domingo, 31 de março de 2019

MANEMÓRIAS

Foto Carlos Maria Güttler

.Praia de Bom Abrigo,1948

CANOAS, LINHAS,CORES...

Foto Tasso Claudio Scherer






CUIDADO!


"Mentir y comer pescado requieren mucho cuidado"
(Dito popular praieiro do Uruguai)

SABERES DE LÁ & CÁ


O vídeo-documentário "Os saberes do fazer - Cultura Caiçara Viva" resgata através de imagens e depoimentos, os costumes, fazeres e tradições da comunidade do Bonete, em Ilhabela/SP. 

A equipe de filmagem registra as atividades cotidianas dos caiçaras que ali moram, como a pesca, o uso da canoa, histórias de vida, testemunhando também uma das celebrações religiosas mais antigas de Ilhabela - a Festa de Santa Verônica.

sábado, 30 de março de 2019

MANEMÓRIAS


Festa de Nossa de Senhora Navegantes em 1982 no Pântano do Sul

(Acervo Família Arante )

MAREGRAFIAS

Foto Fernando Alexandre
Quase Branco...

MAR DE PESCADOR


Começa em Abril a pesca da Anchova

Veja as normas para a pesca deste ano

 A abertura da pesca da Anchova (Pamatomus saltatrix) se dará em 01 de abril.
Conforme a Instrução Normativa Interministerial MPA/MMA n° 02 de 2009, estarão aptas para captura da espécie, as embarcações devidamente inscritas no Registro Geral da Atividade Pesqueira (RGP), com autorização complementar para a pesca de anchova na modalidade de cerco.
Atenção: as embarcações NÃO autorizadas para a pesca da anchova somente poderão capturar e desembarcar esta espécie quando for fauna acompanhante de outras pescarias autorizadas, na proporção de ATÉ 5% (cinco por cento) do total desembarcado.

As embarcações com arqueação bruta (AB) superior a 20, poderão capturar anchova a partir de 5MN (milhas náuticas) da costa de Santa Catarina, Paraná, já para o estado do Rio Grande do Sul é a partir de 10MN.

O Tamanho mínimo de captura deve ser a partir de 35cm de comprimento, de acordo com a Instrução Normativa MMA n°53 de 2005.

MAR DE ILHAS

Arquipélago de Trindade e Martim Vaz. Ilha de Trindade. (Foto: Simone Marinho).

Arquipélago de Trindade e Martim Vaz, joia da coroa



Este escriba teve o privilégio de conhecer o arquipélago de Trindade e Martim Vaz, onde estive por três vezes. Tudo começou com a regata de longo curso Eldorado – Brasilis, criada pela rádio Eldorado no ano 2000. A regata teve oito edições, proporcionando a centenas de velejadores conhecerem esta maravilha da natureza. O percurso era, Vitória, ES – Trindade (onde ficávamos por um par de dias) – Vitória. Até hoje é o lugar mais espetacular que conheci. Sua beleza é dramática, a história, intrigante; e a biodiversidade, a maior entre as ilhas do Atlântico Sul.

Conheça o Arquipélago de Trindade e Martim Vaz

Ele é formado pelas ilhas da Trindade, Martim Vaz, que fica a cerca de 40 km de distância, e mais: ao lado de Martim Vaz existem as ilhotas do Norte e do Sul e mais alguns rochedos. Ao todo, o arquipélago tem 10,4 km2.

Formação do arquipélago de Trindade e Martim Vaz

De formação vulcânica, distante 630 milhas da costa de Vitória, a ilha emerge no meio de um mar de cor azul arroxeado, típico das profundidades abissais, como um enorme paredão. A um terço da distância entre o Brasil e a África, Trindade fica longe o suficiente da poluição atmosférica para que o ar seja totalmente limpo, o que proporciona uma visão ainda mais privilegiada de suas formas e cores. Sua altura máxima é de 600 metros, e a geografia, é única. Trindade tem morros e picos que mais parecem calombos com ‘inchaços’ lembrando feridas, resultado do derrame de lava, ora com texturas lisas, ora com rasgos profundos produzidos pela erosão eólica. O colorido é de tons fortes, destacando-se todos os matrizes do amarelo, do verde, e do cinza; e alguns do terracota . Em contraste com o azulão roxo do mar, e o azul celeste do céu, o conjunto forma a beleza dramática de que falei. Sobre a descoberta, e aspectos geopolíticos, o Mar Sem Fim já escreveu em outra matéria.

Em primeiro plano, Martim Vaz, em segundo, Trindade. Foto de João Luiz Gasparini.

Trindade, um histórico de visitantes ilustres

Trindade faz parte da história náutica do Brasil. Foi descoberta por nautas portugueses. Algumas fontes dizem que João da Nova teria sido o descobridor. Outras, falam em Estavam da Gama, ambas acertam no ano, 1501. A ilha tem um saboroso histórico de visitantes. Entre eles o astrônomo inglês Edmond Halley, em 1700 que, encontrando-a deserta, ‘tomou’ posse da ilha em nome da Coroa britânica; o navegador e naturalista inglês James Cook, em 1775; Dumont d’Urville, navegador francês, em 1826; James Ross (que desembarcou na ilha), em rumo para a Antártica, em 1839; e também ponto de parada de Robert Scott, a caminho do Polo Sul, em 1911. A história registra a parada de todos estes notáveis em Trindade. Nem todos, entretanto, conseguiram desembarcar. A ilha da Trindade não tem portos naturais. Também brasileiros ilustres a visitaram de maneira forçada. Juarez Távora foi um deles, preso entre 1924 e 1926. Naquela época Trindade se tornou presídio para os rebeldes do Movimento Tenentista, de 1922.
Edmond Halley

Mas há outro, ainda mais notável, o famoso…

Capitão Kidd em Trindade?

