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quinta-feira, 31 de agosto de 2017
VOCÊS VERÃO!
Foto Felipe Carneiro / Agencia RBS
Meteorologistas de todo o Estado se reuniram na tarde da última terça-feira para realizar o Fórum Climático, um encontro para discutir a previsão do tempo dos próximos três meses. A tendência é que a primavera, que começa às 17h02min do dia 22 de setembro, tenha tempo seco e temperaturas altas em Santa Catarina.
A primeira quinzena do mês de setembro deve ter chuva abaixo da média, com risco de queimadas frequentes. Já em outubro e novembro, há previsão de chuva mais frequente, com volumes mais próximos ao esperado para esta época do ano. Os meteorologistas também destacam que durante a primavera há um aumento na incidência de temporais com granizo e ventania no Estado.
No início de setembro ainda há chance de massas de ar frio sobre Santa Catarina, com formação de geada fraca nos pontos mais altos da Serra. No decorrer da primavera, o frio diminui gradativamente e a partir de outubro já se espera períodos mais quentes.
Participam do Fórum Climático meteorologistas da Epagri/Ciram, órgão estadual de monitoramento do tempo e do clima, NSC Comunicação, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), AlertaBlu e AGF Anti-Granizo Fraiburgo.
Histórico da estação no Estado
Os meses de setembro e outubro marcam a transição entre o inverno e o verão, dando início as chuvas de primavera. Em boa parte dos municípios catarinenses, a maior precipitação do trimestre costuma ocorrer em outubro, com acumulados de 210 a 280 mm no Oeste e Meio-Oeste, e de 140 a 180 mm do Planalto ao Litoral. Em novembro, o volume de chuva diminui, com valores de 130 a 180 mm em média, no estado.
Nessa época também ocorre a formação e deslocamento de ciclones extratropicais no litoral Sul do Brasil, o que resulta em perigo para a navegação e pesca em embarcações de pequeno e médio porte, por conta dos ventos fortes e ao mar agitado, muitas vezes resultando em ressaca.
(Do http://dc.clicrbs.com.br/)
quarta-feira, 30 de agosto de 2017
OUVINDO BALEIAS
Medições já foram feitas na enseada das praias da Ribanceira, em Imbituba, e na enseada da praia da Gamboa
O som emitido pelas baleias-francas e que pode ser ouvido a milhares de quilômetros em águas costeiras e oceânicas está sendo monitorado em Santa Catarina. O objetivo é estudar a associação entre os sons e o comportamento das baleias francas no Litoral catarinense. Para o trabalho, uma equipe de cinco pessoas começou a monitorar, na semana passada, a vocalização dos animais.
A equipe é composta por biólogos do Projeto Baleia Franca, do Centro de Mamíferos Aquáticos/ICMbio, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e voluntários. Conforme a diretora do projeto Baleia Franca, Karina Groch, os registros serão feitos até o final da temporada reprodutiva das baleias, o que nos últimos anos ocorreu na metade de novembro.
As medições dos sons com os chamados hidrofones — que são microfones embaixo d'água — são feitas na enseada das praias da Ribanceira, em Imbituba, e na enseada da praia da Gamboa.
— Nós já fizemos gravações e já conseguimos ouvir os sons, saber que existe comunicação entre mãe e filhote, por exemplo — conta Karina.
As medições são complementares a um projeto de 2011, que analisou as modificações no comportamento vocal das baleias frente ao ruído. Os dados serão analisados por uma aluna da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que faz um mestrado na área, segundo Karina.
Os resultados do estudo poderão ser aplicados em sistemas capazes de detectar a presença de baleias, estimar o número e determinar a distribuição dos indivíduos baseando-se unicamente nos sons emitidos pelos animais, aumentando assim a eficiência do monitoramento da população de baleias-francas em Santa Catarina.
(Do Hora de Santa Catarina - www.clicrbs.com.br)
(Do Hora de Santa Catarina - www.clicrbs.com.br)
MAR DE PESCADOR
O navio transportava 300 toneladas de pescado - Ministério do Meio Ambiente do Equador/AFP
Tripulação de barco chinês retido em Galápagos é condenada à prisão
AFP
A Justiça do Equador condenou a até quatro anos de prisão e a uma multa milionária, neste domingo (27), os 20 tripulantes de um navio cargueiro chinês capturado na reserva marinha de Galápagos.
Retido em 13 de agosto dentro do arquipélago, o navio “Fu Yuan Yu Leng 999” levava 300 toneladas de pescado, incluindo 6.623 tubarões – alguns deles, espécies ameaçadas.
No terceiro e último dia do julgamento, a Justiça equatoriana aplicou a pena máxima para o capitão do barco, sentenciado a quatro anos de reclusão como autor de um crime ambiental com agravante. Seus três ajudantes foram condenados a três anos de prisão, e o restante da tripulação, a um ano.
“Depois da indignação enorme que sentimos, isso definitivamente ressarce, em grande parte, o dano causado, porque se estabelece um precedente histórico”, disse à AFP o diretor do Parque Nacional Galápagos (PNG), Walter Bustos, após saber da sentença.
Ainda cabe recurso, porém.
A Justiça também condenou os tripulantes a pagarem 5,9 milhões de dólares em indenização ao PNG.
“Derrotou-se nesta instância uma transnacional que vinha destruindo oceanos por todo Pacífico”, celebrou Bustos.
O montante estabelecido, acrescentou, “permite ressarcir em alguma coisa os danos causados” a essa reserva marinha de 138.000 quilômetros quadrados, considerada um santuário de tubarões.
– ‘Um grande passo’ –
De acordo com o PNG, o navio chinês recebeu a carga de pesca “de dois navios taiwaneses” entre 5 e 7 de agosto, “a mais de mil quilômetros ao noroeste de Galápagos” em águas internacionais. A embarcação pretendia atravessar a reserva rumo ao Peru e, depois, retornar para a China.
