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O engenheiro Flávio Santos, 47 anos, mostra o ponto de partida, no Canto da Praia - Brunela Maria/ND
Caminho de Peabiru é mapeado a partir das praias de Palhoça
O engenheiro Flávio dos Santos, 47 anos, demarcou cerca de 25 quilômetros da rota histórica e quer transformá-la no mais novo atrativo turístico da cidade
BRUNELA MARIA, PALHOÇA
Uma das expedições mais importantes da história da América do Sul teve como ponto de partida a baixada do Maciambú, em Palhoça. O navegador português Aleixo Garcia teria saído da região entre as praias da Pinheira e Enseada do Brito, por volta de 1524, com destino ao Peru e aos tesouros dos Incas. Seguiu a lenda de São Thomé, o “Rei branco que caminhava sobre as águas”, pelo Caminho de Peabiru (caminho antigo de ir e vir, segundo o pesquisador espanhol Ruy Diaz de Guzmán)
A história encantou o engenheiro Flávio dos Santos, 47 anos, que desde 2007 pesquisa a rota e luta para estabelecer o traçado como atração turística e histórica da cidade. “Percebi que não tinha nada sobre a nossa região. Só Brasil como um todo e outros países. Continuei quando questionei o porquê de não fazermos esse caminho aqui, já que há em outras cidades, como o Caminho do Sol, em São Paulo, um preparatório aos peregrinos que seguem para Espanha”, conta.
Para elaborar tecnicamente o projeto, Santos resolveu cursar administração. Entusiasta, desembolsou sozinho mais de R$ 40 mil para concluir a empreitada. “Quando descobri que o homem branco passou a fazer o Peabiru da nossa região, tive certeza que esse era o trecho mais importante de todo trajeto. Foi entre Pinheira e Enseada que o europeu morou, descobriu e começou a percorrer e era importante divulgar isso, com base numa ideia de implantar os primeiros 25 quilômetros e trazer fonte de renda na baixa temporada, nos meses de março a novembro. Seria o Santiago da Compostela da América do Sul”, diz.
O Sambaqui e a visita do Rei
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Caminho atravessa a América do Sul por um percurso de 4 mil quilômetros - Divulgação/ND
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Caminho atravessa a América do Sul por um percurso de 4 mil quilômetros - Divulgação/ND
A saída do caminho é o Canto da Praia da Pinheira, onde está um sítio arqueológico, utilizando por indígenas. “Ossos foram encontrados aqui, indicando Sambaqui. Os índios também afiavam as ferramentas nas pedras, por isso elas têm esse formato. Deste ponto dá exatamente 25 km até a Igreja da Enseada do Brito, fundada em 1750. Temos um trecho que dá para caminhar facilmente contemplando a praia”, explica Santos. Esse trajeto poderia ser feito por turistas num período de um dia, sendo das 8h às 16h.
Para percorrer a rota desenhado pelo engenheiro, o viajante, depois da praia, segue por trilha até o centro de visitantes do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. De lá atravessa a BR-101 e faz outra parada na igreja católica, no Maciambu. “Esse pedaço é usado bem antes de ter rodovia. Como a outra passagem para o sul era por Lages, todos passavam por aqui. Depois os grupos continuam na comunidade Araçatuba, percorrendo até o Caminho do Rei, construído no século 18, de pedras, a pedido do rei que visitaria o Sul”, comenta.
Traçado original desapareceu
Caminho vai das praias de Palhoça, passando pelo Parque Estadual da Serra do Tabuleiro - Divulgação
Caminho vai das praias de Palhoça, passando pelo Parque Estadual da Serra do Tabuleiro - Divulgação
O Caminho de Peabiru é citado em diversos relatos históricos. A designação foi empregada pela primeira vez pelos padres Jesuítas, mas há muito pouco ou quase nada nos livros sobre o trecho catarinense. Segundo Santos, percorrer o trajeto original é impossível. Com a modernização e o avanço das cidades, o traçado foi apagado e apenas um trecho, de características similares às originais, permanece intacto. Esse trajeto, bem demarcado, de 1,40 metros de largura, fica entre as comunidades de Maciambu e Araçatuba. Seria a prova mais clara da existência do caminho.
Mesmo não sendo um caminho turístico oficial, grupos da Associação dos Amigos de Santiago da Compostela, já percorreram o trecho do Peabiru duas vezes. Hoje, implantar o projeto depende apenas do poder público. “A prefeitura não precisa investir em nada, tem associações que ajudariam, até porque os peregrinos querem simplicidade”, diz o engenheiro.
(Do https://ndonline.com.br/)
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