William Kidd, popularmente conhecido como Capitão Kidd (1645- 1701), foi um corsário escocês muito famoso. Navegou os sete mares azucrinando quem encontrasse no caminho. Pois saiba que no início do século 19, histórias de piratas povoavam o imaginário de navegadores. Um deles é Apsley Cherry-Garrard, tripulante de Robert Scott na viagem que seria conhecida como a ‘corrida ao Polo Sul‘, quando o inglês Robert Scott, e o 
norueguês Roald Amundsen, disputavam quem chegaria primeiro.
O tesouro do capitão Kidd.

Scott, como se sabe, morreu na marcha de volta. Mas Apsley sobreviveu. E depois publicou “A Pior Viagem do Mundo – última expedição de Scott à Antártica (Cia das Letras)“. No livro ele conta que Scott ancorou em Trindade, no caminho entre a Inglaterra e a Antártica. Com a palavra Cherry- Garrard: “O capitão Kidd ali entregou um tesouro. Há uns cinco anos um camarada chamado Knight viveu na ilha durante seis meses com um grupo de mineiros de Newcastle- tentando por as mãos no tesouro…(pg.94)” Com este depoimento, fica no ar a visita de um dos mais famosos piratas de todos os tempos. Até nisso Trindade arrasa.

Tesouro da Catedral de Lima enterrado na ilha da Trindade

As informações sobre Trindade e Martim Vaz são escassas, e perdidas em diversos documentos. Ao pesquisarmos para este post, achamos um deles, sensacional, que não conhecíamos. Uma Conferência sobre a Ilha da Trindade, feita pelo prof. Bruno Lobo, na Biblioteca Nacional, em 1918. Este saboroso documento confirma a lenda do Capitão Kidd, e o fato de Knight ter feito expedições para desenterrar o tesouro. E mais, depois de localizar as fontes destas informações, o texto da conferência vai além e conta que “…Quando foi da libertação do Peru, os espanhóis guardaram seus tesouros, bem como o ouro e prataria da catedral de Lima. Na fuga em navios pátrios firam pilhados pelos piratas que roubaram todo este resto de tesouro.” Este seria o tesouro enterrado por Kidd em Trindade.

Mapa da ilha da Trindade, parte da Conferência de 1918.

Ilha de Trindade – período da primeira posse inglesa, 1781 – 1782

O livro “Ilha da Trindade A ocupação britânica e o reconhecimento da soberania brasileira (1895 – 1896)” diz que “A Ilha da Trindade seria ocupada, pela primeira vez, somente em 1781, quando o governo britânico, supondo-se proprietário da ilha em decorrência do ato de posse realizado por Halley, ordenou sua ocupação para estabelecer um pequeno destacamento militar para que a ilha fosse utilizada como base de apoio à Marinha britânica. Fortes reclamações por parte do governo espanhol junto à Corte portuguesa, que acabou por reivindicar a desocupação da ilha à Coroa britânica, o que foi aceito e cumprido pela Inglaterra em 1782.”

Riqueza da fauna chama atenção desde 1700

Trindade é uma beleza por qualquer ângulo que se olhe. Hoje, é considerada a ilha mais biodiversa do Atlântico Sul. Todos os notáveis que nela pararam, fizeram pesquisa pela assombrosa biodiversidade. Sem falar nos milhares de caranguejos, Johngarthia lagostoma, um tipo de carapaça amarela, que infestam Trindade, das praias até o pico mais alto, pasme você.
O Johngarthia lagostoma, ou caranguejo amarelo de Trindade.(Foto:Drew Avery)

Segunda posse inglesa, 1895 – 1896

Aspley, acima citado, que desembarcou em Trindade, ficou impressionado com a quantidade de caranguejos, chegou a afirmar que “ninguém conseguiu se estabelecer na região devido aos caranguejos“. O fato é que em janeiro de 1895 os ingleses mais uma vez desembarcaram e ‘tomaram posse da ilha’, onde ficaram até agosto de 1896. O livro Juca Paranhos, o Barão de Rio Branco (Cia das letras) explica: “A ilha estava abandonada havia quase um século. A pouca atenção do governo brasileiro ficou patente pelo fato de a ocupação inglesa só ter sido conhecida em junho, depois que a imprensa inglesa noticiou o fato.” Não fosse o talento de Rio Branco e talvez Trindade hoje fosse inglesa, como quase todas as ilhas do Atlântico Sul.Para evitar ‘novas posses’, desde 1957 Trindade é guarnecida por uma força da Marinha do Brasil. Lá ainda existe um posto oceanográfico (Poit).

Fantástico paredão em Trindade. Foto: Marcelo Coelho.

