sexta-feira, 30 de outubro de 2020

ENQUANTO...


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baseado nessa carreira
trago uma certeza
nada me anfetamina
enquanto houver dose 

(Fernando Alexandre - outono 88)

D'ALÉM MAR

Foto Divulgação
Peixinho no Forno à Nanda

Ingredientes:
Filetes de peixe a gosto
5 dentes de alho
azeite
1 folha de louro
colorau (pimentão vermelho) a gosto
sal e pimenta
salsa picada
folha de alumínio

Forra-se um tabuleiro com papel de alumínio.
Espalha-se um fio de azeite no fundo tabuleiro. Picam-se 3 dentes de alho miudinhos e espalham-se também no fundo do tabuleiro, assim como a folha de louro que se parte em 4 partes.
Temperam-se os filetes com sal e pimenta a gosto, dispoem-se por cima do arranjo , do azeite, alhos e louro.
Acamam-se bem, polvilham-se os restantes alhos bem picadinhos sobre o peixe, mais um pequeno fio de azeite, salpica-se com o colorau e polvilha-se com salsa fresca picadinha.
Cobre-se o tabuleiro com uma folha de alumínio e vai a forno moderado a assar por cerca de 15 minutos.
Passado esse tempo, tira-se a folha de aluminio e assa no topo do forno por mais 5 minutinho para alourar um pouco.

Para a batata a murro, os ingredientes:

Batatas a gosto pequenas de preferência
azeite
dentes de alho
colorau

Cozem-se as batatas com pele.
Depois de cozidas, escorrem-se e dá-se a cada uma delas um murro ligeiro , de forma a abri-las.
Fritam-se ligeiramente os alhos picados, com colorau, em azeite suficiente para temperar as batatas, e tempera-se com sal e pimenta.
Depois de pronto regam-se as batatas com esse azeite aromatizado,tendo o cuidado de todas ficarem temperadas.
Bom apetite.

A LATA DE ATUM E A ESCRAVIDÃO

Captura de atum. PIXABAY

A conexão entre a sua lata de atum e a mão de obra escrava

A Tailândia é o principal exportador mundial do peixe, com uma indústria pesqueira marinha que se presta especialmente à escravidão moderna

Qual é a chance de que a última lata de atum que você comeu tenha sido produzida com mão de obra escrava? Se a origem for tailandesa, isso é mais provável do que você imagina. Rastreamos a viagem realizada pelo atum dos mares que rodeiam o país asiático até as prateleiras dos supermercados australianos. Após entrevistar mais de 50 pessoas, algumas delas obrigadas a fazer trabalhos forçados, conseguimos avaliar se as marcas podem dizer que suas cadeias de abastecimento estão livres de mão de obra escrava.

Acreditamos que apenas uma das marcas de atum em conserva que operam no país pode afirmar, com absoluta certeza, que entre seus provedores não se esconde nenhum escravo.

Embora não possamos mencioná-la, por causa dos princípios éticos que garantiram que nossa investigação tenha sido feita independentemente de qualquer questão comercial, nossos resultados reforçam a necessidade da Lei sobre Escravidão Moderna, aprovada pelo Parlamento australiano no final de 2018, para conscientizar as empresas sobre a importância de acabar com a escravidão nas redes de abastecimento em escala global.
A exploração dos trabalhadores migrantes

A Tailândia é o principal exportador mundial de atum e um dos maiores exportadores de todo tipo de peixe. Sua indústria pesqueira marinha se presta especialmente à escravidão moderna devido ao seu tamanho, à falta de regulação, à grande capacidade de operações ilegais realizadas sob seu manto e à exploração dos trabalhadores imigrantes.

Há mais de 50.000 embarcações pesqueiras e cerca de 500.000 trabalhadores na indústria. Investigações realizadas por grupos como Greenpeace e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) advertem que a maioria das pessoas que sobem nesses barcos cumprem todos os requisitos para serem consideradas escravos modernos: são forçados a trabalhar sob ameaça, são controladas ou diretamente são propriedade de seus chefes, são tratadas como mercadoria e não podem abandonar seu posto de trabalho.

Qualquer pessoa enganada ou traficada para trabalhar em localidades distantes de seu lugar de origem e que não tenha liberdade de circulação, seja ela física ou financeira, é um escravo moderno.


Em 2014, 82% dos 172.430 pescadores distribuídos em 42.512 barcos tailandeses eram imigrantes, bem como a maioria dos empregados de plantas de processamento

As estatísticas compiladas pelo Departamento de Pesca da Tailândia revelam dados chocantes: em 2014, 82% dos 172.430 pescadores distribuídos em 42.512 barcos eram imigrantes, assim como a maioria dos empregados das usinas de processamento. Os traficantes convencem migrantes do Camboja e de Mianmar, principalmente, com promessas de trabalho bem remunerado. Ao chegar à Tailândia, porém, essas pessoas descobrem que a história é bem diferente.

