sexta-feira, 2 de maio de 2014

FÉ NA TAINHA!

Missa de abertura da pesca da tainha é realizada na praia do Campeche em Florianópolis
Missa no Rancho Cultural Manoel Rafael no Campeche celebra a abertura da temporada de pesca
Foto: Guto Kuerten / Agencia RBS

Thomas Michel e Guto Kuerten


Quinze dias antes do fim do defeso da tainha, pescadores de Florianópolis fizeram a missa de abertura da temporada de pesca. O presidente da Federação dos Pescadores de Santa Catarina, Ivo Silva, informa que a cerimônia foi realizada no dia 1º de maio para que se mantivesse a tradição — é a primeira vez que a data do defeso é alterada — e também para aproveitar o feriado do Dia do Trabalhador.

A 9ª edição da missa — realizada no barracão cultural Manoel Rafael, no Campeche — reuniu a comunidade pesqueira e autoridades, que, juntos, pediram por uma boa safra de tainha. A temporada, que sempre começava no dia 1º, desta vez começa no dia 15 e dura dois meses. A alteração na data foi realizada para preservar a espécie, já que a pesca é realizada durante a época de reprodução dos peixes.

Religiosidade à parte, 2014 pode ser um belo ano para a captura da tainha. Fatores que contribuem para esse tipo de pesca, como frio e vento, já estão presentes e as previsões são animadoras.

— Ano passado, em Santa Catarina, pescamos 1.200 toneladas. Para este ano esperamos capturar entre 1.800 e 2.000 toneladas — prevê Ivo.

Em 2013 a safra começou mal, mas quase no fim dos dois meses da temporada, uma onda de frio chegou e trouxe consigo tainhas que migravam para desovar. O resultado foi uma pesca considerada "razoável", ainda abaixo da média histórica.

Ivo diz que os pescadores estão apostando em muito frio, que deve servir trazer as tradicionais tainhas da Lagoa dos Patos — maior criadouro do Brasil —, além de peixes que vivem no estuário do Rio do Prata, na divisa do Uruguai e Argentina.

— Já teve pescadores de Laguna que me relataram ter visto cardumes de tainhas esse ano — afirma Ivo. Ele diz que esse é um indicativo que o ano pode ser bom, mesmo com a mudança na data do fim do defeso. 

A polêmica mudança na data do defeso

Parece pouco, mas os 15 dias na mudança do fim do defeso devem ser muito bons para a reprodução das tainhas, explica o pesquisador e coordenador do Grupo de Estudos Pesqueiros da Univali, Paulo Ricardo Schwingel. A espécie sai da Lagoa dos Patos e desova entre Itajaí e Paranaguá (PR). É durante essa viagem que são capturadas.

— Essa migração começou em abril e é muito importante para a manutenção da espécie. Já notamos uma queda de biomassa na Lagoa dos Patos, o que pode ser um indicativo de que a população de tainhas não está conseguindo se regenerar em quantidade suficiente — explica Paulo.

Apesar de considerar a mudança da data do defeso como ponto positivo para a regeneração da população de tainhas, Paulo ressalta que não existem estudos científicos que garantam o equilíbrio entre manutenção da espécie e esforço de pesca.
O pesquisador faz parte de um grupo que está estudando as tainhas há dois anos e no segundo semestre deve apresentar um trabalho que pode ajudar a definir qual a data ideal do defeso.

— O grande problema é que os pesquisadores fazem ciência e não o ordenamento. Isso é responsabilidade do governo, que sequer montou os comitês sobre pesca previstos em lei e que fazem essa regulação — observa o professor.

(Do HORA DE SANTA CATARINA http://horadesantacatarina.clicrbs.com.br/)

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