(Foto: Diorgenes Pandini / Diário Catarinense)
Cai em 70% o número de argentinos que passaram pela fronteira de Dionísio Cerqueira
Levantamento da Polícia Federal aponta queda no acesso dos estrangeiros nos 10 primeiros dias de 2019; número de voos para o país vizinho também caiu
Por Karine Wenzel
Dados do início desta temporada comprovam o que já era esperado pelo trade turístico: o litoral de Santa Catarina está recebendo menos turistas argentinos. Prova disso aparece do outro lado do Estado, na fronteira com o país vizinho em Dionísio Cerqueira: houve redução de 68% no número de argentinos que cruzaram a fronteira nos primeiros 10 dias deste ano na comparação com o mesmo período de 2018, segundo dados da Polícia Federal.
Os 4,8 mil turistas que passaram pelo local representam o número mais baixo dos últimos cinco anos. Se somadas as entradas de argentinos pela segunda aduana de turismo que começou a funcionar nesta temporada em SC, no município de Paraíso (2.630 passaram por lá), foram 7.452 visitantes, a metade do montante registrado no mesmo período do ano anterior só em Dionísio Cerqueira.
Um dos visitantes que não sabe se cruzará a fronteira neste ano é o engenheiro Fernando Javier Amaro, 48 anos. O argentino que vive em Córdoba diz que, depois de praticamente 20 anos passando o verão no Brasil – em SC reveza entre Bombinhas e Florianópolis –, não sabe se neste fevereiro vai percorrer os 2 mil quilômetros.
"Em função da crise, a decisão é fundamentalmente econômica neste ano" afirma o engenheiro, por mensagem, que costuma vir de carro com a esposa e três filhos e entra no país pela fronteira em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
A crise, que talvez impeça a vinda de Amaro e a família, levou o país vizinho a encerrar o ano com a moeda desvalorizada em 50% e a inflação acima de 40%. A recessão da economia dos hermanos impacta na temporada catarinense, o que não é novidade, diz o presidente do Sindicato das Empresas Turismo do Estado de Santa Catarina (Sindetur SC), Kid Stadler:
— Depois que os argentinos começaram a vir para nossas praias, toda vez que há um movimento econômico na Argentina, há um impacto muito grande na economia, principalmente em Florianópolis, onde eles mais ficam. Está todo mundo esperando que durante o mês de janeiro e fevereiro venham um pouco mais de argentinos, mas não vai ser um número que vai recuperar a nossa temporada.
Número de voos também tem queda
No ar, a redução do número de visitantes argentinos não é tão significativa quanto por terra. Nos aeroportos de Navegantes e Florianópolis, o quantitativo de voos do país vizinho caiu em torno de 10% em relação à temporada passada.
Stadler acredita que os turistas argentinos que vêm neste ano têm maior poder aquisitivo e, por isso, a redução não é tão significativa nos aeroportos. No terminal da Capital, entre dezembro e janeiro deste ano, são 578 pousos e decolagens ao país hermano, contra 642 do mesmo período da temporada passada. Por outro lado, a Floripa Airport diz que teve crescimento nos voos do Uruguai, que passaram de oito em dezembro e janeiro de 2017/2018 para 38 neste ano. O Chile também teve aumento (17,9%) na mesma comparação, saltando de 212 para 250.
Menos hermanos em bares e restaurantes catarinenses
A pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em SC (Abrasel) também dá indícios da redução na quantidade de argentinos. O levantamento aponta que 84,3% dos empresários entrevistados não perceberam aumento da chegada de turistas estrangeiros no início desta temporada em relação ao ano anterior. Mas 65,3% notaram maior fluxo de visitantes nacionais, principalmente de São Paulo e Paraná, em bares e restaurantes do Litoral de SC.
— A pesquisa mostrou uma mudança de região emissora do turista. Além disso, também impactado pela crise, é um visitante que vem com orçamento muito enxuto, que vai fazer refeição mais no lar, vai frequentar mais supermercado. Essa corrosão que a crise fez no poder aquisitivo afetou nosso setor – explica Raphael Dabdab, presidente da Abrasel em Santa Catarina.
O empresário argentino Fernando Niell, que trabalha há 14 anos trazendo grupos de conterrâneos a Florianópolis, estima que a queda na movimentação da nacionalidade nas praias catarinenses é de no mínimo 50%. Mas a redução de argentinos que é perceptível nas placas dos carros que circulam na Ilha ou embaixo dos guarda-sóis não afetou os negócios da família Niell. Nesta temporada, a empresa já fechou 30 ônibus com saída de Buenos Aires que devem trazer 1,5 mil hermanos à Barra da Lagoa.
O empresário, que se reveza entre os dois países guiando os visitantes, conta que está otimista:
— Neste ano tem eleições na Argentina e vamos ver se equilibra um pouco a economia.
Niell prevê uma retomada, já que muitos optam por vir a partir da metade de janeiro.
— Tem alguns argentinos que ficam aguardando a situação da economia melhorar e os preços de aluguéis abaixarem — confirma o presidente do Sindetur SC, Kid Stadler.
Empresa de Fernando Niell deve trazer 30 ônibus de argentinos nesta temporada à Barra da Lagoa(Foto: Tiago Ghizoni / Diário Catarinense)
(Do https://www.nsctotal.com.br/)
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