Foto Salmo Duarte / Agência RBS
Pescadores e especialistas alertam para riscos escondidos nas ilhas da região Norte de SC
Pelo menos 21 pescadores em três barcos se envolveram em grandes acidentes marítimos na última semana
Leandro Junges
leandro.junges@an.com.br
Como encontrar coragem para sair para o mar depois de que pelo menos 21 pescadores em três barcos se envolveram em grandes acidentes marítimos na última semana? A resposta à pergunta passa necessariamente pelas palavras coragem, risco e conhecimento do mar.
Como encontrar coragem para sair para o mar depois de que pelo menos 21 pescadores em três barcos se envolveram em grandes acidentes marítimos na última semana? A resposta à pergunta passa necessariamente pelas palavras coragem, risco e conhecimento do mar.
A pesca – amadora ou profissional – é considerada uma atividade de alto risco. Na região, onde há três pequenos arquipélagos e muitas pedras que emergem do mar, o risco tem transformado a travessia numa espécie de “Triângulo das Bermudas”. O conhecimento de navegação é considerado fundamental porque as mesmas ilhas e pedras que representam risco também são o melhor refúgio em caso de temporais ou ressacas.
— Já escapei da morte algumas vezes — diz o pescador Claudio Pereira, um mineiro que chegou a Santa Catarina há três décadas para trabalhar na Petrobras, aposentou-se e apaixonou-se pelo litoral de São Francisco do Sul. Ali decidiu viver e pescar.
Em um dos sustos, ele se viu diante de uma onda que quase engoliu o barco e o jogou nas pedras entre a Enseada e a Prainha. Em outro susto, poderia ter virado literalmente comida de tubarões, na rota dos grandes navios que passam pelos portos de São Francisco do Sul e Itajaí.
O trecho entre as duas cidades é considerado pelos pescadores uma grande avenida do mar, onde passam navios cargueiros, transatlânticos, traineiras de pesca profissional e milhares de barcos, lanchas e enbarcações artesanais.
Só na região entre Balneário Barra do Sul e São Francisco do Sul há pelo menos 15 pequenas ilhas reunidas em arquipélagos distintos – dos Remédios (Balneário Barra do Sul), Tamboretes (em frente à Praia Grande) e da Paz (em frente a Ubatuba).
De acordo com o oceanólogo Argeo Vanz, 47 anos, da Epagri, é comum a ocorrência de naufrágios na região por vários motivos.
Ondas podem surpreender
— As ilhas podem interferir na direção das ondas de forma diferente e aumentar a altura delas. Isso pode surpreender os pescadores, que saem da costa imaginando um tipo de onda e no arquipélago está maior — disse.
Segundo ele, além dos fatos que ocorreram recentemente na região, dois acidentes são bastante conhecidos e lembrados e ocorreram em 2009: em 30 de maio, cinco pessoas foram resgatadas; em 7 de dezembro, três. Ninguém morreu nos dois casos. Nos anos seguintes, foram registrados outros naufrágios, mas ele destaca que na maior parte das vezes não há mortes.
— Tenho o registro de seis mortes em 2008, em um naufrágio que envolveu oito pessoas. Ultimamente, as pessoas foram resgatadas com vida, o que é um ponto positivo — explicou o oceanólogo.
Solidariedade é o maior socorro dos pescadores
Quem está no mar já sabe: navegar com segurança só é possível quando outras embarcações estão se comunicando. A solidariedade é o maior socorro dos pescadores na região.
Nos dois naufrágios que ocorreram nesta semana na região de Balneário Barra do Sul e São Francisco do Sul foram os próprios pescadores que agilizaram socorro e garantiram a ajuda nas operações de bombeiros e da polícia.
— De uma certa maneira, dependemos das próprias embarcações. Não temos um socorro efetivo. Só a solidariedade — diz Bernardete Felício, sócia e operadora da Estação Costeira do Navegante, um serviço que funciona 24 horas por dia e é uma espécie de porto seguro na comunicação dos pescadores por rádio.
Com a experiência de quem atende a pescadores e navegadores por quase 20 anos, ela considera que o socorro não é eficiente porque é quase todo baseado em serviços de terra, como corporações de bombeiros e serviços de emergência de autoridades policiais, como os helicópteros da Polícia Militar ou da Polícia Rodoviária Federal.
— Quem está no mar deveria ter um atendimento mais efetivo. Mas ainda há uma salvaguarda em condições — diz.
A Marinha do Brasil, que tem lanchas e navios que podem fazer esse trabalho, não dá conta de todo o tráfego do litoral e tem atribuições que vão muito além dos salvamentos, como a própria segurança do litoral brasileiro.
(* Colaborou Carolina Dantas)
(Do A Notícia - www.clicrbs.com.br - em tempos idos)