quarta-feira, 22 de abril de 2020

MAR DE TAINHAS

Pesca da tainha no Campeche – Foto: Anderson Coelho/ND

Com inverno mais frio, há boa expectativa para safra da tainha em 2020

Temporada começa em 1º de maio; em Florianópolis, pescadores preparam redes e barcos de olho nas medidas contra a Covid-19

ANDRÉA DA LUZ, FLORIANÓPOLIS

Nos ranchos do litoral catarinense, pescadores e donos de barcos trabalham para consertar redes e deixar tudo pronto para o começo da temporada da pesca da tainha. Depois do péssimo resultado em 2019, quando foram capturadas apenas 1,16 mil toneladas, contra as 2,5 mil toneladas esperadas em Santa Catarina, os pescadores artesanais torcem por um inverno mais rigoroso. 

Conforme a previsão mensal do The Weather Channel, as temperaturas devem começar a cair a partir de 10 de maio, em Florianópolis, oscilando entre 16ºC e 23ºC, podendo chegar entre 13ºC e 21ºC na segunda quinzena de junho. Julho deve ser ainda mais frio, com máximas de 20ºC. 

Para o pescador Alionezio Souto, da Lagoinha do Norte, em Florianópolis, a expectativa é grande. “Esse ano já matamos umas 20 toneladas de parati, que é alimento da tainha, então estamos com expectativa de que venha bastante peixe nesta safra”, afirma. 

No entanto, além de esperar por um inverno com bastante frio e vento sul – considerados elementos essenciais para a pesca da tainha, os pescadores tentam se adequar à nova realidade. A pandemia do novo coronavírus também afeta a pesca artesanal, tradição que resiste ao tempo em várias cidades do Estado.

Máscaras, álcool gel e distanciamento

Agora, é o momento de consertar redes e arrumar os barcos, mas devido à quarentena muitos estão receosos e acabam ficando em casa. Da sociedade da qual Alionezio faz parte, que reúne dois ranchos de pesca e cerca de 35 pessoas, nem todos estão trabalhando.

“Aqui trabalhamos ao ar livre, mais longe um do outro e de máscaras. Cada um traz a sua e temos álcool gel. Mas a grande maioria dos pescadores tem mais de 50 anos e muitos estão com medo. Os idosos nem estão vindo mais”, diz Alionezio.

Para driblar a falta de pessoal, os que ficaram aproveitam para treinar a mão de obra mais jovem disponível. “A maioria nem é daqui, mas de 10 remeiros que estamos ensinando dois já estão se saindo muito bem”, conta o pescador.

No Sul da Ilha, no bairro Campeche, os trabalhadores se reúnem para consertar as malhas no lado de fora dos ranchos, para evitar aglomeração. O pescador Amilton Damásio de Andrade, do Rancho da Família Daniel, diz que “pesca vai ter, mas vamos ter que tomar os cuidados”. 

Além das máscaras e do distanciamento nos ranchos, será preciso marcar a rede com cortiça a cada 1,5 metro, para os puxadores ficarem mais afastados uns dos outros.

“Em geral, somos em cerca de 70 pessoas, mas quando tem os lanços vêm os ajudantes, chegando até cem pessoas. Tem gente que vem só em troca do peixe, não sei como vamos fazer com esse pessoal”, pondera. “Mas o negócio é se cuidar, usar máscara, evitar aglomero dentro dos ranchos e esperar que dê bastante tainha!”, diz.

Regras e cotas de captura

Este ano, o governo federal publicou cedo as normas para a safra da tainha de 2020, que ocorre entre 1° de maio e 31 de dezembro para a pesca não motorizada ou desembarcada; entre 15 de maio e 31 de julho, para a frota de emalhe anilhado; e entre 1° de junho e 31 de julho para embarcações de cerco/traineira. 

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento também publicou a instrução normativa SAP nº 7, de 3 de abril de 2020, estabelecendo as cotas de captura, criando a Autorização de Pesca Complementar Especial, e estabelecendo o limite de embarcações e as medidas de monitoramento, no Sudeste e Sul do Brasil.

De acordo com o documento, a cota máxima de captura de tainha em 2020 será de 627,8 toneladas para a frota de cerco/traineira, com cota individual de 50 toneladas. 

Já para a frota de emalhe anilhado de Santa Catarina, a quantia máxima é de 1.196 toneladas para operar no mar territorial do Sudeste e Sul, sendo que toda produção deverá ser desembarcada em território catarinense. Outras modalidades de pesca não estão sujeitas aos limites de cota de captura.

Para controlar esses limites, o governo vai analisar dados dos mapas de bordo e de produção e o formulário de entrada de tainha em empresa pesqueira. A pesca será encerrada assim que o primeiro desses bancos de dados indicar que o limite foi atingido. 
Pesca Complementar Especial

A autorização de Pesca Complementar Especial em 2020 será concedida apenas às embarcações de cerco/traineira com autorização para captura de sardinha verdadeira (Sardinella brasiliensis), no limite de 10 barcos. Quem extrapolou a cota em 2019 não pôde se credenciar este ano.

Do mesmo modo, documento é concedido ainda à frota de emalhe anilhado do estado de Santa Catarina, com autorização na modalidade de emalhe de superfície e emalhe de fundo, limitando-se a 130 embarcações nesta temporada. 

A frota pesqueira selecionada obedece o edital de credenciamento nº 5, cujo resultado foi publicado no Diário Oficial da União em 16/12/2019. Esse documento é temporário, tendo validade de 1º de junho a 31 de julho para cerco/traineira e de 15 de maio a 31 de julho para emalhe anilhado.

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