Os imigrantes não têm direito às proteções concedidas aos trabalhadores tailandeses, cobrando em geral 25% menos que o salário mínimo do país. Tampouco podem integrar os sindicatos, um direito que os locais têm.

Portanto, por serem estrangeiros e não terem recebido educação nem contarem com a habilidade de se comunicar em tailandês, eles se encontram numa situação de especial vulnerabilidade à exploração, numa indústria em que as frotas rebeldes se movem à margem da lei com operações de pesca ilegais. E onde a segurança e as condições de trabalho são aplicadas de maneira deficiente.
Falta de transparência

As práticas na indústria pesqueira tailandesa (e em outros lugares do Sudeste Asiático) se tornaram conhecidas no mundo todo em 2015, graças ao trabalho de investigação dos jornalistas da agência Associated Press (que lhes valeu o Prêmio Pulitzer por Serviço Público). Desde então, as respostas emitidas pelos governos e as empresas mostram a insuficiência do marco legal e de gestão existente para acabar com o problema de uma vez por todas.

A transparência é um tema central. As práticas ilegais são ocultadas deliberadamente por sua própria natureza, e os métodos que os varejistas poderiam utilizar para averiguar como trabalham suas cadeias de abastecimento, como o envio de pesquisas aos fornecedores (e aos provedores destes), não dão nenhum resultado.

O que dificulta a transparência na indústria pesqueira é que não basta conhecer o provedor ou o atacadista. Nem sequer a origem geográfica do peixe. Os varejistas precisam conhecer os detalhes de cada jornada de pesca e a mão de obra empregada. No entanto, mesmo tendo acesso a essas informações, não é possível saber se a mercadoria foi transferida de um barco a outro em alto mar. Ou seja: o problema continua existindo apesar dos certificados emitidos pelo Marine Stewardship Council (organização internacional que estabelece um padrão para a pesca sustentável) – que, em qualquer caso, não se encarrega de supervisionar as condições trabalhistas.

São necessários uma melhor coordenação e mecanismos mais efetivos para vigiar o risco a que os trabalhadores se expõem do barco de pesca ao supermercado, passando pela fábrica.


São necessários uma melhor coordenação e mecanismos mais efetivos para vigiar o risco ao que se expõem os trabalhadores desde o barco de pesca até o supermercado, passando pela fábrica
Há muito a fazer, mas é um começo

Reside aí a necessidade de criar leis que levem ao fim da escravização moderna. De acordo com a Lei sobre Escravidão Moderna da Austrália, as empresas que tenham registrado prejuízos de mais de 100 milhões de dólares australianos (260 milhões de reais) deverão informar o que estão fazendo para evitar o uso de mão de obra escrava na elaboração de seus produtos.

A partir de 2020, as companhias serão obrigadas a apresentar “declarações de escravidão moderna”, detalhando a fonte da qual obtêm seus produtos e as ações que realizaram para garantir que não existe mão de obra escrava em sua cadeia de abastecimento.

Ainda há um longo caminho a percorrer. A lei não inclui sanções pelo não cumprimento das ações. E não existe um órgão estatutário que ofereça orientação e supervisão, como estabelece uma norma similar promulgada no Reino Unido em 2015.

Mas já é um começo. A lei pelo menos exerce pressão sobre as marcas para que sejam mais transparentes em relação às suas cadeias de abastecimento e para que melhorem as condições de trabalho. Até agora, os resultados foram díspares: algumas marcas investiram na limpeza de suas cadeias de abastecimento após serem colocadas em evidência, enquanto outras se fazem de desentendidas.

Esperamos que os consumidores sejam conscientes dos riscos envolvidos na escravidão moderna e, com o tempo, possam investigar a informação compartilhada publicamente por suas marcas favoritas.

Este artigo foi publicado originalmente em inglês em The Conversation.
(Via https://brasil.elpais.com/)

TRABALHADORES DO MAR

Foto Heverson Santos
Veja mais fotos do Heverson Santos no http://www.facebook.com/pages/Apaixonados-por-fotografia

DE BRUXAS E LUTAS

Na Europa do século XVI, a caça às bruxas foi uma guerra de classes por parte da elite.

As bruxas e as lutas de classes


Trecho do livro Calibã e a Bruxa (Elefante, 2018). Tradução: Coletivo Sycorax

A caça às bruxas raramente aparece na história do proletariado. Até hoje, continua sendo um dos fenômenos menos estudados na história da Europa ou, talvez, da história mundial, se consideramos que a acusação de adoração ao demônio foi levada ao Novo Mundo pelos missionários e conquistadores como uma ferramenta para a subjugação das populações locais.

