sábado, 27 de março de 2021

MAR DE SABORES


PEIXADA PERNAMBUCANA
Ingredientes
3 kg de postas grandes de peixe (de preferência camurim, garoupa ou sirigado); suco de 3 limões; sal e pimenta a gosto; 2 xícaras de azeite; 3 cebolas em rodelas; ½ kg de tomate bem maduro cortado em rodelas; 1 pimentão vermelho e 1 amarelo cortado em tiras; 2 folhas de louro; leite de 2 cocos; 4 cebolas inteiras, descascadas e cozidas; 5 cenouras inteiras cozidas; 4 ovos cozidos; 1 repolho cozido; 1 maço de couve cozido; 20 vagens inteiras; 2 bananas compridas cozidas; 3 batatas doces cozidas; 8 batatas inglesas cozidas.
Preparo
Lave e tempere o peixe com suco do limão, sal e pimenta. Reserve. Enxugue o peixe, passe na farinha de trigo e frite ligeiramente no azeite. Reserve. Cozinhe as batatas inglesa e doce, as cebolas inteiras, as cenouras, o repolho e os ovos, em caldo feito da cabeça do peixe e verduras. Reserve. Em panelão grande coloque azeite, cebola, tomate, pimentão e refogue. Junte o peixe, com cuidado, para não quebrar as postas. Acrescente o leite de coco. Deixe cozinhar, até o peixe ficar macio e firme. Junte, então, as batatas — inglesa e doce, as cenouras, a cebola, o repolho e os ovos. Tempere com sal e pimenta. Desligue o fogo. Acrescente um fio de azeite. Na hora de servir arrume em travessa grande e junte a couve (cozida na hora, para não amarelar). Regue, generosamente, com o molho do peixe. Sirva pirão para acompanhar.
Pirão
5 xícaras do molho do peixe e 1 ½ xícara de farinha de mandioca. Leve o molho ao fogo. Quando estiver fervendo, junte levemente a farinha, sem parar de mexer, até tomar consistência de mingau e ficar transparente. Junte por cima um pouco do peixe desfiado.

(Do livro "Peixe para todos os gostos", de Maria Letícia Monteiro Cavalcanti)

quarta-feira, 24 de março de 2021

EXCLUSIVO! ONDE ESTÃO AS TAINHAS?

Fotos Ostra-Ligeira
Depois de percorrer milhares de quilômetros por terra, água e ar, nossa equipe (formada pelo incansável repórter Marisco-Manco, "aquele que está sempre em cima do lanço" e pela intrépida fotógrafa e cinegrafista Ostra-Ligeira), finalmente descobriu onde se encontravam as tainhas que começam a apareceram na ilha.

terça-feira, 23 de março de 2021

MINHA ILHA?

DESTERRO EM 1786
Minha ilha?

Minha ilha são muitas. Vasto arquipélago de palavras, costumes, cores, belezas e odores. Pedaços desgarrados ansiando, à deriva, sonhando com uma África distante, utópica. Cumprindo sua sina, sua saga. De frente para tudo, de costas para o infinito. Sempre abraçada, envolta pelo mistério profundo das águas, dos mares e oceanos que nos unem e nos separam para sempre.

Minha Ilha ?

Minha ilha ainda é a “”Meiembipe” dos “cariós”, amistoso povo da nação Tupi-Guarani que migrou do chaco paraguaio para cá no século XIII em busca do Atlântico. Primeiros moradores e donos absolutos por cerca de três séculos deste paraíso com mais de cem praias, lagoas, enseadas, muito verde e mar prá tudo quanto é lado. Amistosos e valentes “Cariós” que os primeiros navegadores aqui encontraram – antes mesmo desse tal “descobrimento” de 1500 – e dividiram com eles suas baías e portos seguros, sua água potável e abundante, sua madeira para os reparos nas embarcações, seu milho e sua mandioca. “Cariós” que os “descobridores” insistiram em chamar pejorativamente de “Carijós” (um tipo de galinha), e também em caçar e escravizar até a extinção em menos de dois séculos. Minha ilha continua “carió” no pirão d’água, no caldo de peixe, nas canoas de Guarapuvus, nas redes de pesca, nos balaios, nas palavras, na medicina, no seu imaginário.

