Foto Marco Santiago/ND
Pescadores observam e apontam os cardumes de tainha no rio Ratones
Tainhas chegam mais cedo e provocam fenômeno raro nas águas dos rios Ratones e Papaquara, na Ilha
Fiscalização do ICMBio monitora cardume gigantesco na área da Reserva de Carijós, em Jurerê, e orienta curiosos e pescadores que se concentram em uma das pontes da SC-402
Edson Rosa FLORIANÓPOLIS |
Volumoso cardume de tainhas, a maioria na fase adulta e já com ova, é monitorado desde quinta-feira por técnicos do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade) na área da Reserva Ecológica de Carijós, Norte da Ilha. A mancha formada pela aglomeração dos peixes fervilha principalmente nos leitos dos rios Ratones e Papaquara, a Oeste da SC-402, ou seja, à esquerda de quem trafega para Jurerê e Daniela, onde é proibido pescar.
Analista ambiental do ICMBio em Carijós, o biólogo Luiz Otávio Rocha, 38 anos, explica que o cardume foi trazido pela combinação de três fatores naturais, na semana passada: a frente fria seguida de vento sul, a maré cheia e a mudança da lua nova para crescente.
“Provavelmente, houve grande agregação de peixes na baía Norte, e as condições climáticas os empurraram para dentro do estuário”, diz Rocha. A porta de entrada foi pela foz dos rios Ratones e Veríssimo, local conhecido pelos pescadores da região como Baixio do Pontal, entre a praia da Daniela e a Barra do Sambaqui.
Rocha explicou que o estuário de Carijós é berçário e criadouro de diversas espécies de peixes (tainhas, paratis, robalos, bagres e corvinas, por exemplo), além de camarões e siris. Segundo o biólogo, é comum a presença de tainhas juvenis ou subadultas naquelas águas. “Mas, em pequenas quantidades e antes da fase de maturação”, completa.
A chegada inesperada de tainhas adultas e ovadas ao estuário de Ratones, na avaliação preliminar do biólogo, pode significar que o maior volume hoje em Carijós é formado por peixes oriundos das primeiras aglomerações na Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, para completar o ciclo migratório da desova em águas mais quentes e salgadas do litoral brasileiro. “Neste período, é comum a espécie sair com as primeiras frentes frias de abril para fazer o corso, ou seja, para mais um período reprodutivo”, confirma.
Fiscalização intensificada na Reserva de Carijós
A preocupação dos técnicos do ICMBio é com a pesca ilegal na área da reserva de Carijós, principalmente depois que se espalhou a notícia do cardume no leito dos rios Papaquara e Ratones. A presença de pescadores amadores é comum nos igarapés e riachos do entorno da reserva (a Leste, ou à direita da SC-402), onde, apesar da presença dos fiscais ambientais, a pesca é permitida.
A pesca amadora também é ilegal nos limites de Carijós. “É crime ambiental, fazemos rondas e quando pegamos alguém pescando na reserva apreendemos os petrechos e autuamos o responsável em flagrante. Alguns pescadores insistem em jogar redes na boca da barra do Ratones”, conta.
“A área da reserva já é monitorada regularmente, mas intensificamos a presença da fiscalização nos últimos dias, sem necessidade de autuação ou apreensão de petrechos de pesca”, diz Luiz Otávio Rocha. Segundo o biólogo, as ações de orientação foram suficientes para conter os mais afoitos. “Muitas famílias aproveitaram o passeio do feriadão, e se aglomeraram na rodovia e sobre a ponte para fotografar e filmar o cardume”, acrescenta.
Quem pretende tarrafear, foi orientado pelos fiscais a esperar a passagem do peixe para o outro lado, fora da reserva, o que não havia ocorrido até o fim da tarde de ontem. A passagem, no entanto, é impedida pelos restos da estrutura de ferro e concreto das comportas construídas sob a ponte na década de 1940 e arrancadas parcialmente por pescadores para facilitar o fluxo das marés.
Fenômeno atrai pescadores e curiosos
O fenômeno, segundo Luciano Santos, 39 anos, morador em Jurerê que tentou, em vão, pescar de tarrafa ontem à tarde, é prenúncio de boa safra para pescadores artesanais que utilizam as tradicionais redes de arrastão e canoas a remo. “É importante manter o cardume ali, para ver se parte dele desova na nossa região”, diz.
Acostumado a percorrer as praias da Ilha no período da safra (de 15 de maio a 30 de julho), o motorista Claudiomar Alfredo da Silva, 53, aproveitou a folga de domingo para ficar mais de uma hora sentado ao barranco para ver de perto a movimentação do cardume. “Coisa linda, nunca tinha visto nada igual. Até moradores mais velhos da região garantem que jamais tinham visto tantas tainhas juntas no rio”, diz.
Cercada de manguezais, as águas de Carijós são propícias à fase inicial do desenvolvimento das tainhas. A espécie se alimenta de resíduos de vegetação que se acumulam no fundo arenoso e lodoso das águas salobras, principalmente os indivíduos juvenis. Os adultos se alimentam para agregar gordura e energia antes de nadarem até chegar ao mar para desova.
O estuário de Carijós é o mais preservado da cidade, segundo o ICMBio. E um dos maiores do Brasil em zona urbana, com 619 hectares cercados de manguezais, restingas e banhados. “Serve de berçário para as espécies marinhas. Se o mangue morrer, somem o camarão, peixes, caranguejos e aves”, avisa o chefe da reserva, Silvio de Souza. Entre as principais ameaças, ele destaca a ocupação irregular, poluição dos rios e pesca predatória. A reserva de Carijós foi criada em 1987.
(Do ND - www.ndonline.com.br)
Publicado em 06/05/14-10:00
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