2013 - MAIS UM ANO SEM TAINHAS!

Foto Fernando Alexandre

 Safra da tainha chega ao fim com novo fracasso em praias de Florianópolis e no litoral Sul

Pescadores artesanais propõem alteração no período de defeso e suspensão das licenças para traineiras da indústria pesqueira em 2014

por Edson Rosa

FLORIANÓPOLIS

Quem pegou, pegou!  Quem não pegou, já está pescando anchova e abrotéa, o bacalhau brasileiro, e tenta amenizar as perdas de mais uma safra fracassada de tainha em Santa Catarina. Principalmente nas praias de Florianópolis e no Litoral Sul, onde cresce a mobilização para mudança do período de defeso em 2014, com liberação da pesca artesanal a partir de 1º de maio.

Em dois meses de espera, apenas 630 toneladas foram capturadas, a maior parte por botes equipados com redes de caça de malha e autonomia para navegar no limite de cinco milhas náuticas. Aos tradicionais arrastões de praia com canoa de um pau só restaram pequenos cardumes, exceto as 12 mil tainhas pescadas no dia 3 de junho em Naufragados. Lance que deu a praia do extremo Sul da Ilha a liderança no ranking anual das praias da Ilha, segundo a Federação dos Pescadores de Santa Catarina.   

A manutenção da média histórica dos últimos três anos, com declínio da produção artesanal a cada safra, na avaliação da Federação dos Pescadores de Santa Catarina, deixou de ser tendência. “Já é uma realidade preocupante. A cada ano, matamos menos peixe”, confirma o presidente Ivo Silva. A meta para 2013 era de safra entre 800 e 1.200 toneladas.

A escassez de tainha, na avaliação da Federação, é causada basicamente por três fatores: a pesca indiscriminada de setembro a maio no estuário da Lagoa dos Patos/RS; grande número de traineiras na boca da barra de Rio Grande e falta de vento sul aliada ao aquecimento do mar. “O clima realmente não ajudou, não deu vento sul e frio. Mas a concorrência com a frota pesqueira industrial é cada vez mais desigual”, completa Silva.

Para o empresário Arante Monteiro Filho, 55, que coordena cooperativa com cinco redes e 260 pescadores no Pântano do Sul, o fator climático mais uma vez foi o agravante. “A quadra não foi boa de novo para a tainha, faltou frio. Nos poucos dias de vento sul, alguns cardumes subiram o litoral”, argumenta. Nos meses de maio e junho predominaram na Ilha os ventos nordeste e oeste (terral), que afastam os cardumes da costa.

Foto Fernando Alexandre

Maior lanço do Pântano do Sul: 285 tainhas no dia 17 de junho

Pescadores artesanais sugerem redução do defeso

A queda anual da safra é um dos argumentos dos catarinenses para propor a revisão da Instrução Normativa 171, do Ibama  (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), na próxima reunião do Grupo Técnico da Tainha, dia 18 de junho, em Brasília. A proposta, além da antecipação da safra para 1º de maio, como era até 2008, prevê a suspensão, ou redução, das 60 licenças para pesca industrial. Também será sugerida a proibição da pesca durante o ano todo no estuário da Lagoa dos Patos, de onde migra parte dos cardumes que sobem o litoral em busca de águas mais quentes e salinidade para desovar. “Em último caso, lá na Lagoa devem aumentar a malha das redes de sete para dez [centímetros], para só pegarem peixes adultos”, diz Ivo Silva.

Pescador que virou comerciante, Arante Filho não tem dúvida de que o defeso precisa ser revisto. Ele sabe, por exemplo, que os primeiros cardumes, incluindo os que migram da bacia do Prata, começam a partir da segunda quinzena de abril a corrida para desova, com mais intensidade no rebojo dos primeiros minguantes de maio. “Então, não dá para continuar esperando até o dia 15”, diz.

No Pântano do Sul, as cinco canoas foram para o mar quatro vezes, e voltaram com menos de mil tainhas. “Num dos lances, veio apenas um peixe”, ressalta Arantinho. Grandes pescarias na praia, segundo ele, só restam na memória dos mais velhos. Histórias que serão contadas nesta quarta-feira, em audiência pública na Assembleia Legislativa.

Declínio

Safra anual

 Artesanal/toneladas

 2006- 1.124

2007 – 2.192

2008- 923

2009 – 1.198

2010 – 780

2011 – 617  

2012 – 420

2013 – 630

Fonte: Federação dos Pescadores de Santa Catarina

Indústria/toneladas

2001 – 946

2002 -1.346

2002 – 1.346

2012 -1.513

2013 – não fechado

Média anual na última década – entre 2.500 e 2.600

Fonte: Grupo de Estudos Pesqueiros da Univali

Ranking da Ilha

Rede de arrasto com canoa a remo

2009 : Ingleses - 96.430 

2010 : Lagoinha - 36.800 

2011 : Lagoinha - 40.920 

2012 : Santinho - 6.575

2013: Naufragados – 12.680

(Do ND - www.ndonline.com.br)