domingo, 29 de março de 2020

MAR KRÔNICO

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DEZ MANDOS 

1 – Escrever. Simplesmente. Sedar o vírus da loucura. Acalmar a fera da insensatez. Plantar e colher emoções à flor da pele. Lavrar a pala. Palavra. Roçar a tez. Tezão. De graça. De bobeira. Como quem não quer nada. Na raça, na praça, na troça. Sempre. 

2 – Certo, certíssimo, diriam alguns. Outros, nem tanto. Portanto, tenho dito e entretanto. 

3 – Fico entre o sim e o não e chego a alegre confusão: afinal, quem tem razão? O meu pé, o meu irmão, a minha voz ou o meu patrão? Pelo sim ou pelo não, talvez. Quem não consome, some. Quem não cria, deus não ouve. 

4 – Poder e prazer não vão pra cama juntos. Nunca. “O poder é o sexo dos velhos.” Só os mal trepados querem subir. Poder ter prazer. Só. Simples, não? 

5 – Fica a dúvida. A dívida nunca é terna. O que não tem solução, solucionado está. O que não tem resolução já está resolvido. Dissolvido. Removido. Não deixe de ficar triste, em caso de tristeza. De morrer, em caso de morte. De viver em caso de vida. De duvidar, em caso de dúvida. 

6 – Não esqueça nunca: de avisar a família, do tipo sanguíneo, do telefone dos amigos, do caminho de casa, da chave da perdição, de pedir um último trago, de fechar o gás, de pagar o taxi, de fazer xixi e escovar os dentes antes de dormir. 

7 – Anote em todos os lugares: na parede, nos sapatos, nos livros, nos muros, nos lençóis, na carteira de trabalho: navegar continua sendo preciso. Em caso de emergência, quebre o vidro e puxe o cordão! 

8 – Na parte que me toca, no que me diz respeito, no que me afeta, sou radical: me nego a aceitar essa coisa imposta. Aos que me vêem trazê-la recuso e receito: uma dose de formicida Tatú dupla, duas aspirinas, uma angina no peito. 

9 – Importante: não esqueça de apagar a luz e me deixar sem memória quando fores embora. 

10 – Certos dias não tem jeito: o hai cai. 

(Fernando Alexandre)

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