Minha ilha?

Minha ilha , com certeza é portuguesa. E também muito açoriana nas 6 mil almas que aqui desembarcaram lá pelos anos de 1750. De ilha para ilha. Desterrados em Nossa Senhora do Desterro. Na memória e na bagagem, uma forte religiosidade, uma rica literatura popular, uma culinária diversificada, rituais, danças, festas. Minha ilha tem bruxas, lobisomens, boitatas. Bruxas açorianas, cariós, contemporâneas. Bruxas que resistem nos costões desertos, nos ranchos de canoa das poucas praias ainda isoladas, no meio de suas matas cada vez mais devastadas, no fantástico imaginário de seus moradores: “...Tosca marosca, rabo de rosca / Aguilhão nos teus pés / E relho na sua bunda / Por cima do silvado e por baixo do telhado / Aqui vamos nós com mil diabos.”

Minha ilha? 

Minha ilha não quer ser Florianópolis. Não quer homenagear nenhum “marechal de ferro” sanguinário, que depois de fuzilar quase duzentos de seus filhos troca o nome da cidade para humilhá-la e espezinhá-la ainda mais. Minha ilha não quer ser Miami. Não quer abrigar esse turismo predatório que transforma tudo numa mesma coisa em troca do dinheiro fácil e rápido. Minha ilha quer continuar sendo diversa e variada, alegre e colorida.

Minha ilha?
Minha ilha tem um povo simples, alegre, que fala “ansim, ansim, cantadinho, cantadinho, num tem?”. Um tal de “manezês”, essa estranha, surpreendente e sonora língua que causa “invejume” em muitos e tá sempre “istrovando” o chamado português culto. Minha ilha é mulher generosa, cortesã que sempre abrigou todos em suas reentrâncias, cantos, encantos e recantos. Todos. Navegantes, desterrados, amotinados, fugitivos, sonhadores.

Minha ilha?
Minha ilha é agora. E aqui.
(Fernando Alexandre)
( Crônica originalmente publicada na revista "Almanaque Brasil", fevereiro de 2000)

domingo, 21 de março de 2021

quinta-feira, 18 de março de 2021

MAR DE POETA

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Silêncio!
Escute as palavras
Mudas de cio

(Fernando Alexandre - outono 80)

MAR DE SABORES


Camarão tailandês com coentro e risoto de côco

Um prato muito alegre que deleitará os vossos olhos até vossos papilles. Não babam imediatamente.

Ingredientes
Número de doses: 4
300 g de camarão VG descascado e limpo
200 ml de creme de leite light
100 ml de caldo de camarão ou legumes
1 colher de sopa de manteiga
2 colheres de chá de curry
1 maçã verde descascada e cortadas em quadradinhos
3 colheres de sobremesa de coentro
1 colher de sobremesa de salsa e 1 de cebolinha picadas
1 cebola ralada
sal e pimenta-do-reino a gosto

Risoto:
200 g de arroz arbório
1 litro de caldo de legumes (2 tabletes ou saquinhos de caldo pronto)
80 g de côco ralado, usei o fresco, mas pode ser o industrializado
150 ml de vinho branco, usei espumante
2 colheres de sopa de queijo parmesão
50 ml de leite de côco
2 colheres de sopa de manteiga
1/2 cebola picada
Sal e pimenta do reino a gosto

