"O sonho do astrônomo, historiador, poeta e professor Amaro Seixas Netto era testemunhar a passagem do cometa Halley. Mas ele morreu dois anos antes, em 23 de maio de 1984, às vésperas de completar 60, vitimado por complicações causadas pelo diabetes. A cidade perdia assim um de seus três "bruxos", parceiro de Franklin Cascaes (1911-1983) e Meyer Filho (1919-1991) na luta pela preservação da identidade local. Sujeito de interesses múltiplos, capaz de longas conversas sobre qualquer assunto, Seixas Netto ficou célebre pelas previsões meteorológicas que, diz a lenda, não falhavam nunca. Autodidata, somava a intimidade com os ventos ilhéus à precisão dos equipamentos que, em alguns casos, ele próprio construía. Achava que o segredo era entender os sinais da natureza. Assim, conseguia estimar com semanas de antecedência o que iria acontecer. Escrevia para jornais e, mesmo com a péssima dicção - fruto do hábito tipicamente ilhéu de falar rápido -, tinha programas de rádio... ...Seixas Netto era um homem que parecia estar sempre na fronteira entre o visível e o invisível, a ciência e o misticismo.
Em "Gênese estelar e conceito de universo", livro publicado em 1969, ele revelou a convicção de que há vida além da Terra. "Os mundos habitados, no universo, escapam, certamente, a qualquer relacionamento em número; mas, em todo o universo, existe, inegavelmente, uma certa quantidade de mundos habitados por seres iguais aos da Terra. (...) Pode-se afirmar, considerando a alta percentagem probabilística, que há sistemas solares próximos com mundos habitados. Mas as distâncias são enormes e os métodos e instrumentais em uso hodierno ineficientes para medidas e comprovações", analisou. Em 1954, quando ainda nem tinha 30 anos, Seixas Netto já demonstrava erudição. "O átomo de hidrogênio, o mais simples desde o ponto de vista diagramático, consta, como estrutura fundamental, de um corpúsculo-eletrônico gravi-saltando ao redor de um núcleo, cujo ponto mais recôndito, mais íntimo, é um campo material de elevado nível de densidade na sua força de gravitação", diz um trecho do livro "A Geometria do Átomo".
"Nem deuses nem astronautas", de 1972, critica o famoso "Eram os deuses astronautas?", de Erich von Däniken, que vendeu milhões de exemplares. "Não passa de uma coletânea de 323 perguntas, todas lançadas a esmo", alfinetou Seixas Netto. "
(Perfil traçado pelo jornalista Maurício Oliveira no jornal AN, em 29/08/1999)
Nenhum comentário:
Postar um comentário