Entre os tubarões que transportava, havia espécies vulneráveis como tubarões-martelo, tubarões-raposa-olhudo e tubarões Raposa do Índico.
O ministro do Meio Ambiente do Equador, Tarcisio Granizo, celebrou a decisão da Justiça com uma mensagem no Twitter: “Zero tolerância a crimes ambientais!”. Segundo ele, o barco ficará a serviço do Parque.
A chanceler María Fernanda Espinosa classificou a decisão do tribunal de Galápagos como um “grande passo”.
“É nosso firme compromisso lutar pela preservação e pela soberania em nossos mares”, ressaltou.
O julgamento contra a tripulação desse navio de bandeira chinesa começou na sexta-feira por crimes contra a flora e a fauna silvestres e contra o tráfico de espécies.
O processo foi realizado em meio a protestos dos habitantes de Galápagos contra a pesca de espécies protegidas e contra a presença de uma frota de 300 embarcações pesqueiras chinesas em águas internacionais perto do arquipélago, mas que ameaça sua sensível reserva marinha.
As ilhas são Patrimônio Natural da Humanidade e ficam a 1.000 quilômetros da costa equatoriana. Com cerca de 27.000 habitantes, fazem parte de um dos mais frágeis ecossistemas do planeta.
Galápagos leva o nome das gigantes tartarugas que a habitam e serviu de laboratório para o naturalista inglês Charles Darwin no desenvolvimento da teoria sobre a evolução das espécies.
(Da http://istoe.com.br/)
terça-feira, 29 de agosto de 2017
domingo, 27 de agosto de 2017
sábado, 26 de agosto de 2017
D'ALÉM MAR II
Fragmento de documentário de Adriano Nazareth, realizado em 1959, originalmente com 14 minutos, para a RTP, na praia de Mira, Portugal.
MAR DE BALEIAS
O fotógrafo inglês Christopher Swann há 25 anos passa mais tempo no mar do que em casa com um objetivo: fazer as melhores imagens de baleias e golfinhos.
sexta-feira, 25 de agosto de 2017
MAR DE BALEIAS
Após 24 horas encalhada na Praia Rasa, em Búzios, baleia Jubarte consegue se soltar, e grupo que ajudou a devolvê-la ao mar comemora - Pablo Jacob / Agência O Globo
Baleia Jubarte que estava encalhada em Búzios é devolvida ao mar
Segundo Instituto Baleia Jubarte, este ano já ocorrem nove encalhes na costa do Rio de Janeiro
POR PABLO JACOB / SIMONE CANDIDA / MARTA SZPACENKOPF
RIO — Após quase 24 horas, a baleia jubarte que estava encalhada na areia da Praia Rasa, em Búzios, conseguiu voltar ao mar. O animal, que pesa cerca de 28 toneladas, retornou para a água, mas biólogos alertam que ela ainda corre o risco de encalhar na arrebentação, pois a praia possui vários bancos de areia.
A jubarte encalhou por volta das 16h da quarta-feira. Biólogos, veterinários, técnicos ambientais e agentes da secretaria municipal de meio ambiente precisaram correr contra o tempo para tentar salvar a vida dela. Foram usados dois barcos e uma lancha, além da força dos moradores e curiosos, que ajudaram a rebocar o animal com um cabo. Antes de deixar a areia, as equipes estavam providenciando um analgésico para tentar amenizar o sofrimento do animal.
Desde o início da manhã, cerca de 200 pessoas, entre elas muitas crianças, estavam se aglomerando, jogando água sobre a baleia. Duas retroescavadeiras foram usadas para abrir uma vala em volta do animal.
— Temos uma rede de ONGs e especialistas que atuam no resgate destes animais na costa brasileira. Sei que as pessoas querem ajudar e, inicialmente, um grupo chegou a tentar a empurrar a baleia de volta para a água. Isso não é recomendável, porque a baleia tem 13 metros e pesa cerca de 28 toneladas. Se ela bate com a cauda em alguma pessoa ou tomba em cima de alguém, é morte na certa — disse o biólogo Joel Braga, da consultoria Scitech, consultoria responsável pelo Projeto de Monitoramento de Praia da Petrobras.
O filhote de baleia jubarte encalhou em Búzios
Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Após 24 horas encalhada na praia Rasa em Buzios a baleia Jubarte consegue se soltar Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Voluntária acaricia baleia após molhá-la Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Voluntário joga água do mar sobre a baleia Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Cerca de 200 pessoas, entre elas muitas crianças, tentaram salvar o filhoteFoto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Após a mobilização dos moradores, duas retroescavadeiras privadas foram levadas até a praia para auxiliar no resgateFoto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Moradores de Búzios se mobilizam para tentar salvar o animalFoto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Inicialmente, os banhistas chegaram a acreditar que se tratava de um filhote de baleira jubarte. Mas especialistas do Instituto Baleia Jubarte analisaram fotos do animal e constataram, pelo tamanho, que é uma baleia jovem.
Um vídeo compartilhado nas redes sociais mostra o exato momento em que o filhote encalhou, na altura do canal da Marina, na Praia Rasa.O ciclista Felipe de França Silva, de 30 anos, estava fazendo um treino próximo ao local em que a baleia está encalhada, viu o burburinho e decidiu se aproximar.
Segundo o Instituto Baleia Jubarte (IBJ), entre os programas desenvolvidos pelo Projeto Baleia Jubarte, o que realiza o resgate de cetáceos encontrados vivos ou mortos ao longo da costa é “um dos que exige mais esforço e determinação da equipe técnica”. De acordo médico-veterinária do IBJ Adriana Colosio este ano, já foram registrados encalhes de 62 jubartes na costa brasileira.
