Quando o último dia de maio clareou e os vigias abanaram, camaradagem do Santinho deslizou com as canoas nas estivas e cercaram o maior lanço desta temporada: 1.200 tainhas gradas e ovadas!
sexta-feira, 31 de maio de 2019
SEM PESCA INDUSTRIAL?
Arte: Secom/PGR
MPF requer suspensão da norma que autoriza pesca da tainha pela frota industrial de cerco
No recurso, MPF requereu a suspensão dos efeitos das instruções normativas que autorizam pesca da tainha pelas traineiras, até que a Justiça analise argumentos e documentos dos autos
O Ministério Público Federal (MPF) interpôs novo recurso de agravo, junto ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), nessa terça-feira (28), contra decisão que negou pedido liminar formulado em Ação Civil Pública, no sentido de que a União aplique à frota industrial de cerco o abatimento de 100% da cota (cota zero) no corrente ano, por haver pescado duas vezes e meia a cota de tainha que lhe foi atribuída no ano passado.
No recurso, o procurador regional da República Flávio Strapason requereu a suspensão dos efeitos das instruções normativas que autorizam a pesca da tainha pelas traineiras, até que o Poder Judiciário analise os argumentos e documentos trazidos aos autos pelo Ministério Público Federal ou ouça a União. Segundo o procurador regional, a tutela ao meio ambiente sempre deverá ser privilegiada, sendo que, enquanto a suspensão requerida não causará danos irreparáveis nem ao meio ambiente nem aos envolvidos, a manutenção dos atos normativos questionados poderá levar, num só dia, à perda não apenas dos direitos fundamentais em causa, como das próprias agregações reprodutivas da tainha.
A Ação Civil Pública foi ajuizada na Justiça Federal de Rio Grande, em 16 de maio, em virtude da atribuição, pela União, este ano, de uma cota de 1.592 toneladas de tainha para a modalidade de cerco/traineiras, à qual ainda acrescia tolerância de 20%. De acordo com a procuradora da República Anelise Becker, a atribuição de cota à frota industrial de cerco, pela Instrução Normativa Mapa 08/2019, contradiz frontalmente o regramento estabelecido no ano passado e não tem embasamento técnico que o justifique. Observa a procuradora, ainda, que, ao eliminar o compromisso com a compensação dos excessos nos anos seguintes, a União subverteu por completo o regime de cotas, acentuando o risco de extinção a que foi exposta a espécie, já classificada pelo ICMBio como quase ameaçada de extinção, em 2013 e que, mesmo assim, continua a ser capturada durante sua migração reprodutiva com vistas à exportação de suas ovas, conhecidas internacionalmente como o “caviar brasileiro”.
Da Assessoria de Comunicação Social
Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul
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quinta-feira, 30 de maio de 2019
quarta-feira, 29 de maio de 2019
TAINHAS MANDAM AVISAR QUE...
Barco chega no final de tarde após um dia na costa à procura das tainhas. Foto: Anderson Coelho/ND
Com quase um mês de atraso, tainhas estão a caminho do litoral de Santa Catarina
Pescadores aguardam nova frente fria acompanhada de vento Sul para fazer o cerco e capturar os primeiros grandes cardumes
CRISTIANO RIGO DALCIN, FLORIANÓPOLIS
Com quase 30 dias de atraso, as tainhas estão chegando ao litoral de Santa Catarina. É o que contam os pescadores que aguardam ansiosos a chegada dos cardumes trazidos pelo vento sul e pelas temperaturas frias que marcam a transição do outono para o inverno.
A informação também é atestada por vídeos com a captura dos peixes feita por barcos que estão no litoral norte do Rio Grande e começaram a circular na tarde desta terça-feira entre os pescadores que estão de prontidão nos ranchos de pescas espalhados por Florianópolis.
A safra da tainha foi aberta em 1º de maio para pesca artesanal e desde então, o clima não tem colaborado devido ao calor e ausência do vento Sul, que traz os cardumes da Lagoa dos Patos, no Sul do Rio Grande do Sul. Um dos pescadores que aguardam a chegada dos cardumes é Laurentino Benedito Neves, o Chinho, 56 anos.
