sexta-feira, 9 de agosto de 2019

BALEIAS: A CAÇA EM SC

Baleia caçada no litoral de Santa Catarina: sempre com a benção da Igreja

As baleias Francas que estão sendo avistadas nos últimos dias, inclusive no Sul da ilha, teriam causado uma reação bem diferente na população local se estivéssemos no ano de 1772, quando foi instalada na Armação do Pântano do Sul a Armação de Sant’Ana de Lagoinha ou das Lagoinhas, através de concessão da Coroa Portuguesa.
 
Mas a história da caça à baleia no Brasil iniciou com a colonização portuguesa entre 1740 e 1742, quando surge a primeira Armação baleeira, nas proximidades da Ilha de Santa Catarina, denominada Nossa Senhora da Piedade, hoje município de Celso Ramos. A segunda foi a da Lagoinha, seguida pela Armação de São João Batista de Itapocoróia, atual município de Penha (1778), e posteriormente, da Armação de São Joaquim de Garopaba (1793) e da Armação de Imbituba (1796).

A caça visava aproveitar principalmente a espessa camada de gordura das francas para produzir óleo destinado à iluminação, lubrificação e fabricação de argamassa utilizada em igrejas e fortalezas. Eram ainda aproveitados o espasmacete, um pouco da carne e outros sub-produtos.

Gravura do pintor francês Jean Baptiste Debret, de 1827, mostrando a Armação de Itapocoróia, na Penha.
 
O período de maior produção baleeira em Santa Catarina foi entre 1765 e 1789, em mãos da família Quintela, quando se estabeleceu o “Contrato da Pescaria das Baleyas nas Costas do Brasil”. O investimento de capitais na ampliação, na construção de núcleos baleeiros, e na aquisição de instrumentos de trabalho, embarcações e escravos caracterizam este momento de maior desenvolvimento do monopólio da pesca da baleia no Brasil .

Planta da Armação da Lagoinha, Pântano do Sul - clic em cima para ampliar
O núcleo baleeiro da Lagoinha foi fundado em 1772 com capela em devoção à Sant’Anna. Era composta de casa dos tanques (capacidade para 1697,50m3 de óleo), engenho de azeite, casa-grande, armazém, senzalas, capela, companhas dos baleeiros e engenho de farinha
.

A capela da armação, existente até hoje depois de ser descaracterizada por diversas reformas, possuía ao lado um cemitério fechado - também existente - com muro de pedra e cal. A casa-grande tinha duas frentes, uma voltada para o mar e outra para o engenho e tanque. Dispunha de três salas, quatorze quartos, três corredores, varanda e cozinha.

A companha dos baleeiros construída na pequena ilhota na ponta da armação, hoje interligada por molhe e ponte, era formada por dez casas com um armazém para lanchas e ocupavam uma área de 317m2.
Esta edificação estava na extremidade da armação, pois os pescadores tinham que ficar o mais perto possível do mar, em um local de fácil deslocamento. O sítio da fazenda ocupava quase toda a Lagoa do Peri, incluindo os morros da Cachoeira Grande, do Saquinho e do Peri de Cima. Era uma área que possuía uma reserva de água potável e uma cobertura vegetal dos morros potencialmente utilizável para fazer lenha. Esta armação destacou-se com a plantação de 7.000 pés de café.

A CAÇA DA BALEIA HOJE
Á caça às Baleias foi proibida mundialmente em 1992. A Noruega e o Japão são os únicos países que ainda participam desta matança. A última baleia franca caçada no Brasil, morreu na praia da Enseada - hoje praia do Porto - em 1973, no município de Imbituba, Santa Catarina.

7 comentários:

Unknown disse...

‘A história da caça de baleias no Brasil’ acaba de ser lançado. Este livro em coautoria William Edmundson (historiador, João Pessoa) e Ian Hart (respeitado historiador marítimo na Inglaterra) foi colocado à venda pela Editora DISAL:

Este é o primeiro livro a descrever de forma abrangente a história da caça de baleias no Brasil, começando com a atividade baleeira tradicional sob o monopólio da Coroa Portuguesa — o peixe real — até a introdução de navios modernos equipados com canhões-arpão no século XX. A história envolve a primeira caça de baleias por pescadores de Biscaia no Brasil colonial; as contribuições de baleeiros noruegueses; o polêmico estabelecimento de estações baleeiras administradas por japoneses no Rio de Janeiro e na Paraíba; e os movimentos a favor da conservação que conduziram à proibição final da caça de baleias depois de 1985. Este estudo incorpora muita pesquisa original baseada em fontes primárias escritas, e em entrevistas feitas com pescadores que caçaram baleias e com seus patrões japoneses e brasileiros. Esta história, até agora pouco compreendida, é instrutiva e fascinante — as tentativas de inserir carne de baleia dentro da culinária brasileira e o estabelecimento bizarro de um parque temático baseado numa estação baleeira são apenas dois exemplos disso.

Anônimo disse...

O primeiro livro a tratar de forma abrangente o assunto no Brasil foi "A Baleia no Brasil Colonial", da genial Myriam Ellis, lançado pela EDUSP/Melhoramentos em 1969.

William Edmundson disse...

Certo ... o livro da Myriam Ellis é considerado a bíblia para pesquisadores da caça de baleias na época colonial, e prestamos homenagem a Myriam no primeiro capítulo que trata desse periodo. Mas Myriam Ellis não entrou no periodo moderno do século XX, ou seja, com o uso do canhão-arpáo, que constitui a maior parte da nossa pesquisa. William Edmundson (co-autor).

lisiapalombini disse...

Li os dois livros (MYriam Ellis e Edmundson&Hart) porque estou fazendo um documentário sobre caça de baleias no Rio de Janeiro. Um rico material! Parabéns pelas pesquisas!
Estou em dúvida sobre qual era a armação mais próxima da Pedra do arpoador? Saberia me dizer?

Unknown disse...

Olá Desculpe ... acabo de ver este comentário. O mapa das armações no Rio de Janeiro que aparece na página 30 do meu livro talvez possa ajudar. A propósito, o livro agora foi lançado em inglês na Inglaterra a fins do ano passado (Edit. Pequena).

Luiz da Motta disse...

Putz R$ 180,00! https://www.estantevirtual.com.br/incunabulo/myriam-ellis-autografado-a-baleia-no-brasil-colonial-323906890

Luiz da Motta disse...

Se eu ler o do Edmundson&Hart, perco munita coisa?