quarta-feira, 13 de maio de 2020

WILSON RIO APA E A PESCA DAS TAINHAS

Ilustração Andrea Ramos
A tainha na barra do Ararapira
 
"...Do que mais gosta o Menino é de escutar o Espia contando dentro dele os lanços de tainha
...o Vento trazia o cheiro do peixe passando pelo corso,
lá fora
tão longe que a força do meu olho não alcançava
...fiquei esperando a Lua numa coroa nova, bem na ponta
da Restinga
o povo todo na praia, aguentando o frio e a fome da
espera
quando a Lua entrou na cheia e caiu o rebojo, disse pro
peixe
Chegou a minha hora!
e meti o olho
vi tudo no fundo e até fiquei com medo
Era uma montanha de tainha!
dei o aviso pro povo, dobra o cabo e passa reforço no
seio
vim puxando aquela montanha, olho queimando de tanta
força
na boca da barra louca do Ararapira, marquei o rumo
num aponte
e enfiei o cardume de comprido, enchendo o canal inteiro
o remanso não dava pra tanto peixe, então estiquei o
olho e a tainha foi entrando na Deserta
o alaga-mar virou uma fervura, até lá nos Dias
aí mandei o lanço e o povo se atirou em cima gritando
muita rede estourou, muita tainha fugiu e ainda ficou
tanta que encheu a praia
veio gente de tudo que é rumo pro trabalho da salga
depois deu um grande fandango e o povo se foi pras ilhas
com comida pro resto do ano..."

(Fragmentos de "O povo do mar e dos ventos antigos- Os vivos e os mortos", de Wilson Rio Apa -Edição da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná - 1989)

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