Sentado em frente ao rancho Saragaço, na Barra da Lagoa, ele olha atentamente para o mar, sempre com o rádio comunicador ligado na escuta de informações repassadas por três vigias que ficam espalhados por pontos distintos da baía. Diante do mar calmo, qualquer movimentação na água é checada pelos pescadores.
“A tainha é um peixe de migração, não tem um período certo. Quando ela aparece, tem que estar pronto para fazer o cerco”, ensina Chinho. O vídeo com imagens da captura dos peixes no litoral norte do Rio Grande do Sul, entre Capão da Canoa e Torres, deixou os pescadores animados. “Não próxima frente fria, os cardumes já devem estar por aqui”, comenta Chinho.
Laurentino Neves, o Chinho, aguarda ansioso a chegada dos cardumes. Foto: Anderson Coelho/ND
Apesar do início da safra não ter sido boa, o pescador tem esperança de que os próximos dois meses possam ser compensadores. “Cada safra é uma história. Tem ano que capturamos mais de dia, às vezes, é mais à noite.
Tem dia que o cerco acontece no meio da baía, tem dia que é no canto”, relata. A paciência é testada a fio e para isso os pescadores aproveitam para bater papo, tomar café e jogar cartas, sempre de olho no horizonte.
Frente fria deve garantir o esperado vento Sul
De acordo com os pescadores, as tainhas ainda não “encostaram” no litoral catarinense porque um velho conhecido deles, o vento sul, ainda não soprou para valer na região. É o “suli”, como eles chamam carinhosamente, o responsável por esfriar as temperaturas no Sul do país, trazendo as tainhas que deixam a Lagoa dos Patos em direção a água mais quentes, do litoral de SC.
“Até agora tivemos poucos dias de frio e de vento sul. A temperatura da água da Lagoa dos Patos precisa diminuir”, relata o presidente da Fepesc (Federação dos Pescadores de Santa Catarina), Ivo Silva. Porém, se depender da previsão do tempo, uma nova frente fria deverá passar por Santa Catarina nos próximos dias, acompanhada do esperado vento Sul e, quem sabe, das tainhas.
Amilton Martins (E) viu os colegas dos Ingleses capturarem três toneladas. Foto: Anderson Coelho/ND
“Está previsto para o vento virar essa noite. Vamos aguardar. Até o final de semana elas devem chegar”, relata Amilton Alvaro Martins, que retornou do mar no final da tarde de ontem em um dos barcos que deixaram a Barra da Lagoa no início da manhã.
Na altura da praia dos Ingleses, Amilton testemunhou a captura de um cardume que ele calcula ter rendido três toneladas para os colegas do Norte da Ilha. “Chegamos tarde. Nem colocamos a rede na água porque não vimos nenhum outro cardume”, informou, com a rede de 8,8 mil metros de extensão por 44,4 metros de altura devidamente armazenada no barco.
Além da captura testemunhada por Amilton, nesta terça-feira também foram registradas captura de pequenos cardumes no Gravatá (Praia Mole) e na Joaquina.
SAFRA DA TAINHA
2006: 1.124 toneladas
2007: 2.142 toneladas
2008: 493 toneladas
2009: 1.208 toneladas
2010: 702 toneladas
2011: 617 toneladas
2012: 425 toneladas
2013: 1.213 toneladas
2014: 1.001 toneladas
2015: 1.311 toneladas
2016: 3.543 toneladas
2017: 1.780 toneladas
2018: 3.417 toneladas
Fonte: Fepesc e Sindipi
MAIOR LANÇO DA TEMPORADA!
Via Silézio Sabino
Finalmente um lanço pra animar a camaradagem mané nesta safra esquisita: 1.000 tainhas gradas e ovadas!
ÚÚÚÚ!!!!
terça-feira, 28 de maio de 2019
MAR DE POETA
Os canhões da rebentação diante da vigia,
o transe do dia repondo o transe da noite,
rápidos olhos veem, ávidos ouvidos ouvem
calcanhares esmagando odisseias,
ondas endossando um sentido,
folha de alumínio enrugada do mar
riscada por maçaricos e fragatas.