— É comum essa época do ano encalhar jubarte por causa do período de migração para sua reprodução na costa brasileira. Esse período inicia em julho e termina em novembro. Sobre os encalhes no litoral do RJ também é comum acontecer. Até hoje temos 9 ocorrência no litoral do Rio de Janeiro — conta.
Ainda não é possível explicar o porquê de a baleia ter encalhado na Praia Rasa, mas, segundo o médico-veterinário do IBJ Hernani Ramos, não está descartada a hipótese de o animal estar doente.
— Existem várias causa para o encalhe de animais vivos: os mais idosos podem estar morrendo, por exemplo; já os filhotes podem se perder da mãe. Há, ainda, casos de baleias que sofrem colisão com uma embarcação e, feridas, ficam desorientadas e, e situações em que o animal vai parar na areia porque está com alguma enfermidade. Não sabemos ainda o que aconteceu com a que está encalhada em Búzios — disse ele, que, assim como outros especialistas do IBJ, está monitorando o caso pelo telefone.
Morador de Búzios, o técnico de meio ambiente Leonardo Sandre, de 41 anos, conta que foi chamado por banhistas na tarde de quarta-feira para ajudar no salvamento da baleia.
— Eu e um grupo de cerca de 30 pessoas ficamos de 16h até 21h molhando a baleia, mas a maré baixou e não tínhamos mais o que fazer. Voltamos para lá umas 2h30 da madrugada, quando a maré voltou a subir e empurramos a baleia por uns dez metros. Mas não deu mais. No grupo tinha de trabalhadores a funcionários da prefeitura, todo mundo mobilizado. De manhã, começou a chegar reforço — conta ele.
(Do https://oglobo.globo.com/)
quinta-feira, 24 de agosto de 2017
NAUFRÁGIO - OS MISTÉRIOS DO PRÍNCIPE
Madrugada de 6 de março de 1916. Sob espessa neblina, o navio espanhol Príncipe de Astúrias passa por Ilhabela. Destino final: Buenos Aires. Com a tempestade, a proa bate nas rochas e as caldeiras explodem a apenas cem metros da costa. Poucos sobrevivem. Dos 700 passageiros, 477 morrem.
O desastre reforça as lendas que cercam a ilha paulista. Apesar do mar calmo, ela é considerada o maior cemitério de navios do País - houve mais de cem naufrágios na região. Contribuem para eles intensos nevoeiros e numerosas rochas submersas. Mas há quem acredite num misterioso campo magnético capaz de alterar bússolas e equipamentos de navegação.
Diz-se que, no passado, ali se escondiam navios piratas e cargas saqueadas. O Príncipe de Astúrias também é suspeito: o comandante teria desviado a rota para descarregar clandestinamente 11 toneladas de ouro.
Mergulhe mais fundo no "Príncipe de Astúrias", livro de José Carlos Silvares e Luiz Felipe Moura (Magma Cultural, 2006). À venda no site www.magmacultural.com.br
terça-feira, 22 de agosto de 2017
LÁ! E CÁ?
Comunidades caiçaras têm reconhecimento de seu território
Em Ilhabela comunidades caiçaras recebem Termo de Autorização de Uso Sustentável Coletivo
A poética cena do pescador em sua canoa jogando a rede no mar, ainda presente nas cidades litorâneas do Brasil, está cada vez mais ameaçada. A intensa disputa fundiária no país, intensificada nas últimas décadas, e o modo de desenvolvimento capitalista vem pressionando essas populações tradicionais a abandonar seus territórios e a se integrarem ao estilo de vida urbano. São comunidades que mantêm o modelo de vida tradicional, que vivem essencialmente da pesca, do extrativismo e algumas vezes do artesanato, e que possuem uma profunda relação com o meio em que vivem. Ao contrário das comunidades indígenas e quilombolas, que possuem instrumentos de defesa claros em seu benefício, expressos na Constituição Brasileira de 1988, os caiçaras ainda enfrentam dificuldades quanto ao reconhecimento de sua identidade e regularização fundiária dos seus territórios.
É neste contexto que caiçaras do Litoral Norte do Estado de São Paulo obtiveram uma conquista histórica. 265 moradores de comunidades remanescentes da Baía de Castelhanos, que compreende as praias da Figueira, Vermelha, Ribeirão, Saco do Sombrio, Mansa e Canto da Lagoa, e das Ilhas de Vitória, Búzios e Pescadores, em Ilhabela, tiveram reconhecido o seu direito à moradia e ao manejo dos recursos naturais da orla marítima por meio de um instrumento jurídico concedido pela Secretaria de Patrimônio da União (SPU) do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o Termo de Autorização de Uso Sustentável Coletivo (TAUs), em novembro de 2015. São títulos concedidos em área de domínio da União à uma coletividade e que por isso são intransferíveis e inalienáveis, ou seja, os moradores locais não podem vender o terreno, mas têm garantido a segurança da posse tradicional e o direito de permanecer no local de forma regular, garantindo o direito de futuras gerações. A União continua detentora do domínio da área e é a responsável pela fiscalização de seu uso.
“Existe milhões de caiçaras que sonham viver em suas terras sem ameaças. Para nós esse reconhecimento é maravilhoso. Os idosos daqui morreram lutando pela terra. Os mais antigos da nossa comunidade jamais imaginaram que um dia teriam isso que a gente tá tendo, que é a garantia que quando a gente for embora nossos filhos, netos e bisnetos vão poder ficar na terra. Então a comunidade de castelhanos está segurando o TAUs com unhas e dentes”, resume Angélica Souza (foto), líder comunitária da Associação Dos Moradores e Pescadores Artesanais Das Comunidades Tradicionais da Baia Dos Castelhanos (Amor Castelhanos).