O fato de que a maior parte das vítimas na Europa tenham sido mulheres camponesas talvez possa explicar o motivo da indiferença dos historiadores com relação a tal genocídio; uma indiferença que beira a cumplicidade, já que a eliminação das bruxas das páginas da história contribuiu para banalizar sua eliminação física na fogueira, sugerindo que foi um fenômeno com um significado menor, quando não uma questão de folclore.

Inclusive, os estudiosos da caça às bruxas (no passado eram quase exclusivamente homens) foram frequentemente dignos herdeiros dos demonólogos do século XVI. Ainda que deplorassem o extermínio das bruxas, muitos insistiram em retratá-las como tolas miseráveis que sofriam com alucinações. Desta maneira, sua perseguição poderia ser explicada como um processo de “terapia social” que serviu para reforçar a coesão amistosa, ou poderia ser descrita em termos médicos como um “pânico”, uma “loucura”, uma “epidemia”, todas caracterizações que tiram a culpa dos caçadores das bruxas e despolitizam seus crimes.

As feministas reconheceram rapidamente que centenas de milhares de mulheres não poderiam ter sido massacradas e submetidas às torturas mais cruéis se não tivessem proposto um desafio à estrutura de poder. Também se deram conta de que essa guerra contra as mulheres, que se manteve durante um período de pelo menos dois séculos, constituiu um ponto decisivo na história das mulheres na Europa, o “pecado original” no processo de degradação social que as mulheres sofreram com a chegada do capitalismo, o que o conforma, portanto, como um fenômeno ao qual devemos retornar de forma reiterada se quisermos compreender a misoginia que ainda caracteriza a prática institucional e as relações entre homens e mulheres.

Ao contrário das feministas, os historiadores marxistas, salvo raras exceções — inclusive quando se dedicaram ao estudo da “transição ao capitalismo” —, relegaram a caça às bruxas ao esquecimento, como se carecesse de relevância para a história da luta de classes. As dimensões do massacre deveriam, entretanto, ter levantado algumas suspeitas: em menos de dois séculos, centenas de milhares de mulheres foram queimadas, enforcadas e torturadas.

Deveria parecer significativo o fato de a caça às bruxas ter sido contemporânea ao processo de colonização e extermínio das populações do Novo Mundo, aos cercamentos ingleses, ao começo do tráfico de escravos, à promulgação das Leis Sangrentas contra vagabundos e mendigos, e de ter chegado a seu ponto culminante no interregno entre o fim do feudalismo e a “decolagem” capitalista, quando os camponeses na Europa alcançaram o ponto máximo do seu poder, ao mesmo tempo que sofreram a maior derrota da sua história. Até agora, no entanto, este aspecto da acumulação primitiva tem permanecido como um verdadeiro mistério.
A época de queima de bruxas e a iniciativa estatal

O que ainda não foi reconhecido é que a caça às bruxas constituiu um dos acontecimentos mais importantes do desenvolvimento da sociedade capitalista e da formação do proletariado moderno. Isso porque o desencadeamento de uma campanha de terror contra as mulheres, não igualada por nenhuma outra perseguição, debilitou a capacidade de resistência do campesinato europeu frente ao ataque lançado pela aristocracia latifundiária e pelo Estado, em uma época na qual a comunidade camponesa já começava a se desintegrar sob o impacto combinado da privatização da terra, do aumento dos impostos e da extensão do controle estatal sobre todos os aspectos da vida social.

A caça às bruxas aprofundou divisões entre mulheres e homens, ensinando os homens a temer a força das mulheres, e destruiu um universo de práticas, crenças e sujeitos sociais cuja existência era incompatível com a disciplina capitalista do trabalho, redefinindo assim os principais elementos da reprodução social.

Ao contrário da visão propagada pelo Iluminismo, a caça às bruxas não foi a última fagulha de um mundo feudal agonizante. Foi depois de meados do século XVI, nas mesmas décadas em que os conquistadores espanhóis subjugaram as populações americanas, que começou a aumentar a quantidade de mulheres julgadas como bruxas. Além disso, a iniciativa da perseguição passou da Inquisição às cortes seculares. A caça às bruxas alcançou seu ápice entre 1580 e 1630, ou seja, numa época em que as relações feudais já estavam dando lugar às instituições econômicas e políticas típicas do capitalismo mercantil. Foi neste longo “Século de Ferro” que, quase que por meio de um acordo tácito entre países que frequentemente estavam em guerra entre si, se multiplicaram as fogueiras, ao passo que o Estado começou a denunciar a existência de bruxas e a tomar a iniciativa de persegui-las.

