Ilustração Andrea Ramos
"Os festejos das pescas
da tainha"
"Apesar de nos seus primeiros dias de fundação do povoado, que seria dois séculos e meio depois a bela Florianópolis, por Francisco Dias Velho, terem os lusos por aqui instalado postos de pesca de baleia, que, a bem da verdade só alcançam nossas paragens quando as correntes marinhas polares trazem água gélida pela margem litorânea, e que é raro, o ilhéu sempre teve um peixe de seu gosto e do seu agrado e, até mesmo de sua devoção: a tainha.
E na verdade, tradicionalmente, seguindo velhos preceitos, a comida ilhoa por excelência é o caldo da tainha, e na falta o caldo de peixe.
E na verdade, tradicionalmente, seguindo velhos preceitos, a comida ilhoa por excelência é o caldo da tainha, e na falta o caldo de peixe.
A tainha, nome vulgar dos peixes da família dos Mugilideos, e a mais comum, a nossa do litoral é a espécie Mugil platanus, é, inegavelmente um belo peixe carnudo, grande, com alto teor de gordura e nas épocas propícias de corso, nos meses frios, quando está em estado de procriação, com belas ovas, muito apreciadas.
A tainha é peixe para todos os paladares e os apreciadores, dentre os quais o cronista por ser ilhéu, distingue bem de farinha de mandioca, a tainha de sol magnífica janta comum diária, a tainha frita, a tainha de caldo, etc. Um caldo de tainha ainda reúne gente para jantar festivo regado a caninha com limão, e os mais esnobes a whisky. Mas vejamos os festejos.
A tainha é peixe para todos os paladares e os apreciadores, dentre os quais o cronista por ser ilhéu, distingue bem de farinha de mandioca, a tainha de sol magnífica janta comum diária, a tainha frita, a tainha de caldo, etc. Um caldo de tainha ainda reúne gente para jantar festivo regado a caninha com limão, e os mais esnobes a whisky. Mas vejamos os festejos.
Pelo final do mês de maio as tainhas, em extensas mantas de milhares de peixes, sobem do Rio Grande em busca de melhor clima; correm margeando o litoral e entram pela lagoa da Conceição.
As pescas são feitas com redes de cerco e cada cerco pode trazer à praia, 50 mil, 100 mil tainhas. Os que assistem ao cerco são convidados a dar uma mãozinha para puxar a rede pesada de peixe. Aí na praia é a festa do puxamento do cerco à luz de lamparinas de óleo. Ao final, cada um dos puxadores e dos assistentes recebem de presente dos pescadores gordas tainhas, como pagamento amigo do trabalho executado, que, para os apreciadores é mais alegria que trabalho. O peixe é amontoado para vender ao mercado ou exportar. O excesso é salgado, após escalado o peixe é posto a secar em varais ao sol.
As pescas são feitas com redes de cerco e cada cerco pode trazer à praia, 50 mil, 100 mil tainhas. Os que assistem ao cerco são convidados a dar uma mãozinha para puxar a rede pesada de peixe. Aí na praia é a festa do puxamento do cerco à luz de lamparinas de óleo. Ao final, cada um dos puxadores e dos assistentes recebem de presente dos pescadores gordas tainhas, como pagamento amigo do trabalho executado, que, para os apreciadores é mais alegria que trabalho. O peixe é amontoado para vender ao mercado ou exportar. O excesso é salgado, após escalado o peixe é posto a secar em varais ao sol.
Mas noite adentro na alegrias as casas de pescadores curtidos do trabalho oferecem caldo de peixe, recebem os citadinos. Quando uma grande manta de tainha aponta por Garopaba toda a cidade recebe o recado e é ver a multidão de ricos e pobres, ilhéus e visitantes, que correm às praias.
Mas as festas da pesca da tainha está por terminar. Os barcos de alto mar pescam as mantas antes que cheguem às redes dos tradicionais, valorosos e históricos pescadores ilhéus. É o progresso, sem dúvida, mas é pena. E muitas vezes a gente torce para comer um caldo de peixe à maneira do sítio, gostoso, natural, e vai dar com os costados num restaurante onde o caldo de peixe é vermelho de colorau e temperos que escapam à razão do bom comedor de peixe. E como é bom o caldo de tainhas à maneira da ilha.
Sua receita é assim:
Numa panela grande de barro, água à ferver e cebolinhas verdes picadas, tomates bem maduros, salsinha, algumas folhas de orégano e alfavaca, sal a gosto. Após a fervura, dentro algumas lascas de gordura da tainha, emana um perfume que é maravilhoso, e o caldo assume um colorido típico branco esverdeado. Em plena fervura são lançados ao caldo postas de tainha, ovas, moelas e fígado do peixe. Uns quatro a cinco minutos, serve-se, fazendo pirão do caldo. Pimenta verde, da redondinha que arde como o fogo do inferno, à parte. Alguns vão de vinho branco mas é esnobada. O bom mesmo é batida de limão. E isso atrai todo mundo para as praias, casa de amigos, restaurantes praieiros.
Mas o caso é que no ano passado levei alguns visitantes a comer caldo de tainha e o restaurante praieiro — (praieiro hein?) — apresentou um caldo vermelho de colorau, e feita para cem, mistura de farinha de trigo. Resultado: Fizemos que comíamos e depois compramos tainha e viemos fazer o caldo em casa. Mas é assim, o comércio exagerado estraga tudo. E as festas da pesca da tainha vai deixando saudade. Ora se vai... "
(Netto, A. Seixas. "Os festejos das pescas da tainha". Jornal O Estado. Florianópolis, 28 de março de 1971)
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