quinta-feira, 5 de maio de 2011

Novo anzol salva tartarugas

O anzol proposto pelo projeto é mais arredondado que o comum
Um novo modelo de anzol, diferente do que é usado há décadas para a modalidade de pesca de espinhel, diminui a captura de tartarugas e aumenta a quantidade de peixes fisgados. A novidade, entretanto, ainda esbarra na desconfiança de muitos trabalhadores do mar, que resistem à mudança. A pesca de espinhel é feita em alto-mar. Linhas de vários quilômetros de extensão são soltas na água, cada uma delas com em média mil anzóis. Incrementados com iscas como a cavalinha ou a lula, os anzóis atraem peixes de grande porte, como tubarões, atuns e mecas. O problema é que, em busca de alimento, muitas tartarugas também acabam fisgadas. O mestre de barco Celso Rocha de Oliveira, que trabalha há 40 anos no mar, diz que em cada lance de espinhel é comum serem puxadas de 30 a 40 tartarugas. De acordo com o oceanógrafo Fernando Niemeyer Fiedler, que trabalha no projeto Tamar, em Itajaí, a maioria das tartarugas fisgadas pelo anzol comum, em formato de torpedo, acabam morrendo em função dos ferimentos. Isso porque o equipamento fica preso no esôfago do animal. As mais prejudicadas com esse tipo de captura são a tartaruga cabeçuda e a tartaruga gigante, ambas em risco de extinção. Uma pesquisa feita pelo Tamar, junto aos pescadores, demonstrou que a simples mudança no formato do anzol pode evitar a morte das tartarugas. O anzol proposto pelo projeto é mais arredondado que o comum. Hoje, o modelo é usado em pesca esportiva de marlim e na captura de peixes que se escondem no fundo do mar. Quando abocanhado pela tartaruga, o anzol arredondado escorrega da boca com maior facilidade. Caso fisgue o animal, será pelo bico, o que vai provocar um ferimento mais leve que o do anzol normalmente usado. Técnicos do projeto Tamar têm trabalhado para convencer os trabalhadores da pesca industrial em Itajaí, maior polo pesqueiro de Santa Catarina. Em abordagens semanais, feitas nos barcos de espinhel que estão ancorados ao longo do Rio Itajaí-açu, eles explicam os benefícios do anzol arredondado e tentam persuadir os pescadores a experimentarem o equipamento. - Existe muita resistência porque, para o pescador, é uma mudança tecnológica grande. É difícil mudar uma forma tradicional de pescar, mesmo demonstrando que, com o anzol arredondado, pegam-se não só menos tartarugas, mas também mais peixes - comenta Fiedler. Outro problema apontado pelos pescadores é o preço do anzol arredondado. Enquanto o comum custa em média R$ 2, o anzol proposto pelo Tamar é vendido por R$ 2,50 em casas especializadas. Como cada embarcação leva em média mil desses equipamentos, a diferença pode pesar no bolso.

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