Tentativa de ocupar a ilha por brasileiros

Depois da primeira ocupação inglesa o governo brasileiro tentou ocupar a ilha da Trindade. Quem conta é o site www20.opovo.com.br: “O navegante português José de Mello Brayner deixou na ilha 150 casais vindos da colônia dos Açores e religiosos franciscanos. A ideia iniciar um povoamento em Trindade. Além das pessoas, foram levadas sementes, ovelhas e porcos. Mas, segundo o naturalista Bruno Álvares da Silva Lobo, a empreitada não vingou. Em 1795, as famílias foram resgatadas em estado absoluto de miséria.” Esta tentativa de ocupação também foi confirmada pelo texto da Conferência.

Marco mandado levantar em 1897 depois das três tentativas de posse inglesa.

Trindade, um principado?

Como dissemos, Trindade é um fenômeno. Já houve quem quisesse transforma-la num país. Livro, Ilha da Trindade: “Em 1888, durante uma viagem pelo Atlântico Sul, o Barão Harden Hickey, aventureiro norte-americano, genro de um grande magnata do petróleo, visitou a Ilha da Trindade. Julgando-a sem dono após explorá-la, Hickey dela tomou posse em seu nome, planejando ali fundar um novo Estado.“

Arquipélago de Trindade e Martim Vaz Campeão em biodiversidade

São mais de 650 espécies de algas, invertebrados, peixes, e outros vertebrados; e muitas delas são endêmicas. Só de peixes são 270 espécies – 24 ameaçados de extinção –, maior índice de diversidade entre todas as ilhas brasileiras e um dos maiores do Atlântico Sul. Outra espécie endêmica é a fragata-de-trindade, criticamente ameaçada de extinção.
Arquipélago de Trindade e Martim Vaz. Mar de Trindade. Foto: João Luiz Gasparini.

A ilha também é local de desova de duas espécies de tartarugas, por isso há um posto avançado do TAMAR. São muito famosas as samambaias gigantes de Trindade, mais uma espécie endêmica. Por toda esta riqueza, Trindade tornou-se Reserva da Biosfera. E, mais recentemente, foi finalmente transformada em unidade de conservação, um feito do Governo Temer.

Parte da cadeia submarina Vitória Trindade

O arquipélago de Trindade e Martim Vaz é parte da cadeia submarina Vitória Trindade, por si só um espetáculo natural cuja biodiversidade é considerável.
Cadeia submarina Vitória Trindade, em cuja extremidade leste fica o Arquipélago de Trindade e Martim Vaz.

O biólogo capixaba Hudson Pinheiro fala sobre a formação da cadeia submarina: “Conforme o nível do mar subiu nos últimos 10 mil anos, muitas espécies permaneceram isoladas e se adaptaram aos novos ambientes, agora submersos. A cordilheira é habitada por cerca de 140 tipos de moluscos, 28 de esponjas, 87 de peixes de mar aberto, 17 de tubarões e 12 de golfinhos e baleias.” Hudson Pinheiro diz que “O elo da cordilheira com o continente é o que torna a formação brasileira única no mundo. Há outras cadeias montanhosas de origem vulcânica no meio do oceano, como o Havaí. Mas, como estão distantes do continente, o deslocamento das espécies nessas áreas é limitado.”

Algas calcárias

Estes não são, entretanto, os únicos responsáveis pela diversidade da cadeia submarina. A outra explicação seria a variedade de algas calcárias, tipo de planta marinha responsável pela formação de recifes. Na Cadeia Vitória- Trindade há nada menos que 16 espécies destas algas que acabam por criar habitats para centenas de outras espécies.

Ameaças ao Arquipélago de Trindade e Martim Vaz

São duas as mais importantes: pesca no entorno do arquipélago, e mineração submarina. O Mar Sem Fim entrevistou o professor Alberto Lindner, graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (1999), mestrado em Zoologia pela Universidade de São Paulo (2000), doutorado em Zoologia pela Duke University (2005), e pós-doutorado pela Universidade de São Paulo (2009). Lindner com a palavra: “…Tem alguns trabalhos em relação à pesca na região. Um deles do Hudson Pinheiro…desde a década de 90 existem informações de pessoas que vão para lá fazer pesquisa e observam barcos de pesca no entorno das duas. E pelo menos há 20 anos, existe a questão da pesca recreacional feita pelos marinheiros que ficam na base… O trabalho do Hudson mostra que existe uma frota de embarcações menores, de 15 metros, do Espírito Santo. Eles utilizam o espinhel de fundo…uma linha de cerca de 2 kms de comprimento, que visa principalmente os tubarões como o bico- fino, ou tubarão-dos-recifes; o lambaru, ou tubarão lixa; além de badejos e garoupas que são peixes de fundo. Estes barcos também pescam de currico próximos as ilhas.”

Estação Científica da ilha da Trindade. Foto: http://www.uespi.br.

Frota de pesca industrial na Cadeia Vitória Trindade

Alberto Lindner: “… Em 2007, Hudson Pinheiro passou um mês na ilha. Ele fez contatos com embarcações pesqueiras, esteve a bordo delas… E além desta pesca existe uma frota em escala industrial que vem tanto do Espírito Santo, como da Bahia e Santa Catarina, e fazem espinhel de superfície. São linhas de até 60 kms de comprimento com até três mil anzóis, principalmente para a pesca do espadarte e do tubarão azul…O que tem demonstrado é que esta pesca é ainda mais intensa na Cadeia Vitória Trindade que nas ilhas. Mas também ocorre no entorno das ilhas.”

