sábado, 27 de abril de 2019

NO ARRASTÃO


MEMÓRIA: A PESCA DE ARRASTÃO

José Luiz Sardá - Geógrafo

Na pesca de arrastão cada camarada tinha uma função. Os responsáveis em enrolar as centenas de braças das peças do cabo que se desprendiam de quando em vez, de cada lado da rede e eram amontoadas em vários pontos da praia. Outros para segurar o pano da rede e desembaraçar parte das malhas que se prendiam a um gancho qualquer ou em um siri que ficava entrelaçado nas malhas, a maioria dos camaradas ocupavam-se na tarefa de puxar a rede.

Na pesca da tainha, o vigia tinha de ser um pescador com boa visão e experiência. A missão, avistar o cardume, observar a mudança de coloração d’água de vermelho escuro ou roxo e o saltar alto dos peixes. Com chapéu ou casaco na mão, quando avistava o cardume saia correndo e abanando, avisando aos camaradas para lançar a rede ao mar. Aflitos os demais camaradas, esperavam a ordem do patrão para iniciar o arrastão. Ao sinal, o mais rápido corria e segurava o calão, então com as primeiras remadas a rede é lançada ao mar, desenhando um semicírculo.

Na canoa bordada ia o patrão, quatro remadores e o chumbeiro. O experiente patrão aos poucos vai soltando a rede e equilibrando a embarcação até chegar a outra ponta para então iniciar o arrastão. Em passo cadenciado, tórax jogado para trás, tendo a cintura envolta num laço de corda e a puxadeira, os camaradas vão e voltam centenas de vezes, sempre na mesma direção do mar para a terra e vice-versa, trazendo consigo, em cada trajeto mais um pedaço da enorme e pesada rede que lentamente se aproxima, avistando atento a boia central que indica a posição e o arco de cortiça sobre as ondas.

Terminado o arrastão, felizes faziam à partilha, metade do pescado ficava para o dono da rede, outra para os pescadores. O proeiro tem direito a quatro quinhões, o patrão três, o remador dois e os camaradas um quinhão. Se depois do lanço, o patrão resolvesse repetir outro cerco, sempre estavam prontos para ajudar, pois sempre havia esperança de um lanço melhor. Naquela época a fartura era tanta que ninguém voltava para casa de mãos vazias. Os donos das redes sempre davam tainhas para os amigos e parentes dos pescadores.

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