Antes que os vizinhos se acusassem entre si ou que comunidades inteiras fossem acometidas pelo “pânico”, teve lugar um firme doutrinamento, no qual as autoridades expressaram publicamente sua preocupação com a propagação das bruxas e viajaram de aldeia em aldeia para ensinar as pessoas a reconhecê-las, em alguns casos levando consigo listas de mulheres suspeitas de serem bruxas e ameaçando castigar aqueles que as dessem asilo ou lhes oferecessem ajuda.

Mas foram os juristas, os magistrados e os demonólogos, frequentemente encarnados na mesma pessoa, os que mais contribuíram para a perseguição: foram eles que sistematizaram os argumentos, responderam aos críticos e aperfeiçoaram a maquinaria legal que, por volta do final do século XVI, deu um formato padronizado, quase burocrático, aos julgamentos, o que explica as semelhanças entre as confissões para além das fronteiras nacionais. No seu trabalho, os homens da lei podiam contar com a cooperação dos intelectuais de maior prestígio na época, incluindo filósofos e cientistas que ainda hoje são elogiados como os pais do racionalismo moderno.

Não pode haver dúvida, então, de que a caça às bruxas foi uma iniciativa política de grande importância. A natureza política da caça às bruxas também fica demonstrada pelo fato de que tanto as nações católicas quanto as protestantes, em guerra entre si quanto a todas as outras temáticas, se uniram e compartilharam argumentos para perseguir as bruxas. Assim, não é um exagero dizer que a caça às bruxas foi o primeiro terreno de unidade na política dos novos Estados-nação europeus, o primeiro exemplo de unificação europeia depois do cisma provocado pela Reforma.

Crenças diabólicas e mudanças no modo de produção

Uma primeira ideia sobre o significado da caça às bruxas na Europa pode ser encontrada na tese proposta por Michael Taussig em seu clássico trabalho “The Devil and Commodity Fetishism in South America” (“O demônio e o Fetichismo da Mercadoria na América do Sul”), de 1980. Neste livro, o autor sustenta que as crenças diabólicas surgem em períodos históricos em que um modo de produção está sendo substituído por outro. Em tais períodos, não somente as condições materiais de vida são transformadas radicalmente, mas também o são os fundamentos metafísicos da ordem social — por exemplo, a concepção de como se cria o valor, do que gera vida e crescimento, do que é “natural” e do que é antagônico aos costumes estabelecidos e às relações sociais.

Taussig desenvolveu sua teoria a partir do estudo das crenças de trabalhadores rurais colombianos e mineiros de estanho bolivianos numa época em que, em ambos os países, estavam surgindo certas relações monetárias que, aos olhos do povo, se associavam com a morte e inclusive com o diabólico, ainda mais se comparadas com as formas de produção mais antigas, que ainda persistiam, orientadas à subsistência. Desse modo, nos casos analisados por Taussig, eram os pobres que suspeitavam que os mais ricos participavam na adoração ao demônio. Ainda assim, sua associação entre o diabo e a forma-mercadoria nos faz lembrar também que, por detrás da caça às bruxas, esteve a expansão do capitalismo rural, que incluiu a abolição de direitos consuetudinários e a primeira onda de inflação na Europa moderna.

Estes fenômenos não somente levaram ao crescimento da pobreza, da fome e do deslocamento social, mas também transferiram o poder para as mãos de uma nova classe de “modernizadores” que olhavam com medo e repulsa as formas de vida comunais que haviam sido típicas da Europa pré-capitalista. Foi graças à iniciativa desta classe protocapitalista que a caça às bruxas alçou voo, como uma arma com a qual se podia derrotar a resistência à reestruturação social e econômica.

Que a difusão do capitalismo rural, com todas as suas consequências (expropriação da terra, aprofundamento das diferenças sociais, deterioração das relações coletivas), tenha sido um fator decisivo no contexto de caça às bruxas é algo que também se pode provar pelo fato de que a maioria dos acusados eram mulheres camponesas pobres — cottars, trabalhadoras assalariadas —, enquanto os que as acusavam eram abastados e prestigiosos membros da comunidade, muitas vezes seus próprios empregadores ou senhores de terra, ou seja, indivíduos que formavam parte das estruturas locais de poder e que, com frequência, tinham laços estreitos com o Estado central.

Na Inglaterra, as bruxas eram normalmente mulheres velhas que viviam da assistência pública, ou mulheres que sobreviviam indo de casa em casa mendigando pedaços de comida, um jarro de vinho ou de leite; se estavam casadas, seus maridos eram trabalhadores diaristas, mas, na maioria das vezes, eram viúvas e viviam sozinhas. Sua pobreza se destaca nas confissões. Era em tempos de necessidade que o diabo aparecia para elas, para assegurar-lhes que a partir daquele momento “nunca mais deveriam pedir”, mesmo que o dinheiro que lhes seria entregue em tais ocasiões rapidamente se transformasse em cinzas, um detalhe talvez relacionado com a experiência da hiperinflação que era comum na época.

