Fotos: Leo Munhoz
Artesã de Florianópolis é reconhecida internacionalmente com projeto de reciclagem de rede de pesca
Recentemente, na Bienal de Design em Madrid, o projeto Águas Limpas, desenvolvido pela artesã, recebeu uma menção honrosa
Por Janaina Laurindo
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) aproximadamente 10% do lixo marítimo é proveniente da pesca — algo equivalente a 640 mil toneladas de resíduos. Atenta às questões ambientais, a artesã e designer Nara Guichon, moradora de Florianópolis, há mais de 20 anos trabalha com a reutilização das redes de pesca industriais na confecção de utilitários, acessórios e tapeçaria.
— Como sou ambientalista e naturalista, desde a adolescência sempre tive essa ânsia de criar produtos que são “amigos” do meio ambiente, uma forma de dar o descarte correto para o que seria depositado na natureza — conta Nara, que é natural do Rio Grande do Sul.
A artesã calcula que, por ano, reutiliza cerca de uma tonelada de redes de poliamida, material que ela compra de pescadores locais, mas a maior parte adquire em Itajaí com as grandes empresas de pesca. Ainda não existe um estudo conclusivo para apontar o tempo de decomposição deste material no mar, mas supõe-se que cerca de 6 mil anos.
— O que eu consigo reciclar, em números, é quase nada, mas esse trabalho já despertou a atenção de outras pessoas e muitas já estão reaproveitando rede de pesca (…) O importante é dar o recado.
Recentemente, na Bienal de Design em Madrid, o projeto Águas Limpas, desenvolvido pela artesã, recebeu uma menção honrosa. Desde 2014, Nara produz esponjas de limpeza com as redes de pesca. O projeto surgiu quando ela identificou que ainda tinha rejeito do material que utilizava na confecção de tapetes, bolsas, mantas e acessórios. Foi então que criou um modelo de esponja que é produzido com os pedaços menores das redes.
— Ainda assim existe um descarte, infelizmente, porque as redes vêm às vezes muito furada, com pontos mais desgastados. Tenho esse resíduo que ainda não inventamos o que fazer — aponta a designer.
As esponjas que servem para limpeza pesada e também de louça e alimentos têm durabilidade muito maior que as esponjas convencionais, que duram em média 15 dias e depois acabam parando em aterros sanitários. A confecção das esponjas também é fonte de renda para mulheres da comunidade do Frei Damião, em Palhoça, uma das mais carentes da região da Grande Florianópolis.
Foto Cristiano Estrela
— Eu desenvolvi o produto, mas hoje a produção mensal é feita pelo grupo Mulheres do Frei. Penso em toda uma cadeia de produção, que valoriza os produtos e a mão de obra local — finaliza.
As esponjas são comercializadas por uma empresa de São Paulo que fabrica uma linha de produtos de limpeza consciente, naturais e biodegradáveis e que se baseia nos princípios da economia circular, bem como o apoio à agricultura familiar.
Confira a entrevista com Nara Guichon
Serviço
Ateliê Nara Guichon
Rodovia Rozália Paulina Ferreira, 4343, Costa de Dentro
Pântano do Sul – Florianópolis – Santa Catarina – Brasil
(PorJanaina LaurindoRepórter Jornalista e especialista em mídias digitais. Tem atuação multimídia nos veículos da NSC Comunicação há 7 anos.)
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