domingo, 12 de maio de 2019

MC ZÊ E O FUNK DAS TAINHAS!


Aos 71 anos, moradora cria 'Funk 
da tainha' em Florianópolis; assista

Vídeo foi gravado por um cliente do restaurante de Zenaide, no Sul da Ilha.
'Se os jovens podem, por que os velhos não podem?', brinca a idosa.

Mariana FaracoDo G1 SC


Ela não sabe bem se é funk ou rap. “Acho que é rap”, diz dona Zenaide de Souza, 72 anos vividos na beira do mar em Florianópolis. Mas o ritmo como ela canta a letra, sob uma batida imaginária, não deixa dúvidas: Anitta e Ludmilla que se cuidem, “MC Zê” compôs um funk . “Se os jovens podem, por que os velhos não podem?”

O “Funk da tainha” foi batizado por um cliente do restaurante que Zenaide mantém há 25 anos na praia do Pântano do Sul, no Sul da Ilha.

“Sempre vou lá, um dia ela sentou comigo e começou a cantar. A música saiu espontaneamente, na hora, como um bom rap ou funk”, conta o cirurgião-dentista Erlon Charles Fernandes, de 39 anos, que filmou a performance de Zenaide com o celular e colocou na internet.
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O vídeo (veja acima) foi gravado no último dia 3 de maio, logo após a abertura da temporada de pesca da tainha, uma das atividades mais tradicionais de Florianópolis.
Zenaide fala com conhecimento de causa: filha de pescadores, por muito tempo foi a única mulher a pescar na região.

Por conta disso, tinha até uma certa rivalidade com seu Arante, já falecido, dono de um famoso bar na mesma praia. “Era meu amigo, mas não aceitava muito que eu pescasse no meio de 200 homens. Era uma farra”, conta Zenaide.

Os últimos dias, porém, não foram bons para a pesca. “Deu uma ‘tribuzana’ [tempestade, no falar dos nativos da ilha] que virou os barcos e destelhou casas”, conta Zenaide, em um dos poucos momentos de seriedade. “Não sei se tenho um parafuso a mais ou a menos”, costuma dizer, às gargalhadas.

Sempre de chapéu

MC das tainhas, capitã de suas panelas, Zenaide está sempre com seu chapeuzinho naval. As tainhas pescadas, muitas vezes por ela mesma, são transformadas em receitas inusitadas, como a tainha no feijão, carro-chefe do restaurante. “Quando criei o prato, esse bar aqui encheu”, conta ela.

Foi assim que ela terminou de criar os oito filhos sozinha. Zenaide conta ter enfrentado preconceito e dificuldades financeiras por ter sido a primeira mulher de sua comunidade a se divorciar, depois de 20 anos de casada.
“Queria que meus filhos estudassem”. Agora, graças a suas tainhas, está prestes a ver a última filha se formar na faculdade.
Zenaide diz que nunca saiu de Florianópolis para conhecer o mundo. “Nem quero. Todo mundo querendo vir pra cá e eu vou sair daqui pra quê?”


Veja a letra do “Funk da tainha”

Vou pedir aos surfistas
Com toda consideração
Chegando mês de maio e junho
Eles não surfam, não

É a pesca da tainha
Pesca de tradição
Os vigias vão pra duna
Pra ver o caldeirão

E começa a abanar
A canoa faz cercar
E vamos puxar a rede
Só levanta essa cortiça
Que é pro peixe não pular

 O peixe chega na praia
Vai fazer a divisão
Tainha pro remeiro
Tainha pro vigia
Tainha pro patrão

E depois, o que sobra
Vamos fazer um quinhão
Cada um leva pra casa
Pra comer tainha assada
Tainha frita, tainha no feijão

E depois, pra terminar
Vão tomar nossa iguaria
A cachaça do sertão

(Do G1 - http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2015/05/aos-71-anos-moradora-cria-funk-da-tainha-em-florianopolis-assista.html)

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