Breves mistérios nos búzios,
folhagens selvagens de espumas
que três céleres canoas cortam.
Memórias náufragas, segredos
degredados, uma
duna de ipomeias,
esteiras sibilantes na pele da praia,
Instantes fundados
entre gritos de gaivotas e pescadores.
Suas proas apontadas para o sul, luz
furiosa nas vagas lavando as pedras
e esta aurora nublada:
manta tremulante de peixes.
***
(Rodrigo Garcia Lopes, De "Experiências Extraordinárias" (Kan Editora, 104 pp, R$ 25)
Pedidos à Livraria da Silvia)
segunda-feira, 27 de maio de 2019
RECICLANDO AS REDES
Redes de pesca: precioso descarte
por Nara Guichon
Meu fascínio ao me deparar com os trapos desbotados e carcomidos das redes de pesca industrial, ainda nos idos de 1998, foi instantâneo. Apesar de ser, aparentemente, um resíduo de pouco valor, enxerguei ali a chance de fazer algo novo.
Inicialmente vislumbrei a possibilidade de tecer manualmente tecidos a metro e logo descobri a enorme versatilidade do material. Daí vieram os tapetes, cortinas, roupas, acessórios femininos e tudo o mais que a imaginação permitir.
Aprendendo eternamente
No início desta trajetória, ainda não tinha conhecimento profundo da história, do uso e composição deste material; nem dos danos ambientais causados pelo descarte incorreto destes resíduos – ou “panos”, como são denominadas as redes por alguns pescadores.
Exemplo de rede de pesca em fase de triagem. Foto da autora.
Fomos “crescendo” juntas, eu e as redes. Ao passo que elas chegavam até mim, a gama de produtos foi crescendo, bem como a informação que me trouxe maior consciência ambiental.
Danos ambientais
As redes de pesca industrial são feitas de poliamida, material derivado do petróleo, portanto, altamente resistente e poluente. Estas redes, fabricadas especialmente para a indústria pesqueira, medem em média 60 metros de altura por 1,2 quilômetros de largura. É muito comum que elas sejam colocadas no oceano uma ao lado da outra para fazer um cerco muito abrangente.
Detalhe da trama feita com o material das redes de pesca. Foto da autora.
Como as malhas das redes são bem pequenas, tudo o que cai ali morre. Ou seja, juntamente dos cardumes de pescados, como sardinhas ou anchovas, outros animais marinhos são arrastados. Assim são mortas diversas espécies de tartarugas, golfinhos, tubarões e também espécies marinhas em época de reprodução.
Descarte irresponsável
10% do lixo dos oceanos são resíduos da indústria pesqueira, segundo dados da FAO (Food and Agriculture Organisation). Este descarte, junto ao demais detritos jogados nos oceanos, está minando a vida dos mares, ameaçando cadeias biológicas inteiras, inclusive de espécies ainda não conhecidas pelo homem.
Projetos como o “Pesca Fantasma” alertam para o alto impacto ambiental dos materiais usados em pescas em todo o mundo. Iniciativas como o Minnow, um skate feito com matéria de redes de pesca, são outro exemplo de transformação consciente de um resíduo em matéria prima para algo ecologicamente correto
O que podemos fazer?
Pesquisar sobre os impactos ambientais que nossas ações causam é de vital importância. Um exemplo simples: produtos como creme dental, maquiagem e protetores solares liberam as denominadas nanopartículas. Através da água, esses compostos químicos vão parar no fundo dos oceanos, criando uma película que abafa e mata o plâncton, corais e demais seres.
Substituir os produtos de limpeza e beleza industriais por outros de composição ambientalmente amigável é uma importantíssima ação. Sem contar o já tradicional apelo para substituir sacolas plásticas pelas de tecido e da redução do uso de canudos de plástico.
Coleta e uso do material
As redes de pesca são, na realidade, muito limpas, pois têm contato quase que exclusivamente com as águas oceânicas.
