Ilustração: Guilherme Zamonner.
"Sou um Velho Marujo, um Velho Caramujo, e dos mares não fujo,
mesmo quando a maré não está para peixe. No escuro descubro os roteiros noturnos pra navegar seguro:
olhando o céu escolho o traçado de estrelas que me mostram o rumo.
Com a mala de conchas estourando de histórias, só viajo sozinho,
de carona ou escondido no casco dos navios.
Quando os barcos, no inverno, vão para mar aberto,
eu saio do “terraço” e vou para o porão;
mas lá tem muito rato e não é bom o espaço.
Se me sinto perdido me lembro do que disse um marinheiro amigo:
Um mapa-múndi e um átomo são, os dois, invisíveis,
dentro de um grão de areia cabe o deserto inteiro,
o sal em nossas veias também veio do mar-,
e eu de novo me encontro, vendo meu próprio rosto no rosto dos antigos.
Pode ter maremoto, temporal, meteoros, pode ter furacão e chover pedregulho,
mas não tem susto ou escuro que me tirem do prumo: sou um Velho Caramujo,
e dos mares não fujo.
Não vivo pro futuro: meu rumo é a viagem, e os mares não tem muro.
Eu quero é descobrir outros mundos no mundo. E se bate a tristeza vou soletrando, ao vento, letra por letra, atento, a palavra e-s-t-r-e-l-a, até sonhar sereias e senhas para os sonhos.
Não vivo pro futuro: meu rumo é a viagem, e os mares não tem muro.
Eu quero é descobrir outros mundos no mundo.
Se sou um Velho Marujo, um Velho Caramujo, dos mares não!, não fujo!"
Fragmento de texto do livro "Velho Caramujo",
de Josely Vianna Baptista, Editora Mirabilia.
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