Walquíria Imamura Picoli, procuradora do Ministério Público Federal em Caraguatatuba, órgão que realizou o pedido junto à SPU, também comemora a conquista do título: “essa parceria com a SPU é fantástica, porque você usa patrimônio público, que é no caso Federal, para uma finalidade que nossa Constituição prevê, que é proteger as comunidades tradicionais e seus territórios. É uma harmonia de interesses, sempre em prol da Constituição.”
A concessão do título é considerada pioneira no país porque os caiçaras estão ainda numa zona cinzenta dentro da legislação brasileira, não sendo claramente identificados como grupos culturalmente diferenciados, o que dificulta a proteção destas comunidades. “A Constituição Federal prevê a demarcação de terras indígenas e quilombolas. Em relação a outras comunidades tradicionais, por exemplo, aqui no litoral temos o caiçara, em outros locais tem catadores de babaçu, ribeirinhos, e outros tipos, eles não estão explicitamente previstos em nenhum artigo da Constituição, mas também são protegidos por ela”, explica a procuradora.
Na legislação brasileira, a primeira fase para o reconhecimento de qualquer grupo desta natureza é a autoidentificação, seguindo os parâmetros da Convenção 169 sobre Povos Indígenas e Tribais em Países Independentes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a qual o Brasil é signatário. A Convenção, de 1989, é o instrumento internacional vinculante mais antigo sobre o tema.
A conquista é fruto da organização e resistência dos caiçaras de Ilhabela e de um trabalho conjunto de diversos setores do poder público. Para tanto, houve um extenso processo de identificação dos terrenos de propriedade da União iniciado em 2013. Na época, o Ministério Público Federal e Estadual entraram em contato com a SPU ao receberem queixas dos moradores quanto a possíveis avanços de empreendimentos imobiliários e eventuais alterações no Zoneamento Ecológico Econômico do Litoral Norte, que possibilitaria a urbanização da área. Os caiçaras também corriam o risco de serem retirados das suas terras, devido a processos judiciais de reintegração de posse movidos por particulares que haviam adquirido títulos possessórios de terrenos próximos às praias.
A prefeitura de Ilhabela contribuiu fornecendo plantas e cadastros do local e, por fim, o Instituto Socioambiental Guapuruvu realizou ainda um extenso mapeamento antropológico da região entre 2014 e 2016 que serviu de argumentação para a ação proposta pelo MPF. Procurada, a SPU afirmou que a pasta já vem atuando na redução de conflitos ligados à terra, no controle da especulação imobiliária, ordenação do uso racional e sustentável dos recursos naturais disponíveis, criando assim “precedentes e modelos de atuação a serem aproveitados em outras comunidades”.
Embora os comunitários tenham tido a notícia da conquista do TAUS em novembro do ano passado, eles ainda aguardam com ansiedade o recebimento do título em mãos. No evento em 2015 foi iniciada a coleda das assinaturas dos beneficiários dos títulos coletivos, mas a SPU não soube explicar porque eles ainda não receberam e não deram previsão e quando será publicado no Diário Oficial da União.
Área de intenso conflito
A importância do título para a comunidade da Baía de Castelhanos é ainda maior se considerarmos o tamanho do conflito fundiário presente na região entre o Canto da Lagoa e Canto do Ribeirão por conta da pressão imobiliária decorrente do grande atrativo turístico do local, composto por paisagens naturais cinematográficas que combinam diversas praias, cachoeiras, trilhas e sítios arqueológicos.
Essa pressão foi sentida ainda mais forte pela líder comunitária Angélica de Souza, após a notícia do TAUS. Ela conta que desde então mudou a relação entre veranistas e moradores. “A partir do momento que o caiçara foi entendendo os direitos deles isso desagradou os veranistas porque seus interesses foram questionados”, opina a líder. Isso porque, se antes alguns dos comunitários trabalhavam como caseiros nas casas de veranistas em busca de melhor renda, agora eles têm um estímulo a mais para manter-se nas práticas tradicionais, além do fato de que algumas casas de veraneio estão em áreas da União e que devem ser destinadas para uso da comunidade. Mesmo assim a líder comunitária afirma sentir-se mais tranquila com o TAUS. “A gente tem uma segurança maior de quem não vem gente de fora construir, que a gente é dono da terra.”
Também disputam interesses a comunidade, presente no território há mais de 200 anos, e o Parque Estadual de Ilhabela, unidade de conservação de proteção integral criada em 1977 e gerida pela Fundação Florestal. Embora os direitos das comunidades tenham sido recentemente reconhecidos pelo Plano de Manejo das áreas do parque, esta discussão é tão central em áreas de sobreposição entre unidade de conservação e comunidades tradicionais em todo o país, como nas Ilhas de Vitória, Búzios e Pescadores, ou de proximidade de um e outro, como é o caso de Castelhanos, que o próprio poder público incorporou a discussão.
As TAUS dos territórios caiçaras são inéditas também por promover o reconhecimento dos territórios caiçaras situados dentro do Parque Estadual de Ilhabela (caso das ilhas) e em seu entorno (baia de castelhanos). A texto do titulo foi acordado entre SPU e a Gestora da Unidade de Conservação, dando efetividade ao Plano de Manejo que reconheceu as comunidades caiçaras em seu zoneamento. Esta experiência deve servir de referencia para outros casos de sobreposição entre UCs de Proteção Integral e territórios de povos e comunidades tradicionais, apontando como garantir a regularização fundiária das comunidades e a compatibilização de usos sustentáveis dos recursos naturais.
O MPF em Caraguatatuba possui duas câmaras para debater o tema, a Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural e a das Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais. A procuradora da República entrevistada conta que, há alguns anos, o que ocorria é que a “acabavam criminalizando a comunidade”. Hoje ela afirma que os órgãos de cúpula do MPF conseguiram se harmonizar ao entrarem num entendimento de que é possível a preservação do meio ambiente com a existência das comunidades tradicionais. Isso porque, segundo ela, “tem-se observado uma relação de causa e efeito, ou seja, onde existem estas comunidades o local fica preservado”. Por isso, segundo Picoli, o MPF vem atuando em casos como este no sentido de “regularizar os usos e não retirar as comunidades daqueles locais”, como ocorreu em Ilhabela.
Um impasse atual na região acontece em relação às regras de uso de material vegetal da unidade de conservação. Os pescadores reclamam que não têm permissão para extrair madeira para a confecção de suas canoas. Principal instrumento de trabalho dos comunitários, a arte de esculpir canoas é central na cultura deles e passada de geração para geração, garantindo o sustento da comunidade. As madeiras utilizadas são de ingá, coabi, cedro e cobirana. “Madeiras boas, que garantem embarcações de mais de 40 anos”, conta o pescador artesanal Áureo Rafael de Souza, 42 anos, morador de Castelhanos.
Questionado a esse respeito, o Parque Estadual informou por meio de sua assessoria que “as comunidades da Praia dos Castelhanos não estão sobrepostas à área de Parque, mas sim, em Zona de Amortecimento, onde não incidem as restrições de uso da Unidade de Conservação de Proteção Integral”. Zona de Amortecimento são áreas definidas no entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas às normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos ambientais negativos sobre a unidade, definida por seu Plano de Manejo. Já nas áreas de proteção integral, mais distantes das comunidades, “valem as regras gerais de Proteção Integral, que não permitem a extração de vegetação nativa”, conforme explica a Fundação Florestal.
Isso significa que os moradores da Baia de Castelhanos estão inseridos num contexto com três áreas de uso distintas. A faixa de areia, de posse da União, é a que incide o TAUs e que eles têm seu uso regulamentado, garantindo a atividade pesqueira. Já no interior, onde moram e fazem plantio para a subsistência, é área de amortecimento, o que faz com que suas atividades extrativistas estejam sujeitas às regras do Parque. E, por fim, a área de proteção integral, voltada exclusivamente para a conservação. “As leis que foram aplicadas após o parque prejudica a cultura do caiçara, que precisa do barco para pescar”, reclama a líder comunitária de AMOR Castelhanos.
As restrições de uso dos recursos naturais são intensas no interior do parque e menos restritivas na área de amortecimento. No entanto, em se tratando de uso tradicional dos recursos naturais para a garantia da identidade e modo de vida caiçara, deve haver uma pactuação do uso do território entre comunidade e Parque de forma que ambos os direitos sejam garantidos – os direitos relacionados ao patrimônio cultural, trabalho e manutenção do modo de vida da comunidade e a conservação da natureza.
Ela explica que por conta do impedimento estão comprando canoas de fora. “Como o TAUs é de geração para geração, essa canoa aqui também é. Os canoeiros que fazem essa canoa já estão ficando velhos, então eles têm que deixar essa tradição pros próximos, esta tradição não pode acabar”, defende. “Uma canoa desse porte aqui não é qualquer pessoa que faz. O caiçara que vai pro mato tem consciência que isso aqui é para trazer a renda para a casa dele. O verdadeiro caiçara preserva o lugar que mora”, defende ainda o pescador artesanal Marcelino de Souza, morador da Praia Mansa.
Ser caiçara
Segundo relatório do Instituto Guapuruvu, diferentemente dos grupos caiçaras que viveram na costa do litoral paulista, e nas décadas de 1970 e 1980 foram dissolvidos em função da urbanização da costa, valorização e perda de suas terras para o mercado imobiliário, os moradores da Baía dos Castelhanos representam uma força de resistência. Conscientes de seus direitos de permanência na terra e interessados em manter a tradicionalidade e modo de vida, vêm num crescente de organização, esclarecimento e luta sobre seus direitos. Demonstram orgulho de ser caiçaras e valorizam o lugar onde vivem.
As famílias que persistiram em permanecer no local se voltaram exclusivamente para a pesca e agricultura de subsistência, período conhecido como da “bravura caiçara”, pois embora as condições de vida não fossem fáceis, havia fartura de alimentos, saúde e o conhecimento que adquiriram pela vivência com a natureza, o que lhes proporcionava segurança alimentar e uma estabilidade razoável para a vida familiar.
Atualmente organizada em torno das famílias de pescadores artesanais, a comunidade de Castelhanos expressa um modo de vida peculiar, marcado pela tradicionalidade herdada dos antigos. A forte relação com o mar e a terra, o consórcio de atividades de extrativismo, pesca, agricultura, artesanato e comércio, marcam as práticas de vida desse grupo tradicional, que vive essencialmente da pesca, em seguida do artesanato produzido com os recursos naturais do local e a venda da farinha de mandioca, alimento principal na mesa e nas roças dos moradores.
O turismo ainda é pouco explorado pelos locais e está concentrado no lado sul da baía (o lado norte, marcado pela presença do rio Ribeirão do Engenho que atravessa a planície e corre paralelo ao mar formando extensa área de restinga alagada e manguezal, permanece sem ocupação e bastante preservado).
Segundo relatório do Instituto Guapuruvu, há somente dois restaurantes que seus donos são parentes de pessoas nascidas na Praia de Castelhanos e um camping de propriedade de família caiçara. Perguntada se há uma intenção de receptivo por parte dos caiçaras para um turismo de base comunitária, importante fonte de renda em algumas comunidades tradicionais do litoral norte, a líder comunitária de Castelhanos informa que não há nenhum planejamento neste sentido e que a busca deles no momento é se consolidar no território exercendo suas práticas tradicionais. Outros moradores entrevistados se mostraram inclusive receosos com a aproximação de “pessoas de fora”.
É o que vemos na fala de Almir Rafael de Souza, 43 anos, pescador e morador da Praia Vermelha. Ele conta que nos últimos cinco anos aumentou muito o número de não nativos. Segundo ele, são grileiros e veranistas interessados em especular com a terra, além de pessoas que vêm para trabalhar com o turismo. Ele acredita que isso enfraquece a comunidade e causa muitos conflitos, pois são pessoas que têm costumes muito diferentes dos deles. “A gente não se sente em casa, se sente invadido”, revela. Um dos problemas que ele aponta é a introdução de bebidas alcoólicas e drogas na comunidade. “O caiçara não tem esse costume de droga. O caiçara é certinho. É só ele, o mar, a terra e a família. O pessoal de fora traz muitas coisas que não favorece a comunidade”, reclama.
Ainda sobre as diferenças culturais sentidas pela comunidade com as pessoas de fora, a mãe do pescador, Leopoldina Rafael de Souza, 66 anos, conta que até vai para São Sebastião com frequência, mas que não gostaria de morar lá. Ela acha que as pessoas na cidade não se comunicam e que é muito insegura a vida nos centros urbanos. “Aqui na comunidade a gente dorme de porta aberta, não têm medo de nada”, compara.
Ainda sobre o modo de vida da comunidade, o estudo do Instituto Guapuruvu descreve que as praias são importantes espaços de encontro das famílias caiçaras. São espaços comuns que todos frequentam e conversam sobre as pescarias e assuntos gerais, as crianças se encontram para brincar. A faixa de areia é o local onde os pescadores estendem suas redes para secá-las e limpá-las e trabalham na manutenção das embarcações.
E onde estão construídos os ranchos para guardar as canoas. Os ranchos são tradicionalmente de propriedade familiar, sendo seu uso em geral compartilhado por membros de uma mesma família. Atualmente há três escolas na Baía, uma na Praia Mansa, outra no Ribeirão e outra no Canto da Lagoa. A maioria deles ainda depende de geradores para uso de energia elétrica. Somente as casas da Praia Mansa possuem energia solar que, segundo eles, dá para ligar poucas lâmpadas, não sendo capaz de manter geladeiras ligadas. No dia da visita da reportagem estavam inaugurando e uma câmara fria, instalada por meio do programa de apoio a pesca – condicionante ambiental da Petrobras devida pela implantação da Plataforma de Gás de Mexilhão, que irá auxiliá-los no armazenamento dos pescados e da merenda escolar.
Texto e fotos: Carolina Lopes, repórter do Observatório no Litoral Norte
Edição: Bianca Pyl, equipe de Comunicação do Observatório
Colaboração: Patrícia de Menezes Cardoso, coordenadora de grandes empreendimentos do Observatório
(Do http://litoralsustentavel.org.br/)
segunda-feira, 21 de agosto de 2017
A PALAVRA DOS AÇORES
Todas as pessoas, lugares, cidades, países, têm a sua língua, linguagem, a sua forma de se exprimir.
Herança, conhecimento, estudo, capricho, a comunicação enquanto forma sonora de expressão é usada por humanos e animais.
É nos humanos que é mais acentuada e conhecida, assim variando de pessoa para pessoa...
Mesmo em pequenas localidades, existem diferentes modos de cada pessoa se exprimir. Uma dessas formas denomina-se por "pronúncia" e é exactamente disso que nos vai falar o Victor Rui Dores.
Professor, escritor e actor, formado em germânicas é porventura um dos maiores poetas/escritor/cronista da actualidade dos Açores. Mas e como ele próprio se define, é sem dúvida alguma um enorme comunicador. Conhecendo os nossos saberes, usos e costumes e neste caso concreto a linguística açoriana bem como as suas diferentes formas dialectais.
Este é mais um contributo para o nosso Património cultural imaterial (ou património cultural intangível) Açoriano.
Agradecimento muito especial ao professor Victor Rui Dores por ter disposto do seu precioso tempo várias horas em estúdio, a fim de partilhar com todos nós, graças ao seu poder comunicativo, o seu saber e conhecimento sobre essa forma fantástica dos seres se comunicarem ... a dialéctica da fala.
sexta-feira, 18 de agosto de 2017
TEMPO DAQUI!
Foto Gabriel Garcia. Nova Esperança/PR.
Chance de chuva em Goiânia e BH
Grande frente fria chega no fim de semana
por Maria Clara Machado
A segunda quinzena de agosto começou bem atípica no centro-sul do Brasil, com chuva forte e volumosas para esta época do ano. A semana vai continuar com o tempo bastante instável e outra frente fria promete mais chuva para o próximo fim de semana.
"Vem aí mais uma frente fria grande e forte, que vai espalhar chuva por muitas áreas do Brasil", avisa a meteorologista Fabiana Weykamp.
O sistema está previsto para chegar no Sul do país no sábado (19) provocando chuva e deve avançar pelo Sudeste e o Centro-Oeste já no domingo (20). "Como essa frente fria também é rápida, suas áreas de instabilidade alcançam o Acre e Rondônia no fim de semana, e a entrada do ar polar vai trazer nova friagem para a região na segunda-feira (21)", completa Weykamp.
Desta vez, há expectativa de chuva para cidades do Triângulo Mineiro, do centro-sul de Goiás, inclusive para a capital Goiânia e cidades do norte de Mato Grosso.
No início da semana há uma possibilidade de chuva também para a Grande Belo Horizonte e o norte do Rio de Janeiro.
Por outro lado, o Espírito Santo, o norte de Minas Gerais e o Distrito Federal não deverão receber chuva com essa frente fria e vão continuar secos.
Os meteorologistas da Climatempo também alertam que a massa polar que vai acompanhar a nova frente fria será forte e a queda nas temperaturas será observada por muitas áreas entre o Sul, Sudeste, Centro-Oeste e sul da Região Norte.
(Do https://www.climatempo.com.br/)
quinta-feira, 17 de agosto de 2017
E O MAR VIROU SERTÃO...
Caraguatatuba - SP
Fotos João Rapacci - Caraguatatuba - SP
O que provocou o recuo do mar?
por Bianca Lobo
Conforme previsto e noticiado pela Climatempo, entre os dias 09 e 12 de Agosto tivemos uma agitação marítima muito forte na costa do Sul e do Sudeste que chamou atenção da população destas duas regiões. Ao longo deste período, tivemos o fechamento do porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, por causa do mar extremamente agitado e aproximadamente 45 contêineres caíram de um navio, na entrada do Porto de Santos. Ondas de até 6 metros foram observados no Rio de Janeiro.
Logo após essa agitação marítima, ocorreu um recuo do mar. As fotos abaixo são da praia do camaroeiro em Caraguatatuba, litoral paulista, que no último domingo, 13 de agosto amanheceu com a forte vazante.
O que provocou este recuo no mar?
De acordo com a meteorologista Bianca Lobo, a fricção gerada pelo vento e a superfície do mar transfere uma pequena quantidade de energia para a água, iniciando o movimento do mar. Quando os ventos são persistentes, uma corrente de superfície no mar se desenvolve.
Essa corrente formada pelos ventos persistentes sobre o oceano não se move paralelamente à direção do vento. Devido a ação da força de Coriolis, o movimento da corrente gerada cria um ângulo com relação ao vento, para a direita no Hemisfério Norte e para a esquerda no Hemisfério Sul.
Figura 1 - Efeito da espiral de Ekman para água profunda no Hemisfério Sul
A corrente de superfície força a movimentação da água abaixo dela, que irá transferir energia e gerar o movimento da camada seguinte e assim por diante. A corrente gerada na camada inferior será sempre mais fraca e apresentará um ângulo relativo à corrente superior (no Hemisfério Sul esse desvio será sempre para esquerda). Esse processo é chamado de Espiral de Ekman. No final, a coluna de água que sofre esse processo apresentará um movimento resultante de cerca de 90º em relação à direção do vento.
Portanto, quando temos ventos de componente norte paralelos a costa do Brasil, soprando persistentes e com forte intensidade, a água do mar será empilhada para fora da costa, resultando no recuo das águas no litoral.
Fonte: Informações baseadas no curso de Correntes Oceânicas do COMET - MetEd
(Do https://www.climatempo.com.br/)
quarta-feira, 16 de agosto de 2017
MEMÓRIA DAS ÁGUAS
Foto Ronaldo Amboni |
Agosto, 2014!
Baleia é desencalhada em Laguna, no Sul de Santa Catarina
Baleia é desencalhada em Laguna, no Sul de Santa Catarina
Animal foi retirado da parte mais rasa e está sendo conduzido para fora da lagoa; filhote aguarda mãe no mar
por Mariana Della Justina
mariana.justina@diario.com.br
Após cinco tentativas de desencalhe, neste sábado, as equipes de resgate conseguiram retirar a baleia-franca do ponto mais raso da Lagoa de Santo Antonio, em Laguna, onde estava presa desde sexta-feira. Ela está sendo monitorada até que chegue à parte mais profunda do canal, para que consiga voltar ao alto mar. Mas, de acordo com a Polícia Ambiental, a parte mais complicada já passou.
A baleia-franca encalhou na tarde de sexta-feira, e continuava parada no mesmo lugar durante a maior parte do sábado. Ela está cansada pelo esforço de tentar sair. E o filhote que a acompanha ficou desorientado e chegou a encalhar também, mas conseguiu ser resgatado primeiro. Desde então, uma equipe em um jet ski acompanha o animal menor para evitar que volte a ficar preso. Restava apenas o desafio de resgatar a baleia mãe, que foi solta por volta das 17h45.
— Quando o filhote desencalhou, deu uma volta e ficou ao redor da mãe, foi emocionante. Agora ele está desorientado, é um filhote de dois meses, é como se fosse um ser humano de dois dias, não sabe o que fazer — disse o ambientalista Júlio César Vicente, que está acompanhando os trabalhos.
A Polícia Militar Ambiental do município faz a segurança do ambiente, para que ninguém se aproxime muito do animal, o que pode deixá-lo estressado. O perímetro de monitoramento é de 300 metros – que ainda está na Lagoa Santo Antônio.
Equipes esperam por melhores condições para tentar realizar novamente o resgate
Por volta das 14h50min deste sábado, as equipes que estão no local fizeram uma tentativa de resgate com dois barcos rebocadores. Mergulhadores envolveram a baleia maior com fitas. Apesar do sucesso em virá-la para a posição em que ela conseguiria voltar ao canal, uma das fitas rompeu e o animal retornou à posição errada. Ela teria ficado muito agitada e ainda no início desta tarde estavam tentando acalmá-la para os mergulhadores poderem se aproximar novamente.
Uma segunda tentativa foi feita por volta das 16h, mas também não teve sucesso, apesar de ter conseguido deslocar o animal por alguns metros. A baleia chegou a se revirar, mas não foi o suficiente para o desencalhe. Seguidas tentativas acabaram levando ao sucesso, mas o animal ainda tem dificuldades para se locomover pelo esforço feito ao tentar se soltar.
De acordo com a APA Baleia Franca, especialistas que monitoram os mamíferos encalhados avaliaram que a situação de saúde dos dois é estável.
Baleia entrou no estuário na tarde de sexta
A baleia-franca e seu filhote entraram no estuário de Laguna (local onde desemboca o rio) por volta das 14h30min de sexta-feira. Ela acabou encalhando em uma parte baixa da Lagoa Santo Antônio. A Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca, Polícia Militar Ambiental, Corpo de Bombeiros de Laguna e a Marinha do Brasil atuam em conjunto para tentar solucionar a situação.
A recomendação é que ninguém tente se aproximar do animal ou tente observar por meio de embarcações, pois isso pode piorar seu estado de saúde.
