Assistir “No Coração do Mar” é fácil. Está no Netflix. Mas se gosta deste barquinho, tente assistir "Moby Dick".
A baleeira no cinema
A baleeira, este barco que quase todo mundo conhece e que até bem pouco tempo era muito comum nas águas dos litorais das Ilha de Santa Catarina, é um astro do cinema.
Ela está em um dos filmes mais impressionantes que eu já vi, que é “Moby Dick”, de 1952, baseado no romance de Hermann Neville, dirigido por John Huston e que tem Gregory Pack no papel do obcecado Capitão Ahab, comandante do Essex, o navio baleeiro que foi destruído pelo gigantesco cachalote.
E também em “No Coração do Mar”, de 2015, dirigido por Ron Howard, baseado no livro de Nathaniel Philbrick, de 2000, que diz ser a verdadeira história que inspirou Melville a escrever o clássico da literatura universal.
Nos dois livros e nos dois filmes há uma passagem no litoral de Santa Catarina. Melville e Philbrick escrevem que encontraram muitas baleias no paralelo 27. No filme de Howard, o personagem Thomas Nickerson, o último sobrevivente do Essex, mostra no mapa desenhado com ponta de canivete sobre a sua mesa que foi daqui que partiram para o Oceano Pacífico, após conseguirem 400 barris de óleo no final de um dia de pesca volumosa.
E é nestes trechos dos dois filmes que a baleeira vira estrela. Mas as cenas em “Moby Dick” são muito melhores, mais detalhadas, menos nervosas. Numa sequência bem longa é possível ver com uma clareza quase didática como a baleeira era usada na pesca do cetáceo. Já em “No Coração do Mar” a passagem é mais curta, mais nervosa e pouco compreensível para quem se interessa em entender o manejo da embarcação.
As duas histórias começam na Ilha de Nuntecket, uns 250 km ao Norte de Nova Iorque, que foi o principal porto de armação de navios baleeiros do mundo durante o século 19. Foi para esta Ilha no Atlântico Norte que os colonizadores britânicos levaram o mesmo modelo barco que ainda hoje leva turistas para os restaurantes da Costa da Lagoa.
E este barco de uns nove metros, dupla proa, casco escamado, seguro, rápido e fácil de manobrar foi usado pelos vikings para invadir o Norte das Ilhas Britânicas, no século 9. Eram os barcos de assalto, tocados à vela e à remos.
Não, a baleeira não é um barco açoriano. Os açorianos nem gostavam tanto assim de se fazerem ao mar. Mas os Açores eram um dos pontos de reabastecimento e de reparos de navios usado pelos caçadores de baleias de Nuntecket. Quando retornavam para casa com os porões abarrotados de óleo, muitos deles deixavam ali os “botes baleeiros” e os pegavam no ano seguinte.
Outro local onde os barcos eram deixados é aqui, na Ilha de Santa Catarina. E foi uma destas baleeiras que derem um tempo na praia da Armação, em Florianópolis, no final do século 19, que serviu de modelo para que um hábil construtor tirasse as suas medidas e copiasse a embarcação que se tornou parte da cultura da Ilha de Santa Catarina.
( Do TarcisioMattos Mattos)
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