Preparação
Tempere o camarão com sal, pimenta e 1 colher do curry. Deixe tomar gosto por 10 minutos, enquanto isto, faça o molho.
Derreta metade da manteiga com o azeite e frite metade da cebola, acrescente o caldo, o creme de leite, o curry e a maçã e mexa por 5 minutos, ou até ficar um molho aveludado. Acrecente sal e pimenta a gosto, o coentro, a salsa, a cebolinha e reserve.
Derreta a manteiga com um fio de azeite e doure a cebola. Adicione o camarão e frite os camarões por 3 a 5 minutos. Mais do que isto, pode deixar a textura "borrachenta".
Risoto:
Derreta 1 colher da manteiga com um fio de azeite, acrescente a cebola e doure-a, acrescente o arroz e mexa, depois o espumante, deixe evaporar um pouco, vá acrescentando o caldo aos poucos, sem parar de mexer, acrescente o côco ralado, o leite de côco, até o grau ficar cozido, acrescente o restante da manteiga e o queijo ralado.

(Do https://pt.petitchef.com/)

quarta-feira, 17 de março de 2021

AS CIDADES PRECISAM DOS MARES...

Foto Fernando Alexandre

HÁ MARES 

As cidades precisam de mares. 
Todas, garantem os mais antigos. Todas precisam de seus mares. 
Profundos mares. 
Pólos, poros, pelos. 
Infinitos pulmões sugando ventanias e aragens. 
Tempestades cálidas e caóticas. Ábregos e calmarias. 
As cidades transpiram por seus mares. 
Suor grosso. Salgado. Úmido. 
Imensa lágrima despencando do olho do mundo. 
As cidades necessitam de mares. De todos os mares. 
Chegadas e partidas. Começo e término. Portos e amarras. 
Todo mar é um, é dois, são todos. 
As cidades, garantem os sábios, sentem através dos mares. 
Sentem as possibilidades do desconhecido, do infinito. 
Do poema incompreensível: palavras à deriva açoitadas por ventos fortes em noites 
[ de tempestade. 
Sem rumo, sem leme, sem lume. 
Elas sabem. As cidades sabem que precisam de mares. 
Precisam do infinito, de pontos além, limitados apenas e unicamente pela 
[imaginação. 
Pela linha do horizonte. 
As cidades enxergam pelo mar. Olham e são olhadas. 
Espaço amplo, aberto para o mundo. 
O que divide e junta, que separa e une ao mesmo tempo. 
Espelho côncavo e convexo refletindo memórias. 
O mar esconde na memória das águas tudo que não sabemos onde. 
Infinitos sentimentos depositados em abismos e despenhadeiros aquáticos. 
Úmidos e azuis. 
As cidades clamam por mares. Navegados ou não por sentimentos e utopias. 
Clamam pelo espaço do sonho, da contemplação, do olhar para adiante, 
perdido-achado em tempestades ou calmarias. 
Não importa. Todo mar é mar. E as cidades sabem disso. 
É no mar que as águas se encontram. 
Todas cabem em suas margens elásticas, complacentes. 
Diluídas no aconchego do infinito, todas as águas são mar. 
Iguais e diferentes. Indo e vindo. Mesmo lugar. 
As cidades constroem seus mares. Inventam infinitos. 
As cidades precisam dos mares. 
Necessitam do outro lado do lado de cá. 
Todas, garantem os mais antigos, possuem seus próprios mares.

(Fernando Alexandre)

terça-feira, 16 de março de 2021

sábado, 13 de março de 2021

MAR DE SABORES


Moqueca de camarão

Ingredientes

1 kg de camarão sem casca
1 colher de sopa de pimento verde picado
1 colher de sopa de pimento vermelho picado 
1 malagueta picada (com ou sem sementes consoante o gosto)
2 dentes de alho picados
1 cebola picada
2 tomates picados
2 colheres de sopa de polpa de tomate
2 colheres de sopa de óleo de palma (azeite de dendem)
1 lata de leite de coco
1 colher de sopa de coentros picados
2 colheres de sopa de salsa picada
2 colheres de sopa de cebolinha verde picada (não tinha, usei rama de cebola)
1 colher de sopa de maizena
Sumo de meio limão
Azeite, sal, pimenta

