quinta-feira, 6 de novembro de 2014

BOTANDO MAIS FOGO NESSE INFERNO!

Dia de calor na Lagoa da Conceição, em Florianópolis 
Foto Cristiano Estrela / Agencia RBS

2014 pode ser o ano mais quente da história do planeta
Meses de 2014, à exceção de fevereiro, tiveram as mais altas temperaturas desde 1880, quando começaram os relatórios da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica

por Luísa Martins
luisa.martins@zerohora.com.br

Quem enfrentou o calor senegalês de janeiro, o inverno de araque em julho e um outubro com cara de verão sentiu na pele os sintomas de um planeta mais aquecido. Não foi uma simples sensação: de fato, é grande a possibilidade de 2014 desbancar 2010 e se tornar o ano mais quente da história, tanto em terra como nas superfícies dos oceanos.

A estimativa é da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), agência americana de estudos meteorológicos que computa dados climáticos desde 1880. À exceção de fevereiro, todos os meses do ano até agora bateram recordes como os mais quentes de que se tem notícia.

Com a avaliação de setembro, já são 354 meses consecutivos — quase três décadas — com temperatura média global acima da média do século 20, que é de 13,9°C. A maior colaboração vem dos oceanos: em 2014, operou sobre a Terra o El Niño, fenômeno que provoca um aquecimento anormal das águas, alterando a dinâmica atmosférica e estabelecendo uma tendência a elevar as temperaturas.

— O El Niño movimenta a circulação geral da atmosfera de forma mais lenta, fazendo com que em algumas regiões do globo o índice de umidade diminua, causando mais calor — explica o pesquisador do Instituto de Geografia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Ademir Chiappetti, professor deClimatologia.

Os efeitos do fenômeno climático ainda vão reverberar em 2015 — o que é uma péssima notícia para a região de São Paulo, que deve permanecer sofrendo com a seca, segundo apontou a síntese de um relatório divulgado ontem pela Organização Mundial de Meteorologia.

Não é à toa que anos de El Niño estão entre os mais quentes já registrados. Apenas um dos "top 10" — 2013 — não registrou o fenômeno (veja o gráfico abaixo). A NOAA aponta outro dado interessante nesta lista: o ano de 1998 é o único do século 20, um indicador de que as temperaturas globais aumentaram devido, também, ao aumento de gases estufa na atmosfera durante as últimas décadas.

Planeta não está pronto para as novas médias

Esse aumento é o que preocupa representantes do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). De acordo com o programa da ONU, apesar de o aquecimento da Terra ser um evento natural e cíclico que acontece há muitas eras, sua crescente velocidade não permite que o planeta se adapte às novas temperaturas.

O ideal, segundo o órgão, é limitar o aumento médio da temperatura mundial a 2ºC até 2100 — uma proposta formulada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) frente ao risco de, caso não se diminua o uso de combustíveis fósseis poluentes, esta elevação chegar a 4,8ºC, o que seria "catastrófico".

— Essa meta traria menos consequências negativas para o clima, mas é considerada complicada de atingir, já que exige a redução das emissões de gases de efeito estufa — informou o Pnuma, citando como efeitos negativos o aumento no nível dos mares, a extinção de ecossistemas e os danos à agricultura.

Verão em SC com temperaturas dentro do padrão

Depois de um verão com ondas de calor intensas em Santa Catarina, a previsão para a temporada no Estado é de temperaturas dentro do padrão ou um pouco acima do normal, afirma o meteorologista do Grupo RBS, Leandro Puchalski. Ele acrescenta que a onda de calor é uma característica da estação:

— Não é nada fora do normal, porém de um ano para o outro ano, pode ter uma intensidade um pouco maior — avalia.

Para Marilene de Lima, meteorologista do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia (Ciram) da Epagri, a previsão para os próximos três meses é que as temperaturas aumentem gradativamente, porém ainda não há como prever a intensidade das ondas de calor, porém dificilmente chegará às médias do início de 2014.

— Não dá para descartar a possibilidade, mas foi um evento histórico, porque não tinha acontecido nesta proporção.

Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Florianópolis, por exemplo, não sentia tanto calor no mês de janeiro desde 1926 - ou seja, há 88 anos. A média de temperatura durante as tardes na Capital ficou em 30,9ºC, transformando a temporada de 2014 numa das mais quentes de que se tem registro na região. O calor intenso foi causado por um bloqueio na atmosfera.

Segundo previsão da Epagri/Ciram, a partir de novembro as temperaturas altas ocorrem com maior frequência e por dias consecutivos:

— Apesar da previsão de temperatura mais elevada, massas de ar frio de fraca intensidade ainda ocasionam ligeira diminuição de temperatura, especialmente no período noturno, com formação de geada fraca nas áreas altas do Planalto Sul, na primeira quinzena de novembro — afirma, em nota.

( Da ZERO HORA - www.clicrbs.com.br)

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