terça-feira, 27 de novembro de 2018

MAR DE PESCADOR?

Pesca industrial pode ter matado tartarugas gigantes no Paraná
(Foto: Reprodução/LEC)

Pesca industrial pode ter matado tartarugas gigantes no Paraná 

Sete tartarugas-de-couro, conhecidas como tartarugas gigantes, foram encontradas mortas nas últimas duas semanas no Litoral do Paraná. Somente ontem (22), três animais da espécie extremamente ameaçada de extinção foram encontradas encalhadas em praias do Estado. O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) foi notificado e deve investigar as causas da ocorrência incomum na região. Maior espécie em todo mundo, a cada mil filhotes de tartaruga de couro que nascem, apenas um, em média, chega à vida adulta, medindo até 2 metros de comprimento e 500 quilos.

A bióloga Camila Domit, do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná, acredita os animais tenham sido atraídos para perto da costa paranaense por correntes marítimas mais quentes e se depararam com grandes embarcações de pesca.

"É um número elevado (sete ocorrências), principalmente por ser uma espécie ameaçada e porque aqui no nosso litoral isso não é tão frequente. É um evento que também já ocorreu no ano de 2016. Nossa hipótese é que a ocorrência de encalhes das tartarugas gigantes no nosso Estado tenha uma relação com as correntes mais quentes que chegaram nessas últimas semanas - temos visto muitas águas vivas no nosso litoral - essa espécie de tartaruga se alimenta principalmente de águas vivas e outros organismos gelatinosos marinhos. Então não quer dizer que elas não passavam na plataforma continental do Estado, mas passavam mais distantes da costa. Chegaram mais próximo, possivelmente encontraram as embarcações pesqueiras e acabaram morrendo, encalharam no nosso litoral", acredita. 

Órgãos ambientais de São Paulo e Santa Catarina também encontraram tartarugas mortas nessas últimas duas semanas de novembro. Além da tartaruga gigante, outra espécie também tem sofrido com o encontro com pescadores.

"Comunicamos o Ibama para que seja avaliado se há alguma pescaria irregular ou concentrada nessa região. Acreditamos que para capturar essa espécie sejam pescarias industriais que podem ser tanto arrastos de parelhas - que são arrastos feitos por duas embarcações para captura de camarão ou de peixe, como também capturando com embarcações com espinheis. Com certeza embarcações industriais porque esses animais tem 300 quilos. Não é uma embarcação pequena que vai capturar uma espécie como essa. Além da tartaruga-de-couro, nós tivemos uma ocorrência maior das tartarugas cabeçudas, que se alimentam principalmente de caranguejo, de camarão, mas que também mostram essa conexão com pescarias de grande porte", aponta. 

Essas embarcações de arrasto e pesca industrial devem ser registradas e ordenadas pela Secretaria Especial de Pesca, junta a ministério brasileiros, e acompanhadas pelo Ibama, Polícia Ambiental e Instituto Ambiental do Paraná. O registro da pesca é feito por associações e agremiações nacionais. Camila Domit explica que ainda falta integração entre órgãos ambientais e produtivos.

"As dificuldades e os distanciamentos entre os órgãos ambientais e os órgãos de ordenamento pesqueiro. Em geral, sim, essas pescarias estão legalizadas, entretanto existe uma dificuldade de diálogo. Temos que tomar muito cuidado para não ter uma interpretação de que a pesca é errada. Infelizmente quando não há um ordenamento do processo pesqueiro, você tem uma perde de recurso de pesca, de determinadas especies quando estão reproduzindo e também para impedir a captura dessas espécies que não são alvo e que são ameaçadas de extinção", lamenta. 


Cada tartaruga gigante leva 20 anos para crescer, em média. Os sete animais mortos encontrados no Paraná vão passar por necropsia. Em um dos animais, a equipe do Centro de Estudos do Mar já encontrou plástico no início do sistema digestivo, o que indica que o animal se alimentou de lixo no mar. As tartarugas gigantes foram encontradas na Praia de Coroados, em Guaratuba e ao longo da orla entre Matinhos e Pontal do Paraná.


Duas estavam em estado avançado de decomposição, o que dificulta o exame da causa da morte. Uma tartaruga de couro que costumava depositar ovos em Pontal do Paraná foi encontrada morta em 2015 após ficar presa em uma rede de pesca. O animal depositou ovos em Pontal por três anos seguidos.

(Do https://www.bemparana.com.br/)

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