Preparação

PASSO 1
Temperar os camarões com um pouco de azeite, sal, pimenta e sumo de limão. Deixar repousar 30 minutos.
PASSO 2
Entretanto, refogar a cebola num pouco de azeite até ficar translúcida. Juntar o pimento, o alho, a malagueta e o tomate picado e deixar cozinhar 5 minutos.
PASSO 3
Juntar a polpa de tomate e o óleo de palma e mexer bem. Adicionar o leite de coco e deixar levantar fervura.
PASSO 4
Juntar os camarões, as ervas aromáticas e a maizena. Deixar cozinhar em lume médio até os camarões ficarem cozidos (cerca de 5 minutos).
PASSO 5
Sevir com arroz branco. Bom apetite !

(Do https://pt.petitchef.com/)

TRABALHADORES DO MAR

Foto Fernando Alexandre

Mestre Aldemir, na lida com o cerco - Pântano do Sul

terça-feira, 9 de março de 2021

MAR DE POETA

Resultado de imagem para Sonhos nebulosos

Dormi...
a dor passeia
com os sonhos!

(Fernando Alexandre - Outono 2019]

TEM LULA NO FEIJÃO



Feijoada de lulas - chef sá pessoa

Ingredientes
Número de doses: 4
800 gr de Lulas
600 gr de Feijão Branco
3 Cebolas pequenas
2 dentes de Alho picados
2 Folhas de Louro
1/2 Chouriço vermelho cortado em fatias finas
1 colher (sopa) de talos de Coentros
1/2 copo de Vinho Branco
1 Lata grande de Tomate triturado
Sal q.b.
Azeite q.b.

Preparação
Coloque o feijão em água durante 24horas. Escorra e coza-o em água com uma cebola cortada em pedaços grandes e sal. Volte a escorrer o feijão e reserve.
Comece por refogar duas cebolas e dois dentes de alho picados numa boa quantidade de azeite. Junte duas folhas de louro, o chouriço cortado em fatias finas e os talos de coentros. Baixe o lume e deixe a cebola refogar durante quatro minutos.
Retire o interior, as partes mais rijas e a pele da lula. Corte as lulas às rodelas, junte-as ao refogado e tempere com sal.
Adicione meio copo de vinho branco e deixe evaporar rapidamente. Deite, por fim, uma lata grande de tomate triturado.
Junte o feijão ao guisado, baixe o lume e deixe o sabor apurar durante 45 minutos. No final, junte coentros.

[Sugestão do Chef]
Sirva a feijoada acompanhada de arroz branco.

(Do https://pt.petitchef.com/)

JÁ QUE OS TEMPOS SÃO DE LULA...


Foto Luis Inácio

Lulas à Vinagrete

Ingredientes:
  • 2 litro(s) de água fervente
  • quanto baste de tempero pronto em pó
  • 700 gr de lula em anéis 

  • Molho

  • 2 xícara(s) (chá) de azeite
  • 1 colher(es) (sopa) de alho fatiado(s)
  • 1/2 unidade(s) de pimentão verde picado(s)
  • 1/2 unidade(s) de pimentão vermelho picado(s)
  • 1/2 unidade(s) de pimentão amarelo picado(s)
  • 2 unidade(s) de tomate sem pele(s), sem sementes
  • 1 unidade(s) de cebola picada(s)
  • 2 colher(es) (sopa) de salsinha picada(s)
  • 2 colher(es) (sopa) de cebolinha verde picada(s)
  • 80 ml de suco de limão
  • 1 colher(es) (sopa) de manjericão picado(s)
  • 1/2 xícara(s) (chá) de vinagre de álcool
  • quanto baste de tempero pronto em pó
  • quanto baste de sal

Preparação:

Misture o tempero pronto na água. Em seguida coloque os anéis de lulas para cozinhar por 3 minutos. Retire do fogo e deixe esfriar. 
Molho
Numa vasilha, misture todos os ingredientes e coloque os anéis de lulas. Deixe por 3 horas e sirva. 