Quanto aos crimes diabólicos das bruxas, eles não nos parecem mais que a luta de classes desenvolvida na escala do vilarejo: o “mau-olhado”, a maldição do mendigo a quem se negou a esmola, a inadimplência no pagamento do aluguel, a demanda por assistência pública.

Caça às bruxas e revolta de classes

Como podemos ver a partir desses casos, a caça às bruxas se desenvolveu em um ambiente no qual os “de melhor estirpe” viviam num estado de constante temor frente às “classes baixas”, das quais certamente se podia esperar que abrigassem pensamentos malignos, já que nesse período estavam perdendo tudo o que tinham.

Não surpreende que este medo se expressasse como um ataque à magia popular. A batalha contra a magia sempre acompanhou o desenvolvimento do capitalismo, até os dias de hoje. A premissa da magia é que o mundo está vivo, que é imprevisível e que existe uma força em todas as coisas de forma que cada acontecimento é interpretado como a expressão de um poder oculto que deve ser decifrado e moldado de acordo com a vontade de cada um.

A magia constituía também um obstáculo para a racionalização do processo de trabalho e uma ameaça para o estabelecimento do princípio da responsabilidade individual. Sobretudo, a magia parecia uma forma de rejeição do trabalho, de insubordinação, e um instrumento de resistência de base ao poder. O mundo devia ser “desencantado” para poder ser dominado.

Por volta do século XVI, o ataque contra a magia já estava no seu auge e as mulheres eram os alvos mais prováveis. Mesmo quando não eram feiticeiras/magas experientes, chamavam-nas para marcar os animais quando adoeciam, para curar seus vizinhos, para ajudar-lhes a encontrar objetos perdidos ou roubados, para lhes dar amuletos ou poções para o amor ou para ajudar-lhes a prever o futuro. Embora a caça às bruxas estivesse dirigida a uma ampla variedade de práticas femininas, foi principalmente devido a essas capacidades — como feiticeiras, curandeiras, encantadoras ou adivinhas — que as mulheres foram perseguidas, pois, ao recorrerem ao poder da magia, debilitavam o poder das autoridades e do Estado, dando confiança aos pobres em sua capacidade para manipular o ambiente natural e social e, possivelmente, para subverter a ordem constituída.

Por outro lado, é de se duvidar que as artes mágicas que as mulheres praticaram durante gerações tivessem sido ampliadas até o ponto de se converterem em uma conspiração demoníaca, se não tivessem ocorrido num contexto de intensa crise e luta social. Tais revoltas foram as Guerras Camponesas contra a privatização da terra, que incluíram as insurreições contra os cercamentos na Inglaterra (em 1549, 1607, 1628 e 1631), quando centenas de homens, mulheres e crianças, armados com forquilhas e pás, começaram a destruir as cercas erguidas ao redor das terras comunais, proclamando que “a partir de agora nunca mais precisaremos trabalhar”. Durante estas revoltas, muitas vezes, eram as mulheres que iniciavam e dirigiam a ação.
A perseguição às bruxas se desenvolveu nesse terreno. Foi uma guerra de classes levada a cabo por outros meios.

Caça às bruxas, caça às mulheres e a acumulação do trabalho

Com este pano de fundo, parece plausível que a caça às bruxas tenha sido, pelo menos em parte, uma tentativa de criminalizar o controle da natalidade e de colocar o corpo feminino — o útero — a serviço do aumento da população e da acumulação da força de trabalho. Podemos imaginar o efeito que teve nas mulheres o fato de ver suas vizinhas, suas amigas e suas parentes ardendo na fogueira, enquanto percebiam que qualquer iniciativa contraceptiva de sua parte poderia ser interpretada como produto de uma perversão demoníaca.

Desse ponto de vista, não pode haver dúvida de que a caça às bruxas destruiu os métodos que as mulheres utilizavam para controlar a procriação, posto que eles eram denunciados como instrumentos diabólicos, e institucionalizou o controle do Estado sobre o corpo feminino, o principal pré-requisito para sua subordinação à reprodução da força de trabalho. A caça às bruxas foi, portanto, uma guerra contra as mulheres; foi uma tentativa coordenada de degradá-las, de demonizá-las e de destruir seu poder social.

