Foto: Felipe Carneiro
por Fernanda Volkerling
Ele é um dos frutos do mar que mais abundam no litoral de Santa Catarina, sendo o Estado o maior produtor brasileiro, com mais de mil toneladas extraídas por ano. De sabor marcante e bem pronunciado, dispensa o uso do sal em muitos preparos, além de ser naturalmente picante. Costuma ser vendido a preços inferiores aos dos demais mexilhões. Seu consumo e utilização em restaurantes da região ainda é tímido, se comparado à onipresente ostra, mas tem conquistado cada vez mais espaço nos menus.
O berbigão não é cultivado no Brasil. Tudo que existe dele depende da sua ocorrência na natureza. O que os pescadores fazem é apenas catar o molusco e depurá-lo. Mesmo assim, a produção é farta e atinge toda a faixa litorânea do Estado, com destaque para Florianópolis, Porto Belo, São Francisco do Sul e Palhoça.
Do que se recolhe em Santa Catarina, grande parte é vendida para outros estados brasileiros, principalmente São Paulo, onde o molusco atende pelo nome vôngole e está presente em quase todas as tradicionais cantinas italianas. Por aqui, o berbigão ainda enfrenta resistência nas cozinhas – que o diga a chef Janete Borges.
Há cerca de oito anos, quando trabalhava em um restaurante na Lagoa da Conceição, ela teve um cardápio vetado pelo dono da casa por conter o berbigão como ingrediente principal, sob a alegação de que o pequeno bivalve não estava à altura da clientela.
– O prato era fetuccine de pupunha com berbigão, porque a minha ideia foi fazer um cardápio bem focado nos ingredientes locais. O dono não gostou, falou que era comida de pobre. O prato mais tradicional é o macarrão com berbigão, mas ele também fica muito bom em risotos e no tartar, por exemplo – descreve a chef, que hoje atua no Il Campanario, em Jurerê Internacional.
Quando quer comer berbigão, ela acorda bem cedo e vai até a Praia do Sonho, em Palhoça, mais precisamente na Ponta do Papagaio, onde o oceanógrafo Ivan Taffarel mantém uma das mais prestigiadas fazendas marinhas do Brasil, a Moluskus. Ali é possível encontrar alguns dos melhores mexilhões do litoral, vendidos ainda na casca.
– O que nós fazemos aqui é depurar o berbigão, fornecido por um produtor local com quem eu trabalho há muitos anos e que cata esse molusco. Vendemos uma média de 600 quilos por mês, a maior parte para São Paulo. Aqui na região tem alguns chefs que sempre compram, mas ainda é pouco. Existe uma questão cultural que até vem influenciando no aumento do consumo, mas ainda está no começo – revela Taffarel.
Longe da glória merecida
A história começa com os índios Carijós, que descobriram no berbigão uma fonte regular de alimento que lhes permitiu deixar a condição nômade para se fixarem no litoral. Assim surgiram os sambaquis, regiões onde predomina o acúmulo de cascas de moluscos.
Com a chegada dos açorianos, o berbigão se popularizou entre os habitantes da Ilha. No final do século passado, a pesca disparou no Estado por conta da crescente utilização do produto em São Paulo, a ponto de levar à ameaça de extinção da espécie. A partir daí, passou-se a planejar uma série de ações para preservar o berbigão, entre elas a criação de uma Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé, em Florianópolis, onde a pesca é regulamentada.
Para o presidente da Associação Caminhos do Berbigão, Fabrício Gonçalves, a cultura regional tem se modificado no sentido de valorizar cada vez mais o molusco, mas ele ainda está longe da glória merecida.
– Falta muito para que o berbigão conquiste seu espaço. É necessário o apoio dos interessados e parceiros para chegar lá. Cabe também aos consumidores descobrir a delícia que é um prato bem elaborado de berbigão e exigir dos restaurantes que frequentam, e cabe aos chefs de cozinha divulgar mais este produto tradicional em Santa Catarina – ressalta.
(Do blog http://www.destemperados.com.br/)
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