determina a Resolução 303, do Conama, que procura disciplinar a ocupação das praias. Como mostram as fotos, parte das obras civis está claramente dentro do limite protegido. Para não falar que a área tem dunas e restingas, ambas consideradas APP. Note que a empresa colocou um tosco cano d’água para liberar seus rejeitos em plena zona de arrebentação.

Como funciona com as fazendas dos amigos dos políticos

Quando são deles mesmos, tudo fica mais fácil. Os ‘legisladores’ desafiam o Ibama com total cara-de-pau, e não deixam que a fiscalização os atinja. Quando as fazendas são dos amigos dos políticos, funciona mais ou menos como a Lusomar, que investigamos. Descobrimos a velha prática da barganha. Tudo indica que o governador Paulo Souto financiou as obras com dinheiros públicos do FNE (Fundo Constitucional do Nordeste), que é um Fundo Federal, em troca da empresa contribuir para a campanha de um prefeito de sua corrente política no município de Jandaíra, onde se localiza a fazenda. O antigo era aliado de ACM, inimigo e rival político de Paulo Souto…

Lusomar elege Herbert Maia – PDT, com extensa ficha policial, prefeito de Jandaíra, BA

Pois a Lusomar cumpriu sua parte, elegeu Herbert Maia, do PDT. Ele tem dois CPFs, e farta ficha policial. Cinco processos na Justiça de Alagoas, 41 no TJ de Sergipe, e 11 processos do Tribunal de Contas da União. O cara está envolvido em emissão de notas frias, roubo e desmanche de veículos, e crimes de pistolagem. Em 1988 foi preso em Sergipe. Acusação: líder de quadrilha que vendia notas fiscais frias para diversas prefeituras. Segundo nossa pesquisa, ele está envolvido em crimes de morte, como o que vitimou o promotor de Cedro de São João, Waldir de freitas Dantas, assassinado em 19 de março de 1988. Por fim, Herbert foi denunciado pelo comparsa, de nome Cristinaldo Santana, vulgo “ Veneno ” , de receptação e desmanche de carros roubados. Todos estes casos vieram à tona com sua “ vitória ” nas últimas eleições (1797 votos contra 1721 do segundo colocado) , depois da ajuda que recebeu da Lusomar, e foram publicados na imprensa nordestina.

O FNE – Fundo Constitucional do Nordeste

O papel deste Fundo era financiar as fazendas. Impressionado com tanta bondade, pesquisei mais e descobri que ele sugere em suas diretrizes “preferência aos mini e pequenos empreendedores”, e projetos que “protejam o meio ambiente”. Curiosamente, a turma da carcinicultura não se enquadra em nenhum dos tópicos…

Maior problema das fazendas de criação ainda não resolvido: a farinha de peixe

Para além dos graves problemas acima apontados, um dos piores é a alimentação escolhida nas fazendas: a farinha de peixe. Esta mistura é feita com populações que antes não eram pescadas, apesar de terem uma função importante na cadeia alimentar dos oceanos. Note-se o paradoxo: a aqüicultura começou para resolver o problema da sobrepesca. Mas, à medida que cresce mundo afora, mais peixes, antes descartados por terem pouco valor comercial, são capturados para alimentá-las. “A conseqüência pode ser terrível, a conta não fecha. Não é sustentável.

Como assim, não é sustentável, e as fazendas instaladas?

Bem, os produtores não tiveram que investir comprando, e preparando as terras como em qualquer atividade do gênero. A mamata, e charada da questão financeira, começa aí. As terras, mangues, áreas públicas, foram ‘doadas’ aos produtores, talvez isso explique a onipresente presença de políticos nesta área de atuação…Descobrimos ainda que os empregos gerados são sazonais, sem carteira assinada (quem pode, pode…). Além disto, 84% das 245 fazendas de criação do Ceará, por exemplo, estavam em APPs, Áreas de Preservação Permanenteestipuladas pelo CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente), e nem por isto fiscalizadas ou multadas pelo Ibama.
A ficha caiu…devastação e poluição provocam boicote internacional

Esses problemas em conjunto chamaram a atenção internacional. Veja o que aconteceu. “Infelizmente, as exportações brasileiras de camarão caíram drasticamente de 42,5 mil toneladas (65,4% da produção), em 2005, para 5728 toneladas (8,81% da produção), em 2009(ABCC, 2011). O Brasil foi um dos países líderes em exportações para a Europa, mas em 2009 caiu para a 28ª posição (ABCC, 2011). A produção de camarão tem permanecido constante apenas porque os produtores têm conseguido aumentar as vendas domésticas.”

Esta queda brutal nas exportações tem dois motivos. O primeiro foi um boicote dos compradores devido às condições de ‘terra-arrasada’, mais a poluição com encargo; o segundo são as constantes pragas que dizimam criações intensivas. Ou seja, o mundo soube dos problemas ambientais gerados pelas criações e reagiu. Exigiu melhorias para voltar a comprar. É o que esperamos que aconteça com você, que lê este post e eventualmente, come camarão.
A pesca do camarão

Existem algumas modalidades, desde as de menor impacto, até as de maior. Infelizmente, 90% do camarão oriundo da pesca vem da modalidade mais terrível e combatida mundo afora, o arrastão. No Brasil não é diferente. Este vídeo (com legendas) mostra o dano causado pelas redes de arrasto ao assoalho marinho. A modalidade é uma hecatombe para o assoalho marinho. Detona tudo que estiver em seu caminho. E ainda é responsável pela captura incidental, quando toneladas são mortas e devolvidas ao mar.

