Obra conta com centenas de fotos da biodiversidade marinha - Reprodução MAArE/ND
Livro feito a partir de projeto mostra a rica vida marinha na reserva do Arvoredo
O trabalho resultou num volume de 270 páginas com acabamento de luxo e capa dura, distribuição dirigida e possibilidade de consulta pelo site do projeto
por PAULO CLÓVIS SCHMITZ, FLORIANÓPOLIS (SC)
O livro é belíssimo, com centenas de imagens de moreias, lagostas, mexilhões, caranguejos, polvos, mariscos, camarões, estrelas-do-mar, raias-borboleta, vieiras, crustáceos, corais, algas, ouriços-do-mar, caramujos, anêmonas, pinguins, tartarugas – e peixes, muitos peixes. Após três anos de pesquisas, cerca de 130 expedições e o envolvimento de 170 pessoas de diferentes áreas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), foi concluído no segundo semestre de 2017 o projeto Monitoramento Ambiental da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo e Entorno, que responde pela sigla de MAArE. O trabalho resultou num volume de 270 páginas com acabamento de luxo e capa dura, distribuição dirigida e possibilidade de consulta pelo site do projeto (www.maare.ufsc.br), além de uma exposição itinerante com parte das imagens da obra.
Embora as fotografias sejam o forte do volume, do ponto de vista estético, há textos bastante esclarecedores que tratam das características da reserva, do processo de ocupação humana da região e do entorno, do ambiente oceanográfico (as peculiaridades da área coberta), da biodiversidade marinha das ilhas da Rebio Arvoredo e dos desafios da gestão para a conservação dos ecossistemas abrangidos pela reserva.
Unidade é fundamental para a região
-No primeiro capítulo, o professor João Paulo Krajewski, um dos organizadores do livro, faz um relato apaixonado da experiência com a reserva, que no seu caso teve início em 1997, quando tinha apenas 17 anos. Foram centenas de mergulhos, que começaram no contato surpreendente com os badejos, garoupas e cardumes de sardinha próximo à ilha do Arvoredo. A cada descida ao fundo ele se deparava com diferentes tipos de peixes, outros animais e com a paisagem submarina, repleta de surpresas e revelações. Depois, por conta de seus estudos em ecologia, mergulhou em mares distantes, explorou o fundo do oceano nas ilhas Fiji e na Austrália e, ao retornar a Santa Catarina, notou que algumas espécies haviam perdido espaço e que a transparência da água estava menor.
Mesmo com as transformações antrópicas, a unidade de conservação, criada em 1990, é fundamental para a região. “Sem a reserva, não haveria tanta diversidade de peixes nesta área”, afirma a professora Andrea Freire, uma das coordenadoras do projeto MAArE. “Nas décadas de 1960 e 1970, a região ao norte da Ilha de Santa Catarina tinha muitos cações, meros e tubarões, que desapareceram dali. As mudanças nos peixes, que diminuíram de tamanho, refletem as modificações do litoral, o uso da terra e as atividades turísticas nas baías e próximo aos estuários. Este trabalho pode ajudar os gestores da unidade no acompanhamento de longo prazo, fornecendo dados sobre o ambiente marinho e o impacto das ações humanas”.
Livro foi produzido após três anos de pesquisa - Reprodução MAArE/ND
Área foi impactada pela expansão demográfica
A ocupação humana no litoral catarinense tem cerca de seis mil anos, mas foi no século 20 que se tornou ostensiva, com a exploração dos abundantes recursos naturais, a urbanização e a pressão crescente sobre o meio. A biodiversidade terrestre e marinha foi impactada pela supressão da cobertura vegetal, a ocupação das encostas, os processos erosivos daí decorrentes e a ocupação de margens de rios, restingas, planícies e manguezais – estes, berçários de muitas espécies que os utilizam como local de reprodução e desenvolvimento. A pressão sobre os mangues, por exemplo, é responsável pela redução da incidência de meros na Rebio Arvoredo, porque, se os adultos habitam grandes tocas nos costões rochosos, os juvenis crescem nos manguezais e baixios próximos ao mar. E há ainda as práticas agrícolas, a pesca, a maricultura e o turismo como atividades que afetam os ecossistemas.
“Mostramos nosso trabalho a pescadores e caçadores submarinos, e eles ficaram sensibilizados com as fotos, disseram que não tinham muitas informações e falavam sobre as mangonas do passado”, conta a professora Bárbara Segal, do Departamento de Ecologia e Zoologia do CCD (Centro de Ciências Biológicas) da UFSC e coordenadora do MAArE. “Neste sentido, o projeto tem os papéis de informar as novas gerações e conscientizar as pessoas”, afirma. “Elas precisam saber onde jogar o lixo, evitar o consumo de determinadas espécies no período do defeso, e também pressionar as autoridades por melhorias no saneamento”.
Por meio do projeto MAArE fica-se sabendo que a Rebio Arvoredo divide as águas quentes ao norte e as frias ao sul – a temperatura do mar tem forte interferência na vida marinha. A reserva protege espécies que habitam as águas e costões na região, mas gera recursos para além de suas fronteiras, na medida em que, pelo chamado “efeito de transbordamento”, permite que larvas de inúmeros peixes e invertebrados colonizem as ilhas do entorno – Deserta, Galé, das Aranhas e do Xavier, especialmente.
O projeto MAArE teve o apoio administrativo da Fapeu (Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária) e, além de Bárbara Segal, Andrea Freire e João Paulo Krajewski, contou com a presença dos professores Alberto Lindner e Marcio Soldateli na organização.
Rebio Arvoredo divide as águas quentes ao Norte e as frias ao Sul
-Por meio do projeto MAArE fica-se sabendo que a Rebio Arvoredo divide as águas quentes ao Norte e as frias ao Sul – a temperatura do mar tem forte interferência na vida marinha. A reserva protege espécies que habitam as águas e costões na região, mas gera recursos para além de suas fronteiras, na medida em que, pelo chamado “efeito de transbordamento”, permite que larvas de inúmeros peixes e invertebrados colonizem as ilhas do entorno – Deserta, Galé, das Aranhas e do Xavier, especialmente.
O projeto MAArE teve o apoio administrativo da Fapeu (Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária) e, além de Bárbara Segal, Andrea Freire e João Paulo Krajewski, contou com a presença dos professores Alberto Lindner e Marcio Soldateli na organização.
(Do https://ndonline.com.br/)
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