‘Trindade e Martim Vaz estão sob um hot spot’

Alberto Lindner:“…Trindade e Martim vaz estão sobre um hot spot, que é o centro da formação da Cadeia Vitória Trindade. Já os montes submarinos, mais próximos da costa, foram formados há dezenas de milhões de anos, onde hoje fica Trindade e Martim Vaz. Mas, por conta da separação das placas tectônicas, eles hoje estão mais próximos da costa.”

Mineração na Cadeia Vitória Trindade

Outro temor dos pesquisadores é a mineração submarina. Segundo um estudo no site do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade), o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) já concedeu duas licenças para a exploração de bancos de rodolito (crostas de alga calcária e outros organismos) e recifes de corais na Cadeia Vitória-Trindade.

A atividade durou três anos, e o material extraído foi usado como fertilizante em plantações de cana-de-açúcar. No site do DNPM há registro de novos pedidos de licença na região. Pois é, infelizmente o Brasil está pronto para mais esta atividade extremamente danosa aos mares, a mineração submarina.

Conheça um pouco mais do Arquipélago de Trindade e Martim Vaz.


Fontes: https://g1.globo.com/natureza/noticia/a-desconhecida-cordilheira-no-litoral-brasileiro-que-pode-virar-a-maior-reserva-marinha-do-atlantico.ghtml; https://www20.opovo.com.br/especiais/trindade/caranguejos-amarelos.html; http://www.museunacional.ufrj.br/obrasraras/o/arq-mn_22/arq-mn_22-105-169.pdf; http://funag.gov.br/loja/download/1141_ilha_da_trindade.pdf.

sexta-feira, 29 de março de 2019

MAR DE PESCADOR

 
Foto Fernando Alexandre
"Quem vai para o mar, aparelha-se em terra" 
(Dito popular praieiro) 

MAR DE MESTRES


Música de Dorival Caymmi, história de pescadores com filmagens de "it's all true" do cineasta Orson Welles em Fortaleza, Ceará - Brasil. Rogério Sganzerla conta melhor toda história no seu filme "Nem tudo é verdade"!

quarta-feira, 27 de março de 2019

NA PRAIA...

Resultado de imagem para cARROS DE BANHO
Carros de banho em 1897, Santos!
  Era antiestético e vulgar se bronzear e mostrar o corpo na praia!

MANEMÓRIAS

Lagoa do Peri - 1920

CASA DE BARCO


MAR DE PESCADOR

Problema estaria na listagem da Colônia de Armação e da associação de Pescadores Artesanais de Penha (Apepe)

Pescadores artesanais denunciam fraude na lista de indenização do porto

O ministério Público Federal recebeu hoje a denúncia de que na lista de pescadores artesanais de Penha, que vão receber indenização do porto de Itajaí, tem gente que nunca foi pro mar.

A denúncia foi feita por três pescadores artesanais da cidade.

Eles dizem que a lista é fajuta e tem até cabeleireira. Também reclamam que tem muitas mulheres na lista e só quem pesca são homens.

A denúncia é contra a Colônia de Pescadores Z-5, de Armação, e contra a associação de Pescadores Artesanais de Penha (Apape).

A advogada das duas entidades confirma que a lista tem problemas e diz que já apresentou petição ao juiz fazendo o alerta.

Ainda segundo a advogada das duas entidades, a lista foi uma relação prévia dos possíveis artesanais prejudicados pela dragagem do porto de Itajaí, entre 2010 e 2011, mas que para receber os R$ 5 mil da indenização os pescadores ainda terão que comprovar que integram a atividade.

Quanto à presença das mulheres, a advogada explica que as esposas de pescadores que atuam na atividade de descasque de camarão também são consideradas artesanais pela legislação, tendo inclusive direito ao defesa e à aposentadoria. Para a advogada, há muito machismo entre os pescadores.

A ILHA, SÉCULO PASSADO

Parte 3 do documentário Volta à ilha em 16mm produzido por Luiz Tasso Neto e cedido pela TV UFSC resgata imagens de Florianópolis entre 1938 e 1943.

terça-feira, 26 de março de 2019

A ILHA, SÉCULO PASSADO!


Parte 2 do documentário Volta à ilha em 16mm produzido por Luiz Tasso Neto e cedido pela TV UFSC resgata imagens de Florianópolis entre 1938 e 1943. 




MAREGRAFIAS

Foto Fernando Alexandre

MAR DE PESCADOR

Pescadores são vítimas de fraude no recebimento do Seguro Defeso

Quando tentam sacar o dinheiro, eles descobrem que a retirada já foi feita

Em 30 anos de trabalho como pescador, Manuel de Jesus Ferreira Bailão, 44 anos, nunca havia vivido uma situação como aquela. No dia 10 de outubro de 2017, ao chegar a uma agência da Caixa Econômica Federal (CEF), no município de Abaetetuba, para receber o valor referente ao seu Seguro Desemprego do Pescador Artesanal (SDPA), conhecido como seguro Defeso, descobriu que o dinheiro já havia sido sacado por outra pessoa. "Naquela noite eu não consegui dormir. Eu sentia um calor dentro da minha cabeça. Senti um desespero completo", recorda.