Quando já não servem mais para a pesca, compro-as pessoalmente dos pescadores que separam de antemão este material. Elas então são lavadas com jato d’água para eliminar areia, partículas de vegetais e alguns outros detritos.
Processo de triagem e análise das redes de pesca. Fotos da autora.
Neste momento começa o processo de criação, quando o material bruto conversa comigo, mostrando para que tipo de produto serve.
As redes mais finas irão para os xales, mantas ou serão cortadas em tiras para a composição de tecidos artesanais. As de malha média servirão para bolsas, pochetes, tapetes e tecidos. Já as mais grosseiras e danificadas irão para a produção de tapetes.
Versatilidade e sustentabilidade
Utilizar um material totalmente desprezado, apesar de sua resistência e graciosidade, é algo muito gratificante.
Poder colaborar com a limpeza do meio ambiente e ao mesmo tempo oferecer exclusividade, beleza e atemporalidade é para mim algo estimulante e desafiador.
A cada peça criada, compreendo que cada objeto traz em si uma história e também o respeito para com todas as formas de vida.
(Veja mais no https://naraguichontextil.wordpress.com/)
OUTROS MARES
Há 4500 milhões de anos, antigo oceano em Marte representava um quinto do planeta.
Já se sabe que devido à finíssima atmosfera marciana, não há pressão suficiente para haver água em estado líquido no planeta vermelho. Mas no passado, há 4500 milhões de anos, Marte foi coberto por água.
Segundo um estudo estudo publicado na Science, o oceano ocupava um quinto do planeta no hemisfério norte.
Uma equipe internacional com cientistas do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, em Maryland, nos EUA, da Alemanha, no Observatório Europeu do Sul (ESO, sigla em inglês), no Max Planck, e de outros países, usaram o Very Large Telescope, o telescópio do ESO no Chile, e o do Observatório Keck, da NASA, na ilha do Havai, para medir durante seis anos os diferentes tipos de moléculas de água que restam na atmosfera de Marte e, com isso, fazerem um mapa da água semi-pesada.
Enquanto a água normal é constituída por moléculas de H20, em que dois átomos de hidrogênio estão ligados a um átomo de oxigénio, a água semi-pesada tem um átomo de hidrogênio e outro de deutério ligados ao oxigênio. O deutério é um isótopo do hidrogênio. O núcleo do hidrogênio é constituído apenas por um protão, já o deutério tem além do protão, um neutrão. Na Terra, uma em cada 3200 moléculas de água tem um átomo de deutério.
Mas esta pequena variação faz toda a diferença ao longo dos milhões de anos da história de Marte. Por serem mais pesadas, as moléculas de água com deutério têm mais dificuldade em escaparem-se da atmosfera para o espaço. Assim, como a proporção de moléculas de água normal vai desaparecendo mais rapidamente, a concentração da água semi-pesada aumentou ao longo dos anos.
Esta evolução permite calcular o volume inicial de água existente em Marte e para ,bastam três informações: a concentração da água semi-pesada de Marte há 4500 milhões de anos, a concentração de água semi-pesada atual e o volume de água que hoje existe no planeta.
Medições foram feitas usando os espectrômetros dos telescópios da NASA e do ESO, que recebem a luz refletida da atmosfera marciana. A espectrometria permite analisar a água semi-pesada.
Os resultados da equipa mostram que, em Marte, a água semi-pesada é sete vezes mais concentrada do que, por exemplo, na Terra. E que Marte perdeu, ao longo do tempo, 6,5 vezes mais de água do que a que existe hoje. Por isso, o volume de água inicial de Marte seria, no mínimo, de 20 milhões de quilômetros cúbicos.
Esta quantidade dá para cobrir todo o planeta com uma camada de 140 metros de altura. Porém tendo em conta a topografia de Marte, o mais provável é que tenha existido um oceano no Hemisfério Norte — que tem uma grande região mais baixa do que o resto do planeta. Este oceano ocuparia 19% da área do planeta e teria uma profundidade máxima superior a 1,6 quilômetros.
