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Em sua migração anual, o atum-rabilho Thunnus thynnusdesce da Sardenha no início de abril para lançar seus ovos nas águas quentes do Golfo de Santa Eufemia, na costa da Calábria, seguindo depois para o oeste em direção à Sicília. O atum-rabilho, ou tonno rosso, é valorizado entre os conhecedores. Sua carne é firme, carnosa e intensamente vermelha. A musculatura mais gorda do ventre, ouventresca, é particularmente procurada e alcança valores expressivos. Atualmente os pescadores calabreses procuram o peixe com sonares e outros equipamentos sofisticados. Mas até 1960, eles capturavam estes grandes peixes com um antigo e elaborado sistema de redes conhecido como La Tonnara. De acordo com os registros históricos, os árabes introduziram La Tonnara na Sicília em 1.000 d.C. O método se espalhou para a Calábria, e durante séculos representou trabalho para os pescadores da Calábria e Sicília.
La Tonnara consistia de uma série complexa de longas redes estendidas perpendiculares à costa. O atum se aproximava das redes e instintivamente virava, passando a seguir as redes na direção do corpo da armadilha, chamado la isola. A porção principal da armadilha formava um retângulo composto por uma série de camere, ou câmaras, cada uma separada por portas. Os atuns iam nadando através das câmaras, até chegar na câmara final,la camera della morte, a câmara da morte. Apenas a última câmara tem um fundo formado de rede. Num dia calmo, sem vento, os pescadores estendiam suas redes e esperavam. La tonnara se estendia por milhas, com inúmeros barcos esperando e monitorando, cada barco tendo uma tarefa específica. O último barco, ou o barco capitão, era responsável por içar a câmara da morte. Quando ela estivesse cheia, o capitão levantava uma bandeira alertando os demais pescadores. Todos vinham observar a luta entre os homens e os peixes. Antes de matar os peixes com arpão, os pescadores entoavam um canto lúgubre pedindo perdão ao atum pelo que iria acontecer.
Os pescadores que ficavam no barco da matança encaravam um perigo considerável, pois estes enormes atuns, pesando até 225 kg, são lutadores ferozes, e ocasionalmente, os pescadores perdiam uma mão ou perna. Os sinos das igrejas anunciavam o sucesso da pescaria, e os maiores peixes eram dados ao padre. Em um bom ano, a cena se repetia várias vezes entre abril e julho. Em outubro, os atuns retornavam para a Sardenha. Na metade do século XX, os japoneses – grandes fãs dos atuns – chegaram com seus barcos e equipamentos modernos, e capturavam os atuns antes deles chegaram àtonnara. Para competir, os pescadores da Calábria deixaram de lado este ritual ancião e se voltaram para a tecnologia moderna. Pizzo viu sua última tonnara em 1963.
Adaptado do belo livro “My Calabria”, de Rosetta Constantino.
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