sábado, 27 de janeiro de 2018

NA COSTA DE DENTRO

Água do bairro é captada e tratada pelos moradores - Daniel Queiroz/ND

Projeto vai diagnosticar o saneamento básico da Costa de Dentro, em Florianópolis

Sem rede coletora de esgoto, a localidade foi contemplada com o projeto Escola de Verão, da Acesa 

MICHAEL GONÇALVES, FLORIANÓPOLIS 

Pequena no tamanho, mas grande na consciência do desenvolvimento sustentável. Essa é a comunidade da Costa de Dentro, no Extremo Sul da Ilha de Santa Catarina, onde 184 famílias fazem a gestão da água captada no lençol freático. Sem rede coletora e muito menos uma ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), a localidade foi contemplada com o projeto Escola de Verão, da Acesa (Associação Catarinense dos Engenheiros Sanitaristas e Ambientais), que tem o objetivo de diagnosticar o saneamento básico e desenvolver ações sustentáveis.

O funcionário público aposentado Eugênio Luiz Gonçalves, 58 anos, um dos integrantes do Coden (Conselho Comunitário da Costa de Dentro), pretende despertar a consciência ecológica entre os moradores. “Temos uma água de qualidade e queremos alternativas para que o nosso sistema sanitário não polua o lençol freático e nem a praia. O Coden faz a gestão da água com a desinfecção com cloro e cobra mensalmente R$ 30 por 15 m³. Em função disso, o Coden tem R$ 94 mil em caixa”, comentou.

A presidente da Acesa, engenheira sanitarista Thaianna Cardoso, informou que a maioria das 500 casas na comunidade tem tanque séptico e/ou sumidouro. O problema é que o lençol freático na região é “alto” e poderá ser contaminado. Em função disso, oito alunos universitários e dois professores (da Udesc, UFSC e UFCG – Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba) estão conhecendo a região e desenvolvendo soluções.

Thaianna informou que a comunidade escolheu quatro temas que serão desenvolvidos em conjunto. “A Escola de Verão contribui para a formação acadêmica com oficinas práticas por meio do mapeamento e do diagnóstico da situação do saneamento básico da Costa de Dentro. Com a produção do relatório queremos despertar a consciência dos moradores e encaminhar sugestões de melhorias ao poder público”, disse. O projeto começou no dia 17 e segue até a próxima terça-feira (30) na Escola Desdobrada da Costa de Dentro.

Estudantes aproveitam para colocar em prática a teoria

O estudante Rodrigo Porto Santos, 21 anos, do curso de engenharia sanitária da Udesc de Ibirama, também está ampliando os conhecimentos nas oficinas e aulas práticas. O aluno da 8ª fase contou integrantes do projeto também coletaram lixo sólido na praia. “Já tinha estudado sobre compostagem, mas o tema ainda não estava claro na minha cabeça. A didática utilizada por um professor, que demonstrou as camadas de uma composteira, facilitou o aprendizado”, informou.

Os alunos estão abrigados na unidade escolar e recebem a alimentação do Coden. Normalmente, eles têm atividades nos três turnos e a comunidade também participa dos eventos noturnos. A estudante Mônica Fernandes, 25, explicou que o objetivo é proporcionar economia à comunidade. “Com a compostagem dos resíduos orgânicos, os moradores poderão aproveitar o produto final em pequenas hortas e, assim, evitam a poluição e a destruição da natureza”, disse.

O projeto escola de verão é realizado por integrantes da Associação Catarinense dos Engenheiros Sanitaristas e Ambientais - Daniel Queiroz/ND

Prefeitura reconhece possibilidade de implantação de sistemas sanitários alternativos

Para o superintendente de Saneamento e Habitação de Florianópolis, engenheiro Lucas Arruda, legalmente apenas a Casan pode explorar o sistema de abastecimento de água no município. Tecnicamente, o engenheiro lembrou que é viável a gestão do fornecimento, mas alguns cuidados devem ser observados. “Mais de 100 pequenas comunidades fazem a gestão da água em Florianópolis. A maior delas é Jurerê Internacional. Existe uma comissão na prefeitura que estuda essa situação pela preocupação com a qualidade da água, além de critérios administrativos e de protocolo”, afirmou.

Em relação às ações de saneamento básico, Arruda acredita que é viável a implantação de sistemas sanitários alternativos. “A Costa de Dentro é uma comunidade com pequena densidade demográfica em uma grande área e uma rede de coleta não compensaria o investimento. Assim, estamos desenvolvendo ações para um sistema alternativo com filtros, banheiros secos, além de outras propostas. Hoje, a prefeitura reconhece que sistemas sanitários alternativos podem ser bem aplicados, desde que a sua viabilidade seja comprovada tecnicamente”, ressaltou.

Os temas escolhidos pela comunidade

- Levantamento das nascentes, indo aos locais após a identificação pelo geoprocessamento
- Elaboração de um termo de referência para o saneamento descentralizado, que também é conhecido como ecológico, porque atua com filtros de raízes, de areia ou círculos de bananeiras
- Módulo de compostagem comunitária, no estilo da revolução dos baldinhos
- Mapeamento dos problemas de drenagens.

(Do https://ndonline.com.br/)


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