Nostalgia panteísta
Um dia, interrogando o níveo seio
De uma concha voltada contra o ouvido,
Um longínquo rumor, como um gemido,
Ouvi plangente e de saudades cheio.
Esse rumor tristíssimo, escutei-o:
É a música das ondas, é o bramido,
Que ela guarda por tempo indefinido,
Das solidões marinhas de onde veio.
Homem, concha exilada, igual lamento
Em ti mesmo ouvirás, se ouvido atento
Aos recessos do espírito volveres.
É de saudade, esse lamento humano,
De uma vida anterior, pátrio oceano,
Da unidade concêntrica dos seres.
(Augusto de Lima - "Nostalgia panteísta" - Poesias. Rio de Janeiro e Paris: Garnier, 1909.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário