São 139 espécies nativas, porém a mais consumida, conforme a pesquisa, é o forasteiro salmão – Dia do pescador – Anderson Coelho/Divulgação/ND20
Desprezados no cardápio: apenas 6% dos peixes nativos são consumidos em SC
Pampo, Palombeta, Olho de Cão e Guaivira são alguns dos peixes apontados em pesquisa de professora do IFSC, que não costumam estar na mesa dos restaurantes do litoral de SC
ALINE TORRES, ESPECIAL PARA O ND
Há 119 anos, Virgílio Várzea, jornalista catarinense, escreveu “não sabemos a razão porque essa gente não aproveita a Corvina, tendo até desdém por ela, como observamos longamente assistindo à pesca aí, nos Ingleses e Canasvieiras”.
Num passeio rápido pelo Mercado Público de Florianópolis, não encontramos a Corvina, um dos poucos peixes abundante o ano inteiro, de carne branquinha, que pode chegar aos 4kg. Ao contrário, anunciava o feirante, “filé fresquinho de tilápia”.
Filé fresquinho? Um peixe vindo de fora, de água doce, é o exemplo de frescor? Por que esse peixe faz tanto sucesso, assim como o salmão, o atum e o linguado? E os peixes catarinenses, alguém pede por eles?
Perguntas como essas motivaram Michelle Kormann da Silva, professora do IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina), a empreender em sua pesquisa de mestrado uma busca em 152 restaurantes ao longo do litoral catarinense.
O que ela, infelizmente, constatou foi que apenas 6% dos peixes oferecidos eram nativos.
O mais surpreendente é que a quantidade de opções não é pequena. São 139 espécies. Mas você costuma comer Pampo, Palombeta, Olho de Cão, Gordinho, Guaivira, Olhete, Parati, Bonito e Serrinha? E a Corvina?
Forasteiro salmão, o mais apreciado pelos catarinenses
A pesquisa acadêmica mostrou que o peixe mais apreciado pelos catarinenses é o salmão –que nasce bem longe, provavelmente, em um cativeiro chileno, e tem uma criação controversa. O salmão de cativeiro é alimentado com ração com corantes e antibióticos. Sim, o rosinha da carne de salmão é só para aqueles que vivem nas águas geladas, como as da Noruega. Eles se alimentam de camarão Krill, que por sua vez, se alimenta de algas avermelhadas, que tingem a carne do peixe num ciclo natural que a indústria não reproduz.
Mas, o salmão de cativeiro foi encontrado em 86% dos cardápios em Santa Catarina. O que justificaria o desprezo pela biodiversidade local? As respostas foram coletadas pelos próprios pescadores no livro “Que peixe é esse?”, organizado pela professora do IFSC Liz Cristina Camargo Ribas, que a partir da pesquisa de mestrado de sua colega, trouxe à luz um estudo inédito no Estado.
“Síndrome de vira-lata” da cadeia gastronômica
Nos relatos fica evidente a “síndrome de vira-lata” da cadeia gastronômica, a falta de valorização pelo que é local. Sentimento explicado no livro por um extrativista. “Antes de você trazer os turistas para valorizar, as pessoas daqui têm que saber o valor que tem na mão”.
O livro foi lançado há três anos, mas é possível constatar rapidamente que a realidade não mudou. Quando um alimento vira moda é consumido à exaustão. Nesse caso, gera uma grande pressão de captura e até risco de extinção de algumas espécies.
“Que peixe é esse?” contou com apoio de outros dois autores, a nutricionista Elinete Eliete de Lima, o gastrônomo Vilson de França Goes, ambos professores do IFSC, e três alunos bolsistas Eliane Izabel da Silva, Franciele Oliveira Dias, Saulo Santana Santos.
(Do https://ndmais.com.br/)
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