06 DE JANEIRO
EM MEMÓRIA PELOS 157º ANOS DE NASCIMENTO DE VIRGÍLIO VÁRZEA, FILHO ILUSTRE DE CANASVIEIRAS.
Por José Luiz Sardá
Virgílio dos Reis Várzea nasceu na Freguesia de Canasvieiras em 06 de janeiro de 1863, numa casa engenho pertencente à tradicional família do Major da Guarda Nacional, Luiz Alves de Brito, lavrador mais próspero e mais popular do lugar e vida aplicada à faina das redes. Possuía dois primitivos engenhos de açúcar e de farinha de mandioca, além de dois ranchos de pesca, onde abrigava grandes canoas na praia de Canasvieiras, junto à Ponta das Pedras.
Seu pai o Capitão João Esteves Várzea, português do Minho quando navegando pela costa do Brasil, um belo dia aportou na ponta norte da Ilha de Santa Catarina, conheceu e casou com Chiquinha de Andrade, que faleceu alguns anos depois, deixando-lhe dois filhos: João Esteves e Manoel. Casou-se novamente, desta vez com a menina moça de quatorze anos Júlia Maria Alves de Brito, prima da primeira mulher e com quem costumava brincar desde criança, trazendo-a ao colo. Com esta segunda esposa, que viria a falecer somente a 2 de maio de 1904, aos 74 anos de idade, teve cinco filhos: Júlia, Maria Amélia, Luís e Terêncio - este último falecido na idade de um ano. Dessa união também nasceu nosso ilustre filho de Canasvieiras Virgílio Várzea. Júlia Maria Alves de Brito, a mãe de Virgílio, era de família destacada, nascida de tradicional tronco açoriano, que já dera comandantes de veleiros e almirantes à marinha brasileira. Pelos avós maternos, Virgílio brotou de uma associação de marinheiros (os Lemos) e lavradores (os Alves de Brito) o que lhe proporcionou heranças hereditárias decisivas.
Nas "Memórias", assim caracterizou sua mãe: “casou aos quatorze anos esportivos que batiam a cavalo os caminhos dos arredores, enganchada como homem e enfrentava de rebenque na mão os escravos bêbedos, quando nos engenhos se celebrava a fartura do melado e da cachaça".
Considerado o autêntico retratista dos costumes da gente e da paisagem marinha de sua terra, introdutor do gênero marinhista na Literatura Brasileira e o criador do conto catarinense. Engenhos, ranchos, canoas, praias, promontórios são paisagens constantes nos livros do escritor. Nas "Memórias" fala da sua liberdade e contato com a natureza: "Não foi guri que viveu trancado e relata ter nascido no "casarão amarelo, de quatro águas, na rua Velha, a um quilômetro do mar", em Canasvieiras. Virgílio era "produto de duas vidas criadas ao ar livre", como ele mesmo anota.
Quando tinha oito anos de idade sua família transferiu-se para a cidade do Desterro, indo morar no bairro da Figueira junto ao mar. Nas férias escolares acompanhava o pai nas viagens regulares do litoral catarinense, transportando imigrantes europeus e cargas para os portos de São Francisco do Sul, Laguna e Itajaí. Em Desterro, Virgílio passou a frequentar, em 1871 e 1872, o Colégio Rio Branco. Inicia então seu conhecimento com Cruz e Sousa, mas a amizade entre ambos se consolida em 1873, quando ambos eram alunos da escola primária do professor José Ramos da Silva. Virgílio era extrovertido e hábil conversador desde jovem.
Em 1876 o pai de Virgílio Várzea veio a falecer. O sonho de se tornar oficial da marinha do Brasil e o amor pelo mar levou nosso Virgílio para a Escola Naval, no Rio de Janeiro. Aos 16 anos de idade incompatibilizando-se com o professor de matemática, por ter traçado caricaturas que foram consideradas ofensivas, a reprovação nessa disciplina o fez abandonar a intenção de tornar-se oficial da Marinha Brasil. Desgostoso e sem avisar à família, vai para a cidade de Santos, arranjando trabalho como praticante de piloto, no lugre “Lívia.