Moradores da ilha Sirituba, em Abaetetuba, Manuel e Maria Lindalva Ferreira Bailão, 38 anos, sua esposa e também pescadora, foram alvos de um tipo de fraude que vitimou pescadores artesanais no Estado do Pará nos últimos anos. Somente na região do Baixo Tocantins foram registradas, entre 2017 e 2018, mais de duas mil ações na Justiça Federal que relatam a mesma ocorrência: o saque indevido do seguro Defeso. Em todo o Pará, também nos últimos dois anos, 205 mil seguros foram liberados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Maria Lindalva, ao ser informada que seu seguro havia sido retirado por outra pessoa, registrou imediatamente um Boletim de Ocorrência (B.O), na delegacia, contra a Caixa Econômica. Descobriu pelo banco, depois, que o saque foi feito em Belém. Naquele dia, começou a saga em busca de seus direitos, que ainda não teve fim.

O mesmo ocorreu com famílias de pescadores de Cametá, Igarapé-Miri, Limoeiro do Ajuru, Moju e demais municípios da região. Em Abaetetuba, dos 9.400 trabalhadores segurados, 52 entraram com ações na Justiça, com auxílio da assessoria jurídica da Colônia de Pescadores Z-14, do município. Todos os casos trazem em um comum o fato de que o lugar onde o dinheiro foi retirado indevidamente está localizado em outras cidades e, muitas vezes, em Estados que as vítimas nunca visitaram, como Ceará, São Paulo e Distrito Federal.

Cláudio Lobato, presidente da Colônia desde o dia 16 de janeiro de 2017, afirma que, segundo relatos, a irregularidade nunca tinha acontecido a nenhum pescador das 72 ilhas que fazem parte de Abaetetuba. De acordo com ele, o que mais preocupa aos trabalhadores quando os golpes ocorrem é o modo como irão assegurar sua subsistência e o pagamento de dívidas feitas durante o período de quatro meses da Piracema, quando ocorre a reprodução dos peixes e os profissionais são impedidos de pescar. No caso de Abaetetuba, a espécie encontrada em maior abundância é o Mapará, pescado que é preservado durante o período de 1 de novembro a 28 de fevereiro.

"As pessoas sofrem um abalo psicológico muito grande quando descobrem que foram lesadas. Algumas delas levam quatro horas para vir das ilhas, do interior de Abaetetuba, para a cidade, somente para receber o seguro-Defeso e, na vinda, acumulam mais dívidas do que já tinham. Depois, quando chegam, descobrem que não existe mais o dinheiro e ficam esperando o tempo de um julgamento judicial, que demora. Essas pessoas acabam passando necessidade", assegura Cláudio Lobato, que nasceu na ilha de Tabatinga, também em Abaetetuba.

Mesmo sem acesso ao seguro de que tinham direito, os pescadores lesados continuam impedidos de trabalhar em outro ofício, pois, caso façam isso, é "descaracterizada a qualidade de assegurado especial", diz o presidente da Colônia. "Se a pessoa trabalhar como uma merendeira, por exemplo, por não ter recebido o seguro, ela já perde todo o seu direito, já que a lei é para todos. Mesmo se a pessoa vender só um perfume, o sistema de controle da Previdência pode identificar e ela perde o direito", reitera.

Os advogados Stephanie Galvão e Gabriel Almeida, que acompanham os casos da Colônia Z-14 como assessores jurídicos, consideram que, além de dificultarem o sustento das famílias durante a época da Piracema, os roubos de seguros Defeso também comprometem a manutenção dos instrumentos de trabalho do pescador. "A Justiça, muitas vezes, age de forma incorreta por não conhecer a realidade dessas pessoas, por não entenderem que eles precisam desse dinheiro para seguirem trabalhando. Por vezes, as autoridades colocam dificuldades, como a exigência de comprovante de residência, quando, na documentação do pescador consta, na verdade, apenas o endereço da sede da Colônia", exemplifica Almeida.

Em sua casa, na ilha Sirituba, no igarapé Limão, Manuel de Jesus mostra a rede já velha e desgastada, que seria trocada por uma nova se tivesse recebido o dinheiro. "Essa aqui já não presta, está toda esburacada, mas o jeito é costurar e reaproveitar. Só o pano para uma nova custa R$ 200. Outra coisa que eu faria são os reparos da embarcação para o tempo da alta da pesca. Além, é claro, de pagar a Colônia e os gastos da casa", enumera o pescador.

Com a falta do dinheiro, as compras de gasolina para o motor do barco e de botijão de gás de cozinha para o preparo dos alimentos também foram impossibilitadas. Como alternativa para a navegação, Manuel usou a criatividade e construiu uma vela feita com uma lona de plástico usada originalmente para cobrir colchão, por isso traz impressa a marca Onix. E para substituir o fogão a gás, a solução foi utilizar lenha.

"É assim que fazemos a nossa comida", relata, enquanto mostra o cômodo da casa onde fica o forno. "Se não tem o seguro, não tem como comprar gás, ainda mais no preço em que está", completa Manuel. Lindalva, responsável pela cozinha, diz que alguns alimentos faltam, mas que o camarão e o peixe, desde que a pesca voltou a ser permitida, depois do dia 28 de fevereiro, garante a alimentação dela, do marido, e dos filhos; Marilene Ferreira Bailão, de 13 anos, e Maelson Ferreira Bailão, de 11 anos.