A nova medição é importante para compreender as probabilidades do aparecimento de vida ali, explica Michael Mumma, do centro da NASA e um dos autores do artigo: “Se Marte perdeu tanta água, muito provavelmente o planeta terá sido úmido durante mais tempo do que o que se pensava, o que sugere que tenha sido habitável durante mais tempo.”
Água em lua de Júpiter
Marte não está sozinho. Cientistas confirmaram que a lua Ganímedes, na órbita de Júpiter, possui um oceano por baixo de uma crosta superficial de gelo. A descoberta foi feita através do Telescópio Espacial Hubble. Com isso eleva-se a possibilidade da presença de vida no subterrâneo dessa lua.
A descoberta veio confirmar um mistério já relatado pela nave Galileo enquanto cumpria uma missão exploratória ao redor de Júpiter e de suas luas, entre 1995 e 2003.
Ganímedes se junta agora a uma crescente lista de luas localizadas nas partes mais afastadas do sistema solar que possuem uma camada de água abaixo da superfície. Entre outros corpos ricos em água estão Europa e Callisto, também luas de Júpiter.
(Do www.marsemfim.com.br)
domingo, 26 de maio de 2019
sábado, 25 de maio de 2019
DE JANGADA
O Brasil comemorou no dia 13 de maio a abolição da escravidão no país, oficializada pela Lei Áurea, em 1888. O que muitos desconhecem é que o estado do Ceará aboliu a escravidão quatro anos antes da Lei Áurea. Em 25 de março de 1884, o presidente da província, Satiro de Oliveira Dias, declarou a libertação de todos os escravos do Ceará, tornando o estado o primeiro a abolir a escravidão no país.
Isso foi possível graças a Francisco José do Nascimento, também conhecido como Dragão do Mar ou Chico da Matilde. Homem de origem humilde, jangadeiro e abolicionista, teve participação ativa no Movimento Abolicionista no Ceará.
Capa da Revista Illustrada v.9 nº 376 ano 1884
Francisco José era chefe dos jangadeiros e, em 1881, convenceu os colegas jangadeiros a se recusarem a transportar para os navios negreiros os escravos vendidos para o sul do Brasil.
A ação repercutiu no país e somada às ações dos outros abolicionistas do Ceará, que pertenciam à elite econômica e intelectual do estado, levou ao fim da escravidão no Ceará.
A ação iniciada pelo dragão do Mar foi tão importante que Angelo Agostini (desenhista ítalo-brasileiro) registrou o fato na capa da Revista Illustrada, com uma ilustração alegórica de Francisco Nascimento, com a seguinte legenda: “À testa dos jangadeiros cearenses, Nascimento impede o tráfico dos escravos da província do Ceará vendidos para o sul”.
Francisco José do Nascimento virou um símbolo da resistência popular cearense contra a escravidão, e foi homenageado pelo governo do Ceará, com seu nome dado ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, pelo que ele e seus colegas realizaram em nome da liberdade, em 1881, na Praia de Iracema. Francisco faleceu em Fortaleza em 05 de março de 1914.
MAR DE PESCADOR
Baía de Guanabara e a agonia da pesca artesanal
(Por David Soares, sociólogo e doutor Psico-Sociologia e Ecologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ))
Seria impossível escrever a história da pesca no Brasil sem um capítulo especial sobre a Baía de Guanabara. No período colonial, pescadores portugueses vieram ao país e se fixaram na área do Caju, desenvolvendo a primeira colônia de pesca brasileira (Amador, 1997). A Baía de Guanabara tornara-se, desde cedo, palco de relevantes inovações técnicas da pesca, nas quais a contribuição de portugueses e espanhóis foi significativa. Eles introduziram técnicas como a rede de cerco e o arrasto de portas na região da Baía, influenciando a cultura pesqueira em outras regiões do país.
Com a criação do entreposto de pesca da praça XV em 1938 e as facilidades de implantação de fábricas de sardinha em conserva, a pesca na Baía se modernizou, passando por progressivas melhorias em motorização e equipamentos de apoio. Este processo resultou em uma diminuição dos barcos a remo, que predominavam até os anos 1930. A modernização, entretanto, não fez desaparecer por completo os pescadores de canoas. Os denominados pescadores artesanais subsistiram, apesar da desigual competição em que foram lançados em uma região que se urbanizava e se industrializava rapidamente.