A bordo da polaca-goleta "Mercedes", de bandeira espanhola, conheceu então as Antilhas, Cuba, Havana, Venezuela, Colômbia e fez diversas viagens para Buenos Aires, Montevidéu, costa da Patagônia e o Estreito de Magalhães. Depois foi transferido para o brigue Inglês “Theodoro”, passando a percorrer outros mares. Foi um andarilhos dos oceanos, conheceu os portos do arquipélago de Cabo Verde e da Europa. No retorno ao Brasil, a pedido de sua mãe emprega-se por pouco tempo na tipografia do catarinense Justiniano Esteves Júnior, radicado no Rio de Janeiro. Algum tempo depois, volta aos mares e vai conhecer a África do Sul e os portos do Oceano Índico, viagem essa que inspirou a escrever belos contos e novelas.
Em 1881, Virgílio resolve então ficar em Desterro, e reencontra colegas de bancos escolares, dentre eles: Cruz e Sousa, Santos Lostada, Araújo Figueiredo e Horácio de Carvalho e o próprio Virgílio Várzea, começando a escrever nas páginas dos jornais de Santa Catarina. Ainda moço começa a ensaiar os primeiros passos no jornalismo. Na literatura e nas atividades jornalísticas é que vai desabrochar e formar-se o nosso filho ilustre de Canasvieiras e grande escritor Virgílio Várzea.
Em parceria com Cruz e Sousa e Manoel dos Santos Lostada, fundou e editou em 1881, o jornal manuscrito “Colombo”, que circulou poucos números e depois a “Tribuna Popular”, que mais tarde transformou em folha abolicionista. Em 1883 o médico Francisco Luiz da Gama Rosa assumiu a Presidência da Província, dando guarida ao grupo. Virgílio Várzea então é nomeado oficial de gabinete da Presidência, começando ali sua carreira de servidor público, ocupando diversos cargos. Em 1884 nas páginas do jornal “A Regeneração”, ataca o tradicionalismo através de artigos que mais tarde reuniu sob o título “Guerrilha Literária Catarinense”.
Começou escrevendo versos, “Traços Azuis” em 1884, depois “Tropas e Fantasias” escritos em parceria com Cruz e Sousa. Quando Gama Rosa deixa o Governo vai para o Rio de Janeiro. Abolicionista discreto entrou na política em 1892, é eleito deputado ao Congresso Estadual, participa da Constituinte. Em 1896, fixa-se definitivamente no Rio de Janeiro. Em 1889 é nomeado inspetor escolar do Distrito Federal, exercendo esta função até a aposentadoria. Em 1895 publica “Mares e Campos” e a novela “Rose Castle”. Em 1900 a obra “Santa Catarina – a Ilha”, um trabalho que retrata o ambiente sócio-cultural da sua terra, os usos e costumes de sua gente, além de dados históricos e geográficos, descrevendo as admiráveis paisagens da Ilha de Santa Catarina.
No ano seguinte: “Contos de Amor”, “A noiva do Paladino”, “Jorge Marcial” e em 1902 escreve “Garibaldi na América”. O mais importante de seus romances foi “O Brigue Flibusteiro” em 1904 e relançado em 1941, ano de sua morte. Escreveu outros livros contos: “Histórias Rústicas”, “Os Argonautas” e “Nas Ondas”. Escreveu em vários jornais do Rio de Janeiro: “Cidade do Rio”, “Gazeta de Notícias”, “Jornal do Comércio”, “O País”, “A Imprensa” “Correio da Manhã” e “Correio Mercantil” de São Paulo. Por falta de interesse próprio não chegou a entrar para a Academia Brasileira de Letras, contudo em 1906 seu nome foi lembrado pelo crítico José Veríssimo para ocupar a vaga do poeta Teixeira de Mello, mas renunciou à candidatura em favor do amigo a quem admirava Artur Jaceguay. A Academia de Letras de Santa Catarina reservou a Virgílio Várzea a cadeira número 40. Em 1963, a Academia promoveu a comemoração do centenário de nascimento do escritor. Na ocasião foram realizadas conferências e reedições de seus trabalhos em folhas literárias. Também o Governo do Estado deu o nome de “Virgílio Várzea” à rodovia que liga Florianópolis à Canasvieiras.
Longe de sua terra natal, um ano antes de seu falecimento redigiu suas “Memórias” e reviu sua obra literária, ordenando os inéditos. Faleceu no dia 29 de dezembro de 1941, deixando um profundo vácuo na literatura brasileira. Deixou de publicar diversas obras que mais tarde foram lançadas: “Santa Catarina – o Continente” “Garibaldi e as Repúblicas Juliana e Rio Grandense”, “Cartas da Beira Mar”, “A Rosa dos Ventos”, entre outras.
(Via SOS RIODO BRÁS - CANASVIEIRAS)
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