quarta-feira, 5 de setembro de 2018

"TEM QUE BENZER MAIS 2 VEZES"



A Tia Hilda foi minha benzedeira desde os anos 90, quando comecei a vir e morar no sul da ilha. Uma das coisas mais marcantes da minha experiência no “Pantusuli” era encontrá-la sentadinha na calçada, ou na praia durante um cerco de tainha, ou no Bar do Arante, ouvir suas histórias de outros tempos. Várias vezes recorri a suas benzas, e ela repetia, “Mas tem que benzer mais duas vezes!”. Durante o ritual, sempre na penumbra de sua casa, sentia uma paz imensa ao acompanhar, de olhos fechados, o ritual da benza com seu rosário suave em minhas costas, as palavras ditas baixinho, às vezes irreconhecíveis, até que algumas se destacavam, nítidas: “Eu que te benzo, Deus que te cura”. Não foram poucas as vezes que abri os olhos, depois que ela terminava, e percebia que eles estavam cheios de lágrimas. Descanse em paz, Tia Ilda! 

(Rodrigo Garcia Lopes, escritor e músico)

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