terça-feira, 16 de abril de 2019

SARDINHAS EM CATIVEIRO

Foto Jeferson Dick/Lapmar/UFSC e Univali
Laboratório de Piscicultura Marinha da UFSC produz sardinhas em cativeiro

Projeto é realizado em parceria entre a UFSC e a Universidade do Vale do Itajaí (Univali).
O Laboratório de Piscicultura Marinha (Lapmar) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) fez no início do mês de agosto o transporte de aproximadamente oito mil sardinhas criadas em cativeiro para os tanques redes alocados na Armação do Itapocoroy, Penha (SC). Pioneiro nesta área, o projeto é realizado em parceria com a Universidade do Vale do Itajaí (Univali), o Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sudeste e Sul (CEPSUL), entre outras instituições, e com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC). Os peixes, da espécie sardinhas-verdadeiras (Sardinella brasiliensis), foram levados para barcos atuneiros, onde servirão como iscas-vivas para a pesca de atuns.
Desde 2010 já foram realizadas outras desovas, no entanto somente a partir desse momento foi possível obter um maior número, possibilitando a execução do primeiro transporte para os tanques rede no litoral norte do Estado de Santa Catarina. O Lapmar juntamente com a Univali são os responsáveis pela captura, maturação, reprodução e pela cultura de larvas de peixes, crustáceos e moluscos para reprodução.
O objetivo da produção desse tipo de peixe em cativeiro é diminuir as perdas da sardinha, o que acaba ocorrendo em grande quantidade quando realizada do modo natural. A pesquisa visa contribuir também com o processo de gestão pesqueira, por meio de técnicas de produção e manejo de isca-viva. 
A vantagem da criação em cativeiro é ter um controle maior sobre a espécie. Em laboratório é possível ter juvenis o ano inteiro, enquanto no mar, com as restrições da legislação ambiental e condições climáticas, apenas em determinadas épocas a sardinha pode ser pescada. Sem as capturas no meio ambiente, os estoques naturais podem ser renovados. Esta é uma forma de buscar o uso sustentável do recurso e a manutenção das maiores cadeias de processamento industrial de pescados no Brasil.
Para Vinicius Ronzani Cerqueira, professor do Lapmar e coordenador geral do projeto na Capes, os resultados obtidos foram acima das expectativas. “Obtivemos um resultado muito satisfatório. Por ser a primeira vez que fazemos o transporte para os tanques rede alguns problemas surgiram, obviamente, mas apresentamos muito mais acertos. Vamos dar continuidade aos estudos para poder aperfeiçoar a técnica”, afirma.
Ainda não foi possível gerar dados que comprovem se os custos são mais baratos ao criar sardinhas artificialmente. Vinicius Cerqueira acredita que a produção em cativeiro seja até mais cara. Porém, os custos seriam compensados pelo controle sobre o peixe e pela diminuição no impacto ambiental.

Pela primeira vez, o projeto conseguiu gerar uma quantidade grande de alevinos, que irão crescer em tanques no litoral. Foto: Univali
Cristina Carvalho, aluna de pós-doutorado e participante do projeto, explica que como não há criadores de sardinha no país, somente captura em alto mar, a ideia do projeto é inovadora. Por ser um produto utilizado não apenas como isca para pesca, mas para alimentação, a sardinha é um dos mais importantes recursos pesqueiros no Brasil. O laboratório não possui nenhum projeto no momento para a criação de sardinhas visando a indústria alimentícia. Caso fosse necessário, o Lapmar teria condições de produzir a espécie para o mercado consumidor de peixe fresco, e a criação em cativeiro não faria interferência no sabor.
Está previsto para a segunda quinzena do mês de setembro um seminário em Itajaí, no litoral norte do estado, que reunirá representantes do Ibama e da indústria da pesca. Nesse evento os pesquisadores do projeto irão apresentar dados preliminares com resultados da eficiência da criação de sardinha em cativeiro, a sua viabilidade econômica, além de projeções para o próximo ano, já que as pesquisas devem se estender de um ano a um ano e meio.
Sobre o projeto
O Projeto Isca Viva envolve várias instituições e já existe desde 2005. Em 2009 começou a receber recursos da Capes/MEC, por meio de parceria com o Lapmar, que passou a dedicar-se ao estudo e desenvolveu, com sucesso, a metodologia para a reprodução de sardinha em laboratório.
Atualmente três profissionais da UFSC estão diretamente ligados ao Isca Viva:o  engenheiro de aquicultura Caio Magnotti, a mestre em aquicultura pela UFSC, Fabiola Pedrotti, e o professor Vinicius Cerqueira, no cargo de coordenador. No Laboratório de Piscicultura Marinha, 12 alunos da graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado trabalham neste e em outros projetos de pesquisa. O professor Vinicius Cerqueira já orientou duas dissertações voltadas para o estudo da espécie produzida em cativeiro. Uma é a do aluno Herdras de Luna Pereira (http://www.tede.ufsc.br/teses/PAQI0274-D.pdf) e a outra é de Ricardo Shunji Takeuchi (http://www.bu.ufsc.br/teses/PAQI0319-D.pdf).
Além da UFSC e Univali, participam do projeto o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama/MMA), o Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Sudeste e Sul (Cepsul/ICMBio), o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), o Sindicato dos Trabalhadores da Pesca (Sitrapesca) e o Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca (Sindipi).
Mais informações:
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(48) 3721 6386
Andressa Prates / Estagiária de Jornalismo/Agecom

Um comentário:

Unknown disse...

E os nutrientes ficam preservados? Viver em cativeiro vai manter a fama das sardinhas em serem ricas em omega3, livres de metais pesados? Sempre soube que são peixes que escolhem viver em água limpa, sem contaminação e por se alimentar de forma natural possuem muitos nutrientes. Viver preso e a base de ração não vai acabar com essa fama?