segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ESCOLA DO MAR

Foto Fernando Alexandre
Tradição da pesca com canoa de madeira a remo é preservada em Florianópolis 
Projeto fortalece a prática da atividade na Praia do Campeche

O pescador Getúlio Manoel Inácio era criança quando aprendeu com o pai como usar a canoa de madeira e o remo de voga para enfrentar o mar e garantir o sustento. Hoje, após 50 anos, ele comanda o Rancho da Canoa, na beira da Praia do Campeche, no Sul da Ilha. Dos pescadores que trabalham lá, Getúlio exige apenas que pesquem como no passado, utilizando a canoa de madeira a remo.

É a maneira que o popular pescador encontrou de manter viva uma tradição que foi, aos poucos, substituída pelas embarcações motorizadas.

Projeto depende de recursos
Para isso, Getúlio criou o projeto Tripulação Embarcada de Canoa a Remo, para capacitar pessoas com aulas práticas e teóricas. Mas ainda depende de recursos para tirar a ideia do papel.

– A pessoa que não tem raiz, não tem história. E foi a canoa a remo que originou tudo na pesca. Isso não deve se perder – diz o pescador.

Financiamento
Em junho, o projeto foi encaminhado pela segunda vez à Superintendência do Ministério da Pesca em Santa Catarina, em busca de financiamento. A iniciativa é monitorada pelo Instituto de Estudos e Assessoria ao Desenvolvimento (Ceades).

— É preciso buscar outras fontes de recursos. Existem, hoje, mais orgãos que podem nos ajudar — explica Leonida Reich, da Ceades.

Poucas pessoas sabem fazer
Segundo Getúlio, os barcos motorizados facilitam a pesca, mas acabam com o uso da canoa a remo. Há poucos pescadores com experiência para atuarem da forma tradicional.

— Antigamente, sobrava gente. Faltava um e logo tinha outro para participar da pesca do dia. Hoje, estamos contadinhos. Se um faltar, não há mais quem saiba fazer isso — afirma.

Saiba mais sobre o projeto
O público-alvo serão jovens, homens ou mulheres, que gostam de pesca
Aulas ministradas por pescadores mais antigos, em vários pontos de pesca de Florianópolis
Seis meses de aula, sempre aos sábados
O curso pode ser oferecido em qualquer época do ano, menos em período de safra
Dividido em três módulos: aprendendo a ser chumbereiro (aquele que joga a rede na água), aprendendo a ser remeiro (remador) e aprendendo a ser patrão.
O único dos módulos que teria um requisito é o último. Para ser patrão, hoje, os pescadores respeitam o tempo de cinco anos de experiência em remo, porque é preciso conhecer as manhas do mar para coordenar uma equipe.

A importância de cada função

Chumbereiro
Joga a rede na água
Deve saber o que fazer com o cabo (corda). Se ele estiver embrulhado, a embarcação não irá chegar na praia e não irá parar

Remeiro
Deve saber o que fazer quando iniciar a remada: levar o remo bem à frente para acompanhar o gingado do mar

O remeiro deve saber como colocar o remo na remadeira e prender o estropo, corda que deixa o remo preso no barco. Se isso não for feito corretamente, o remo pode ficar preso.

Patrão
Deve saber como usar o remo de pá (que só ele usa) na hora de dar a direção na embarcação. Caso contrário, o barco irá para o lado inverso do pretendido
Deve saber o momento certo da tripulação abandonar o barco, se for preciso, para evitar que ela vire em cima dos pescadores ou o remo bata em alguém.

Publicado no ClicRBS - Diario Catarinense, em 13/09/2011.

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