Quando esta tarefa foi cumprida por completo — no momento em que a disciplina social foi restaurada e a classe dominante consolidou sua hegemonia —, os julgamentos de bruxas cessaram. A crença na bruxaria pôde inclusive se tornar algo ridículo, desprezada como superstição e apagada rapidamente da memória. Assim como o Estado havia iniciado a caça às bruxas, um por um, os vários governos foram tomando a iniciativa de acabar com ela.

Uma vez destruído o potencial subversivo da bruxaria, foi possível até mesmo permitir que tal prática seguisse adiante. Depois da caça às bruxas chegar ao fim, muitas mulheres continuaram sustentando-se por meio da adivinhação, da venda de encantamentos e da prática de outras formas de magia. Mas agora as autoridades já não estavam interessadas em perseguir essas práticas, sendo inclinadas, ao contrário, a ver a bruxaria como um produto da ignorância ou como uma desordem da imaginação.

O espectro das bruxas seguiu, de qualquer forma, assombrando a imaginação da classe dominante. Em 1871, a burguesia parisiense o retomou instintivamente para demonizar as mulheres communards, acusando-nas de querer incendiar Paris. Não pode haver muita dúvida, de fato, de que os modelos das histórias e imagens mórbidas de que se valeu a imprensa burguesa para criar o mito das pétroleusesincendiárias foram retirados diretamente do repertório da caça às bruxas.

Imagem tomada de: QueAprendemosHoy.com “A cozinha das bruxas por Frans Francken, o Jovem, 1606.” Hermitage Museum

OLHANDO ILHAS, ESPERO...

Foto Fernando Alexandre

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

VIEIRAS NA MESA


VIEIRAS DE GAROPABA

Os franceses têm razão, vieiras são sublimes. Refinadas, saudáveis e fáceis de cozinhar. É impossível não se apaixonar pelo sabor suave e ligeiramente doce deste molusco. Se você pensa que ele continua restrito a restaurantes que cobram pequenas fortunas por unidade, eu tenho uma boa notícia: graças aos esforços do Quirino Neto, as vieiras estão apenas a um telefonema de distância. O Neto é um engenheiro de aquicultura que mantém uma fazenda de cultivo de vieiras em Garopaba desde 2011. Depois de um começo difícil, hoje ele produz vieiras de alta qualidade que abastecem restaurantes de Garopaba e Florianópolis, e felicidade maior, a cozinha da minha casa e da sua. E caros alunos, ele abre vagas para quem quiser participar do manejo da produção.

Como são cultivadas a 8 metros de profundidade, e vendidas frescas, é necessário um certo planejamento. Depois de dois acidentes com redes de pesca, o Neto decidiu não abusar da sorte e hoje só mergulha quando a água apresenta boa visibilidade. É preciso então ligar para ele e combinar a entrega. E caros alunos, ele abre vagas para quem quiser participar do manejo da produção. A parte da preparação é simples, e você pode consumir tanto o músculo quanto as gônadas. O único cuidado é que o cozimento deve ser breve. Lá em casa a gente gosta de temperar com sal e pimenta e depois colocar em cima um pedaço de manteiga misturada com muita salsinha e alho picados. Coloca no forno médio por 5 minutos, e serve com limão, pão fresco e um vinho de São Joaquim. Precisa mais?




TAINHA: UMA PESCA COLETIVA!


"...nossa pesca da tainha não é uma atividade com objetivo empresarial, e sim, uma prática de confraternização e partilha comunitária. "

"Dedico esta Temporada da Tainha 2014 ao meu saudoso pai, senhor Adriano Alexandrino Daniel. Primeira safra da tainha sem sua presença física.
Agradeço à comunidade do Campeche, ao patrão da rede, remeiros, vigias (titulares e auxiliares), camaradas, cozinheiro e a todos os que se envolveram nessa atividade.
Reafirmo que nossa rede de pesca é de responsabilidade da família Daniel, mas meu sentimento é que ela pertence a todos, a comunidade. Nunca podemos esquecer que nossa pesca da tainha não é uma atividade com objetivo empresarial, e sim, uma prática de confraternização e partilha comunitária. 
Fico imensamente feliz quando cercamos um cardume, é uma cena emocionante. Fico mais feliz ainda quando todos saem da praia com pelo menos uma tainha em suas mãos. Até parece o milagre da multiplicação. 
Nestes tempos de internet o Silézio nos deixava sempre bem informados de tudo o que acontecia em nosso litoral. O Nido era o responsável em verificar a veracidade dos fatos. 
Agradeço a Deus por mais uma temporada de pesca, com sua benção e proteção. Convido a todos para a temporada 2015. Sejam bem vindos, até mesmo as nossas “gaivotas”. 
Um abraço e até!" 

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

DE ONDE VÊM AS BALEIAS QUE NOS VISITAM?

