terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

NEGROS NA ILHA!

Foto Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina - IHGSC - Detalhe
AFRICANOS E AFRODESCENDENTES
NA DESTERRO OITOCENTISTA - 1860 a 1890

"Além da expressividade em número (32,64% em 1866 e 35,25% em 1872), muitas das atividades produtivas na cidade eram feitas por africanos e seus descendentes. O trabalho portuário, a pesca, a iluminação pública, o transporte de mercadorias, as quitandeiras, lavadeiras, os sapateiros, além do trabalho nas áreas rurais. 
Nas últimas décadas do século XIX, além de lugar de trabalho e moradia, era possível vislumbrar africanos e afrodescendentes cativos, libertandos, libertos e nascidos livres como atores da e na cidade da época: quem comercializava, trabalhava na manutenção da infraestrutura, e era ativamente participativo na economia, estando presente nos mais diversos locais, desempenhando as mais variadas funções e traçando laços de sociabilidade.

Na periferia da cidade estavam localizados os bairros onde moravam as pessoas mais pobres. Bairros com a figueira, a Tronqueira, a Pedreira, o Beco do Sujo, o Toca, o Campo do Manejo e o Cidade Nova, faziam parte do mundo habitado por africanos e seus descendentes.
 O bairro da Figueira, possivelmente o maior, era considerado um antro de prostituição muito frequentado por marinheiros, habitado por pessoas extremamente humildes. 
Situado a oeste do centro histórico de Florianópolis, possuía trapiches, estaleiros, armazéns, inúmeras casas de negócios, hotéis, padarias, boticas; o que “transformou a região em uma ativa zona produtiva e ao mesmo tempo, atraiu centenas de miseráveis de todos matizes em busca de trabalho e moradia. 
Era uma área ativa e perigosa, onde nem mesmo as forças de segurança pareciam estar a salvo”. Na maioria das vezes, as populações de origem africana eram utilizadas como mão de obra para os chamados “serviço de preto” ou “serviço de negro” – comerciantes marítimos, atividades agrícolas, pescadores, jardineiros, chapeleiros, domésticos, produtores de calçados, tecidos e vestuários – ou seja, realizavam trabalhos braçais.

Outras profissões faziam parte deste cenário, como pombeiros, carroceiros, quitandeiras, lavadeiras, cozinheiros, varredores de rua, copeiros, lavradores, dentre outras atividades, “mesmo porque a escravidão urbana deixou aberta a possibilidade dos escravos acumular um pecúlio de maneira que os mesmos encontravam-se integralmente circulando pela cidade”. Nesse universo de trabalhadores de origem africana, o porto de Desterro ocupava um lugar a ser pensado, pois poderiam tirar a sobrevivência diária ou os “trocados” a se guardar para a compra da alforria e os ofícios de pescador e de canoeiros eram os mais comuns nessa parte da cidade."

“Texto extraído do livro Prêmio de Monografias – Silvio Coelho dos Santos”
Monografia de Karla Leandro Rascke – Edição Fundação Franklin Cascaes.

(Pesquisa e edição de José Luiz Sardá)


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