Os pescadores artesanais atualmente compõem a maioria do universo pesqueiro da região. Utilizam pequenas e médias embarcações motorizadas ou a remo, e aparelhos de pesca com moderada sofisticação tecnológica, tais como redes de arrasto, cerco e espera, caniço e linha-de-mão. Os desembarques de uma importante produção pesqueira ocorrem ao longo de toda a orla da baía, em pelo menos 42 comunidades pesqueiras (Jablonski et. al., 2002). Estima-se uma produção da pesca artesanal de aproximadamente seis mil toneladas anuais (Jablonski et. al., 2002), que se tomadas em conjunto às doze mil toneladas da pesca industrial, representam a participação da Baía de Guanabara em mais de 30% da produção estimada para todo o Estado do Rio de Janeiro.
Nota-se que as comunidades situadas no interior da baía, caracterizadas por uma pesca artesanal bem marcante, são aquelas que utilizam artes mais diversificadas (Gradim, Itaoca, Mauá, Ilha do Governador). As comunidades situadas nas áreas mais poluídas (Ramos e Caju) exibem o menor número de artes de pesca utilizadas, operadas principalmente fora da Baía. Comunidades da margem oriental (Jurujuba e Ilha da Conceição) são dedicadas a uma pesca comercial, ainda que em modelo artesanal. As comunidades de Copacabana e Itaipu são consideradas da área de abrangência da Baía de Guanabara, por situarem-se nas duas extremidades de sua zona estuarina; contudo, as artes de pesca utilizadas caracterizam uma pesca oceânica e de característica cada vez mais recreativa.
Coexistem atualmente pelo menos seis diferentes sistemas pesqueiros na região, incluindo: 1) a pesca da sardinha boca-torta e savelha, com destinação industrial; 2) as diferentes pescarias artesanais, voltadas para a tainha, corvina, bagre, espada, parati e outros peixes, envolvendo a maior parte do contingente de barcos e pescadores e a totalidade dos currais; 3) a pesca do camarão, com sazonalidade bem marcada, entre setembro e janeiro; 4) a coleta do caranguejo nos manguezais existentes ao fundo da Baía; 5) a pesca do siri, com o auxílio de puçás, visando ao processamento pelas "descarnadeiras" e, finalmente, 6) a coleta de mexilhões, nos costões rochosos da baía oceânica, também direcionada ao processamento.
Apesar dessas descrições há enorme desconhecimento sobre as verdadeiras condições da pesca artesanal na região. O contingente total de pescadores envolvidos na atividade pesqueira é um bom exemplo desse desconhecimento e das controvérsias suscitadas. Alguns dados, como os fornecidos pela Federação de Pescadores, indicam a existência de aproximadamente 22 mil pescadores artesanais, organizados em 5 colônias. Todavia, outras fontes, como o Ibama (Soares, 2012) afirmam a existência de 3 mil pescadores artesanais atuantes no estuário. O hiperbólico contraste de dados deve-se, sobretudo, à falta de interesse social em estudos sistemáticos sobre a atividade, à dificuldade de categorização de pescadores artesanais em ambientes urbanos complexos e, ainda, às disputas por benefícios, como o auxílio-defeso, ou o direito a indenizações esperadas dos processos judiciais, impetrados pelos pescadores em razão do derramamento de óleo no ano de 2000.
Uma competição dura e duradoura vem sendo travada pela pesca artesanal em razão do desenvolvimento desordenado da região, com a vertiginosa urbanização da cidade do Rio de Janeiro e dos municípios circundantes, desde a segunda metade do século XX. Tratam-se de 10 milhões de pessoas e 14 mil indústrias em seu redor, 14 terminais marítimos de carga e descarga de produtos oleosos, dois portos comerciais, diversos estaleiros, duas refinarias de petróleo, mais de mil postos de combustíveis e uma intrincada rede de transporte de matérias-primas, combustíveis e produtos industrializados permeando zonas urbanas altamente congestionadas. Esse processo transformou a Baía de Guanabara em um dos ambientes costeiros mais poluídos do mundo.
