quinta-feira, 12 de novembro de 2020

NAVEGANDO COM AS CARAVELAS

Ilustração: http://www.causamerita.com/

Caravelas, o Brasil deve um favor à elas, conheça


“Foi a partir da experiências feitas em barcos de pesca construídos pelos ‘fatimidas’ nos célebres estaleiros muçulmanos da ilha de Rawda, no Nilo, onde hoje fica a cidade do Cairo, que os carpinteiros árabes devem ter construído o primeiro cárabo latino de pesca que, através da simples adaptações do aparelho (sistema vélico) e pouco mais, deu lugar às caravelas latinas, sabiamente aproveitada pelo Infante D. Henrique. Mas a vela latina triangular já existia no Egito,quando os árabes aproveitaram para aparelhar o seu cárabo de pesca.” Assim escreveu José Quirino da Fonseca, em As Origens da Caravela Portuguesa.

Os barcos que vieram dar nas costas da Bahia há muito já existiam. Foram, apenas, melhorados pelo gênio lusitano, que adaptou-os para o seu périplo marítimo entre os séculos 15 e 16.
A invasão da Península Ibérica pelos mouros

A invasão da península Ibérica começou a partir de 711. Tropas muçulmanas oriundas do Norte de África cruzaram o estreito de Gibraltar, penetrando na península Ibérica onde ficaram até 1492.

Todos os historiadores lusos, incluso o maior, Jaime Cortesão, não se cansam de explicar que foi a partir deste movimento que os portuguesas avançaram na ciência náutica como um todo, especialmente na arte da construção naval.
Os avanços náuticos dos lusos através de sua convivência com os muçulmanos

Os mouros foram a cadeia transmissora das técnicas e saberes orientais para o Ocidente, escreveu Quirino da Fonseca. Cortesão foi além. Em sua agora máxima, O Descobrimento Portugueses, explicou a influência árabe: “os descobridores portugueses sulcarão os mares em caravelas, e ao ‘pesar o sol‘ (mediar a altura do astro) para saber a ‘ladeza’ (latitude) dum lugar. Farão girar a alidade do astrolábio e consultarão o almanaque para conhecer a declinação solar. E nestas palavras ouvirão o eco da cultura (referindo-se à cultura que os árabes trouxeram) dum povo que agora, combatem, mas cujos ensinamentos, sem o saberem, testemunham a cada hora.”

Todas as palavras grifadas foram invenções dos árabes, como o astrolábio, ou conceitos que eles trouxeram do Oriente para o Ocidente, acelerando o conhecimento luso.
A Caravela: origens

Sabemos que o sistema de velas veio dos muçulmanos. Que as cartas náuticas, e o astrolábio, também são criações deles, assim como o almanaque náutico. E que as influências que estes receberam, remontam ao tempo dos faraós. Mas, como, e quais foram, as transformações lusas nas caravelas?
Barcos que precederam as caravelas portuguesas

Mário de Vasconcelos e Sá, capítulo A Arquetetura Naval dos Séculos 15 e 16, do livro, O Século dos Descobrimentos: “Os primeiros achamentos no tempo do Infante D. Henrique, foram realizados em barchas, barcas, e barinéis.
Já imaginou dobrar o Bojador num tróço destes? (Ilustração:http://wwwblogdidi.blogspot.com.br/)

A barcha em que Gil Eanes cometeu a proeza de passar o Cabo Bojador, em 1434, tinha uma só coberta e um só mastro. Com vela redonda e cesto de gávea. Teve origem nas nossas barcas costeiras como se vê no Chafariz de Arroios, em Lisboa, sem castelo, com um só mastro para vela quadrangularar.”
Eis o relevo mencionado e a Barcha (Foto:ruasdelisboacomhistria.blogspot.com)

Quem explica é Mário de Vasconcelos e Sá: “no século 13 a palavra caravela, no sentido de barco de pesca e transporte, tal como os cárabos mouriscos (aportuguesamento do grego κάραβος, um barco ligeiro usado no mediterrâneo), aparece por três vezes, já no foral que D. Afonso III, em 1255, doou à Vila Nova de Gaia.
O cárabo mouro (Ilustração:

Vasconcelos e Sá explica as modificações impostas: ” o caso foi alterado na largura e comprimento. O fundo era pouco mais estreito que o dos navios redondos, e o casco, provido de esporão, era como as galés e os navios a remos. Não tinha castelo à proa, ao contrário da galé.”
A galé (Ilustração:https://pt.wikipedia.org/wiki/Gal%C3%A9)

