quarta-feira, 29 de maio de 2019

TAINHAS MANDAM AVISAR QUE...

Barco chega no final de tarde após um dia na costa à procura das tainhas. Foto: Anderson Coelho/ND



Com quase um mês de atraso, tainhas estão a caminho do litoral de Santa Catarina

Pescadores aguardam nova frente fria acompanhada de vento Sul para fazer o cerco e capturar os primeiros grandes cardumes

CRISTIANO RIGO DALCIN, FLORIANÓPOLIS

Com quase 30 dias de atraso, as tainhas estão chegando ao litoral de Santa Catarina. É o que contam os pescadores que aguardam ansiosos a chegada dos cardumes trazidos pelo vento sul e pelas temperaturas frias que marcam a transição do outono para o inverno.

A informação também é atestada por vídeos com a captura dos peixes feita por barcos que estão no litoral norte do Rio Grande e começaram a circular na tarde desta terça-feira entre os pescadores que estão de prontidão nos ranchos de pescas espalhados por Florianópolis.
A safra da tainha foi aberta em 1º de maio para pesca artesanal e desde então, o clima não tem colaborado devido ao calor e ausência do vento Sul, que traz os cardumes da Lagoa dos Patos, no Sul do Rio Grande do Sul. Um dos pescadores que aguardam a chegada dos cardumes é Laurentino Benedito Neves, o Chinho, 56 anos.

Sentado em frente ao rancho Saragaço, na Barra da Lagoa, ele olha atentamente para o mar, sempre com o rádio comunicador ligado na escuta de informações repassadas por três vigias que ficam espalhados por pontos distintos da baía. Diante do mar calmo, qualquer movimentação na água é checada pelos pescadores.

“A tainha é um peixe de migração, não tem um período certo. Quando ela aparece, tem que estar pronto para fazer o cerco”, ensina Chinho. O vídeo com imagens da captura dos peixes no litoral norte do Rio Grande do Sul, entre Capão da Canoa e Torres, deixou os pescadores animados. “Não próxima frente fria, os cardumes já devem estar por aqui”, comenta Chinho.
Laurentino Neves, o Chinho, aguarda ansioso a chegada dos cardumes. Foto: Anderson Coelho/ND


Apesar do início da safra não ter sido boa, o pescador tem esperança de que os próximos dois meses possam ser compensadores. “Cada safra é uma história. Tem ano que capturamos mais de dia, às vezes, é mais à noite.

Tem dia que o cerco acontece no meio da baía, tem dia que é no canto”, relata. A paciência é testada a fio e para isso os pescadores aproveitam para bater papo, tomar café e jogar cartas, sempre de olho no horizonte.

Frente fria deve garantir o esperado vento Sul

De acordo com os pescadores, as tainhas ainda não “encostaram” no litoral catarinense porque um velho conhecido deles, o vento sul, ainda não soprou para valer na região. É o “suli”, como eles chamam carinhosamente, o responsável por esfriar as temperaturas no Sul do país, trazendo as tainhas que deixam a Lagoa dos Patos em direção a água mais quentes, do litoral de SC.

“Até agora tivemos poucos dias de frio e de vento sul. A temperatura da água da Lagoa dos Patos precisa diminuir”, relata o presidente da Fepesc (Federação dos Pescadores de Santa Catarina), Ivo Silva. Porém, se depender da previsão do tempo, uma nova frente fria deverá passar por Santa Catarina nos próximos dias, acompanhada do esperado vento Sul e, quem sabe, das tainhas.
Amilton Martins (E) viu os colegas dos Ingleses capturarem três toneladas. Foto: Anderson Coelho/ND

“Está previsto para o vento virar essa noite. Vamos aguardar. Até o final de semana elas devem chegar”, relata Amilton Alvaro Martins, que retornou do mar no final da tarde de ontem em um dos barcos que deixaram a Barra da Lagoa no início da manhã.

Na altura da praia dos Ingleses, Amilton testemunhou a captura de um cardume que ele calcula ter rendido três toneladas para os colegas do Norte da Ilha. “Chegamos tarde. Nem colocamos a rede na água porque não vimos nenhum outro cardume”, informou, com a rede de 8,8 mil metros de extensão por 44,4 metros de altura devidamente armazenada no barco.

Além da captura testemunhada por Amilton, nesta terça-feira também foram registradas captura de pequenos cardumes no Gravatá (Praia Mole) e na Joaquina.

SAFRA DA TAINHA

2006: 1.124 toneladas
2007: 2.142 toneladas
2008: 493 toneladas
2009: 1.208 toneladas
2010: 702 toneladas
2011: 617 toneladas
2012: 425 toneladas
2013: 1.213 toneladas
2014: 1.001 toneladas
2015: 1.311 toneladas
2016: 3.543 toneladas
2017: 1.780 toneladas
2018: 3.417 toneladas

Fonte: Fepesc e Sindipi

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