Rendimento:

7 porções

segunda-feira, 8 de março de 2021

MULHERES NO MAR


Josi pescou com o pai e diferentes irmãos. Hoje, pesca com um deles e todo dia leva uma história diferente para casa(Foto: Tiago Ghizoni)

"Amamentava meu bebê durante as pescarias", recorda Josi da Silva, de Florianópolis

Nascida numa tradicional família de pescadores, Josi é a única mulher em um grupo de 60 homens que vivem da pesca artesanal na Armação do Pântano do Sul, na Ilha de Santa Catarina

Por Ângela Bastos
angela.bastos@somosnsc.com.br

Josilene Maria da Silva, 34 anos, a Josi, mora na Armação do Pântano do Sul, em Florianópolis. É filha, neta e bisneta de pescadores. Casada com um servidor municipal aposentado e mãe de Enzo, cinco anos, carrega na memória a imagem da época em que o bebê, com apenas três meses, era amamentado no meio da pescaria. Como precisava passar muitas horas no mar, o jeito era improvisar uma pequena cama no fundo da embarcação. O menino gostava do balanço das águas. Passava a maior parte do tempo dormindo.
Pesco desde os 18 anos. Neste tempo todo só me afastei do mar por 10 meses, quando engravidei. Mas voltei em seguida e três meses depois do parto já tinha o meu mini-marinheiro me acompanhando nas pescarias", recorda.

Mais jovem, Josi trabalhava na tosa e banho de animais. Também foi ajudante de pedreiro de um tio. Estava meio perdida sobre o que fazer quando, certo dia, foi ajudar o irmão a recolher as redes. Gostou tanto que nunca mais parou.

— O mar é uma terapia que limpa a alma e acalma os prantos — compara.

Josi foi a décima a nascer numa família de 11 filhos. Ela já pescou com o pai e diferentes irmãos. Atualmente é parceira de um deles, e a única das mulheres em atividade. Um dos encantos da atividade parece estar na alternância das rotinas:

— Todo o dia tem uma situação nova, uma pescaria que surpreende, uma história diferente. É assim a vida de uma mulher pescadora. 

Uma rotina de quem sai de casa à tarde, passa a noite no mar e volta na manhã seguinte. Josi reconhece ser uma atividade pesada. Além de esforço físico, exige muito empenho mental e psicológico. Talvez por isso já tenha decidido: vai se aposentar — deixar de pescar profissionalmente — aos 40 anos.

— A mulher sente mais do que o homem, que tem uma estrutura física mais forte. Além disso, não é só o mar: é casa, é filho, é embarcação, e comércio do peixe. A gente não tem só um emprego, tem quatro, cinco.

Sobre o futuro do filho que se mostra apaixonado pelo mar, diz:

— Mesmo que ele queira pescar, vai ser só por lazer e não por necessidade. Vai ter que estudar para não depender da pesca como meio de sobrevivência.
Em férias, com tempo bom e segurança garantida, Josi permite que o filho Enzo, de cinco anos, dê um passeio de barco, mas quer que ele estude para não depender da pesca para sobrevivência(Foto: Ângela Bastos)

500 metros de rede, uma corvina e pedido à Iemanjá

Nossa equipe acompanhou uma saída de Josi para o mar. Foi em 7 de agosto, um dia de céu limpo e ventos favoráveis. Além de três jornalistas, o irmão, o filho e ela estavam no bote. Cinco horas depois nós voltamos para a retirada das redes. Dos 500 metros de malha saiu apenas uma corvina.

— É assim a vida de pescador — contava, enquanto colhia a rede.

