domingo, 26 de abril de 2020

MEMÓRIAS DA PESCA


A Pesca na Armação e os Camaradas!!

 Durante toda minha vida tive uma relação muito forte com a PESCA e com o MAR!
Sempre foi algo muito presente, até porque meu pai era pescador e dono de embarcações na comunidade da Armação do Pântano do Sul , seu nome era Osvaldo Francisco da Silva , conhecido como seu Canduca . 

Meu pai era movido pela fé, prova disso eram as embarcações que adquiriu por força do seu trabalho que levavam os seguintes nomes: SEMPRE COM FÉ, SEMPRE COM ESPERANÇA, SEMPRE COM OS APOSTOLOS e assim por diante. 

Após bom tempo embarcado no Rio Grande do Sul, mais precisamente na Praia do Cassino, ele comprou seus aparelhos que compreendiam as baleeiras, as redes, entre outras instrumentos de trabalho importantes para pesca, voltando para sua origem, a comunidade da Armação do Pântano do Sul. 

Mas como diz o ditado ' Nada se faz sózinho, e dessa forma montou sua equipe de trabalhou , que são nossos TRABALHADORES do MAR, esses eram chamados de CAMARADAS. 

Os camaradas eram verdadeiros parceiros no trabalho, tinham as funções muito bem definidas, como por exemplo: de ver a rede todos os dias pela manhã e no final da tarde ( no caso o cerco, tecnologia de pesca trazida pelo Japonês Noboro Oda na década de 50). Também saiam para cacear no período de pesca do cação, mangona e arraia, nesse período passavam praticamente o dia inteiro no mar pescando . 

O período que é considerado muito importante para nossos pescadores é o da pesca da Tainha . Passavam, na época, praticamente quase todo o dia na Praia vigiando, com seus barcos apostos, para que no primeiro sinal do vigia abanando na Ilha das Campanhas (vigia era um pescador que ficava na ponta da Ilha observando) , pudessem fazer o cerco . 

Lembro muito bem nesse período, quado ainda criança , corriamos em direção a praia e era uma festa, faziamos filas de mulheres e de criancas , todos ganhavam peixe , faziam a divisao do quinhão entre os CAMARADAS e ainda faziam a venda. 

As carrocererias dos caminhões saiam abarrotados de peixes, caindo pelo caminho até o centro da cidade para entrega no MERCADO PÚBLICO. 

Eram tempos de fartura !!!!! 

Os CAMARADAS, não só pescavam, mas dividiam a responsabilidade de manter toda embarcação e as redes, em total condições de trabalho. 

Entre uma pescaria e outra, as redes geralmente eram levadas nas Campanhas ou até em outro espaço adequado para remendar.

Os barcos consertados , tanto os motores como a parte de madeira, além da pintura, vale aqui lembrar a importância do seu Adolfo Pereira , um dos únicos carpinteiros de baleeira da região. 

Referendo alguns CAMARADAS que trabalhavam junto ao seu CANDUCA, principais aliados e TRABALHORES DO MAR: Seu Osmar de Souza, Antenor Coelho , Laro, Seu Nicolau Machado entre outros, entre eles também havia o encarregado que era responsável por eles. 

O dia da partilha do recurso acontecia na cozinha da minha casa, era um dia para dividir os recursos arrecadados e para conversar sobre as demandas. Os recursos eram divididos entre os pescadores e uma parte era destinada para manutenção e compra de materiais. 

Uma delas, a compra de carretéis de nylon para confecção da redes, que eram realizadas por mulheres e homens da própria comunidade , tudo era calculado por braçadas com variadas malhas para cada tipo de pesca. 

A confecção de redes também era uma forte geração de trabalho e renda. 

A Memória e fatos aqui relatados faz com que possamos pensar, o quanto pessoas como nossos CAMARADAS contribuíram para a história de nossa comunidade e de nossa FLORIPA. 

O legado que nos deixaram, o qto cabe a nós transmitir esse conhecimento e materializar através dos tempos . 

A PESCA ARTESANAL, é uma das manifestações culturais mais importantes da Ilha de Santa Catarina, que hoje ainda resiste ao tempo, a memória e a subsistência das famílias. 

Os CAMARADAS continuam sendo homens e atualmente também mulheres, que mantém viva essa tradição se perpetuando, se perpetuando de geração em geração.

 por Roseli Pereira   
(Professora, pesquisadora e moradora da Armação do Pântano do Sul )



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