Ilustração Andrea Ramos
"Depois do tempo da Tainha. No fim do tempo das Anchovas. Quando o vento sul congela e vira inverno. Quando os Guarapuvús começam a bordar de amarelo os morros sempre verdes e melancólicos.
Elas chegam de mansinho, pisando devagar, pé-ante-pé. Sempre juntas com o agosto, setembro, outubros. Imensas dentro da própria imensidão. Infinitas e oceânicas. Pacíficas e atlânticas.
Ilhas viajantes fugindo/procurando destino próprio. Imensos úteros. Cheios, ocupados, em busca de outras ilhas-úteros com mares calmos e águas mais quentes.
Imensas mães parindo e cuidando de imensos filhos. Um parto de deuses. As baleias voltam devagar, com muito cuidado. Ainda choram dores passadas, transpassadas e repassadas. Carnificina e mar de sangue gravados no chips da memória.
Seu óleo iluminando a estupidez truculenta do bicho-homem e bucólicas cidades europeias. Dando liga para a argamassa que construiu essa civilização.
As baleias choram. E brincam. E pulam. E parem. E choram!
Gemem num desesperado blues. Grito quente, úmido e rouco. Grito de negro, de sofrimento, de perseguidos. Um blues infinito e profundo como o azul do mar.
Triste e contemplativo.
As baleias choram. E brincam. E pulam. E parem. E dançam!
Ternas crianças de muitos metros e algumas toneladas. Viajantes incansáveis de milhas e sonhos em mares nunca/sempre navegados. Acrobatas do tempo e da sobrevivência. Francas no nome e nos gestos.
A grande mãe.
As baleias dançam e traçam generosos gestos na coreografia infinita - e azul - do horizonte. As baleias dançam. Dançam e nos contemplam com a sabedoria dos deuses orientais e olhos de peixe.
Imensa lágrima cênica no oceano.
Pasmos e à sombra dos Guarapuvús, contemplamos paquidermicamente."
Elas chegam de mansinho, pisando devagar, pé-ante-pé. Sempre juntas com o agosto, setembro, outubros. Imensas dentro da própria imensidão. Infinitas e oceânicas. Pacíficas e atlânticas.
Ilhas viajantes fugindo/procurando destino próprio. Imensos úteros. Cheios, ocupados, em busca de outras ilhas-úteros com mares calmos e águas mais quentes.
Imensas mães parindo e cuidando de imensos filhos. Um parto de deuses. As baleias voltam devagar, com muito cuidado. Ainda choram dores passadas, transpassadas e repassadas. Carnificina e mar de sangue gravados no chips da memória.
Seu óleo iluminando a estupidez truculenta do bicho-homem e bucólicas cidades europeias. Dando liga para a argamassa que construiu essa civilização.
As baleias choram. E brincam. E pulam. E parem. E choram!
Gemem num desesperado blues. Grito quente, úmido e rouco. Grito de negro, de sofrimento, de perseguidos. Um blues infinito e profundo como o azul do mar.
Triste e contemplativo.
As baleias choram. E brincam. E pulam. E parem. E dançam!
Ternas crianças de muitos metros e algumas toneladas. Viajantes incansáveis de milhas e sonhos em mares nunca/sempre navegados. Acrobatas do tempo e da sobrevivência. Francas no nome e nos gestos.
A grande mãe.
As baleias dançam e traçam generosos gestos na coreografia infinita - e azul - do horizonte. As baleias dançam. Dançam e nos contemplam com a sabedoria dos deuses orientais e olhos de peixe.
Imensa lágrima cênica no oceano.
Pasmos e à sombra dos Guarapuvús, contemplamos paquidermicamente."
(Fernando Alexandre)
8 comentários:
Esse Fernando quando escreve, parece que a gente pegou uma onda cracuda pelo peito, e depois que se sai do turbilhão, são paisagens e sentimentos que espumam pra tudo que é lado!!!!!!!!!!!ÚÚÚÚ....
Queria ser uma baleia...
Que beleza, Fernando, há horas penso homenagear, emprestando ao gesto o pouco de poesias que sei, esses seres imensamente mansos, que ao surgirem nessa época e ao escolher "o nosso mar"como berçário nos confortam com a quase certeza de que vivemos ainda num lugar privilegiado, livres, ainda de determinadas ameaças.
Que Deus, Zeus e os Orixás as protejam...e os poetas também!
Um grande abraço, valeu,
Carlinhos
Fernando, texto encarchado de sentimento marítimo e achados poéticos, boiando entre baleias.
Muito bom!
grande abraço
Zé Antônio, às margens do Guaíba
Tu arrepiô a gente Fernando!
Cosa mais linda este texto.
Pa qui dermica mente...
Pô, que dérmica mente!
Uma bela visão-sentimento vc teve
desses deuses cujos chips remoem lembranças de grossas paredes onde as células de seus óleos ficaram mumificadas. Abraço daqui de Laguna. Ma. de Fatima Barreto Michels.
Lindo texto, parabéns!!! Muito linda a gravura tb! Michelle.
'Cogitationis poenam nemo patitur'.
E com ele tramas com palavras.
A nós, só desatar.
Grande, Fernando!
Olá Fernando... passo sempre por aqui, na verdade quase diariamente (rsrsr).... que coisa maravilhosa que acabei de ler...sei lá.. não tenho nem palavras...
Um beijo pra você e pra Andrea
Nancy Macedo (ex São Paulo.. agora Rio de Janeiro)
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