"Sistema falho"

No mês passado, o presidente da Colônia Z-14 participou de uma reunião com a equipe técnica da Caixa Econômica Federal, com o objetivo de receber esclarecimentos sobre os saques indevidos. O resultado, no entanto, segundo Cláudio Lobato, não foi o esperado. "O representante saiu irritado da reunião, sem dar respostas. Ele se sentiu ofendido quando foi dito que a Caixa Econômica é a principal responsável quando o pescador tem o seu seguro Defeso recebido por outra pessoa. Eu digo isso porque não consigo entender a razão do dinheiro ser sacado por outra pessoa se o pescador tem os seus documentos analisados. Como é que outra pessoa consegue sacar? Creio eu que o sistema de pagamento da Caixa é muito falho, infelizmente", questiona Lobato.

Além dos pagamentos indevidos, os pescadores de Abaetetuba também já tiveram problemas com o pagamento do seguro Defeso neste ano, desde que o Governo Federal colocou em prática um novo modelo de processamento de requerimentos; o processamento automático. "Fomos convidados para uma reunião no dia 25 de novembro de 2018, onde fomos informados pelo INSS que o sistema passaria de digital para automático. No digital você enviava os documentos, que iam para os servidores do INSS, que indeferiam ou não indeferiam, dependendo da situação. No automático, como o nome diz, você não precisaria mais enviar para os técnicos", relata o presidente.

A mudança, no entanto, não funcionou. No dia 1º de janeiro, "o sistema rodou com 92% de erros, e não foi só aqui, foi em todo o Estado. Com isso, os pescadores lotaram as colônias querendo explicações. Explicações que nem nós tínhamos. Aconteceu, por exemplo, de um registro que estava ativo na Secretaria de Aquicultura e Pesca, aparecer como inativo", prossegue o representante dos pescadores.

As falhas da nova forma foram reconhecidas pelo Governo e, após o lançamento da nova rodada de lançamentos, que iniciou na última quarta-feira, 20, e vai até o dia 30 deste mês, o modelo anterior retornará. É o que foi assegurado a Cláudio Lobato na última segunda-feira, 18, em Brasília, em reunião realizada com representantes do INSS. "Um dos criadores do sistema automático me disse que (o sistema) foi 'um tapa na cara'. Nos pediu desculpas e reconheceu todos os erros", relata.

No mês de junho deste ano, um novo recadastramento será realizado com os pescadores de todo o país. A operação será realizada pela Controladoria Geral da União (CGU), pela Polícia Federal e pela Marinha do Brasil. O presidente da Colônia elogia a iniciativa. "Para nós, o interessante é que todos os erros sejam solucionados e, caso existam pessoas que não são pescadores e estão recebendo como tal, que isso seja descoberto. Digo, desde que assumi, que nosso compromisso é com os pescadores de verdade", conclui.

Em nota enviada a O LIBERAL, o Ministério da Economia afirma que o INSS iniciou, em 10 de dezembro passado, o processamento automático do 573.000 requerimentos do Seguro Desemprego do Pescador Artesanal (SDPA), na primeira fase, em todo o país. O orgão diz ainda que o "processamento resultou em 70 mil requerimentos em exigência (pendências decorrentes do batimento das várias bases de dados governamentais)". Neste caso, o pescador deve ser notificado por sua entidade representativa que tenha Acordo de Cooperação com o INSS." As tarefas serão tratadas à medida do cumprimento das exigências, permitindo a liberação das parcelas, inclusive as atrasadas, se houver. O pagamento será feito conforme cronograma divulgado pela Caixa, de acordo com o final dos números do PIS/NIS do pescador", assegura o comunicado.

"Cabe esclarecer que essa é uma nova sistemática para as rotinas do INSS. Assim, é natural que haja o contínuo aprimoramento do batimento de dados, assim como a atualização de bases governamentais, a fim de assegurar a concessão do benefício de forma segura e eficiente. Vale destacar que, nesta nova sistemática, não houve a necessidade do pescador se deslocar até uma Agência do INSS para requerer o benefício, desde que tenha recebido o SDPA em 2017 e cujos cadastros estejam regulares em 2018", afirma a nota. O Ministério da Economia diz que não tem informações sobre golpes ou fraudes.

A Caixa Econômica encaminhou nota afirmando que "atua constantemente na prevenção de eventuais fraudes e realiza monitoramento online das operações que envolvem o pagamento de benefícios". Segundo o banco público, seu objetivo é evitar eventuais pagamentos indevidos e enfatiza que o cartão e senha cidadão são pessoais e intransferíveis, não devendo ser fornecidos para outra pessoa.

"Como medida de segurança, a CAIXA também orienta que os clientes não peçam ajuda para pessoas desconhecidas que estejam no setor de autoatendimento das agências, devendo ser atendidos apenas por empregados ou prestadores de serviço do banco, devidamente identificados com crachá", finaliza a nota.

Santarém

Em Santarém, no oeste do Pará, pelo menos 33 pescadores associados à Colônia de Pescadores Z-20, também apresentaram problemas para sacar parcelas do seguro Defeso em fevereiro deste ano. De acordo com matéria publicada pelo portal G1, os representantes da Z-20 acreditam que os associados estejam sendo vítimas de uma quadrilha que está realizando os saques no estado de Pernambuco.

“Essa fraude não está acontecendo só em Santarém, mas em todo o Pará. Todos os saques que nós identificamos foram feitos de Pernambuco. Ainda não temos como comprovar, mas imaginamos que essas pessoas estejam solicitando a segunda via dos cartões cidadão”, explica o diretor do patrimônio e finanças da Z-20, Jucivaldo dos Santos, em entrevista concedido ao portal.

(Do https://www.oliberal.com/)

sábado, 23 de março de 2019

NAQUELE TEMPO...