Nas visões dos pescadores, contudo, seu maior opositor é a poderosa indústria de petróleo e gás. Desde a construção da Refinaria de Duque de Caxias, em 1960, passando pelo derramamento de óleo, no ano 2000, e contemporaneamente com a construção de inúmeras linhas de transmissão subaquáticas ligadas ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), essa indústria vem produzindo vazamentos frequentes de metais pesados e óleo, poluição hídrica e sonora, diminuindo consideravelmente o volume e a qualidade do pescado, e restringindo a área reservada à atividade pesqueira.
Estima-se que atualmente restem somente 12% do espelho d’água da Baía disponíveis para à pesca artesanal (Chaves, 2011).
Em virtude da precarização de suas formas de vida e trabalho, nas duas ultimas décadas tem surgido um forte movimento social de resistência desses pescadores artesanais contra a expulsão gradativa a que vem sendo submetidos. Nesse processo, inúmeras associações de pesca foram criadas. No desenrolar dessas lutas, os pescadores vêm denunciando as inúmeras e invisíveis agressões ambientais, enquanto demarcam a importância de seus grupos, que com saberes e culturas tradicionais também compõem as camadas de história da Baía de Guanabara.
Referências
AMADOR, E. S. Baía de Guanabara e Ecossistemas Periféricos: Homem e Natureza. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1997. 539 p.
JABLOSNKI,S.; AZEVEDO, A; MOREIRA, L.; SILVA, O. Levantamento de dados da atividade pesqueira na Baía de Guanabara como subsídio para a avaliação de impactos ambientais e a gestão da pesca. Rio de Janeiro:IBAMA; 2002.
CHAVES, C.R. Mapeamento Participativo da Pesca Artesanal da Baía de Guanabara. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, Instituto de Geociências. 2011.
SOARES, D. G. Conflito, ação coletiva e luta por direitos na Baía de Guanabara. 2012.171 f. Tese (Doutorado em Ciências Humanas -Sociologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012.
sexta-feira, 24 de maio de 2019
TRIBUZANA ESVAZIA O PÂNTANO DO SUL
Foto e informações do Alan Arante Monteiro |
"Minha Santa Catarina que leve estes ventos,
pras ondas do Mar Sagrado
e que não ouça o Galo cantar....."
(Benzedura da Tia Ilda, do Pântano do Sul)
Com a previsão de ventos de até 80 km por hora e fortes chuvas, pescadores do Pântano do Sul puxaram seus barcos para as ruas ou levaram as embarcações pra Caieira da Barra do Sul, mudando completamente o cenário do mar!
GRADAS E OVADAS
Na Pinheira - Fotos via zap-zap!
E as tainhas começaram a encostar nas praias para a alegria da camaradagem, impaciente desde o dia primeiro, quando começou a safra deste ano!
Finalmente!
Hoje várias praias na ilha e no continente cercaram!
Na Pinheira foram 2.500 e no Porto Novo, em Imbituba, mais 1.500 gradas e ovadas!
ÚÚÚÚ!!!!
JACK O MARUJO
- O sr. gosta de conversar com o mar, capitão?
- Sim, disse Jack o Marujo. Ele jamais me responde.
(Do Nei Duclós)
quinta-feira, 23 de maio de 2019
ÚÚÚÚ!!!!
MANEMÓRIAS
quarta-feira, 22 de maio de 2019
TRIBUZANA À VISTA!
A Defesa Civil de Santa Catarina emitiu um alerta de chuva volumosa no estado a partir de hoje, quarta, até a noite desta quinta-feira (23). Além do acumulo de chuva, que pode chegar a 100mm em algumas regiões, há previsão de rajadas de ventos de até 100km/h.
Em caso de qualquer problema ocasionado pelo excesso de chuvas ou vendavais, deve-se comunicar a coordenadoria municipal de Defesa Civil, pelo telefone de emergência 199, ou o Corpo de Bombeiros pelo 193. Outras informações sobre este alerta estão disponíveis no endereço: http://www.defesacivil.sc.gov.br/