Por isso, a família decidiu investir no turismo e faz transporte de visitantes para a Ilha do Campeche. Isso ocorre nos meses de verão para equilibrar as despesas com redes e embarcação que trabalha nos outros meses. Para ela, a escassez das safras está associada às mudanças climáticas e cita o aquecimento global como um dos fatores. Mas também a pesca descontrolada. Recorda dos tempos em que o pai colocava uma rede de corvina de 30 panos, o que já era considerada uma grande extensão. Hoje, um barco de pesca com guincho faz o mesmo trabalho usando 200 panos.

— Não há limite de malha para capturar um peixe, eles (modalidade industrial) não estão perdoando nada: nem berçário, nem criadouros.

Para Josi existem duas situações bem distintas: enquanto o artesanal espera o peixe vir na costa, o industrial pega toneladas de espécies de diferentes tamanhos.

Josi diz que há quem diga que o peixe nunca vai acabar, e alerta:
Acaba, sim. O mar está mudando, a temperatura do mar está subindo. Antes o peixe procurava a água quente para desovar. Como esquentou, o cardume não vem mais.

Tem outra coisa que incomoda Josi: a sujeira no mar. Na maioria das vezes tem mais galho e tronco de árvore nas redes do que peixe.

— O pessoal invade a praia, constrói casa, vai ocupando aqui e ali. A água leva o entulho, mas um dia a natureza devolve.
Além da diferença física entre homem e mulher, Josi chama atenção para o trabalho extra, como cuidar da casa, da família, da embarcação e até do comércio do peixe(Foto: Ângela Bastos)

Josi usa como exemplo a destruição de casas pela força da maré, em 2010, na Armação do Pântano do Sul. O prejuízo foi tão grande que Exército e Marinha tiveram formar barreiras de contenção com sacas de areia. No lugar das construções antes havia dunas.

— O mar não tira nada de ninguém, só está pegando o que é dele. A natureza é assim, tem o ciclo dela. Ou a gente se adapta, ou a gente vai andar de rolo nas mãos dela.

Josi não se considera uma pessoa religiosa. Mas conta que vez que outra faz um pedido para Iemanjá, entidade que no sincretismo religioso significa a Rainha das Águas.

— Iemanjá, dá uma mexidinha no fundo do mar, dá uma reviradinha para mandar umas coisinhas (peixes) pra nós que estamos precisando.

Mas também acha tempo para agradecer.

— Sempre quando vem peixe, pouco ou muito, eu agradeço. Acho que vem o que tem que vir naquele dia.
Expediente

Reportagem: Ângela Bastos
Edição: Stefani Ceolla
Design: Aline Costa da Silva e Maiara Santos
Fotos e vídeos: Ângela Bastos, Tiago Ghizoni e Jean Carlos de Souza

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* Matéria multimídia originalmente produzida e veiculada no Diário Catarinense e no Jornal do Almoço da NSC TV sobre as mulheres na pesca artesanal em Santa Catarina!

MULHERES PESCAM TAINHAS?

Fotos Andrea Ramos

Foto Fernando Alexandre
"Se as mulheres também puxam rede? Não, não puxavam, não sei se agora estão puxando. Por que até há uns dois anos atrás, não. Mas, agora é capaz que tenha mulher puxando rede. Hoje a mulher tem liberdade para fazer todos os trabalhos que o homem faz, não é? Aqui, não, mas em Portugal são as mulheres que puxam as redes. Nos Açores não arrastam, não há possibilidade de puxar redes, o mar é enorme, a pescaria toda é feita fora. Lá só tem costão e as praias são de seixos, de pequenas pedras."

(Franklin Cascaes - 1908/1983 - Artista, folclorista e pesquisador de cultura popular em entrevista a Raimundo C. Caruso em "Vida e Cultura Açoriana em Santa Catarina" - Edições da Cultura Catarinense - 1997)



Zenaide Maria de Souza, a Comandante, é a única mulher que participa da lista da camaradagem da pesca da tainha no Pântano do Sul. Pescadora "desde sempre", de praia e costão, ela também comanda o seu Restaurante Pedacinho do Céu.

