Japão retoma a caça as baleias. Questão de cultura?
Por: Anderson Gomes
Japão retomou a caça às baleias essa semana, após mais de trinta anos de proibição. A primeira caçada foi celebrada pelos pescadores, com a captura de duas baleias minke.
Ausentando-se da Comissão Baleeira Internacional (CBI), uma comissão criada para a preservação dos cetáceos devido a pesca predatória, em dezembro de 2018, o Japãoretoma suas atividades pesqueiras às baleias.
Como resultado de campanhas dos defensores das indústrias e do primeiro-ministro, Shinko Abe, apoiado pela cidade praticante da caça à anos, a saída do Japão da CBI é justificada em cultura ao consumo da carne dos cetáceos.
Breve Histórico da caça às baleias
A pesca predatória é uma das mais responsáveis pelo aumento dos impactos deletérios nos mares do mundo e foi devido a ela que em 1986 decretou-se a proibição da caça comercial – muitas espécies foram quase levadas à extinção.
Um ano depois (1987) a caça para “fins científicos” foi liberada no Japão, com o intuito de conseguir dados populacionais cruciais, mas a carne dos animais mortos nessa prerrogativa acabava por ser comercializada.
Então, em 1988, a caça comercial foi totalmente proibida.
Impactos da Pesca Comercial à baleias
Segundo as autoridades japonesas, é cultural o consumo da carne de baleias e muitos exaltam os benefícios (menos calórica que a de vaca, menos colesterol, menos gordura, rica em ferro), mas ainda não se sabe quais são as consequências a longo prazo.
A decisão da retomada caça foi realizada pelo ponto de vista industrial-econômico, majoritariamente. Entretanto, aspectos ecológicos a respeito da redução populacional existente nas espécies listadas para abate livre deveriam ser considerados.
Animais topo de cadeia, como é o caso das baleias, são controladores populacionais, impedem que a densidade demográfica de sua presa seja deletéria para o restante da cadeia trófica. Essa é uma questão necessária a se considerar.
Condições Impostas para a caça à baleias
A Agência de Pesca limitou a caça em 277 animais, sendo 150 baleias-de-bryde, 52baleias-minke e 25 baleias-sei (que estão ameaçadas de extinção).
As autoridades japonesas ressalvam que a retomada da caça não prejudicará as populações de cetáceos, entretanto, a opinião de especialistas não foi ouvida ou registrada.
Interesse Comercial ou Cultura?
A liberação da caça às baleias foi comemorada por muitos donos e funcionários de restaurantes no Japão. Chefs culinários afirmam que a retomada da comercialização da carne de baleias abrirá portas para a formação de novos pratos e novos arranjos culinários.
Entretanto, os ambientalistas criticam o ato tomado pela decisão industrial, devido uma das três espécies liberadas para a caça estar em ameaça de extinção, como também, ressalvam, os impactos futuros que a retomada da caça pode causar.
O consumo da carne desses animais ampliou-se após a Segunda Guerra Mundial, por ser a única fonte de proteína disponível, e que a maioria dos consumidores japoneses dessa carne são idosos, os quais podem ter sofrido influência do período pós-guerra.
É importante ressaltar que a “questão cultural” acabou por levar muitos animais a sofrerem em detrimento das crenças humanas.
Hoje temos tecnologia suficiente para estimar os impactos oriundos da liberação da caça comercial, deveria se considerar as décadas de 60, 70 e 80 como exemplos e que uma decisão crucial como esta precisa da opinião dos especialistas na área.
A caça e o mercado consumidor
O coordenador de Desenvolvimento Institucional do Projeto Baleia Jubarte, José Truda Palazzo Júnior, esteve na CBI por mais de 20 anos, declara que entende o passo tomado pelo Japão e acredita ser uma boa notícia, pois não haveria mercado para a carne de baleias e que o comércio tenderia a acabar.
Entretanto, prever um futuro pelo ponto de vista capitalista industrial não garante que esses cetáceos serão devidamente respeitados e que a redução de suas populações (mesmo dentro dos números estabelecidos) não cause impactos comprometedores para o restante dos animais que interagem com as baleias, direta e indiretamente, dentro ou fora das águas legais do Japão.
Existem muitas questões que precisam ser consideradas para classificar essa decisão como positiva ou negativa.
GMR
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