Foto Manuel Brunet

Área de reprodução da Baleia Franca austral e de outros mamíferos como os leões, elefantes marinhos e focas, a Península Valdés, na Patagônia Argentina, é um território selvagem e isolado. Com uma área de aproximadamente 4mil km2 de falésias, praias, golfos e enseadas conserva um dos ecossistemas mais peculiares do planeta, sendo patrimonio mundial desde 1999. Uma boa parte das baleias francas que visitam o litoral de Santa Catarina nesta época do ano, são provenientes de lá, da Patagônia Argentina.
Abandonos...
Há donos?
Abundam danos!

(Fernando Alexandre - Junho de 2019)

sábado, 24 de outubro de 2020

CANÇÕES PARA EMBALAR MARUJOS


DE POEMAS & QUARENTENAS


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Incenso aceso 

Olho o mundo 

Mudo de senso 



(Fernando Alexandre - inverno 89)

MAR DE SABORES

Badejo com manteiga de ervas
Prato Principal
2 porções

Uma receita daquelas de dar água na boca só de olhar. O peixe fica suculento e combina muito com a manteiga, que leva limão e algumas ervas frescas. Com certeza você não irá se arrepender. E se puder ainda pode servir com arroz basmati. É divino.

Ingredientes
Número de doses: 2
Para o peixe :
2 filés de badejo (de 200 g cada)
Suco de 1/2 limão
Flor do sal in natura
Pimenta do reino (a gosto)
Manteiga com ervas
3 colheres de sopa de manteiga sem sal (em temperatura ambiente)
3 colheres de sopa de ervas frescas (manjericão, alecrim e tomilho limão)
Suco de 1/2 limão
Flor do sal in natura

Preparação

Tempere o peixe com sal, pimenta e meio limão. Reserve. Em uma frigideira coloque o azeite e leve ao fogo alto. Sele todos os lados do peixe até dourar.
Leve os filés ao forno pré aquecido a 210 graus em uma assadeira untada por 10 minutos. Retire, vire os filés e volte ao forno por mais 10 minutos.

Manteiga:
Com a ajuda de um socador, macere as ervas com o sal.
Junte o limão e a manteiga e misture muito bem.
Coloque a mistura em um papel filme, enrole, e leve ao congelador até que endureça.
Na hora de servir corte rodelas de manteiga e coloque sobre o peixe ainda quente.

(Do https://pt.petitchef.com/)

OLHANDO E ESPERANDO...

Foto Fernando Alexandre
Moleques do Sul

ÁGUAS PASSADAS

Foto Fernando Alexandre 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

ENGORDANDO NA QUARENTENA


Filé de peixe com creme ao forno
Deliciosa Receita de Filé de Peixe com Creme ao forno.

Ingredientes
Número de doses: 6
200 ml de leite de coco
1 kg de Filé de Peixe
sal
limão a gosto
1 copo de requeijão cremoso
200 g de queijo mussarela
1 tablete de caldo de legumes
3 claras em neve
4 colheres (sopa) de queijo parmesão

Preparação
Tempere os filés de peixe com sal e limão a gosto. Frite os filés.
Coloque em uma travessa refratária untada com azeite. Reserve.
Creme:

Bata no liquidificador o requeijão com a mussarela, o leite de coco e o caldo de legumes
Despeje a mistura em uma tigela e incorpore as claras em neve.
Montagem:

Despeje o creme por cima do filé e polvilhe com queijo parmesão.
Leve ao forno médio (180ºC) pré-aquecido até dourar.

MAR-CAIS

Three Boats On Shore | Desenho barco, Barcos e Navio
terminou a espera 
o barco não se fez ao mar 
ficar também é navegar

(Fernando Alexandre)

NOITE...


Noite insone
sapos martelam
o tempo da manhã

(Fernando Alexandre - verão 2020)

MAR-CAIS

sem esperar esperantos
invento esperanças
 pra passar a língua no tempo
(Fernando Alexandre)

OURIÇOS NA MESA


Projeto quer tornar viável produção de ouriços-do-mar em aquacultura

Uma equipa de investigadores em Coimbra está a desenvolver um modelo integrado de cultivo em cativeiro de ouriço-do-mar para tornar a sua produção rentável e com reduzido impacto ambiental, anunciou hoje a Universidade de Coimbra (UC).

"Tornar viável a produção de ouriços-do-mar em aquacultura, de forma rentável e com reduzido impacto ambiental, é o objetivo de uma equipa de investigadores do MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente", da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Coimbra", afirma a UC, numa nota enviada hoje à agência Lusa.

Os especialistas estão, para isso, a desenvolver um modelo integrado de cultivo em cativeiro da espécie mais abundante em Portugal -- Paracentrotus lividus -- no âmbito do projeto 'OtimO -- Otimização dos processos de produção de Ouriço-do-mar'.