PÉROLAS & SANGUE

Foto Ninguemsabe Onome
OS PESCADORES DE PÉROLAS
"A cidade de Nova Cádiz caiu, derrubada pelo maremoto e pelos piratas. Antes tinha caído a ilha inteira, esta ilha de Cubagua onde há quarenta e cinco anos Colombo trocou com os índios pratos
quebrados por pérolas. No fim de tanta pescaria, esgotaram-se as ostras e os
mergulhadores jazem no fundo do mar.
Nestas águas mergulharam os escravos índios, com pedras atadas nas costas, pra chegar bem fundo, onde estavam as pérolas maiores, e sem descanso nadaram de sol a sol, arrancando as ostras grudadas nas rochas e no chão.
Nenhum escravo durou muito. Mais cedo que tarde, seus pulmões arrebentavam: um jorro de sangue subia, no lugar deles, à superfície. Os homens que tinham agarrado ou comprado estes escravos diziam que o mar ficava vermelho porque as ostras, como as mulheres, tinham menstruação."

(Eduardo Galeano, em “Os Nascimentos”  - "Memória do Fogo" - Vol. 1 - L&PM Editores - 1996))

quinta-feira, 4 de março de 2021

O BERBIGÃO ESTÁ EXTINTO!!! sABOR DE MEMÓRIA!


Berbigão do Boca: Aprenda a fazer as receitas vencedoras do concurso gastronômico

O júri técnico, composto por chefs e apreciadores, premiou estes pratos, que você também pode fazer em casa


Risoto de Berbigão (Fotos: Beto Barreiros)
O concurso gastronômico do Berbigão do Boca de 2019 foi um festival de criatividade e sabores. Todos os pratos apresentados foram muito bons. O júri técnico, composto por chefs e apreciadores, premiou estes pratos, que você também pode fazer em casa:

Primeiro lugar – Risoto de Berbigão

As cozinheiras Lenir de Souza e Tânia Borges arrasaram com este saboroso risoto e merecidamente receberam o primeiro lugar.
Receita original das cozinheiras e modo de preparo para 10 pessoas:
Arroz arbóreo, 1 kg de berbigão, vinho branco seco, cebola, tomate, alho, açafrão, manjericão, colorau, alho-poró, azeite, sal, salsão, cebolinha e salsinha, limão siciliano e brotos verdes para decorar.
Refogue o berbigão com o alho, cebola, azeite e sal. Acrescente tomate, manjericão, açafrão, colorau, alho-poró, limão siciliano e deixe formar ponto de molho. Acrescente o arroz arbóreo pré-cozido, água e, assim que secar, acrescente salsa, cebolinha verde e salsão.

Segundo lugar – Nhoque de mandioquinha ao molho de berbigão


Nhoque de mandioquinha ao molho de berbigão
Nhoque de mandioquinha ao molho de berbigão

Os cozinheiros Thiago J. Chaves e Júnior M. Alves de Oliveira foram criativos utilizando a mandioca na receita original e no modo de preparo abaixo.
Para o molho de berbigão: 1 kg de berbigão, 2 colheres de chá de alho picado, 3 colheres de sopa de azeite, 2 tomates maduros picados, 1 cebola picada, ½ pimentão picado, 2 pimentas de cheiro picadas, 1 colher de sopa de coentro e cebolinha, 200 ml de leite de coco, sal e pimenta do reino a gosto.
Para o nhoque de mandioca: 1 kg de mandioca cozida, 5 colheres de sopa de manteiga, 1 colher de sopa de sal, 5 ovos caipira, 4 colheres de sopa de parmesão ralado, amido de milho para dar liga, farinha de mandioca até dar o ponto.
Cozinhe a mandioca. Passe a raiz cozida no processador. Acrescente manteiga, parmesão, sal e ovos. Misture bem com as mãos e acrescente aos poucos a farinha da mandioca e continue amassando. Quando a massa desgrudar das mãos, está no ponto. Faça rolinhos e corte em pequenos pedaços. Em uma panela com água fervente, cozinhe o nhoque que, ao flutuar, está cozido. Para preparar o berbigão, refogue o alho e a cebola no azeite. Acrescente o pimentão, as pimentas, o coentro e a cebolinha. Refogue mais um pouco em fogo baixo e coloque os tomates. Assim que as verduras desmancharem, adicione o berbigão e o leite de coco. Cozinhe por mais cinco minutos e sirva por cima do nhoque de mandioca.