A chefe substituta da APA da Baleia Franca, Luciana Moreira, explicou, durante o resgate, que havia risco de a baleia morrer e que o sucesso dependeria das condições de estresse e de saúde do animal e de profundidade do solo e da maré.
?cessão dos rebocadores utilizados no resgate, além do apoio da população, que compreendeu a gravidade da situação e respeitou a orientação da Marinha do Brasil, não se aproximando do local dos trabalhos, foi fundamental para que a missão obtivesse sucesso.
Participaram dos trabalhos de resgate a unidade de conservação, Delegacia da Capitania dos Portos da Marinha do Brasil, Polícia Militar Ambiental, projeto Baleia Franca, R3 Animal e Udesc. A prefeitura de Laguna e as empresas Camargo Correa e Laguna Navegações Ltda também auxiliaram nas ações.
(Do DIÁRIO CATARINENSE - www.clicrbs.com.br)
terça-feira, 15 de agosto de 2017
MAR DE PESCADOR
Rita Moura/Folhapress |
O pescador João Alves de Amorim, 58, tenta pescar sururu com o uso de redes, sem sucesso
Ganha-pão, sururu desaparece e deixa pescadores sem sustento em Maceió
por KATIA VASCO
Às margens da lagoa Mundaú, em Maceió, uma quadra antes cheia de pessoas vendendo sururu agora está abandonada. Sentada no local, Verônica Alves dos Santos, 47, ainda tenta manter a esperança, mas está apreensiva com o desaparecimento do produto, uma referência da culinária alagoana e bem cultural do Estado.
A diminuição do nível da salinidade da lagoa fez o animal desaparecer, o que deixou 3.000 famílias (cerca de 11 mil pessoas) sem renda.
Mãe de cinco filhos, Verônica diz que aprendeu o ofício com a avó e a mãe e depois ensinou aos filhos. Agora não sabe o que vai fazer se ele não reaparecer. "Sem estudo, quem vive do sururu não sabe fazer outra coisa."
Os pescadores de sururu não recebem o seguro-defeso –espécie de seguro-desemprego pago pelo INSS a pescadores artesanais– porque o molusco não está entre as espécies ameaçadas e, portanto, cobertas pelo benefício.
Antes, a pesca e a venda do sururu chegavam a render R$ 200 por dia às famílias. Para fazer isso, os pescadores mergulhavam até o fundo da lagoa e capturavam o animal com a mão. Em terra ele é lavado, retirado das ostras, limpo e fervido, antes de ser levado ao consumidor.
Presente em praticamente todos os Estados do Nordeste e no Espírito Santo, o sururu é um molusco bivalve (inserido entre duas conchas) que precisa de um teor de salinidade entre 12 ppm (partes por mil) e 30 ppm para sobreviver. Na lagoa Mundaú esse teor chegou a zero devido ao grande volume de água doce.
O excesso de chuvas nos últimos dois meses é apontado como a principal causa do desaparecimento do sururu nas lagoas Mundaú e Manguaba, também na região metropolitana. Somente nos meses de maio e junho choveu em média 83% do esperado para todo o ano, segundo a Defesa Civil de Maceió. A lagoa da cidade de Roteiro (a 60 km da capital) também foi afetada.
Até agora o problema está restrito a Alagoas, não há casos no restante do Nordeste.
Com o sumiço do animal, apenas os pescadores que possuem rede ainda conseguem capturar alguns tipos de peixes, como bagre e tainha –que rendem entre R$ 10 e R$ 50 por dia.
O pescador João Alves de Amorim, 58, diz que, mesmo com as redes, não está conseguindo nada. Por isso o barco passa mais tempo ancorado do que navegando.
A maior parte das famílias está sobrevivendo da reciclagem do lixo e de doações. Alguns buscaram as colônias de pescadores atrás de bicos, como pedreiro e pintor.
O casal Jaciara Luciano dos Santos, 48, e Washington Diniz Machado, 60, sobrevive dessas doações para completar a renda da pesca bagre.
O governo estadual não tem um plano imediato para evitar a extinção do molusco, diz o coordenador de Gerenciamento Costeiro do IMA (Instituto do Meio Ambiente), Ricardo César. Segundo ele, estão sendo feitos estudos para criar um plano de ação.
Ele defende que a solução é uma dragagem para a entrada da água do mar no leito do rio, aumentado da salinidade. A última vez que uma draga abriu o caminho do mar para a lagoa foi na década de 1990.
O sururu é um molusco bivalve (inserido entre duas conchas) que precisa de um teor de salinidade entre 12 ppm (partes por mil) e 30 ppm para sobreviver
DESAPARECIMENTO
O biólogo e consultor ambiental Álvaro Borba Júnior, afirma que a possibilidade de desaparecimento em definitivo do sururu é real.
Segundo ele, não basta apenas a dragagem, é preciso aumentar a profundidade das lagoas e fazer uma recuperação da mata ciliar dos rios. "Houve uma degradação sistemática das lagunas, principalmente da Mundaú, que banha a capital e que sofre com o crescimento da cidade."
Além das chuvas e do assoreamento, a poluição, causada sobretudo por ligações clandestinas de esgoto e o acúmulo de lixo, influenciam na baixa produção e na qualidade do molusco na laguna.
O IMA diz acreditar que o problema de salinidade só deva ser contornado entre setembro e outubro. Os pescadores dizem que isso só deve ocorrer no final do ano.
A Federação dos Pescadores de Alagoas afirma que pediu aos governos estadual e municipal a distribuição de cestas básicas emergenciais, sem receber respostas.
A Secretaria Municipal de Assistência Social afirmou que não recebeu o pedido.
O governo estadual disse que está buscando uma forma de ajudar os pescadores, mas que ainda não tem previsão se isso será feito.
(Da http://m.folha.uol.com.br/)