O número de indivíduos observados este ano já é duas vezes maior do que em 2018 — Foto: Arlaine Francisco/Projeto Baleia à Vista
Número de jubartes no litoral paulista bate recorde e surpreende pesquisadores
Ainda na metade da temporada, mais de 90 baleias já foram avistadas; antecipação do período migratório também chama atenção.
A temporada de observação das baleias jubartes começou mais cedo este ano no litoral de São Paulo.
Os primeiros avistamentos foram feitos no fim de maio, dois meses antes do que no ano passado. “A temporada em geral vai de junho até meados de agosto, mas esse ano elas apareceram mais cedo”, comenta o fundador do Projeto Baleia à Vista, Julio Cardoso.
De acordo com o observador, o período migratório da espécie também teve alterações. “A migração este ano se adiantou tanto no Pacifico, na Nova Zelândia, como na costa do Atlântico, do lado da Africa do Sul, e aqui na nossa costa", diz.
A jubarte se desloca para as águas tropicais com o objetivo de se reproduzir — Foto: Julio Cardoso/Projeto Baleia à Vista
Além de antecipar a chegada às águas brasileiras, as jubartes também surpreendem pelo número de indivíduos. “O aumento da presença delas vem se consolidando e, este ano, superou todos os outros, foi recorde”, comemora Cardoso.
Quando comparado com os últimos três anos, o número avistamentos chama atenção: em 2016 foram observadas 30 jubartes. No ano seguinte, somente 16. 42 indivíduos foram observados no ano passado e neste ano, até agora, 91 baleias foram registradas.
Estamos no meio da temporada e já batemos todos os recordes
— Julio Cardoso, fundador do Projeto Baleia à Vista
Durante o verão, as baleias vão para águas polares em busca de alimento — Foto: Julio Cardoso/Projeto Baleia à Vista
A causa para tantas mudanças ainda é desconhecida, mas os pesquisadores desconfiam de alguns fatores. “Talvez uma redução da oferta de alimento pela pesca do krill, que foi autorizada e ocorre desde 2015, seja um dos motivos”, comenta o observador, que alerta também sobre a mudança de temperatura.
“Outro fator importante a ser estudado é a temperatura da superfície da água do mar na região de Ilhabela e São Sebastião. Diferente da média normal, de 21 graus, a temperatura chegou aos 25 no início de julho”, diz.
Com os registros dos mamíferos foi possível notar também a quantidade de jovens que chegaram ao litoral. “A grande parte das jubartes que estão passando por aqui nos parecem mais jovens. Elas demoram uns cinco nãos para atingir a idade reprodutiva. Por isso, até essa idade não teriam razão para ir à Abrolhos”, completa.
O animal pode projetar mais de 2/3 de seu corpo para fora d´água — Foto: Arlaine Francisco/Projeto Baleia à Vista
Achamos que elas estão se aproximando da costa para busca alimento e descanso e águas mais protegidas
— Julio Cardoso, fundador do Projeto Baleia à Vista
Dúvidas não faltam na lista dos pesquisadores do Projeto Baleia à Vista que, há 15 anos, observam, registram e mapeiam a rota de migração das jubartes pelo litoral norte de São Paulo.
“Há muitas perguntas e muitas pesquisas pela frente. O fato é que as baleias estão reocupando um território que já foi delas e que nós invadimos e ocupamos. O trabalho mais importante agora é harmonizar a presença desses mamíferos no litoral”, finaliza Cardoso.
Bryde monstrando a cabeça com as três quilhas, que caracterizam a espécie — Foto: Julio Cardoso/Projeto Baleia à Vista
Peso-pesados
Além das jubartes, que pesam 40 toneladas e podem alcançar até 16 metros de comprimento, o litoral de São Paulo recebe baleias-de-Bryde, espécie mais comum na região.
Na lista de observações constam também orcas e baleias-franca. “Sábado passado avistamos um grupo de pelo menos seis orcas caçando raias. A chegada delas, logo depois das jubartes, vem se repetindo nos últimos anos”, explica Julio Cardoso.
Filhote de jubarte foi observado ao lado da mãe — Foto: Marcio Motta/Arquivo Pessoal
Bebê jubarte
Entre as observações deste ano, os pesquisadores destacam a de um filhote de jubarte. Na internet, é possível participar da escolha do nome que será dado ao pequeno mamífero, listado no catálogo do Instituto Baleia Jubarte e do Projeto Baleia a Vista.
O 'batismo' é também uma forma de identificar o animal nas próximas migrações, uma vez que os indivíduos possuem características únicas na nadadeira caudal.
Cliques das baleias
Os registros, importantes para o estudo sobre as jubartes, também são feitos pelos Institutos Baleia Jubarte e Argonauta, e pelas equipes dos projetos Viva Baleias, Golfinhos e Cia, Mar e Vida Eco Trip, e SeaShepherd.
Todos os levantamento são essenciais para as pesquisas sobre migração e comportamento dos mamíferos. "O pessoal do Viva Baleias fez, pela primeira vez, um trabalho de observação a partir de Ponto Fixo no sul da Ilhabela e conseguiram um numero incrível de 360 avistamentos de baleias na região, entre 04/06 e 24/07. É um número fantástico, nunca antes registrado", comenta Julio.
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