Nascida em uma família de pescadores, Jussara, de 31 anos, reconhece que o trabalho é cansativo, mas diz ter encontrado compensações(Foto: Tiago Ghizoni)
"Nesta profissão, não tem dia ou noite", explica Jussara Galvão, pescadora de 31 anos
Muita gente pergunta para Jussara se pescar não é uma atividade cansativa. Ela diz que sim, mas encontrou compensações, como não ficar trancada dentro de uma loja ou escritório
Por Ângela Bastos
angela.bastos@somosnsc.com.br
À primeira vista, quem cruza com Jussara Galvão, 31 anos, pelas ruas de São Francisco do Sul, pode achar que ela é praticante de algum esporte náutico, como bodyboard, stand up paddle, windsurfe, surfe. Jovem, cabelos loiros, corpo tatuado, preferência por roupa de neoprene e óculos com lentes espelhadas. Mas a relação dela com o mar não passa por pranchas e velas, mas por bateiras e redes. Jussara vem de uma família de pescadores. Nesta temporada, ela pesca com o irmão.
A parceria se formou porque a cunhada ficou grávida e teve que deixar a pesca que fazia com o marido há nove anos.
— Eu estava desempregada e ele me chamou. Daí eu gostei e fiquei. Pretendo em seguida tirar minha carteira profissional — diz.
Jussara é separada e tem dois filhos pequenos. Quando vai ao mar, as crianças ficam com os familiares que moram na mesma rua. Ela conta que muita gente pergunta se não é cansativo. Até pode ser, mas ela encontrou compensações.
Para mim é bom sair de casa sem precisar me arrumar, vir para o mar do jeito que estou e sem ter que me maquiar. Além de não ficar trancada dentro de uma loja ou escritório.
A pescaria não tem salário, exceto no período de defeso.
— Dá para se manter bem sossegada, de boa.
Jussara pesca inclusive aos finais de semana.
— Nesta profissão não tem dia ou noite e toda hora é hora. Mas eu entendi que prefiro estar no mar do que em casa.
À primeira vista, a jovem Jussara pode parecer uma surfista, mas sua relação com o mar passa por bateiras e redes(Foto: Ângela Bastos)
Entre diálogos e silêncios, 300 quilos de peixe
Jussara aprendeu a nadar ainda criança. Acompanhando os pais e o irmão, descobriu sobre as marés e os ventos. Ela acredita que hoje percebe mais mulheres pescando do que antes, e que o número não é maior por que o governo dificulta a retirada da carteira profissional.
O irmão José Ariel Galvão conta que tinha preconceito em chamá-la para pescar:
— Eu não botava muita fé nela: toda arrumadinha, ajeitadinha, unha pintadinha, mas eu estava errado, pois ela é muito tranquila e está sempre disposta.
José Ariel, irmão de Jussara conta que, no início, tinha receio de chamá-la para pescar, mas acabou mudando de ideia(Foto: Ângela Bastos)
Nem sempre o mar está para peixe, mas já houve dias em que os irmãos tiraram 250, 300 quilos. Em outros dias nem molham as redes. Nos momentos de espera, Jussara e o irmão se deixam levar pelo balanço do mar:
— Às vezes a gente conversa sobre tudo, em outras ficamos calados, só olhando para ver se encontramos os peixes e jogar as redes.
Expediente
Reportagem: Ângela Bastos
Edição: Stefani Ceolla
Design: Aline Costa da Silva e Maiara Santos
Fotos e vídeos: Ângela Bastos, Tiago Ghizoni e Jean Carlos de Souza
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* Matéria multimídia originalmente produzida e veiculada no Diário Catarinense e no Jornal do Almoço da NSC TV sobre as mulheres na pesca artesanal em Santa Catarina!
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