Tia Ilda - como todos nós chamamos aqui no Pântano do Sul - uma das últimas benzedeiras da ilha,  conta causos para a TV Câmara no Escuta Aqui Ó! Direção: Ricardo Vom Busse.

MAR DE POETA

Vento sul
Leva os sonhos de verão!
A hora de plantar
As sementes de inverno

(Do Hiero Hieronymus Parth)

ANUVIADO

Foto Fernando Alexandre
Pântano do Sul

MAR DE PESCADOR


Conheça uma modalidade de pesca sustentável. O Cerco fixo flutuante foi trazido ao Brasil por japoneses há mais de 100 anos, no Pântano do Sul!.

A VERDADEIRA HISHTÓRIA DA ILHA


LÁ NO FUNDO...


Barco encontrado no fundo do rio Nilo combina com descrição milenar feita por Heródoto


Heródoto foi um dos mais famosos historiadores gregos. Em um de seus livros, conhecido simplesmente como Histórias de Heródoto, o primeiro livro em forma de narrativa que se tem notícia, publicado por volta de 450 aC, o historiador, que estava escrevendo sobre sua viagem ao Egito, descreve um tipo de barco de carga viajando pelo Nilo, chamado baris. Segundo seu relato, a embarcação era construída com alvenaria, forrada de papiro e possuía um leme que passava por um buraco na quilha.

Esse sistema de direção havia sido visto em representações e modelos durante o período faraônico do Egito, mas não havia nenhuma evidência arqueológica de sua existência. Até agora. Um navio naufragado com estas características foi encontrado no fundo do rio Nilo. A embarcação pode ter ficado imperturbada por mais de 2.500 anos, mas agora está finalmente revelando seus segredos – os cientistas acreditam que o achado mostra detalhes da estrutura descrita por Heródoto, cuja existência tem sido debatida há séculos.

A embarcação, chamada de Navio 17, foi encontrado na cidade portuária de Thonis-Heracleion, agora submersa, perto da Boca Canópica do Nilo, datada do Período Tardio, entre 664 e 332 aC. Neste local, os pesquisadores já exploram mais de 70 naufrágios, descobrindo inúmeros artefatos que revelam detalhes impressionantes sobre o antigo centro comercial e sua cultura.
Semelhanças
A parte acima mostra os restos do navio observados pelos arqueólogos, enquanto a parte de baixo é uma projeção do restante da embarcação. Foto: 
Christoph Gerigk/Franck Goddio/Hilti Foundation

Embora esteja na água há pelo menos 2.000 anos, ele está incrivelmente preservado – os arqueólogos foram capazes de observar 70% do casco. As observações mostram que o barco exibe vários elementos descritos por Heródoto em sua visita ao Egito. “Foi só quando descobrimos esse naufrágio que percebemos que Heródoto estava certo”, diz em entrevista ao jornal The Guardian o arqueólogo Damian Robinson, do Centro de Arqueologia Marítima de Oxford.

Um artigo de 2013 já falava sobre as possíveis coincidências da embarcação encontrada no fundo do rio com aquela descrita pelo historiador grego. “As articulações das tábuas do Navio 17 são escalonadas de uma forma que lhe dá a aparência de uma ‘camada de tijolos’, como descrito por Heródoto. As tábuas do Navio 17 são montadas transversalmente por espigões (pedaços de madeira usados para conectar partes) notavelmente longos que podem chegar a 1,99m de comprimento e que passam por até 11 estacas. Essas estacas correspondem às ‘estacas longas e próximas’ da narrativa de Heródoto. Heródoto também menciona a quilha do baris e o Navio 17 tem uma quilha que é duas vezes mais espessa que a tábua e se projeta de dentro do casco”, escreveu o arqueólogo Alexander Belov, do Centro de Estudos Egiptológicos da Academia Russa de Ciências.

Em 450 aC, Heródoto testemunhou a construção de um baris. Ele observou como os construtores “cortavam tábuas de dois côvados de comprimento [cerca de 100 cm] e as organizavam como tijolos. Nos fortes e longos espigões [pedaços de madeira] eles inserem as tábuas de dois côvados. Há um leme passando por um buraco na quilha. O mastro é de acácia e as velas de papiro”, descreveu o historiador.

Descoberta histórica

Nem tudo é exatamente como descrito pelo historiador, porém. Existem algumas inconsistências. A embarcação que Heródoto descreve teria estacas mais curtas, que agiam como “nervuras” que seguravam as tábuas de acácia do casco. Além disso, os baris de Heródoto não tinham armações de reforço, enquanto o Navio 17 possui várias.

Estas diferenças podem ser explicadas se o Navio 17, com cerca de 27 metros de comprimento, for maior que os baris que Heródoto viu em sua viagem ao Egito.

Mesmo com estas pequenas incongruências, porém, os arqueólogos estão extremamente satisfeitos de ter encontrado uma embarcação que se encaixa quase perfeitamente na descrição milenar do historiador grego. “Heródoto descreve os barcos como tendo longas “costelas” internas. Ninguém realmente sabia o que isso significava. Essa estrutura nunca foi vista arqueologicamente antes. Então descobrimos essa forma de construção neste barco em particular e é exatamente como Heródoto disse”, Robinson diz ao The Guardian. 

(Via https://hypescience.com/)

quinta-feira, 21 de março de 2019

NA PRAIA...