Terceiro lugar – Berbigão La Costeira


Berbigão Lá Costeira
Berbigão La Costeira

Preparado pelos divertidos cozinheiros Maurício Nunes Filho e Luiz Fernando Oliveira e Silva, teve ótima apresentação e criatividade.
Receita original com o ingredientes e modo de preparo:
1 kg de berbigão descascado, 300 g de berbigão na concha, 300 ml de vinho branco seco, 1 cebola cortada em cubinhos, 1 tomate sem pele cortado em cubinhos, 1 maço de cebolinha picada, 3 folhas de manjericão, 1 colher de sopa de páprica doce, azeite de oliva e sal a gosto.
Em uma panela grande, aqueça o azeite e doure a cebola. Após, acrescente a páprica, o tomate, a cebolinha e os berbigões. Salgue a gosto e deixe cozinhar por 15 minutos. Coloque o manjericão e a salsinha e sirva.

Brusqueta de Berbigão do Ricaldinho – primeiro lugar do júri popular


Brusqueta de berbigão do Ricaldinho
Brusqueta de berbigão do Ricaldinho

O jornalista Ricardinho Machado e sua neta Aroha Bontorin mereceram este prêmio do júri popular pela simplicidade, sabor e qualidade. No Ricaldinho de 2019, no dia do aniversário da cidade, você também poderá saborear.
Receita original e modo de preparo:
1 kg de berbigão, torradas, ricota, manjericão, nozes, cebola, alho, azeite de oliva e sal.
Refogue o berbigão no azeite de oliva com a cebola e o alho. Bata a ricota com manjericão, azeite, sal e nozes. Passe o creme nas torradas, complete com o berbigão refogado por cima, passe um fio de azeite e sirva.
https://www.revistaversar.com.br/

Na pandemia...

 


segunda-feira, 1 de março de 2021

O CAMARÃO DE CARMEM MIRANDA


Foto Tocumfome Pereira 
Ensopadinho com chuchu
Camarão ensopado com chuchu é um prato que faz parte das mesas de quase todo o litoral brasileiro.
Cantado em versos por Carmem Miranda.
Um clássico da culinária praieira!


Ingredientes
500 gramas de camarões médios descascados, limpos, lavados e escorridos.
Sal e  Pimenta do reino
2 colheres (sopa) de salsa
1 colher de manjericão ou alfavaca picada
2 colheres (sopa) de manteiga ou azeite
1 cebola média picada
4 dentes de alho picados
2 tomates grandes picados
2 chuchus médios cortados em cubinhos

Preparando
Salgue os camarões e acrescente uma pitada de pimenta do reino. Aqueça uma panela, coloque a manteiga, junte a cebola, o alho e doure levemente. Acrescente os tomates e os chuchus. Reduza o fogo para brando, tampe a panela e cozinhe mexendo de vez em quando, até os chuchus ficarem macios, mas não desfeitos. Acrescente os camarões e cozinhe-os de três a cinco minutos. Desligue o fogo, acrescente a salsa e o manjericão. Sirva com arroz branco acompanhado de farinha de mandioca.

MALHEIRAS

Foto Fernando Alexandre

TRABALHADORES DO MAR

Foto Fernando Alexandre

Pântano do Sul

MAR DE POETA

Imagem relacionada

Somos sonhos 
fazendo hara-kiri

(Fernando Alexandre)