Continua Vasconcelos e Sá, “na forma e proporção do comprimento e de boca do casco das caravelas foram felizes os portugueses. Pois que, opondo menor resistência à deriva, maior facilidade tinham de virar, como se tratasse de navios de remos. Assim se explica o motivo por que esta forma de casco, aliado ao aparelho, permitia virar rapidamente de bordo, com segurança e facilidade.”
Repúblicas italianas também dão sua contribuição à Portugal

Jaime Cortesão: “São de sobra conhecidas as relações entre a marinha portuguesa e a escola náutica e cartográfica de Genova, personalizada de princípio pelos almirantes genoveses que reorganizaram, no primeiro quartel do século 14, a marinha de guerra portuguesa.
As primeiras caravelas portuguesas

E assim, como essa mistura que remonta à quase todos os povos navegadores antigos , nasce, aos poucos, a caravela. Depois de seu uso inicial, ela continuou a passar por modificações, desta feita em razão das observações dos próprios lusos.

Mário Vasconcelos e Sá, em as caravelas de Bartolomeu Dias (o real descobridor do Brasil segundo Cortesão) diz o seguinte: “os navios em que Bartolomeu Dias executou a façanha da passagem do Cabo das Tormentas ou do Diabo eram embarcações resistentes e construídas conforme ensinamentos de exploração marítima de Diogo Cão. O casco aproximou-se da forma do da nau. O aparelho passou a ter mais um ou dois mastros.
Ilustração:pt.slideshare.net

A conquista do Atlântico começou com a aperfeiçoamento dos veleiros. Aperfeiçoando o navio, os portugueses inventaram a caravela de aparelho- duplo: velas quadradas para andamento do vento traseiro, velas latinas para o vento de frente. Sem essa combinação é natural que os portugueses nunca tivessem podido descer e subir a eterna corrente dos alisados (ventos alísios). As embarcações que Vasco da Gama atingiu a Índia, em 1497, eram do novo tipo: naus São Gabriel e São Rafael.”
Nau São rafael (Ilustração:http://www.notapositiva.com/)

Outra ilustração dos navios de Gama.

A frota cabralina

“No que diz respeito às naus é de aceitar-se que as maiores, como capitânia e El- Rei, excedessem os 200 tonéis. Sem ultrapassar no entanto o limite de 300. E as menores, como a Anunciada, ficassem entre 100 e 200 tonéis. A média de sua arqueação orçaria o dobro das naus de Vasco da Gama, a maior das quais não passava de 100 tonéis, conforme Duarte Pacheco Pereira. O que mostra a rápida evolução da marinha portuguesa em três anos apenas, de 1497 a 1500.” Esta a descrição da frota, de Luis Adão da Fonseca, no livro Pedro Álvares Cabral- Uma Viagem.

As naus e caravelas de Cabral

Adão da Fonseca: “A armada de Cabral, a maior até então reunida, contava com 13 navios. As naus constituem o grosso da frota. São ao todo dez navios. As maiores capitaneadas por Cabral e Sancho de Tocar, aproximam-se dos 300 tonéis. As caravelas, em número de três, seriam redondas, de cerca de 100 tonéis, com comprimento total de cerca de 25 metros.”
Ilustração:

Fontes literárias: O Século dos Descobrimentos, vários autores, ed. Anhambi; Pedro Álvares Cabral – Uma Viagem, Luis Adão da Fonseca, Ed.INAPA; As Origens da caravela Portuguesa, Pedro Quirino da Fonseca, Ed. Chaves Ferreira – Publicações.

Fontes virtuais: http://ruilyra.blogspot.com.br/2014/12/caravelas-e-naus-um-choque-tecnologico.html; https://www.google.com.br/search?dcr=0&biw=1600&bih=738&tbm=isch&sa=1&ei=BrPCWvSpMYOvwgT7j524AQ&q=a+frota+de+Cabral&oq=a+frota+de+Cabral&gs_l=psy-ab.12…3348405.3353196.0.3356217.19.17.1.0.0.0.384.2359.0j8j2j2.12.0….0…1c.1.64.psy-ab..6.9.1116…0j0i67k1j0i24k1j0i8i30k1.0.squRSzdmkCU#imgrc=WuP733UjfCWpOM; http://ahistoriaeofato.blogspot.com.br/2015/01/cabral-1467-1520-cabralmoco-oleo-de.html; https://stravaganzastravaganza.blogspot.com.br/2017/06/a-viagem-de-pedro-alvares-cabral-25.html.

(Do https://marsemfim.com.br/)

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