 Scott Fitzgerald na praia com Zelda.

MAREGRAFIAS

Foto Fernando Alexandre

JACK O MARUJO


- O sr pensa muita bobagem, capitão?
-Muita. Só assim consigo dizer coisa que preste. Quem fica matutando demais só fala asneira, disse Jack o Marujo.

DE ILHAS, BENZEDURAS E SUTURAS...


Foto Andrea Ramos

“Deus te criou, eu que te benzo e deus te cura”.
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Benzedura
"- Mas você não é médico, porque quer benzer? 
- Tem mal que médico não cura." 

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"Fui visitar uma benzedeira na casa dela no sul da ilha de Florianópolis. Mais de 100 anos de vida, conta-me que aprendeu a rezar com a mãe, mas não porque queria, porque ela quando jovem não queria benzer, queria mesmo é dançar. Dançava muito.

Um dia desses quando moça foi para Cachoeira e estava descansando quando uma mulher veio pedir para ela benzer um menino. Ela disse que não, que não benzia. A mulher disse: "deixa disso que eu sei que tu benze, tua mãe benze". Ela meio que sem graça disse que ia benzer, e assim fez sua primeira benzedura para mal olhado, mas logo avisou "não conta pra ninguém". O menino pegou jeito e logo já estava em todas as bocas. A mãe dela faleceu e ela que só sabe cinco rezas, a de cobreiro, zirpa, calor de figo, empiche e mal olhado. Cobreiro tem que benzer nove vezes e cruzar os pauzinho, adverte e reza. “Sabe o que é calor de figo? É quando desce uma aguaceira pelas canela, assim ó” – e gesticula com as mãos a água descendo das canelas. “Eu não sei benze fungado, mas tô benzendo e tá curando”. No “não conta para ninguém” a fama se espalhou de dançarina para benzedeira, rendeira, mas não parteira, nem macumbeira que ela avisa. O que eu não sei rezar minha mãe ajuda, ela que sabia todas as orações, já rezei até para espinha de peixe. 

- E esse machucado na testa? – pergunto vendo o curativo grande na testa. 

- Ah isso aqui eu cai e machuquei o joelho – ela levanta a calça com o joelho infeccionado e os pontos de sutura muito avermelhados. 

- E não tá doendo? -.

- Não dói não. – eu examino com calor local, secreção. Ela me diz:

- O médico foi tão bonzinho que costurou, eu tava toda cheia de sangue ele não me deixou esperando, disse para eu voltar na sexta-feira para tirar os pontos, mas na última sexta-feira eu não fui, quero tirar só com ele -. 

- Mas era importante tirar os pontos – comento mansamente.

- Mas ele disse que vai resolver o problema da minha pele – ela diz e aponta para o rosto - vou tirar os pontos só com ele -. Penso um pouco. 

- Eu acho que está infeccionado - ela logo me diz – mas eu já benzi, benzedura forte com zirpa, até vi uma rosa branca no meu quarto no final da tarde. 

- Certo, quem sabe vamos fazer assim, eu tiramos aqui os pontos do joelho e na sexta-feira você tira os pontos da testa – que estavam limpos e cicatrizando. 

- Bem que tô sentindo umas ferroada, não consigo dobrar o joelho assim ó – e ela tenta dobrar o joelho, e segue - Vai doer? – . 

- Menos que ter um filho – respondo, ela solta uma risada larga – se é menos que ter um filho eu aguento, tive oito -. 

- Tá combinado? Acho que vamos ter que tomar um remédio por uns dias – explico e olho nos olhos de benzedura. 

- Amanhã de manhã eu vou lá – e ela segue me contando e rindo das histórias de benzedeira.

Um dia ela estava passeando e uma comadre pediu para ela benzer a criança, “eu sei que hoje é domingo mas dá última vez que você benzeu minha filha deu tão certo”. “Domingo eu não benzo, tem muita missa” mas ela disse que “ia benzer escondidinho, por causa da distância”, logo alguém espalhou que ela estava benzendo e teve que benzer uma “porção de menino”. Até as benzeduras que ela não conhece ela já benzeu, “não sei benzer coluna, mas estou benzendo e está curando”. Mas se for mal de carne quebrada encaminho para o Seu Patrício – quase uma rede de benzeduras de plantão. “Vem aqui, benze aqui” e assim foi. 

Ela também me adverte que não come peixe, mesmo vivendo na vila de pescadores. Só come frango e dá risada, mas distribui os peixes que ganha de presente quando reza para a pesca e o barco vem cheio. Já benzeu um padre, a Xuxa e o repórter que foi lá no último final de semana e ela estava muito preocupada que apareceu na televisão benzendo com o curativo na testa. "

(Florianópolis 30/05/2017)

* Mayara Floss é catarinense e acadêmica do curso de medicina na Universidade Federal do Rio Grande. Escreve semanalmente para o blog "Rua Balsa das 10" (www.balsa10.blogspot.com ) e também para o blog "Causos Clínicos" (www.causosclinicos.wordpress.com ). Recentemente lançou junto com o coletivo do Rua Balsa das 10 o livro "Estórias da Rua que foi Balsa" que mistura, educação popular, resistência, cuidado e escrita.

Benzedura
- Mas você não é médico, porque quer benzer? 
- Tem mal que médico não cura. 

Viveu bem?
- Não, quando consegui o salário da invalidez, já estava muito velha para ir passear.