"Considerado por muitos o 'caviar' da costa portuguesa, o ouriço-do-mar é uma espécie de elevado valor comercial e a sua procura tem vindo a aumentar exponencialmente na perspetiva da gastronomia gourmet", sublinha a UC, indicando que "as gónadas (ovas) do ouriço-do-mar são muito apreciadas".

A procura das ovas do ouriço-do-mar, tanto em Portugal como no mercado internacional, tem provocado "a intensificação da apanha, muitas vezes de forma desregrada", alerta a UC.

Tendo em conta que a resposta à crescente procura "assenta em espécimes provenientes do meio natural, a intensificação da captura tem levado ao esgotamento de stocks, com impactos negativos consideráveis nos ecossistemas", afirma o coordenador do projeto, Tiago Verdelhos.

O modelo de produção proposto pela equipa do 'OtimO', cujos testes começaram há um ano nos laboratórios do MARE na Figueira da Foz (MAREFOZ), distingue-se por apostar na transferência efetiva de conhecimento para o setor da aquacultura.

"O objetivo principal do nosso projeto é otimizar métodos para que a produção desta espécie se torne viável, promovendo o desenvolvimento das zonas costeiras através da diversificação e aumento de competitividade no setor da aquacultura, bem como evitar a sobre-exploração deste recurso", explica Tiago Verdelhos.

"O nosso foco é a transferência de conhecimento, ou seja, que o nosso modelo possa ser aplicado em aquacultura", destaca ainda o investigador do MAREFOZ, citado pela UC.

Nesse sentido, adianta Tiago Verdelhos, "aposta-se num sistema de aquacultura multitrófica integrada (no qual são produzidas espécies de diferentes níveis tróficos ou nutricionais) com recirculação de água, efetuando a reutilização/reciclagem de recursos e minimizando o impacto ambiental, porque a aquacultura, apesar de ser cada vez mais relevante no setor alimentar, ainda está associada à diminuição da qualidade ambiental".

A reprodução de ouriços-do-mar em cativeiro é altamente complexa, pois depende de muitos fatores, como temperatura, alimentação, iluminação e salinidade, entre outros.

Nos ensaios que estão a ser realizados com ouriços-do-mar capturados no seu habitat natural, os investigadores estudam e controlam todo o processo "por forma a encontrar uma solução para os problemas críticos que impedem a produção da espécie em aquacultura", salienta o coordenador do projeto 'OtimO'.

É necessário "encontrar larvas viáveis e calibrar os processos de reprodução, desenvolvimento larvar e crescimento para tornar possível a cultura em cativeiro, com qualidade e sem prejudicar as características do ouriço-do-mar", nota o investigador.

O projeto 'OtimO', que conta com um financiamento de 202 mil euros do MAR2020, através da Associação de Desenvolvimento Local da Bairrada e Mondego (AD ELO), visa ainda contribuir para o conhecimento sobre a espécie.

"O MAR2020 tem por objetivo implementar em Portugal as medidas de apoio enquadradas no Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP)", tendo como prioridades estratégicas, designadamente, a promoção da competitividade, "com base na inovação e no conhecimento" e da sustentabilidade económica, social e ambiental do setor da pesca e da aquicultura.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

DE GATOS & TEMPO


De manhã gato lambendo
De noite estará chovendo

(Dito popular registrado por A. Seixas Neto no século passado na Ilha de Santa Catarina)

"Pirão feito não se deixa"
(Dito popular)

TEM MOQUECA NO FADO!

Moqueca de camarão á Portuguesa

Moqueca de camarão á Portuguesa por ser feita em Portugal com ingredientes Portugueses á exceção do leite de coco e dos camarões.

Ingredientes
Número de doses: 3
600 gr de camarão (descascado)
1 cebola (grande)
1 pimento vermelho
330 ml leite de coco
sal
2 tomates
1 lima
5 dentes de alhos
salsa
coentros
2 piri-piris

Preparação
Nesta receita usei camarão descascado congelado de Moçambique( do Pingo Doce), passe por água e ponha a marinar com sal,o sumo de 1 lima e metade do alho picado durante 1 hora.
Pique a cebola e os tomates e refogue em azeite até ficar uma pasta homogénea.
Adicione 33 cl de leite de coco,o pimento cortado aos bocados pequenos,do mesmo modo o gengibre e a malagueta,os piri-piris e cozinhe cerca de 7 minutos.
Adicione o camarão junto com os coentros e salsa picada com os restos dos alhos,cozinhe cerca de 4 minutos.
Sirva acompanhado de arroz branco neste receita fiz com basmati.
Bom apetite!

(Do https://pt.petitchef.com/)