segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

MANEMÓRIAS


MEMÓRIA DE INGLESES



Conta à história que a origem do bairro de Ingleses é atribuída ao naufrágio de uma caravela inglesa ocorrido na metade do século XVIII em frente à Ilha denominada Mata-Fome. Esta ilha serviu de abrigo aos náufragos, e alguns destes sobreviventes constituíram famílias com as nativas daquele lugar. Naquela época, era um povoado bastante habitado e todos se agrupavam em torno da pequena capela consagrada a Nossa Senhora dos Navegantes. Através de decreto em 1831 a vila passou a condição de Distrito.

Está capela foi construída em 1881 sobre os cômoros de areia, por um abastado lavrador. Na década de 1960, foi demolida com o objetivo de construir uma igreja maior, devido ao aumento da população. A festa de Nossa Senhora dos Navegantes, atrai multidões de romeiros e devotos vindos das circunvizinhanças, e até hoje é realizada anualmente.

A ocupação desta freguesia tipicamente açoriana deu-se através do núcleo original e dos principais caminhos. A partir daí, foram surgindo vielas e becos secundários abertos sobre as planícies das Aranhas e do Capivari. A vila original era cercada pelas dunas e pelo mar, com modestas e singelas casas. Algumas cobertas de sapé, mas a maioria delas e dos ranchos de pesca eram com telhas de calhas.

Os mais antigos contavam que as telhas “francesas” eram consideradas de luxo. As paredes externas de alvenaria, as divisórias internas na maioria de madeira e não tinha forro. Portas e janelas de madeira maciça, depois surgiram os vidros e as venezianas. Os banheiros junto às residências, só começaram a existir a partir dos anos 70.

Está região se desenvolveu a partir do Distrito do Rio Vermelho. Sua localização serviu no inicio como posto de reconhecimento de embarcações que chegavam pelo lado norte da Ilha. Era uma vila de pescadores e agricultores, que se dedicavam a maior do tempo à agricultura, e também com a pesca, principalmente na época da safra da tainha e da anchova. Os engenhos de farinha e de açucar dominavam paisagem local, mas na década de 70 estas atividades deixaram de existir. Os engenhos de açúcar não eram tão expressivos quanto aos de farinha e desapareceram nos idos dos anos 60.
Ao longo dos anos na estrada principal que ligava as freguesias e arraiais de Canasvieiras, Ponta das Canas e São João do Rio Vermelho, foram surgindo às habitações, “vendas” e armazéns com comércio de secos e molhados e outros negócios. Naquele tempo, a atividade pesqueira era intensa, foram construídas as “Salgas” (tipo de armazém que estocava e comercializava o pescado). No final da década de 80, as terras que serviram para a agricultura, foram parceladas e transformadas em loteamentos e condomínios. Os acessos para chegar até Florianópolis eram difíceis, a pé, a cavalo ou de carroça. Outra opção era ir até Ratones e seguir de barco pelos meandros do Rio Ratones chegando à baía norte, alcançando o mar até a cidade de Desterro.

Enquanto no Distrito Sede, acontecia o declínio nas taxas de crescimento populacional, a região norte da ilha começava a experimentar o explosivo desenvolvimento urbano-turístico. A implantação da SC 401 forçou o governo estadual e municipal a investirem em equipamentos para atender as demandas de moradores, visitantes e turistas, começando com a construção da SC 403.

O “boom” do turismo no balneário de Ingleses trouxe profundas modificações, tanto para a população nativa como para o meio ambiente, transformando a bucólica e pacata vila de pescadores. Os valores, os costumes e as atividades de agricultura e de pesca, foram substituídos pelo turismo, pela especulação imobiliária trazendo prejuízos ao meio ambiente. Este crescimento imobiliário, fez das antigas “vendas e salgas” e moradias localizadas ao longo das principais estradas, serem substituídas por novos equipamentos comerciais como; supermercados, restaurantes, shopping, empreendimentos imobiliários, hotéis resorts, pousadas, conjuntos habitacionais, loteamentos e serviços diversos.

O turismo e as atividades a ele relacionadas, passaram a representar importante fonte de renda à população da região. Contudo, ao longo dos anos, a falta de planejamento e rigor na fiscalização por parte dos órgãos públicos, originou o crescimento desordenado e as ocupações irregulares, afetando diretamente o meio ambiente, gerando problemas sociais de toda ordem.

O processo de ocupação deu-se de forma muito rápida, com o altíssimo adensamento, gerando significativas modificações estruturais, sociais e culturais na região. A vinda de turistas trouxe profundas modificações, tanto para a população nativa como para o ambiente natural. O turismo e as atividades a ele associadas, passaram progressivamente a representar importante fonte de renda.

A partir de 1980, a região de planície do Sitio do Capivari teve significativo aumento com a migração de gaúchos, paranaenses, paulistas e catarinenses do interior. Áreas de dunas foram invadidas pela população de baixa renda, originando grandes bolsões de pobreza.

Em 1990, o turismo atingiu o auge com a chegada em massa de turistas estrangeiros, sobretudo argentinos, uruguaios e paraguaios, beneficiando os nativos com a supervalorização de imóveis, principalmente aqueles próximos a orla e no acesso principal ao bairro.

A bucólica e pacata vila de pescadores transformou-se com as alterações do parcelamento original da terra. Os costumes da atividade de agricultura e da pesca, foram substituídos pela atividade turística e a especulação imobiliária. A região passou a vivenciar o explosivo desenvolvimento urbano-turístico.

Nos últimos anos, a contínua e acentuada ocupação, a expansão urbana desordenada e sem planejamento, originou problemas de ordem socioambientais. Dentre eles: A ocupação do cordal praial, comprometendo os ecossistemas litorâneos, poluição do mar, rios e córregos, das construções sobre os 30 metros de área de Preservação Permanente - APP nas margens do Rio Capivari, dunas ocupadas com construções irregulares, banhados aterrados e vegetação de restinga da orla devastada.

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