Foto Fernando Alexandre |
HÁ MARES
As cidades precisam de mares.
Todas, garantem os mais antigos. Todas precisam de seus mares.
Profundos mares.
Pólos, poros, pelos.
Infinitos pulmões sugando ventanias e aragens.
Tempestades cálidas e caóticas. Ábregos e calmarias.
As cidades transpiram por seus mares.
Suor grosso. Salgado. Úmido.
Imensa lágrima despencando do olho do mundo.
As cidades necessitam de mares. De todos os mares.
Chegadas e partidas. Começo e término. Portos e amarras.
Todo mar é um, é dois, são todos.
As cidades, garantem os sábios, sentem através dos mares.
Sentem as possibilidades do desconhecido, do infinito.
Do poema incompreensível: palavras à deriva açoitadas por ventos fortes em noites
[ de tempestade.
Sem rumo, sem leme, sem lume.
Elas sabem. As cidades sabem que precisam de mares.
Precisam do infinito, de pontos além, limitados apenas e unicamente pela
[imaginação.
Pela linha do horizonte.
As cidades enxergam pelo mar. Olham e são olhadas.
Espaço amplo, aberto para o mundo.
O que divide e junta, que separa e une ao mesmo tempo.
Espelho côncavo e convexo refletindo memórias.
O mar esconde na memória das águas tudo que não sabemos onde.
Infinitos sentimentos depositados em abismos e despenhadeiros aquáticos.
Úmidos e azuis.
As cidades clamam por mares. Navegados ou não por sentimentos e utopias.
Clamam pelo espaço do sonho, da contemplação, do olhar para adiante,
perdido-achado em tempestades ou calmarias.
Não importa. Todo mar é mar. E as cidades sabem disso.
É no mar que as águas se encontram.
Todas cabem em suas margens elásticas, complacentes.
Diluídas no aconchego do infinito, todas as águas são mar.
Iguais e diferentes. Indo e vindo. Mesmo lugar.
As cidades constroem seus mares. Inventam infinitos.
As cidades precisam dos mares.
Necessitam do outro lado do lado de cá.
Todas, garantem os mais antigos, possuem seus próprios mares.
(Fernando Alexandre)
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