Mapa e relevo da Ilha de Santa Catarina produzido por M. Frézier em 1712
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Em fins de 1711 partiram de Saint Malo, França, os navios "Saint Joseph" de 36 canhões, 350 t. de deslocamento e 135 homens de guarnição, comandado pelo Capitão Duchênne Battas e "Marie" de 120 t. sob o comando do Capitão Jardais Damel. Em 30 de março de 1712 eles chegaram a Ilha de Santa Catarina.
O engenheiro militar francês Amadée M. Frézier fazia parte desta expedição e fez um estudo detalhado da "Meimbipe" dos Cariós - já chamada de ilha de Santa Catarina - e de seus habitantes.
Abaixo, alguns trechos de seu relato que inicia na página 16 de seu diário de bordo:
Abaixo, alguns trechos de seu relato que inicia na página 16 de seu diário de bordo:
"Na terça-feira 30 de março (1712), como estivéssemos perto da terra, sondamos às 6 horas da tarde e encontramos 90 braças d'água fundo de areia, vasa e concha (...)
(...) continuamos a prumar de distância em distância, diminuindo o fundo de maneira uniforme, até 6 braças de fundo vasa cinzenta, onde fundeamos entre a Ilha de Santa Catarina e a terra firme (...)
Na manhã do dia 1o. de abril, o capitão destacou a nossa lancha e a da "Marie", com uma guarnição armada, para ir a procura de um sítio apropriado para fazer aguada e às habitações dos portuguêses, a fim de conseguir alguns refrescos(...)
Costeamos muitas e belas enseadas da ilha, ate que, detidos pela escuridão da noite fomos obrigados a pôr-nos em terra: o acaso nos levou a uma pequena enseada onde encontramos água e um pouco de peixe que muito a propósito pescamos e que um grande apetite o condimentou admiravelmente; passamos a noite vigiando os tigres que povoam as florestas cujas pegadas recentes acabáramos de ver sobre a areia; ao romper do dia avançamos ainda uma meia légua para verificar se não havia algum navio fundeado em Arazatiba (Ilha de Araçatuba - Naufragados), o que não foi visto ( ...)
Os portuguêses que nos haviam visto passar com a bandeira inglesa no escaler (...) vieram em suas pirogas para nos oferecer refrescos; recebemos suas ofertas e em troca demos-lhes aguardente, licor que muito apreciam, ainda que ordinariamente costumem só beber água (...)
(...) A Ilha de Santa Catarina (...) é uma floresta contínua de árvores verdes o ano inteiro, não se encontrando nela outros sítios praticáveis a não ser os desbravados em torno das habitações (...) 12 ou 15 sítios dispersos aqui e acolá à beira mar nas pequenas enseadas fronteiras à terra firme; os moradores (...) são portugueses, uma parte de europeus fugitivos e alguns negros; vê-se também índios, alguns servindo voluntariamente aos portugueses, outros que são aprisionados de guerra (...)
Encontram-se eles em tão grande carência de todas as comodidades da vida que, em troca dos víveres (...) não aceitavam dinheiro, dando mais importância a um pedaço de pano ou fazenda para se cobrir (...) satisfazem-se com uma camisa e um par de calças; os mais distintos usam um paletó de côr e um chapéu; quase ninguem usa meia e sapatos; quando entram no mato utilizam-se da pele da perna de um tigre como perneira.
Não são mais exigentes com a alimentação do que com o vestuário; um pouco de milho, batatas, alguns frutos, peixe e caça, quase sempre o macaco, os satisfaz.
Essa gente, a primeira vista, parece miserável, mas eles são efetivamente mais felizes que os européus, ignorando as curiosidades e as comodidades supérfluas que na Europa se adquirem com tanto trabalho (...)"
Frézier: estudo minucioso da ilha e seu povo
Amedée Françoise Frézier, este famoso engenheiro militar francês nasceu em 1682 e morreu em 1773 com 91 anos. Foi contratado para construir fortes nas possessões espanholas na América do Sul, para defesa contra ingleses e holandeses. Serviu-se dessa viagem para inspecionar vários portos do continente, coletando outras informações científicas. Em sua viagem para o Pacífico, Frézier aportou na Ilha de Santa Catarina (1712), onde encontrou uma população bastante chocada pelo então recente ataque de Dugay-Trouin, no Rio de Janeiro. Tão logo eles avistaram o navio francês, toda a população fugiu para o interior. Contudo, acalmado o excitamento e a situação esclarecida, Frézier foi muito bem recebido pelo Governador Manoel Manso de Avellar, a quem se refere como Emanuel Mansa. Fez um estudo para um mapa da ilha e descreveu o estado primitivo em que viviam os 147 brancos ali. Em sua viagem de retorno do Pacífico, Frézier aportou também na Bahia (1714).
(Textos extraidos de "Ilha de Santa Catarina - Relato de viajantes estrangeiros nos Séculos XVIII e XIX" - Editora da UFSC e Editora Lunardelli - Terceira Edição - 1990)
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