Então, você come camarão?

(Do https://marsemfim.com.br/)

MANEMÓRIAS


Relíquia de 1866 é encontrada em universidade dos EUA

Aquarela do marinheiro Hermann C. Raebel Jr. mostra a Ilha de Anhatomirim e foi descoberta por Marli Cristina Scomazzon, pesquisadora e colecionadora

Repousa no acervo da UCLA (Universidade da Califórnia, EUA) uma aquarela desconhecida da maioria dos pesquisadores brasileiros, em especial os catarinenses: a Ilha de Anhatomirim retratada pelo marinheiro alemão Hermann C. Raebel Jr. (1848-1869), formado pela U. S. Naval Academy e que participou de manobras da marinha norte-americana na costa do Brasil em 1866.

A descoberta dessa relíquia ocorreu na semana passada, quando a pesquisadora Marli Cristina Scomazzon recebeu um email da UCLA com a imagem. O contato da universidade foi uma consequência das pesquisas desenvolvidas por ela para a elaboração do livro “A Caminho do Ouro – Norte-americanos na Ilha de Santa Catarina”, lançado em 2015, que resgata a corrida do ouro pelo mar, praticada por exploradores dos EUA entre os anos de 1849-1856. Estima-se que mais de 700 mil norte-americanos passaram pela Ilha de Santa Catarina (Desterro) e seus arredores durante esse período, nas longas viagens que contornavam a América do Sul para chegar à costa Oeste dos EUA.

Marli Cristina tem dedicado grande parte de seu tempo a descobrir referências iconográficas relacionadas a Desterro. Ela conta que conserva hoje de mais de mil documentos, entre mapas, aquarelas, gravuras, fotografias e livros. Trata-se de uma das maiores coleções do gênero especificamente sobre Desterro e Florianópolis, entre os séculos 15 e 19. Todo o acervo vai ser doado para o Sesc (Serviço Social do Comércio), assim que a entidade assumir a gestão do futuro Museu da Cidade, na antiga Casa de Câmara e Cadeia.

A pesquisadora e escritora, que também é jornalista, estima que existam mais de três mil documentos desse tipo espalhados pelo mundo, em arquivos públicos ou particulares. “São referências que não conhecemos, por dificuldade de acesso. Às vezes são descobertas por acaso, como essa aquarela de Hermann C. Raebel Jr. que está na UCLA”, diz.

Garimpagem histórica

O trabalho da colecionadora é de autêntica garimpagem e inclui visitas a galerias nos Estados Unidos e em países europeus. Nas viagens frequentes ao exterior ela dedica seu tempo a buscar material e acrescentar ao imenso arquivo que será doado ao Museu da Cidade.

A coleção começou a ser formada há cerca de cinco anos, justamente quando Marli Cristina pesquisava elementos para o livro sobre a corrida do ouro pelo mar. Um fato pouco conhecido em Florianópolis e sobre o qual não existem registros locais. O recurso foi trabalhar nos EUA, na busca de informações em fontes primárias. O resultado foi uma obra magnífica, apreciada tanto no Brasil quanto no exterior.
Desenho da viagem de Hans Staden, que mostra a Ilha de Santa Catarina (abaixo), é o documento mais antigo (do século 16) preservado no acervo da pesquisadora catarinense - Reprodução/ND

Segundo documento mais antigo, de 1600, mostra variedade de peixes encontrada no entorno da ilha - Reprodução/ND

Desde o século 16

Entre tantas riquezas visuais preservadas no acervo encontram-se, por exemplo, gravuras e desenhos que formaram a primeira edição do livro “Ilha de Santa Catarina – Relatos de Viajantes Estrangeiros nos séculos 18 e 19”, coordenado por Marcondes Marchetti e Martim Afonso de Haro, com produção de Gilberto Gerlach, editado pela assessoria cultural da Assembleia Legislativa, em 1979, durante a gestão do presidente Waldomiro Colautti (1929-2010).

O documento mais antigo é um desenho original da expedição de Hans Staden (1525-1576), aventureiro alemão que passou pelo litoral catarinense entre 1549 e 1551. O desenho mostra a Ilha de Santa Catarina e seus habitantes da época, barcos e atividades agrícolas.

A segunda riqueza iconográfica mais antiga é uma gravura que apresenta os peixes existentes no litoral da Ilha de Santa Catarina em 1600.

Mapa confeccionado pelo espanhol Tomás López, entre 1773 e 1774, preparatório para a invasão espanhola à ilha, em 1777 - Reprodução/ND

Para os estudiosos da cartografia há uma abundância impressionante de mapas antigos, entre os quais dois exemplares preciosos: um de 1700 e outro feito por Tomás López, entre 1773 e 1774, preparatório para a invasão ocorrida em 1777, quando os espanhóis dominaram a ilha.

É impossível fazer aqui o inventário de todos os documentos e imagens. “A ideia de doar ao Museu da Cidade é para que todos possam ter acesso ao acervo”, diz Marli Cristina.

A pesquisadora não para. O projeto atual e inédito é uma pesquisa sobre a primeira circunavegação feita por brasileiros, entre 1879 e 1881. No livro será narrada, por exemplo, a participação de diplomatas na expedição, em busca da mão de obra chinesa que poderia substituir os escravos (libertos em 1888). Não há prazo para lançamento.

(Coluna do Carlos Damião no ND de hoje, domingo - https://ndonline.com.br/)