domingo, 29 de novembro de 2020

MANEMÓRIAS

Foto: Panorâmica Balneário de Ingleses 2019 
Foto Cid Junkes

BALNEÁRIO DE INGLESES: A TRANSFORMAÇÃO DE UMA VILA DE PESCADORES

por José Luiz Sardá
 
Conta a história que a origem do bairro Ingleses é atribuída ao naufrágio de uma nau inglesa, ocorrido na metade do século XVIII, em frente a Ilha do Mata-Fome, como é conhecida popularmente pelos nativos e pescadores. Esta ilha serviu de abrigo aos náufragos e alguns destes sobreviventes constituíram famílias com as nativas do lugar. Naquela época era um povoado bastante habitado e todos se agrupavam no entorno da pequena capela consagrada a Nossa Senhora dos Navegantes, construída por um abastado lavrador, em 1881, sobre os cômoros de areia. Na década de 1960, devido ao aumento da população, a capela foi demolida com o objetivo de construir uma igreja maior. Até hoje a tradicional festa religiosa de Nossa Senhora dos Navegantes atrai multidões de romeiros e devotos.

Naquela época, Ingleses do Rio Vermelho abrangia parte da costa Leste da Ilha de Santa Catarina, desde o atual bairro São João do Rio Vermelho, até o balneário de Ingleses. Foi criado por Decreto-Lei de 11 de agosto de 1831, sob a invocação de São João Batista. Posteriormente, em 04 de dezembro de 1962, por Decreto foi criado o Distrito de São João do Rio Vermelho. O surgimento desta freguesia açoriana, que se desenvolveu a partir do núcleo original e pelos principais caminhos, vielas e becos abertos sobre as planícies das Aranhas e do Capivari, além de alavancar o povoamento da região, serviu também como posto de reconhecimento de embarcações que chegavam pelo lado Norte da Ilha.

Era uma vila cujos habitantes se dedicavam, na maior do tempo, à agricultura e à pesca. Na década de 1960 os engenhos de farinha e de açúcar dominavam a paisagem local. Entretanto, a partir dos anos 1970 deixaram de existir. A atividade pesqueira era intensa. Existiam as denominadas “Salgas”, um tipo de armazém onde os pescados eram preparados com sal, estocados e depois comercializados. A partir do final a década de 1980, aproximadamente, as terras que serviram basicamente à agricultura foram parceladas e transformadas em grandes loteamentos e condomínios edilícios. A crônica ausência de adequado planejamento urbano permitiu a chegada de milhares de migrantes na região, notadamente de gaúchos, paranaenses, paulistas e catarinenses do interior. 

Nos anos 1990, o “boom” do turismo no balneário passou a representar importante fonte de renda à população, mas, infelizmente, trouxe profundas modificações no cotidiano dos nativos e prejuízos ao meio ambiente, transformando de modo irremediável a bucólica e pacata vila de pescadores e pequenos agricultores. A especulação imobiliária, ora hipervalorizando as áreas mais próximas da praia, ora oferecendo a pouco troco áreas sabidamente problemáticas, provocou absurdo crescimento desordenado, vindo a afetar diretamente o cotidiano da população local. Os imóveis simples originários, localizados ao longo das vias e da estrada principal, rapidamente se transformaram em supermercados, restaurantes, shopping, hotéis, pousadas, resorts, loteamentos, conjuntos habitacionais e pontos de prestadores serviços diversos.

Não é de hoje que o bairro Ingleses e seu entorno vem sofrendo grande pressão sobre seus ecossistemas, cujo funesto resultado se traduz em sérios danos ambientais. Exemplos claros disso são: a) áreas de dunas invadidas pela população de baixa renda, originando grandes bolsões de pobreza: b) poluição no Rio Capivari, onde efluentes de esgoto são despejados in natura no leito do rio: c) processos erosivos no cordão praial por força da ocupação desenfreada e desregrada: d) descaracterização das encostas e ocupações irregulares nas áreas de preservação ambiental. Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, as planícies dos bairros Sitio Capivari e Santinho tiveram significativo aumento populacional, consubstanciando, ambas, a região que mais cresceu nos últimos dez anos em Santa Catarina. Dados apontam que os seis distritos do Norte da Ilha, já no ano 2.020, terão uma população flutuante/residente aproximada de 460 mil pessoas.

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